Por trás dos 53

Em 2013, Stephen Curry teve uma das partidas mais espetaculares da história do Madison Square Garden quando estabeleceu seu recorde de pontos num jogo: 54. Com um Warriors amplamente desfalcado, sem seus principais jogadores de garrafão, Curry teve que fazer tudo sozinho: jogou todos os 48 minutos possíveis da partida, sem sentar um segundo sequer para descansar; converteu surreais 11 bolas de três pontos em 13 tentativas; acabou o jogo exausto, dizendo não sentir direito suas pernas. Ainda assim seu esforço não foi suficiente, com o Knicks de Carmelo e então Tyson Chandler conseguindo uma vitória nos minutos finais.

Os 53 pontos que Stephen Curry marcou no último sábado (incluindo 28 pontos apenas no terceiro período), ainda em sua terceira partida na atual temporada, foram amplamente celebrados e assistidos e compartilhados por todos os lugares – de uma maneira tal que, em meio ao espetáculo dos seus arremessos, corremos o risco de perder as pequenas coisas impressionantes que aconteceram por trás dessa atuação. Quão diferente ela foi de seu recorde de 54 pontos? Como se saíram os outros jogadores, ofuscados pela partida incrível do armador? 


1. Foi um passeio no parque

[image style=”” name=”on” link=”” target=”on” caption=”A quantidade de pêlos na cara não mente: Curry fez os 54 pontos quando ainda era criança”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/162809332.jpg[/image]

Relembrar os 54 pontos de Curry em 2013, recorde pessoal do armador, serve para notarmos quão distintas foram as duas ocasiões. No sábado dos 53 pontos, Curry jogou apenas 35 minutos (13 a menos do que no dia do recorde) porque seu time não precisou que ele passasse mais tempo em quadra. Ao invés de terminar o jogo exausto, Curry jogou com tranquilidade, deu arremessos fáceis, fez muitos pontos simples em jogadas de contra-ataque, e quando recebeu marcação dupla próximo ao término do terceiro período, passou várias posses sem sequer tocar na bola. Não precisou acertar insanas 11 bolas de três pontos porque teve à disposição arremessos mais fáceis, os lances-livres, 11 no total porque é fácil cavar faltas e sofrer contato com infiltrações quando o adversário está sempre defendendo na transição ou preocupado com as bolas no perímetro. Os arremessos que foram forçados, Curry os fez achando graça daquilo tudo, voltando para a defesa em meio a risadas. Por trás da atuação fantástica, o que mais impressiona é a naturalidade com que esses pontos foram convertidos e portanto imaginar que, ao contrário de 2013, marcas parecidas podem se tornar cotidianas para o armador do Warriors. Prova disso são os números de Curry na temporada até aqui: são 99 minutos jogados em três partidas, um total de 118 pontos, 40 arremessos convertidos em 68 tentativas (59% de aproveitamento), 17 bolas feitas em 35 tentadas da linha de 3 pontos, apenas um lance livre errado em 22 tentativas, e um total de míseros 5 turnovers para alguém que está com média de mais de 7 assistências por jogo. Já é hora de afirmar: super atuações já são, para Curry, algo banal. Já podemos olhar para o que está ao seu redor.

2. A importância de Draymond Green para esse elenco

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Aquele famoso golpe de jiu-jitsu, a ‘chave de suvaco’.”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Green.jpg[/image]

Draymond Green assinou antes do começo da temporada um fantástico contrato de 85 milhões por 5 temporadas. É certamente o maior caso de sucesso de um tipo específico de jogador, o “ala nanico improvisado dentro do garrafão” que fez tanto sucesso quando Boris Diaw ganhou o prêmio de jogador que mais evoluiu lá em 2006. Aquele Suns não tinha ninguém pra enfiar no garrafão, Boris Diaw tinha começado a carreira na NBA sendo armador principal, mas por algum motivo bizarro o improviso deu incrivelmente certo: Diaw tinha velocidade para entrar na frente de jogadores maiores, cavava um milhão de faltas de ataque, conseguia se posicionar bem para os rebotes, espaçava o garrafão e passava bem a bola. Desde então, vários jogadores foram enfiados em situações similares, com graus distintos de sucesso. Mas Draymond Green é tão expetacular na função que não há pivô no planeta que poderia oferecer, para o esquema tático atual do Warriors, mais vantagens do que ele nesse momento.

