>Pensando alto

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Não dá pra questionar o esforço do Ilgauskas na defesa

Ontem estava com a mão coçando para escrever um post sobre o Hornets. Faltava só uma hora pra rodada começar e eu pensei em fazer um  post rápido sobre porque o time era um dos três ainda invictos durante a temporada. Mas aí desisti quando fui dar uma conferida nos jogos da noite e me dei conta que não tinha idéia que em algumas horas depois eles estariam em quadra contra o Miami Heat, a melhor defesa (tanto em pontos totais sofridos como em pontos a cada 100 posses de bola) desses primeiros 5 jogos de temporada. Decidi que era melhor esperar, ver o jogo com calma e escrever no dia seguinte. Começo aqui o post falando do Hornets, que mesmo depois do jogo contra o Heat, é ainda um dos três invictos da temporada.

Dos três que não perderam o Hornets é o que teve calendário mais difícil nesse começo de ano. O Hawks está com 6 vitórias em 6 jogos, mas enfrentou 5 times que não pegaram playoffs no ano passado e mais o Cavs, que nem precisamos explicar como é bem diferente do time do ano passado. Com o Lakers a mesma coisa, 6 jogos, 6 vitórias e só um time que teve playoff no ano passado, o Suns. Em compensação o Hornets tem 5 jogos, 5 vitórias e precisou bater Nuggets, Spurs, Rockets, Bucks e Heat, só pedreira.

Eu tinha minhas restrições em relação ao Hornets antes de começar a temporada. Não conhecíamos o técnico Monty Williams, que é o mais jovem da NBA, e o elenco parecia um cobertor curto. Trevor Ariza e Emeka Okafor são ótimos defensores, mas no ataque são capazes de errar 20 arremessos antes de acertar 5, já caras como Marco Bellinelli, David West e Marcus Thornton podem fazer chover com seus arremessos mas acham que marcar o Yao Ming é muito difícil porque ele corre muito rápido. Misturar os dois grupos no time titular poderia significar equilíbrio ou um time medíocre que não é bom em nada.

Alguém otimista poderia dizer que o time começaria a temporada expondo os seus problemas mas que com o tempo iria pegar o entrosamento necessário, mas não, mais do que isso, os caras estão voando desde o primeiro jogo e parecem que jogam juntos há anos. E pra falar a verdade esse time começou me lembrando o que jogou junto há alguns anos, na temporada 2007-08, quando o Hornets fez uma temporada espetacular e só caiu na semi-final do Oeste para o Spurs. Aquele time também tinha um pivô que não era nada no ataque, Tyson Chandler, o mesmo David West e não um, mas dois arremessadores que defendiam vagabundamente, Morris Peterson e Peja Stojakovic. E mesmo com esses dois fracos marcadores nas alas eles tiveram a sétima melhor defesa da NBA para ir junto com o sexto melhor ataque. Era um timaço!

Mas embora na visão geral o time pareça bastante semelhante, na prática não é tanto assim. Comecemos pela defesa, onde hoje existe muito mais proteção ao garrafão. Naquele ano os adversário do Hornets costumavam finalizar no aro (bandejas, enterradas) 24 vezes por jogo, acertando 62% desses arremessos. Já nesse ano o número caiu para 20 tentativas, com o mesmo aproveitamento. Além disso nos arremessos curtos, a três metros da cesta, o Hornets também se destaca, sendo o terceiro time que menos permite esse tipo de chute, 7 por jogo, com aproveitamento de 47%, um número que não é dos que mais se destacam, está no meio da tabela. Ou seja, o Hornets é um time normal na hora de defender os jogadores que chegam perto da sua cesta, mas é um dos melhores times na hora de impedir que cheguem tão perto. O time de 2008 abria mais espaço no garrafão, confiando nos tocos do Tyson Chandler.

Em compensação aquele time de dois anos atrás deixava os adversários chutarem menos de três, eram 18 bolas por jogo contra 21 do time atual, hoje o Hornets é o terceiro time que mais deixa o adversário arremessar, embora o aproveitamento seja muito baixo. Com três tentativas a mais por jogo eles tomam o mesmo número de cestas do time antigo, 6,5.

A explicação para essa forte defesa está na agressividade na defesa de perímetro e em como os jogadores se entregam na hora de defender. Primeiro eles tem dois ótimos defensores marcando os principais condutores de bola do outro time, Chris Paul pega o armador principal e Trevor Ariza o melhor jogador de perímetro, seja da posição dois ou três. Contra o Rockets pegou Kevin Martin e deixou o inofensivo Shane Battier com Bellinelli, contra o Nuggets marcou Melo e deixou Afflalo para o italiano. Nem sempre dá pra fazer isso, como ontem quando enfrentaram LeBron e Wade ou quando pegaram o Spurs de Richard Jefferson e Manu Ginobili, mas aí é uma questão de escolha. Ariza se foca no mais perigoso, completo ou simplesmente mais alto e o Bellineli (ou Marcus Thronton) no arremessador, que joga sem a bola nas mãos.

Com os jogadores que controlam a bola incomodados eles são obrigados a apelar mais vezes para o pick-and-roll, fazendo com o que o bloqueio obrigue a troca de marcação, e é justamente na marcação dessa jogada o grande trunfo do Hornets. Assim como o Celtics faz perfeitamente desde quando o Kevin Garnett chegou por lá, o jogador mais alto da defesa não se contenta em assistir o seu marcador fazer o bloqueio e continua a marcação do outro lado, tentando encurralar o jogador que controla a bola. Isso dá espaço para o jogador que fez o bloqueio correr em direção da cesta e receber a bola livre caso o passe consiga ser feito, mas quando tudo é bem feito o armador não tem o ângulo para o passe. Se tem, o Hornets responde com ajuda defensiva, alguém deixa o seu armador para fechar o garrafão. Infinitas jogadas assim fazem todo o arredor do Hornets uma zona proibida e liberam mais arremessos de três. Preferem deixar para o adversário os arremessos de aproveitamento menor do que cestas fáceis em volta da cesta.

