>Por uns trocados

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O jogador com as melhores fotos do mundo vai agora para o Wizards

A moda agora é, além de namorar pelado – como diria o poeta -, fazer trocas imbecis para liberar espaço salarial e contratar alguma mega estrela ultra-poderosa que mudará o equilíbrio do mundo e descobrirá a cura para o câncer. Enquanto nos dedicávamos a analisar a grande Final, a vitória do Lakers, o draft e cada uma das escolhas, e explicar como funcionam as regras de teto salarial na NBA pra todo mundo poder acompanhar as novas contratações, um monte de pequenas trocas aconteceram. A imensa maioria apenas para isso, diminuir a folha de pagamento pra então bancar uma, duas, até três estrelas juntas e tornar o time uma espécie de Liga da Justiça, mas sem os pentelhos dos Supergêmeos e aquele macaquinho desnecessário, por favor. Algumas poucas foram trocas sem motivações financeiras, e por isso são as menos imbecis, sem um time mandando cocô e conseguindo uma Alinne Moraes. Vamos dar uma olhada em todas essas trocas:



Heat manda Eric Bladsoe (escolha 18 do draft) e Daequan Cook pro Thunder em troca de Dexter Pittman (escolha 32 do draft)

Na minha opinião, uma das trocas mais engraçadas que eu já vi e perfeita para exemplificar o desespero das equipes por espaço salarial, na ânsia por contratar uma renca de estrelas. Resumindo, o que o Heat fez foi pegar sua escolha de primeira rodada de um draft bastante profundo e interessante, juntar com o melhor arremessador de três da equipe (poderíamos até mesmo dizer que era o único) e que nem ganhava tanto dinheiro assim, e mandá-lo em troca de um jogador obscuro da segunda rodada com problemas de peso e que muito provavelmente nem vai jogar pela equipe. Ou seja, o tipo de troca que você só faz se está afim de ser demitido.

O que o Heat quer é apenas economizar: o contrato do Eric Bladsoe, armador escolhido na primeira rodada, é garantido – basta draftar para você ser obrigado a lhe pagar salário todo ano. Dexter Pittman, escolhido na segunda rodada, não tem salário garantido e pode ser mandado embora, sem multas, caso o Heat prefira. Daequan Cook era bom nos arremessos mas um tanto limitado, foi trocado para o Heat não ter que arcar com suas despesas. E o resultado foi que a equipe de Miami ficou com apenas 3 jogadores com contrato para a temporada que vem: Michael Beasley, o ala que começou sua carreira na NBA fumando maconha após a palestra de “bem-vindos novatos” e até agora não mostrou serviço; Mario Chalmers, o armador com nome de encanador que tem “reserva” escrito na testa mas foi obrigado a ser titular porque não tem ninguém melhor; e James Jones, arremessador de três atlético que não joga nada mas sempre ganha uma chance em algum lugar por parecer ter bastante potencial (e força nominal). Parece um absurdo ter apenas três jogadores garantidos para a temporada seguinte, e o Heat concorda, porque depois dessa troca, a primeira coisa que fizeram foi mandar o James Jones embora, pagar as multas e não ter mais que lidar com isso. Agora são, oficialmente, apenas DOIS jogadores na equipe. Todo o resto da grana pode ir para as estrelas disponíveis, montando um time do zero. Sorte do Thunder que, espertinho, usou o espaço salarial limitado que tinha guardado para contratar um pivô e preferiu usar para fazer trocas com times desesperados pela febre “oh meu deus, preciso contratar o LeBron James“. Tanto Bladsoe quando Cook tornarão o banco do Thunder, que era bem meia-boca, algo digno de nota.




Nets manda Yi Jianlian e verdinhas para o Wizards em troca de Quinton Ross

Não tenho como mentir, sou um fã do Yi Jianlian. Pode ser o fetiche por chineses com mais de 2,10m de altura, pode ser o fetiche por asiáticos com cara de bobo, não sei exatamente, mas sou fascinado pelo Yi a ponto de nem perceber que ele é uma farsa. Basta vê-lo treinar para ficar encantado: o chinês é veloz, atlético, tem bom trabalho de pernas, uma mecânica de arremesso maravilhosa que dá inveja até no Nowitzki, arremessa de três com precisão, joga de costas para a cesta, distribui tocos, corre com a bola. Mas basta vê-lo num jogo de verdade para ficar horrorizado: toma decisões idiotas na quadra, defende como se seu corpo fosse feito de gelatina, tem fobia de entrar no garrafão, comete faltas bobas e vive machucado (todos os asiáticos da NBA devem ser contrabandeados de Taiwan). É uma excelente ideia ter o Yi Jianlian no seu time, ele é um bom jogador, com muito potencial, alto para a sua posição, excelente arremessador. Só que é uma péssima ideia colocá-lo em quadra, porque ele não rende nada. Além disso, ganhará mais de 4 milhões na próxima temporada. O Nets cansou do chinês, está com medo do produto quebrar de vez na sua mão, e trocou por um defensor experiente que ganha apenas 1 milhão. Na prática, isso significa mais espaço para assinar com uma estrela (eles ainda sonham com LeBron) e a vaga de titular garantida para o novato Derrick Favors. Seria mesmo bem idiota deixar qualquer um deles no banco de reservas, porque tanto Yi quanto o pirralho precisam de minutos para evoluir.

