>Pegadinha do Mallandro

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“Glu, glu, glu, ó a pegadinha!

Estava praticamente certo, segundo fontes seguras, que o Hedo Turkoglu estava indo para o Blazers, e eu não conseguia entender muito bem a lógica da contratação. Gosto muito do turco, é verdade, jogadores com sua altura e a capacidade de armar o jogo são muito raros e permitem uma série de variações táticas aos seus times. Sei que a comparação é um tanto infame, mas até mesmo o Antoine Walker, que tinha quinhentos defeitos, mostrava-se valiosíssimo para suas equipes quando armava as jogadas mesmo estando em quadra como ala. O Turkoglu se encaixa na mesma categoria e, embora não seja muito criativo e nem um pouquinho atlético (vê-lo acima do aro, só se for com uma escada), seus arremessos de longa distância, tranquilidade nos momentos decisivos, técnica apurada e capacidade de armar o jogo são o bastante para torná-lo bastante versátil e compensar bem o fato de que não defende bulhufas e que sua velocidade às vezes faz parecer que ele está jogando basquete embaixo d’água. O turco tem as características perfeitas para compor elencos bem montados, ao invés de ser estrela e carregar times nas costas, o que tornaria o Blazers uma opção plausível porque o plantel lá é muito completo. Mas é justamente essa profundidade incrível no elenco (que o Blazers construiu com tanto custo, num processo de reconstrução inteligente e ousado) que não casa com oferecer 10 milhões por ano para um jogador que traria versatilidade a um time já exageradamente versátil.

Com tantos jogadores merecendo minutos consideráveis por lá, todos talentosos, jovens e podendo jogar em várias posições, o Blazers às vezes é uma incógnita muito grande. Um elenco profundo demais é um problema que qualquer técnico quer ter (menos o Isiah Thomas, que ficaria desesperado e trocaria metade do elenco por jogadores ruins com contratos gigantes e feijões mágicos), mas fica difícil saber qual é a função de cada jogador no time e os próprios jogadores por vezes não fazem ideia do que estão fazendo ali. Jerryd Bayless e Sergio Rodriguez (que o Denis ficou tão puto quando foi trocado para o Kings) às vezes eram tratados como simples reservas, às vezes como peças fundamentais, às vezes eram esquecidos no banco de reservas e nem entravam em quadra. E isso porque Martell Webster quebrou a perna e passou a temporada inteira de fora, senão seria mais um jogador a dividir minutos, funções e atenção, tipo uma ninhada de gêmeos querendo mamar na mamãe. Na ala, o Blazers já conta com a revelação-surpresa Nicolas Batum, que é tipo um Shane Battier francês, e o Rudy Fernandez, que abriu mão de uma carreira tendo seu saco lambido lá na Europa pra ganhar pouco e poder brincar na NBA. Sem falar no Brandon Roy, que é absurdamente versátil e além de poder jogar em qualquer das duas posições de armador, pode jogar também de ala e inclusive armar o jogo nessa posição – como o Turkoglu, aliás. Quando o Roy joga de ala, os trocentos armadores do Blazers ganham mais minutos de jogo sem que lhes caiba a responsabilidade de manter a bola nas mãos, o que é perfeito para uma equipe que não se envergonha de colocar-se nas costas do Brandon sem abrir mão de uma infinidade de variações táticas e os serviços de uma dúzia de outros bons jogadores.

O Blazers montou uma equipe através de trocas inteligentes e escolhas de draft, sempre focado no talento mais do que nas posições, mas aproxima-se a hora em que os engravatados vão ter que escolher quem é o núcleo desse time e quem se comprometerá a estar lá a longo prazo. Quase todo mundo no time ganha pouco e tem idade pra jogar Pokémon, então renovar alguns contratos será bastante salgado para a visão que o Blazers mantém agora de um basquete coletivo e versátil. Onde o Turkoglu se encaixa nisso eu não sei, 10 milhões por ano durante 5 anos poderia comprometer o contrato de Roy, Aldridge, Oden, Rudy Fernandez (que imediatamente reclamou da contratação do Turkoglu, já que esperava merecidademente mais minutos de quadra) e Bayless, todos jogadores essencials para esse Blazers. Pensando que o Turkoglu não traria ao time nada que eles já não tenham, me vi no direito de ficar um pouco confuso.

Mas não adiantava questionar, o turco já tinha dito que aceitaria a proposta, todos os veículos davam como certa a contratação, e tinha até gente cobrando do Bola Presa o já tradicional post analisando a aquisição do Blazers (a gente tem preguiça, leva com a barriga, mas só escrevemos os posts quando tudo está absolutamente confirmado – não porque somos um site sério e com um compromisso com a informação e a verdade, que se lasque a verdade, mas é que fazer um outro post se corrigindo daria o dobro do trabalho!). Fizemos bem em esperar, ao contrário do resto da internet: todo mundo levou um susto.

