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Um dia comum na rotina de Yao Ming, após acordar e antes de passar na padaria
Objetivo máximo: Passar da primeira rodada dos playoffs pra mostrar que não foi sorte
Não seria estranho: Não se classificar para os playoffs, ficando na 9a posição
Desastre: Ter o Yao Ming contundido mais uma vez
Forças: Um elenco cheio de especialistas e disposto a jogar coletivamente
Fraquezas: A falta de uma estrela para decidir os jogos e séries mais complicadas, já que o Yao é de vidro
Elenco:
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Técnico: Rick Adelman
Quando o Adelman assumiu o Blazers em 1989, o time era bom o bastante para chegar aos playoffs mas batia cabeça em quadra, não tinha identidade nem padrão ofensivo. Sob comando do Adelman, foram para os playoffs na temporada que ele assumiu e para a Final do Oeste nos três anos seguintes, ganhando o Oeste duas dessas vezes. Esse é um bom exemplo do que esse técnico pode fazer com um bom elenco. Quando assumiu o Kings em 98, tornou aquele elenco bacanudo num dos times mais legais de assistir de todos os tempos, levando-os a múltiplas finais do Oeste. O truque é uma versão modificada da “Princeton Offense“, de que tanto falamos no preview do Cavs. A versão do Adelman se foca mais no jogo entre dois jogadores do que no de três, costuma tirar os pivôs de dentro do garrafão para que eles possam passar a bola para jogadores cortando pelo fundo, e pede mais velocidade e correria ao invés da enorme quantidade de passes e jogo contido da “Princeton Offense”. Adelman gosta de contra-ataques e, assim como naquele Suns do Mike D’Antoni, insiste que os arremessos rápidos são melhores do que ficar passando a bola por 24 segundos. Seu ataque é criativo e instintivo, com pouca intervenção do técnico e muita liberdade para os jogadores. Os dois armadores trocam constantemente de papel um com o outro e em geral são os pivôs que iniciam as jogadas com um passe na cabeça do garrafão.
Todos os jogadores dizem que o sistema ofensivo do Rick Adelman é uma delícia de jogar, há liberdade para inovar e improvisar, velocidade e no entanto não tem porra-louquice, as movimentações são bem planejadas. O problema é que além de ser um sistema complexo para aprender e se acostumar, o fato de que ele precisa de criatividade e improviso exige jogadores inteligentes ou que, no mínimo, consigam manter calma e naturalidade nas movimentações. Além disso o sistema deve responder à defesa, sem que existam jogadas fixas, o que costuma deixar as estrelas de lado. Rick Adelman não vai chamar 40 jogadas seguidas para o Yao Ming, a bola deve chegar no pivô naturalmente, quando for possível, como resultado da postura da defesa. É comum ver estrelas jogando pelo Adelman sem receber a bola por longos minutos, o que não lhes deixa muito contentes, e no final dos jogos isso é sempre um problema. Os times de Adelman são famosos por amarelar nos jogos decisivos em parte porque não é natural para o sistema ofensivo colocar a bola nas mãos de um jogador só e deixá-lo decidir. O Kings fodão dos anos 2000 perdeu jogos fantásticos porque a última bola caía nas mãos de um Stojakovic livre – um baita arremessador que se borrava de medo de dar o último arremesso, mas que por estar livre deve receber as bolas no ataque de Adelman.
O Houston sem Tracy McGrady e sem Yao Ming foi um sonho para o Adelman porque não havia qualquer estrela para encher o saco, seu ataque era seguido à risca, todo mundo recebia as bolas apenas quando elas faziam sentido, e a campanha da equipe foi fenomenal – mas não o bastante para ir para os playoffs numa Conferência Oeste disputada como nunca. Na temporada anterior, o Houston sem T-Mac e com Yao contundido levou o Lakers para um Jogo 7 na semi-final do Oeste, mas não foi o bastante para vencer. Ou seja, o esquema é lindo de se ver, envolve todo mundo, mas não costuma ser muito decisivo.