Para o Wizards, que conseguiu uma grana enorme para gastar com jogadores graças à decisão de se livrar de todo mundo no meio da temporada passada, o Yi Jianlian é mais do que um jogador com potencial que pode dar certo um dia: ele garante audiência. Se o Wizards quer se livrar da fama da “Era Arenas“, começar de novo e dar uma nova cara à equipe, nada melhor do que ter o novato John Wall para atrair os fãs ocidentais, e o Yi Jianlian para atrair os fãs que jogam Pokémon. A China é tão apaixonada por seus jogadores que chegaram a criar um canal apenas para transmitir os jogos do Bucks (do Bucks, meu deus, do Bucks, aquele time que nem os moradores de Milwaukee assistem!), então o que não vai faltar para o Wizards serão camisetas vendidas e jogos televisionados tanto nos Estados Unidos quanto no resto do planeta.




Nets manda Chris Douglas-Roberts para o Bucks por uma escolha de segunda rodada em 2012

Olha o Nets se livrando de mais gente a troco de nada! O Chris Douglas-Roberts era um daqueles casos estranhos de jogador que chuta traseiros no universitário mas que todo mundo desconfia de que não dará certo na NBA. Nunca entendi muito bem o motivo, mas a verdade é que ninguém nunca entendeu também, nem mesmo os próprios times que preferiram não draftá-lo. O rapaz demorou um pouco para pegar o jeito no Nets, porque a posição era de Vince Carter, mas quando o processo de reconstrução saiu do armário (a gente sabe que eles estão se refazendo faz uns 10 anos, mas só agora decidiram assumir para a mamãe e pro papai), Douglas-Roberts teve mais oportunidades e mostrou todo o potencial que tem como pontuador nato. O problema é que ele teve incidentes com o técnico, chegando a acusar o Lawrence Frank de amador (oras, ele apenas foi sincero), reclamou demais da situação calamitosa do Nets, e pra piorar ele ainda ganha um salário – ainda que de menos de 1 milhão – num time que quer se livrar de todo mundo pra poder contratar as estrelas badaladas. Perfeito para o Bucks, que aproveitou a chance de conseguir um excelente pontuador para a posição mais deficiente da equipe (já que Michael Redd está sempre de cadeira de rodas e  John Salmons provavelmente deixaria o time). Como trocaram também por Maggette e John Salmons deve renovar o contrato, o Bucks foi de não ter nenhum desgraçado para pontuar na posição para ter três carinhas que só sabem fazer isso da vida. Nada mal, aproveitaram muito bem a “febre LeBron James”.

Wolves manda Luke Babbitt (escolha 16 do draft) e Ryan Gomes para o Blazers em troca de Martell Webster

O Blazers precisava de Martell Webster para arremessar de três, pegar rebotes e ser o titular da equipe, mas é como dizem: foi se contundir, perdeu o lugar. Quando voltou, o coitado do Webster encontrou uma infinidade de armadores e alas que faziam a mesma coisa que ele, mas a maioria tinha dois joelhos. A troca foi óbvia, porque ele era descartável para a equipe e o Wolves é um time burro de dar pena que está, aparentemente e sem que saibamos o porquê, colecionando jogadores da mesma posição com as mesmas características. Funhé.