O Turkoglu estava visitando Portland, conhecendo o lugar em que iria morar, as instalações do time, os caras que iam pagar seu salário, e aí de repente, no meio da visita, gritou: “Olha a câmera ali! Vocês tão na pegadinha do Mallandro!” Pregou uma peça no Blazers e em todos os outros times da NBA ao avisar, de repente, sem ter dado qualquer sinal anterior, que vai assinar com o Toronto Raptors. Ele podia esperado a visita a Portland terminar, passar uns 3 dias se fazendo de difícil e aí aceitar o Raptors, porque decidir jogar no Canadá no meio de uma visita comendo e bebendo às custas do Blazers é um tanto indelicado, digamos assim. Meu palpite é que o Turkoglu deve ter visto muitos garotos de rua, pobreza, criminalidade e drogas pesadas nas ruas de Portland, e aí não conseguiu esperar um segundo sequer para avisar que ele vai jogar na terra dos guardas florestais e dos ursos, onde literalmente ninguém tranca suas portas e a maior transgressão do povo é cutucar o nariz quando ninguém está olhando.

O Turkoglu é uma boa aquisição para o Raptors, mas apenas intensifica o caráter bizarro desse time. Pra começar, já faz uns anos que a intenção por aquelas bandas é montar um clone do Phoenix Suns – ataque rápido, bolas de três pontos, defesa nula, armador estrangeiro, nenhum pivô e time baixo demais. Na época em que o projeto foi instituído, o Suns era um time espetacular criando um novo modo de jogar basquete no qual muita gente acreditava, mas a dura e cruel verdade é que eles nunca conseguiram vencer o Spurs e então abandonaram tudo na troca pelo Shaq que, com sua ida para o Cavs, se transformou numa reconstrução do Suns inteiro. O Raptors então é tipo um cover dos Menudos fora de época, não faz muito sentido. Depois de um sucesso moderado, o time amargou técnicos ruins e a clara dificuldade de montar um elenco capaz de se focar apenas no ataque – principalmente levando em consideração que esse Raptors, pelas características dos jogadores, sempre teve um pouco de dificuldade de jogar na velocidade e no contra-ataque. Por um lado, o Turkoglu se encaixa bem nesse time porque todo mundo lá arremessa de três pontos, é um pouco lento, tem bastante técnica, não faz ideia de como defender e é extrangeiro. Jogadores que saem desse esteriótipo, como Shawn Marion e Anthony Parker, são Free Agentes nessa temporada e não devem ficar em Toronto (Parker está sendo cotado pelo Cavs, e o Marion quer mais de 10 milhões por ano apesar de não ter uma temporada decente desde que saiu do Suns). Por outro lado, Turkoglu traz ao Raptors a mesma fórmula que claramente não vem dando certo já faz algum tempo. Com José Calderon, DeMar DeRozan, Turkoglu, Bosh e Bargnani, temos uma equipe talentosa, capaz de causar problemas no ataque para qualquer equipe da NBA, jogando um basquete coletivo, de meia quadra, arremessando de onde quiser, mas já está na hora de sermos céticos a respeito de um time sem pivô que se foca basicamente em arremessos de média e longa distância e que se nega a defender um mínimo que seja. Turkoglu está em casa, entre ursos, guardas florestais e jogadores fracotes, técnicos, europeus e bons arremessadores, mas o sucesso da equipe parece muito questionável. Os 56 milhões por 5 anos gastos nele poderiam garantir ao Raptors uma estrela de verdade, ou ainda tentar (provavelmente em vão) segurar Chris Bosh na equipe para a próxima temporada. Não posso criticar uma aquisição que se encaixa tão bem no que o Raptors é e propõe ser, mas critico gastar tanta grana em alguém que trará uma pequena variação de algo que já não estava dando certo.

Sinceramente, achei que o Blazers se safou de uma boa e teria se arrependido muito se tivesse pagado tanto dinheiro pelo Turkoglu. O problema é que parece que eles agora querem oferecer a mesma grana para outros jogadores mais-ou-menos, tipo o David Lee, que não tem nada a ver com aquilo que o Blazers precisa. Já o Raptors torrou verdinhas demais no turco, principalmente se a gente levar em conta que um cara como o Rasheed Wallace assinou com o Celtics por míseros 5 milhões por ano (só que dele a gente fala amanhã, pode esperar). Mas vamos tentar ser minimamente positivos e bater palmas: fedendo ou chutando traseiros, ao menos agora o Raptors tem uma filosofia muito bem definida e jogadores todos muito parecidos entre si. Talvez, se essa filosofia funcionar num Leste cada vez mais disputado e cercado de grandes estrelas, eles deixem de ser apenas mais um cover fora de hora, alguém que usa mullets sem perceber que, infelizmente, a moda já passou.

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