Além disso, o Adelman é famoso por saber lidar com todo tipo de personalidade. Ron Artest foi para o Houston por afirmar que o Adelman era o único técnico que o respeitava de verdade, e a postura “foda-se, faça o que quiser” do Adelman dá cabo de qualquer jogador-problema. No entanto, dizem que ele é meio relaxado, principalmente nos treinos, e deixa os jogadores livres demais às vezes. Não dá pra agradar todo mundo…
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Esse Houston Rockets de agora levou bastante tempo para entender a fundo o sistema ofensivo do Rick Adelman. No começo, executavam tão mal no ataque que o Adelman tinha que chamar todas as jogadas, uma por uma, todos os jogos, na lateral da quadra. Aos poucos Aaron Brooks foi se acostumando com a armação, o elenco de especialistas sem estrela alguma abraçou a causa, os jogadores são incrivelmente inteligentes e executaram tudo com perfeição, e o Adelman pode dormir feliz mesmo com um elenco limitado. Em suas próprias palavras:
“Às vezes você tem alguns times que talvez não sejam tão talentosos quanto outros times, mas certamente dá para tirar deles o mesmo que você tiraria de times melhores. Se você consegue com que joguem com todo seu potencial, e joguem duro todas as noites e se esforcem todas as noites, isso já é satisfação. Você não vai ter sempre o melhor time.”
Mas para vencer nos playoffs, o time precisa de ajuda. Apesar de já ter provado que pode jogar sem Yao Ming, aumentando a velocidade dos contra-ataques e se focando mais nos arremessos de três pontos, com Yao em quadra o time ganha um defensor embaixo do aro – mantendo a tática, implementada por Jeff Van Gundy, de fazer com que a defesa afunile os jogadores em direção do Yao e de repente se choquem numa parede de quase 2,30m. Além disso, Yao é um excelente passador da cabeça do garrafão, essencial para iniciar as jogadas de Adelman, e o time é muito melhor com ele em quadra.
Infelizmente o pivô chinês será limitado a 24 minutos por jogo, o que não tem qualquer relação com sua sexualidade, mas é uma grande sacada para evitar lesões em um esqueleto que não foi feito para carregar aquele peso e aquela altura pulando de um lado para o outro numa quadra de basquete. Quando ele estiver em quadra, ótimo, mas quando não estiver caberá ao recém-chegado Brad Miller assumir a função de pivô passador e arremessador. Brad Miller teve o melhor momento de sua carreira jogando no Kings do Rick Adelman e mostrou ser um excelente passador, além de sólido arremessador de 3 pontos. Na maioria dos outros times, seria mal usado, mas ele nasceu para jogar para o Adelman. Agora, com e sem Yao, o Houston terá um padrão de jogo no garrafão e poderá correr menos, poupando um pouco o fôlego durante a temporada regular.
Como parceiros de garrafão de Brad Miller e Yao Ming, o Luis Scola vem de um Mundial espetacular e como sempre renderá bem no ataque com seu cérebro super-desenvolvido encontrando os espaços livres, enquanto Chuck Hayes cuidará da defesa apesar de ser anão simplesmente incomodando os adversários, cutucando a bola e sendo o marcador mais irritante de toda a NBA. Com a saída de Trevor Ariza, agora Shane Battier volta a ser titular, o que aumenta o QI da equipe em oito mil pontos, garantindo a defesa de perimetro e a movimentação impecável do ataque, com os clássicos arremessos de três da zona morta. Courtney Lee, também nova aquisição, deve ser o reserva do Battier nas funções defensivas enquanto Chase Budinger (que poderia ser estrela de vôlei mas escolheu ir jogar basquete mesmo sendo pior) e seus arremessos precisos de três substituirão Battier no ataque.
A aquisição mais importante da equipe, no entanto, chegou já na temporada passada, mas estava lesionada e demorou para compreender o sistema ofensivo. Trata-se de Kevin Martin, um dos melhores pontuadores da NBA e que detesta a ideia de ter que carregar um time nas costas. Agora, em plena forma física depois de um longo regime de reabilitação e treinamentos nas férias, diz estar pronto para tomar as rédeas do time quando for necessário. Ou seja, Kevin Martin não vai se importar de estar num esquema coletivo que não colocará a bola em suas mãos, mas se diz disposto a decidir as partidas com seu enorme arsenal de movimentos de infiltração (e capacidade mutante de cavar faltas). Ao contrário de T-Mac, que só rende quando joga com a bola nas mãos o tempo inteiro, Kevin Martin brilha por se movimentar bem, arremessar ao receber a bola depois do corta-luz, e pode manter a bola nas mãos justamente nos momentos em que o Houston (e o Rick Adelman, em toda sua carreira) mas sofre: nos minutos finais. Creio que Adelman deve ter percebido que seu time perfeito, sem estrelas, e seguindo seu plano à risca, não foi o bastante para chegar aos playoffs, e que será necessário abrir espaço para Kevin Martin resolver algumas partidas. Se estiver ao lado de Yao Ming, que deve ser poupado para os minutos finais dos principais jogos, o Houston pode ser muito mais forte do que se imagina, com um excepcional elenco de apoio carregando o time quando necessário durante a temporada regular.