A única cagada dessa troca, por parte do Blazers, foi mandar o Ryan Gomes embora. O ala é um dos meus jogadores favoritos, joga muito bem nas duas posições de ala, improvisa como pivô se necessário, e faz absolutamente um pouco de tudo. Em algumas escalações comicamente horríveis, de dar vontade de ir no banheiro, já vi o Ryan Gomes armando o jogo, passando bem a bola, tendo que pegar todos os rebotes, se tacando no chão, arremessando de três, jogando de costas para a cesta, jogando só na defesa, jogando só no ataque, e cozinhando um molho de abóbora. Ele é um dos típicos jogadores “carregadores de piano”, mas sem ser brutamontes. Ao invés de engolir ônibus escolares no café da manhã como Carl Landry, Jason Maxiell ou Paul Millsap, o Ryan Gomes é fino e educado, inteligente e cheio de finesse. Um lorde. O Blazers se livrou dele apenas porque, se demitido antes da próxima temporada, não teria que pagar multas, e a tentação de economizar dinheiro foi grande demais para um time que já é profundo. Mas o Ryan Gomes brilharia justamente num time profundo que seja vencedor e queira ser campeão. Fica minha torcida para que ele arrume um emprego entre os candidatos a título.

Sixers manda Samuel Dalembert para o Kings em troca de Spencer Hawes e Andres Nocioni
Uma das únicas trocas que não foram exatamente financeiras e em que os dois times saem ganhando. O Sixers passou um tempão achando que iria dar muito certo quando tivesse alguém de garrafão. A equipe era uma droga, ninguém arremessava de três, ninguém pontuava de costas para a cesta, mas por algum motivo eles se saíam bem e davam um trabalhinho nos playoffs. A solução óbvia para arrumar o time e torná-lo um candidato a ser campeão do Leste era assinar o Elton Brand, um dos melhores e mais consistentes jogadores de garrafão que a NBA já viu (é até engraçado dizer isso agora que ele ficou consistentemente ruim). Ninguém sabe explicar muito bem, mas o Elton Brand – um monstro absurdo tanto no ataque quanto na defesa – simplesmente não deu certo na equipe. Todo mundo fica inventando explicações malucas, alegando que ele ocupa um espaço no garrafão que o Iguodala usa para infiltrar, que ele bate cabeça com o Dalembert porque os dois só rendem de verdade debaixo do aro, que ele teve seu talento roubado pelos Monstars do filme “Space Jam”, essas coisas. O Sixers decidiu, então, tentar fazer alguma coisa a respeito ao invés de chorar na calçada: como não dá pra trocar o contrato gigantesco do Elton Brand porque agora ele fede e os outros times sabem disso, a ideia foi trocar o Dalembert, que nunca foi grandes merdas mas é excelente em tocos, por um pivô que possa defender e atacar um pouco mais longe do aro. No ataque, o Elton Brand se ateve a arremessos de média-distância porque o Dalembert é incapaz de pontuar um passo longe da cesta. O Spencer Hawes parece perfeito pra arrumar tudo isso: é bom em tocos mas joga melhor afastado do aro, arremessa muito bem deixando espaço para Iguodala infiltrar e o Brand jogar onde gosta, e além de tudo isso ainda é um belo arremessador de três pontos, coisa que ninguém no Sixers parece ser. Prevejo uma melhora imediata na equipe, mas se esse experimento bizarro revitalizar a carreira do Elton Brand, aí terá sido uma troca genial e o Sixers passa a ser levado a sério de novo.
O Kings não fazia muita questão de manter o Spencer Hawes desde que ele se negou a jogar uma Summer League na temporada passada, contrariando a vontade do técnico. Ficou meio de escanteio, foi perdendo espaço na equipe e agora trocaram sem dó. Além disso, o Kings criou uma fama (justificada) de ser um time mole, fraco fisicamente, técnico porém “delicado”. Ou seja, aquele nerd inteligente e talentoso que apanha dos coleguinhas e fica preso no armário. O pivô do Kings por muitos anos foi o Brad Miller, excelente arremessador e passador mas que é fraco como uma criança, e o Spencer Hawes parecia ter vindo dessa mesma fábrica de crianças sardentas, altas, fracas e branquelas. Para a nova cara do Kings, nada melhor do que gente que esteja disposta a dar cabeçadas e beber uma taça ou duas de sangue antes do almoço. O Dalembert é o ideal, vai trazer uma defesa física e agressiva ao garrafão do Kings que eles não tem há uma década, e ele curte um sanguinho (seu apelido é “Dalembeast”, que se traduzirmos como “Dalembesta” fica até mais verossímel porque o pivô é, além de um montro, bastante burro). Já o caso do Nocioni é um mistério pra mim. O Kings sempre usou o argentino como tapa-buraco. Se alguém está cru e precisa vir do banco, se alguém contundiu, se alguém perdeu o cachorro, se alguém tá com manha e não quer sair da cama e inventou que está levando a mãe no hospital, coloca o Nocioni no lugar. Sempre jogou bem, dava as cabeçadas que ninguém mais na equipe dava, mas o Kings nunca valorizou, sempre manteve como substituto genérico. Fizeram a mesma coisa com o John Salmons, que encheu o saco até sair de lá e deu tão certo com o Bucks na temporada passada, onde valorizaram seu trabalho. Não entendo o motivo do Nocioni ser tão desprezado em Sacramento, mas espero que no Sixers ele seja bem usado graças à sua versatilidade e arremessos de três pontos. 