Esse esquema tem mostrado uma qualidade do Emeka Okafor que eu nunca tinha percebido, a sua velocidade. Ele se dá muito bem não só correndo atrás dos armadores quando fazem os bloqueios, mas também quando precisa defendê-los em infiltrações. Hoje se destaca mais por isso do que no um contra um contra pivôs mais altos. No jogo de ontem ele defendeu LeBron James muitas vezes e teve sucesso na maioria das ocasiões.

Tem um número muito interessante que mostra o quanto um time é bom em rebotes defensivos. É chamado de Defensive Rebound Rate, ou DRR. Ele multiplica por 100 o número de rebotes de defesa de um time e divide o resultado pela soma de rebotes defensivos do mesmo time contra os ofensivos do adversário. No DRR o Hornets é o terceiro melhor time em rebotes defensivos da liga, atrás apenas do Magic e o Bucks. Isso é importante demais porque é o rebote de defesa que finaliza uma boa posse de bola defensiva, de nada adianta anular o outro time e aí ceder mais uma posse de bola depois. Também são os rebotes de defesa que começam os contra-ataques, arma mortal quando seu time tem o genial Chris Paul levando a bola pro ataque e que ficou mais perigoso com o Ariza correndo ao lado dele. Contra o Heat foi uma arma decisiva no segundo tempo.

Aliás, essa eu acho que essa é até uma falha do Hornets, eles são muito bons quando tentam o contra-ataque, mas não tentam tanto quando deveriam. São só 14 pontos por jogo assim, menos que no ano passado e somente o 17º melhor time no quesito nessa temporada. O Trevor Ariza é limitado no ataque, mas tem duas qualidades incontestáveis: É perfeito para esse jogo em velocidade e é um Robert Horry 2.0, acerta qualquer tipo de cesta, até a mais idiota que ele pode tentar, se é importante para o time. Ontem ele matou o Heat com uma bola de três no minuto final, e daí que ele arremessa mal e tinha acertado só tabela nas últimas quatro tentativas?

Em compensação o time aproveita as qualidades dos outros jogadores. Belinelli não é tudo isso, mas sabe arremessar, assim como Marcus Thornton, então é isso que eles fazem. Você não vê eles nem tentando coisas absurdas que eles não sabem. É um time inteligente, com defeitos que qualquer um consegue ver, mas que com inteligência e um armador que fica com a bola na mão durante 90% do tempo de cada posse de bola, toma as decisões certas em quadra.

Mas como prova de que o Heat é um time muito bom, o Hornets precisou de tudo isso e muito mais para vencer o jogo de ontem. Além da defesa agressiva, dos rebotes, dos contra-ataques e de uma noite inspirada do Chris Paul (19 assistências), eles só sairam com a vitória porque, assim como o Celtics, conseguiram explorar o garrafão fraco do Heat. A dupla Okafor e Jason Smith fez a festa pra cima de Chris Bosh e Joel Anthony, marcaram juntos 38 pontos e pegaram 19 rebotes contra 17 pontos e 6 rebotes da dupla de Miami, o Bosh em especial pegou um rebotezinho de nada, o DJ Mbenga em 8 minutos conseguiu dois. Eu aqui de casa peguei uns três. O difícil é esperar que Smith e Okafor joguem assim toda noite, acho bem difícil, por isso o jogo de ontem não pode ser parâmetro para medir a qualidade ofensiva deles.

No preview do Hornets eu comentei como o Monty Williams era conhecido no Blazers por ser amigo dos jogadores, bem próximo, sabia falar a língua deles. Eu não duvidaria que a sua motivação tem papel fundamental na vontade com que os jogadores estão atuando nesse começo de temporada, pelo menos é o que parece vendo a intensidade com que eles jogam. Não tenho informações para confirmar isso, mas acho bastante realista que ele tenha apelado para o fato de que boa parte do elenco do Hornets é feito de jogadores que não estavam sendo bem vistos ao redor da liga. O Ariza foi uma decepção para boa parte da torcida do Rockets, o Belinelli nunca teve espaço no Warriors ou no Raptors e o Okafor virou piada porque sua rivalidade com o Dwight Howard virou freguesia das mais humilhantes. Agora estão todos juntos com o Chris Paul, que deixou claro pra todo mundo que não está a passeio na temporada e quer vencer tudo o que for possível.

Se eu estivesse no Hornets eu daria minha vida para agradar o Chris Paul e ganhar jogos. Imagina se tudo dá errado e ele muda de time no ano que vem! Seriam facilmente o pior time da liga. Se doar ao máximo na defesa faz o time vencer hoje e coloca uma perspectiva melhor no futuro: CP3 decide ficar no time, os renegados se consolidam na NBA e aí até dá pra começar a atrair bons nomes para jogar com o Paul ao invés do contrário. Foram só alguns jogos, mas vitórias importantes o bastante para fazer o time pensar bem alto.

……..
O que foi o final do jogo entre Suns e Grizzlies ontem? Que bizarrice! Nunca tantos erros deixaram um jogo tão legal.

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