>Para refletir no Natal

>

Jogadores da NBA a-d-o-r-a-m trabalhar no Natal

A rodada de Natal é considerada a mais importante da NBA na temporada regular. Reserva-se para esses jogos os duelos que todo mundo queria assistir desde a temporada anterior, nos últimos dez anos foi o momento para rever clássicos dos playoffs como Lakers/Kings, Suns/Spurs e Lakers/Celtics. Nos anos 90 era o dia de Bulls/Pistons, Jazz/Rockets ou Bulls/Knicks e por aí vai. Nos anos 80 e 70 alguns jogos nem tão esperados também aconteciam, mas Natal sem NBA? Só durante a greve de 1999.

O sucesso é, claro, imenso entre o público. Seria em qualquer dia do ano se o jogo fosse bom, mas no Natal é a chance de assistir em casa, tranquilão, com a família, comendo um banquete e sem se preocupar em acordar cedo no dia seguinte. Quem aqui não gostaria de um clássico do futebol no dia de Natal para não ter que aguentar um dia inteiro daquele tio insuportável tentando ser engraçado? Eu não só toparia como no Natal sempre dou um jeito de escapar para ver um joguinho de Natal. Mas o engraçado é os outros familiares que não acompanham basquete e me veem assistindo o jogo e perguntam “Mas é ao vivo? Eles não tem família?” e completavam com “Você tem, volta pra sala”.  O que me lembra uma declaração do Stan Van Gundy no ano passado que, insatisfeito em trabalhar no Natal disse que “fica triste pelas pessoas que não tem nada mais a fazer no Natal além de assistir NBA”. David Stern, um doce democrático, o multou por dizer isso. Nesse ano ele só disse “Eu disse o que tinha que dizer no ano passado e o dono do time pagou a minha multa, não vou fazê-lo pagar de novo”.

Se para o público é legal, para os envolvidos não é tanto. O Phil Jackson, técnico do Lakers, um dos que nunca tem medo de peitar a NBA, disse nessa semana que está cansado de jogar no natal e que essa deveria ser uma data para os jogadores curtirem com quem eles querem e não trabalhando. “É como se os feriados religiosos não significassem mais nada. Apenas vá lá, jogue para entreter os outros na TV. É estranho mas é assim, temos que jogar”. 

Surpreendentemente quem concordou com ele foi o LeBron James, o King James, que também é rei das entrevistas-lugar-comum resolveu finalmente dizer algo relevante e disse “Todo mundo preferia estar em casa com a família, é dia de acordar cedo com as crianças e abrir presentes”. Não podemos esquecer que os jogadres da NBA também jogam em outros feriados importantes dos Estados Unidos como o dia de Ação de Graças e o Martin Luther King Day, feriado importante principalmente para a comunidade negra, que é dominante entre os atletas da liga.

É a velha história dos “Escravos Milionários“: A NBA dá fama, status, dinheiro, mais dinheiro, um pouco mais de dinheiro e a oportunidade de fazer a vida por jogar basquete, mas em compensação você tem que dizer o que eles querem que você diga, se vestir da maneira que eles acham certo e não fazer fora das quadras nada que eles não achem apropriado. Além disso você joga quando eles acham que você deve jogar, seja quatro vezes em um intervalo de cinco dias ou no meio de um feriado importante.

Essa é a opinião de dois jogadores que estão um bocado cansados de jogar nesses dias. Desde que o Phil Jackson chegou em Los Angeles eles jogaram em todos os natais! Já o LeBron James é tão grande para a NBA atualmente que colocariam um jogo do seu time nessa data mesmo que estivessem em último lugar na D-League. O LeBron tem dois filhos novinhos desde o nascimento deles nunca passaram um natal sem ver o pai trabalhando. O Zydrunas Ilgauskas sugere uma solução diplomática, continuam os jogos no Natal, mas deixe alguns times em paz, se jogam em um Natal, não jogam na mesma data na temporada seguinte.

Em compensação eu lembro da reação do Gilbert Arenas quando um jogo do seu então time, o Washington Wizards, havia sido programado para a noite do dia 25 de dezembro, ele estava se gabando de ter levado o Wizards de volta a um posto de relevância na liga. A estratégia é velha e usada em todos os ambientes de trabalho, para convencer o trabalhador a fazer um trabalho que ninguém quer ou em um dia que ninguém quer trabalhar você cria um status, falando que só os melhores e mais bem preparados serão aproveitados nessa situação.

A ganância da NBA e das TVs que transmitem os jogos no Natal, porém, começaram a causar problemas. Nas mesmas entrevistas citadas antes, Phil Jackson e LeBron James questionaram a quantidade de jogos de Natal, antigamente era mais fácil convencer que era um dia diferente porque era um jogo importante no Leste, outro no Oeste e acabou. Mas amanhã teremos uma maratona de cinco jogos, é um terço dos times da liga sendo “premiados” e entre essas partidas temos coisas como Golden State Warriors x Portland Trail Blazers. Por que? Um time que não vai para os playoffs há anos contra outro que não passa da primeira rodada e é infestado por contusões. Aí vem a questão, qual das duas coisas está incomodando mais? Ter que trabalhar no Natal ou a perda do status de estrela? Um pouco dos dois, acho.