Warriors manda Corey Maggette e Jerome Jordan (escolha 44 do draft) para o Bucks em troca de Charlie Bell e Dan Gadzuric
O Bucks está, além montando o time de uma vez com trocas e contratações-relâmpago, desfazendo cagadas anteriores. O Warriors está tentando desfazer algumas, também, para então poder fazer cagadas novas como sempre. O lance com o Charlie Bell é o mais triste: ele teve uma temporada boa, recebeu uma oferta de contrato do Heat, e aceitou sem pensar duas vezes. Disse estar louco para sair de Milwaukee, que não queria mais jogar lá, e pediu diretamente para os engravatados que não igualassem a proposta (ele era um Free Agent restrito, ou seja, o Bucks poderia tê-lo de volta caso pagasse um contrato igual ao que o Heat ofereceu). Aí o Bucks foi lá, cobriu a oferta, manteve o Charlie Bell muito descontente, e nunca mais colocou o cara em quadra. Seu papel passou a ser limitadíssimo, ninguém mais conseguia lembrar o que o Bell tinha feito de tão especial no ano anterior, e ficou preso no banco para sempre, ganhando seus quase 4 milhões de doletas. Dan Gadzuric também era um jogador com salário enorme mas muito mal aproveitado, ele sempre foi excelente em tocos, mas lhe faltaram os minutos (e a qualidade ofensiva) para poder render mais em quadra.
Os dois vão para o Golden State, saindo de um castigo para ir para outro. Só sabem defender e nunca terão espaço na rotação do Don Nelson. Por outro lado, Corey Maggette deve estar comemorando a fuga do manicômio que é a equipe do Warriors. Por lá, nunca teve regularidade nem nos minutos nem no papel em quadra, já jogou em tudo quanto é posição, foi obrigado a jogar até no garrafão, e nunca teve a permissão de fazer aquilo que faz melhor. O Bucks, por sua vez, é um time que precisa justamente do que o Maggette faz: pontos na marra, na base da força, quando nada mais está funcionando. E nós que acompanhamos o Bucks nos playoffs sabemos, nunca tem nada funcionando no ataque do time. O Maggette sabe pegar a bola e bater para dentro, cavar faltas e dar um jeito de pontuar mesmo contra as defesas mais complicadas. Já foi o jogador que mais cobrava lances livres na NBA e era normalmente chamado de “buraco negro” porque toda vez que recebia a bola, batia para dentro e a bola não voltava mais. No Bucks, vai dar muito certo. O time inteiro defende e não sabe o que fazer no ataque, querem tocar pra alguém que faça milagre. Mesmo quando o Maggette não fizer milagre (ele é fominha e fede um bocado às vezes), ninguém vai ter coragem de reclamar, vão pelo menos respirar aliviados de que ele pelo menos tentou alguma coisa. Diabos, até eu vou respirar aliviado de que tentaram algo, o Bucks parece mais perto de fazer uma cesta-contra do que de pontuar contra os adversários às vezes. O único problema é que o técnico do Bucks, Scott Skiles, é notoriamente o mais chato da NBA, o mais exigente nos treinamentos, e ele não tem medo de se recusar a usar jogadores que não se esforcem pelo time. Já o Don Nelson é um dos treinadores mais tranquilos, nunca fica bravo e sequer dá treinos. Quando o Baron Davis saiu do Warriors e foi para o Clippers, disse que ficou assustado com os treinamentos em Los Angeles, porque no Warriors não tinha nada nunca e a vida era mais fácil e divertida (parece uma merda jogar para um time que só perde, mas espera até você chegar em um com treinamentos duros e diários, no qual você precisa se esforçar, e vamos ver se a opinião não muda). Sair de um lugar tão relaxado pra pegar justo o técnico mais mala da NBA pode acabar rendendo ao Maggette mais castigos no banco do que ele pode imaginar…
Cobrimos as principais trocas dos últimos tempos, agora nos próximos dias será hora de falar das contratações. Vários jogadores andaram assinando (ou reassinando) contratos, vamos dar uma olhada em cada um deles e aproveitar para explicar as mudanças contratuais que devem ocorrer e levaram jogadores como Richard Jefferson a abrir mão de seus gigantescos contratos atuais. Até lá!

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