Continuamos com nosso preview da próxima temporada. Chegou a vez da Divisão do Atlântico, uma divisão tão amaldiçoada nos últimos anos que por ali até quando dá certo, dá errado.
Os times estão listados abaixo na ordem em que achamos que terminarão a temporada, do melhor colocado para o último. Destacamos quem chegou e quem saiu (os mais importantes, não necessariamente todo mundo) e tentamos também prever a rotação de cada equipe.
Toronto Raptors
Quem chegou: Anthony Bennett, Bismack Biyombo, DeMarre Carroll, Cory Joseph, Luis Scola
Quem saiu: Amir Johnson, Tyler Hansbrough, Chuck Hayes, Greivis Vasquez, Louis Williams
A ambição: Chegar numa segunda rodada de playoff
A realidade: Outra eliminação na primeira rodada
Titulares | Reservas | Resto |
Kyle Lowry | Cory Joseph | Delon Wright |
DeMar DeRozan | Terrence Ross | Norman Powell |
DeMarre Carroll | James Johnson | Bruno Caboclo |
Patrick Patterson | Luis Scola | Anthony Bennett |
Jonas Valanciunas | Bismack Biyombo | Lucas Bebê |
Esse Raptors é um processo de reconstrução que deu errado: era para o time feder, mas sem qualquer explicação plausível ele começou a vencer e os dirigentes tiveram que se acostumar com a nova realidade. Agora, ao invés de estocar jovens talentos, o Raptors tem a dificílima obrigação de conseguir veteranos calejados para criar uma mentalidade vencedora. A equipe teve uma campanha impressionante na temporada passada, mas simplesmente DESMORONOU nos playoffs contra o limitadíssimo Washington Wizards, tomando uma varrida de 4 a o que calou completamente as multidões que tomavam as ruas canadenses para acompanhar os jogos nos telões. O problema de conseguir veteranos para que o Raptors não derreta como sorvete nos momentos de pressão é que, historicamente, a maior parte dos jogadores da NBA não tem interesse nenhum em jogar no Canadá, longe de suas famílias e num mercado em que receberão menos atenção e ofertas publicitárias. A solução sempre foi pegar estrangeiros, ou então ter que gastar demais para convencer um ou outro gato pingado a cruzar a fronteira.
Lou Williams, por exemplo, pegou seu prêmio de melhor sexto homem do ano e deu no pé o mais rápido que conseguiu, rumo ao badalado mundo de Los Angeles. Então além de convencer gente estabelecida a ajudar a equipe, o Raptors também precisou substituir seu maior motor ofensivo, o cara que tirava a equipe de muitos buracos e que nas lesões de DeMar DeRozan sempre segurou a pontuação da equipe.
Ao meu ver, dentro dessas dificuldades geográficas, o Raptors até que se saiu muito bem. O passo mais importante foi a contratação de DeMarre Carroll, um dos melhores defensores da NBA, vindo de uma cultura vencedora no Hawks líder da Conferência Leste na temporada passada, e que especialmente no final da temporada se mostrou muitas vezes o principal jogador ofensivo da equipe. Sua chegada não apenas melhora a defesa da equipe mas também tira um pouco do DeRozan a carga de arremessos de fora, e do Kyle Lowry a carga de ter que forçar bolas decisivas quando o jogo está apertado. Foi sem dúvida umas das contratações mais importantes da offseason, mas é claro que o preço para o Raptors é maior do que para os demais: foram 15 milhões por temporada, preço de muito jogador All-Star por aí.
Outras contratações que tornam o Raptors menos entregador-de-paçoca: Cory Joseph, que apesar de ter tido um papel bem pequeno na temporada passada, vem do Spurs e a aura que emana já deve ser suficiente para acalmar qualquer elenco; e Luis Scola, que vai jogar em alto nível até mais ou menos uns 80 anos, vem de campanha espetacular pela Argentina e de temporada sólida pelo Pacers, e sabe exatamente como manter a cabeça no lugar na hora que mais importa.
Enquanto a defesa do Raptors melhora imediatamente no perímetro com DeMarre Carroll, arrisco dizer que estará consideravelmente mais fraca no garrafão com a saída de Amir Johnson e Tyler Hansbrough. Vão depender da melhora defensiva do Valanciunas, que embora possa dominar jogos inteiros no ataque se receber mais bolas na mão, ainda tem muito a aprender no que diz respeito à proteção do aro. Mas o mais importante mesmo é que o Raptors caminhou onde mais importa: na construção de uma mentalidade vencedora, com jogadores que sabem o que significa não perder de lavada para um time inferior mesmo tendo mando de quadra nos playoffs.