Outra questão interessante tratada pelo LeBron na sua entrevista é em relação a competitividade da NBA. Ele lembra que nos anos 80, quando a NBA tinha 23 times era comum uma mesma equipe ter três ou até quatro super-estrelas no mesmo time, como tem o seu Heat hoje, e que ninguém falava nada sobre isso. E é verdade, ninguém chama o Magic Johnson ou Larry Bird de coadjuvantes ou apelões porque eles jogavam ao lado de vários jogadores espetaculares. LeBron também argumenta que naquela época a NBA tinha mais audiência porque existiam mais times bons, e que hoje, pelo excesso de equipes, é difícil todas serem de bom nível e a distância entre os melhores e piores é maior. Para ele a solução seria simples, reduzir o número de equipes.

Isso implicaria em algo muito estranho, que seria a NBA admitir que a expansão foi um erro e é difícil imaginar o David Stern assumindo qualquer tipo de erro. Também causaria um bom número de jogadores sem emprego na NBA e precisando sair do país para ganhar seu dinheiro. O LeBron fica na NBA, claro, mas com seis times a menos e uma média de 13 jogadores por time seriam mais ou menos 78 atletas a menos. Em um exercício de imaginação é interessante assassinar seis franquias e distribuir seus jogadores através da liga, realmente o nível dos times iria subir demais. Imaginem times pouco populares ou em crise financeira como Hornets, Grizzlies, Wolves, Raptors, Clippers e Pacers desaparecessem; de repente toda a NBA estaria saindo no tapa para ter Chris Paul, David West, Blake Griffin, Kevin Love, Michael Beasley, Danny Granger, Andrea Bargnani, Zach Randolph, Rudy Gay e mais um monte de gente, imagina a revolução que seria! Empolgante para alguns, mas dá ânsia de vômito se você tem simpatia por qualquer um desses times.

Se a união dos atletas pensar em agradar a maioria, não apoia essa idéia, se pensar no bem estar dos poucos que vão ficar é possível que apoiem. Com menos jogadores seria menos gente para dividir os lucros da NBA, além de menos times em crise para sugar recursos, assim uma possível solução para manter os salários altos como são hoje. A diminuição é apoiada também por aqueles que não vêem cidades como New Orleans, Memphis e Minneapolis sequer empolgadas o bastante em ter um time profissional. Não seria, para alguns, traumático como foi para Seattle perder o Sonics. O problema é que muita gente diz isso baseado em número de torcedores dispostos a pagar os ingressos e ir assistir os jogos, e às vezes são crises financeiras da cidade, localização do ginásio e outros problemas que podem ser temporários ou corrigíveis. Eu daria uma opinião mais definitiva sobre isso ouvindo a opinião de moradores dessas cidades, para saber como os times são vistos por lá. Mas mesmo sem saber com certeza, não consigo apoiar a extinção de times assim do nada para fazer a liga mais competitiva ou para cortar gastos, as pessoas criam laços afetivos com os times, não é um assunto tão simples assim.

Outro problema seria deixar a temporada regular ainda mais idiota do que já. Se jogar 82 jogos contra outros 29 times já é um exagero, contra 23 é um absurdo de tanta inutilidade!

Nada indica que esse encolhimento esteja perto de acontecer, assim como os jogos de Natal devem continuar existindo por um bom tempo, mas são temas relevantes quando jogadores de peso como o LeBron James colocam o assunto em pauta meses antes das reuniões entre jogadores e a liga que devem mudar muita coisa na NBA. É bom discutir esses temas agora porque podem ser relevantes em algum tempo.

Atualização 25/12: Os comentários do LeBron sobre a diminuição dos times rendeu comentários hoje. Primeiro foi um agente de jogadores que preferiu não se identificar e disse para o Yahoo! “Como ele diz isso logo antes da negociação com a liga? Ele sabe que está defendendo algo que trará menos empregos para os jogadores? O LeBron não tem idéia do que acontece quando ele diz coisas desse tipo”. 

Já o Derek Fisher, presidente da associação dos jogadores, foi mais diplomático: “Eu particularmente não concordo com o LeBron, mas entendo que não é sempre que todos os 460 jogadores vão concordar em tudo. Eu não sei se as declarações dele prejudicam nossa luta com a NBA, mas eu fiquei surpreso com o que ele falou”. 

Pois é, o LeBron vive sua fase Gilbert Arenas: É só abrir a boca ou fazer qualquer coisa que a repercussão é a pior possível. Pelo menos dentro de quadra ele ainda dá conta do recado.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.