>Ontem tivemos o primeiro dia de playoffs, com 4 partidas durante todo o dia. O esquema é esse: assiste jogo, come, faz pipi, estica os joelhos, assiste jogo, come, faz pipi, escreve no Twitter, assiste pipi, come, estica o jogo, escreve no joelho, e assim vai. Hoje o esquema se repete com Spurs e Grizzlies logo às 14h, seguido por Lakers e Hornets, Celtics e Knicks e Thunder e Nuggets. As séries de ontem foram todas disputadas, com os times mandantes passando algum sufoco com exceção do Magic que… que… bem, deixa pra lá. A partir de segunda-feira teremos análises completas de várias partidas, analisando o andamento das séries com detalhes. Por enquanto, ficamos apenas com a abordagem minimalista que usamos para analisar as séries anteriores, ou seja, vamos tentar explicar a cara de cada jogo com o mínimo de palavras possível (e dá-lhe infográfico para alegrar quem folheia livro só pra ver as figuras!):
Spurs e Grizzlies
O Spurs é o melhor time do Oeste, estamos em ano ímpar e o Duncan está em quadra, ou seja, a lógica natural é botar os anéis de campeão no correio e pronto, estamos de férias e vamos acompanhar, sei lá, críquete. Mas a verdade é que eu acho essa a série mais enganadora, a que mais parece fácil e não é. Pra começar, esse Spurs é diferente, joga em ritmo acelerado, depende de pirralhos como o George Hill e o Gary Neal (coisa que o Popovich nunca aceitaria uns anos atrás), envolve menos o Duncan no ataque e ainda está com o Ginóbili com o braço contundido, ninguém sabe se ele entrará em quadra no domingo. Então é um Spurs que não sabemos como vai reagir nos playoffs depois que o continuum do espaço-tempo foi rompido com a eliminação para o Suns nos playoffs passados. Hoje em dia não dá mais pra contar nem com o que é óbvio e certo, não é mesmo? Vai que esse Spurs, que corre às vezes um pouco demais e volta e meia defende de menos, se atrapalha todo nas mãos da criançada e se lasca. E tem mais, o Grizzlies também não é mais o mesmo. Depois de irem para os playoffs três vezes e nunca ganhar um maldito jogo sequer na pós-temporada, eis que eles são um time completamente mudado e que se orgulha de defender. Sabe como é, a defesa do Garnett é tipo lepra, você fica muito tempo perto dele e começa a se contaminar, e o Tony Allen contaminado acabou despejando o vírus em todo o Grizzlies.
O banco do Spurs pode decidir a série, mas ele é jovem e cheira a fralda. O Zach Randolph pode infernizar o garrafão do Spurs, botando pressão no Duncan, que cheira a asilo. O Grizzlies gosta de jogar na correria e contra times velozes é que eles se saem melhor forçando erros do adversário, o que cheira a Suns antigo que apanhava do Spurs. Mas esse Spurs talvez não consiga diminuir o ritmo do ataque como fazia, porque cheira a novo. E falta para o Grizzlies consistência nos arremessos de três pontos desde que o Rudy Gay se lesionou, o que cheira a OJ Mayo tendo que forçar bolas idiotas demais. Então tem muitos cheiros diferentes nessa série e, embora o Spurs seja obviamente o favorito, vamos aprender muitas coisas tanto sobre esse novo modelo de Spurs nos playoffs quanto sobre se esse Grizzlies ainda vai dar em alguma coisa nos anos seguintes (e quebrar essa sequência de 12 derrotas seguidas em partidas de playoff).
Lakers e Hornets
Tem coisa mais aleatória do que perder seu armador reserva porque ele pegou catapora? Onde diabos um marmanjo de 30 anos pega catapora? Jogando basquete no parquinho com seus amigos da pré-escola? Dando uma de Michael Jackson? Sei lá, mas é isso que deixa a série interessante. Sem o David West, lesionado e fora por mais pelo menos uns 6 meses, esse Hornets é limitadíssimo. Eu acho o substituto dele, o Carl Landry, um absurdo de um jogador, ele tem o poder mutante de fazer a bola entrar de algum jeito quando está embaixo do aro, mas ele não tem como se sair bem contra Gasol e Bynum (que no máximo deve perder o primeiro jogo). Então sobra pro Hornets ter atuações espetaculares do Chris Paul, que na ausência do Steve Blake e sua catapora será marcado pelo Derek Fisher, que se tomasse conta de três tartarugas ia acabar com uma grávida e duas foragidas. É a única chance do Hornets dificultar a série, e depende do Chris Paul infiltrar sem parar e aí pontuar ou alimentar seus companheiros para bolas de três pontos.