Enquanto o Stephen Curry está ali fazendo chover pontos, vale dar uma olhada no inferno que Draymond Green está causando para o coitado do Pelicans. Na maior parte das posses de bola na defesa, lá está  o desgraçado fazendo marcação dupla no Anthony Davis, impedindo que ele receba a bola, forçando o jovem ala a dar passes precipitados, e usando sua velocidade lateral absurda para fechar os corredores de infiltração do Pelicans, sofrendo faltas de ataque ou forçando os jogadores adversários a darem um passe a mais ao invés de fazer uma bandeja, criando tempo para a defesa se ajustar da marcação dupla do início da jogada.

Chegou em um momento da partida que o Anthony Davis tocava na bola já procurando alguém para receber um passe. Quando você faz um dos maiores talentos ofensivos da NBA ignorar a possibilidade de arremessar ou atacar a cesta quando recebe a bola porque a coisa “certa” a se fazer é dar um passe para um companheiro supostamente livre, então o duelo psicológico foi vencido pelo defensor. Mesmo quando Anthony Davis dava os passes certos, isso é sempre melhor do que seus arremessos certeiros, especialmente com uma defesa coletiva que sabe correr para ajustar o cobertor curto da marcação dupla.

E no ataque, Draymond Green forçou o Anthony Davis para fora do garrafão, foi o responsável por fazer o Monocelha ter que marcar o Curry em várias posses de bola (que viraram arremessos de três com o defensor sempre desequilibrado), acertou 4 bolas de três pontos no perímetro e infiltrou seguidamente nos contra-ataques. Enquanto Curry é visivelmente espetacular, Draymond Green é um dos responsáveis pelas partidas do armador serem tão mais fáceis do que dois anos atrás, mesmo que ele seja quase invisível em quadra.

3. Anthony Davis de armador

[image style=”” name=”on” link=”” target=”on” caption=”Curry faz o gesto universal de ‘eu sou uma criança feliz'”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/anthony-davis.jpg[/image]

Com marcação dupla em cima dele em quase toda posse de bola e a extrema falta de espaço para arremessar, como foi que Anthony Davis conseguiu ser relevante para a equipe mesmo assim? A resposta é bizarra: assumindo a armação da equipe. Por diversas vezes, foi Davis quem trouxe a bola da defesa para o ataque para iniciar a movimentação ofensiva, inclusive optando por alguns arremessos na transição, quando a defesa do Warriors levava alguns segundos para se adaptar à mudança. Receber a bola dentro do garrafão torna a marcação dupla muito mais simples, porque o defensor extra vem do lado oposto da bola, obrigando os passes para um companheiro livre a atravessarem toda a quadra, o que dá tempo de ajuste e abre caminho para uma interceptação. Colocar marcação dupla num jogador fora do garrafão, especialmente quando ele está no meio da quadra, de frente para a cesta, é muito mais complicado porque o jogador consegue ver toda a extensão da quadra para encontrar seu companheiro livre com muito mais facilidade. Foi assim que Anthony Davis em versão armador conseguiu mais espaço para jogar, a garantia de que as posses de bola iriam passar pela mão dele, e obrigando o Warriors a abandonar a marcação dupla constantemente.

Anthony Davis acabou uma partida em que foi magistralmente bem marcado com 26 pontos, 4 assistências e uma bola de três convertida. Se Curry não tivesse feito os seus fabulosos 53, talvez estivéssemos discutindo a evolução incrível de Anthony Davis armando as jogadas de sua equipe, e quais possibilidades isso abre para esse elenco ainda tão defesado por lesões. Aliás, tirando o quarto em que o Stephen Curry sozinho fez dois pontos a mais que o Pelicans inteiro, a equipe de Anthony Davis jogou de igual para igual com os atuais campeões. Há esperança de sucesso para o Pelicans – mas muito diferente desse título do Warriors que parece se aproximar, ainda no começo da temporada, com uma naturalidade e banalidade nunca vistas na NBA.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.