Só tem um problema: o Chris Paul depende tanto de pick-and-rolls que chega a ser absurdo, e ninguém no Hornets consegue fazer isso como o David West fazia. O Fisher vai ser estraçalhado, mas o Chris Paul vai ter problemas para atacar o aro consistentemente sem alguém para fazer o “pick” com ele em toda jogada. O Lakers é maior e mais barbudo, e mesmo tirando seus cochilos só vai ter que se preocupar mesmo é se o Chris Paul se animar em níveis épicos. Ou se o Kobe pegar catapora, nunca se sabe.
Celtics e Knicks
Uma das melhores defesas contra um dos melhores ataques. Uma das melhores marcações no garrafão contra um dos melhores times de costas para a cesta. Um dos melhores times na defesa individual contra um dos melhores times em jogadas de isolação. Sabe o que isso significa? Que o time bom no ataque não tem a menor chance. É fato, nessas horas a defesa – especialmente se for física como a do Celtics – sempre leva vantagem e o ataque dos verdes dá um jeito sozinho, como eles provaram tão bem nos últimos anos.
O problema é que o Celtics não é mais essa defesa fodona que os números indicam. Aliás, os números mostram que houve pouca mudança na defesa desde que o Perkins foi trocado, mas para isso o posicionamento dos jogadores mudou, o esforço aumentou, e agora não dá pra ser tão físico como antigamente – e aí ninguém mais tem medo de ficar infiltrando, foi-se o fator psicológico. O Celtics é um time cansado, esbaforido, velho, e ter que marcar um dos melhores ataques da NBA vai ser difícil pra burro. Era pra ser uma série fácil, fácil para os verdes, afinal o Knicks está nos playoffs meio sem querer, o plano era só montar um time decente na temporada que vem, ainda são um projeto pela metade (imagine um carro que ainda vai comprar e parcelar o motor em 12 vezes no cartão Wall-Mart). Mas não, agora vai ser uma série difícil e sofrida e o Celtics, se passar, deve chegar ainda mais cansado na próxima rodada. Eles vão perdendo estamina de rodada em rodada, como se fosse videogame, e não dá pra fazer isso pra sempre. Mas não se acudam, fãs do Celtics, porque o Bola Presa fez um infográfico com tudo que é preciso fazer para o time de Boston vencer a série:
Thunder e Nuggets
Lembram-se que o LeBron disse que o Sixers era “o Nuggets do Leste” e que o time acabou dando um sufoco para o Heat ontem? Pois bem, o Nuggets é “o Nuggets do Oeste” e vai dar sufoco para qualquer time. Qualquer time. Menos o Thunder.
O Nuggets teria um confronto mais parelho com o Mavs, com o Lakers, mas foi pegar justo o Thunder que deu uns cacetes neles bem na última semana da temporada regular. Tudo porque o Nuggets encaixa bem mal no Thunder. O George Karl gosta de usar Raymon Felton e Ty Lawson ao mesmo tempo em quadra muitas vezes, mas aí quem vai marcar o Russell Westbrook, que é um monstro? A simples ideia de que o Ty Lawson vai entrar em quadra nessa série é assustadora, porque o Westbrook vai engolir aquele anão com azeite e sal. E ele não é o único, para parar o Durant seria necessário usar o Wilson Chandler, que ainda está baleado de uma contusão, ou o Kenyon Martin (que é muito melhor defendendo no perímetro do que as pessoas costumam lembrar), mas aí o Nuggets perde muito em tamanho no garrafão. E esse tamanho, que seria útil contra todas as outras equipes do Oeste, vai sofrer para se fazer presente contra o Kendrick Perkins. Aliás, o Perkins e o Nenê se odeiam, quase saíram na porrada nos últimos jogos, e eu não ficaria surpreso se rolasse uma pancadaria. Mas seja como for, o Nenê tem dificuldades contra o Perkins e o Nuggets vai acabar apostando demais nas bolas de três. São dois times que jogam em ritmos bem parecidos, que gostam de correr, que se divertem na transição, a grande diferença está no fato de que o Thunder ataca mais a cesta, cobra mais lances livres, e o Nuggets arremessa mais bolas do perímetro (especialmente quando os jogadores de garrafão são contestados ou bem marcados). As bolas de três, todo mundo sabe, são terra de ninguém. O Nuggets pode vencer 4 jogos seguidos se o JR Smith ficar louco e acertar tudo, mas pode perder 4 jogos também e o JR só vai parar de arremessar se for algemado. Nas costas. No fundo, são dois times inexperientes e um tanto parecidos, mas o Nuggets terá muitas dificuldades no encaixe com o Thunder e no jogo de garrafão. Mérito, de novo, do Perkins. Se você é fã do Nuggets, pode usar o infográfico acima e também tentar evitar a troca. Pode funcionar.