Boston Celtics
Quem chegou: RJ Hunter (novato), Terry Rozier (novato), David Lee, Amir Johnson
Quem saiu: Brandon Bass, Gerald Wallace
A ambição: Levar a molecada novamente para os playoffs
A realidade: Bater na trave
Titulares | Reservas | Resto |
Marcus Smart | Isaiah Thomas | Terry Rozier |
Avery Bradley | James Young | RJ Hunter |
Jae Crowder | Evan Turner | Jonas Jerebko |
David Lee | Jared Sullinger | Jordan Mickey |
Tyler Zeller | Kelly Olynyk | Amir Johnson |
O processo de reconstrução do Celtics finalmente se assumiu como tal apenas na metade da temporada passada, quando se livrou de trocentos jogadores – incluindo Rajon Rondo – e começou a fazer mais experiências com o elenco do que cientista maluco. Antes disso o discurso era que o objetivo do Celtics era vencer imediatamente, coisa que nem a mãe dos dirigentes acreditava.
A reconstrução trouxe Isaiah Thomas, que caminha a passos largos para se tornar um dos melhores armadores da NBA, e deu mais espaço para uma molecada disposta a ganhar espaço. Mas a parte bizarra é que mesmo parecendo time dente de leite, o Celtics não consegue mais abrir mão daquela mentalidade de campeão: a pirralhada entra em quadra disposta a tirar a vitória no sangue. A experiência nos mostra que times assim, depois de uma enorme sequência de derrotas, perdem a motivação e eventualmente caem na real, desistindo de dar o sangue porque não são otários (processo também conhecido informalmente como “Síndrome de Sixers”). Mas como o Celtics acaba descolando uma vitória aqui e outra ali na fraquíssima Conferência Leste, o resultado foi uma classificação para os playoffs e uma surra bastante digna para o Cavs, com jogos bastante físicos e placares eventualmente apertados.
O Celtics tem tudo pra continuar nessa pegada, evoluindo a pirralhada, acrescentando dois novatos promissores ao elenco (curiosamente Terry Rozier deve ter menos espaço no elenco do que o RJ Hunter, que por sua vez tem tudo para contribuir imediatamente), e trazendo o Amir Johnson que é desses jogadores cabeçudos que nunca percebe que está num time ruim. David Lee é uma incógnita, defensivamente não se encaixa na mentalidade desse time, mas se estiver nos seus bons dias pode ser uma máquina de pontuar e pegar rebotes capaz de, sozinho, garantir uma vitória ou outra na temporada. É possível que comece já como titular, indo pro banco só se comprometer defensivamente num nível exagerado, como aquele nível que o David Lee costuma mesmo comprometer. Então meio que já sabemos o final dessa história.
De toda maneira, David Lee ajuda a compor um dos garrafões mais versáteis de toda a NBA: são 6 jogadores diferentes para duas vagas, cada um com uma habilidade diferente dos demais. É possível os seis alternem-se jogo a jogo de acordo com as qualidades e defeitos do time adversário, as condições físicas de cada jogador e o momento que estiverem vivendo em quadra. Na armação não há tanta versatilidade, mas as combinações são muitas: dá pra jogar com dois armadores principais velozes, dois defensores, dois arremessadores, ou qualquer combinação desses elementos.
O Celtics vai ser um time fantástico de assistir nessa temporada não somente porque tem jogadores jovens e interessantes, mas porque é daqueles times em que todo mundo faz um pouquinho, ninguém tem titularidade garantida (tirando Evan Turner, que é o cara que pega a bola quando tudo dá errado), e a rotação vai ser frenética para enlouquecer os adversários. O único problema é que o Leste vai estar um pouco mais difícil do que na temporada passada, com Pacers e Heat tendo chances reais de classificação. Se não melhorar muito, o Celtics tem tudo para acabar perdendo por pouco sua classificação, mas tem um futuro sólido pela frente.
New York Knicks
Quem chegou: Robin Lopez, Arron Afflalo, Kristaps Porzingis (novato), Kevin Seraphin, Derrick Williams, Jerian Grant (novato), Kyle O’Quinn
Quem saiu: Andrea Bargnani, Tim Hardaway Jr, Jason Smith
A ambição: Voltar aos playoffs
A realidade: Torcer no sorteio do draft
Titulares | Reservas | Resto |
Jose Calderon | Jerian Grant | Langston Galloway |
Arron Afflalo | Sasha Vujacic | |
Carmelo Anthony | Lance Thomas | Cleanthony Early |
Kristaps Porzingis | Derrick Williams | Kevin Seraphin |
Robin Lopez | Kyle O’Quinn | Louis Amundson |
O Knicks foi o maior fracasso da temporada passada, não apenas no número de vitórias, mas também na historinha, aquela narrativa que explica o que está acontecendo. Phil Jackson quer usar os triângulos, os jogadores não querem, as peças disponíveis não se encaixam no desenho tático, o técnico Derek Fisher não tem experiência nenhuma e parece um técnico de fachada para o Phil Jackson, os jogadores não respeitam o técnico porque ele mal abre a boca, Carmelo Anthony foi convencido a ficar para um processo de reconstrução que falhou miseravelmente antes mesmo de começar e que culminou com uma lesão que tirou Carmelo das quadras. Pior que isso, só se fosse o Clippers.
O Knicks precisa ganhar pra ontem, não apenas pela pressão da torcida que é das mais presentes e das que mais cobram na NBA, mas também porque Carmelo Anthony caminha cada vez mais para fora do seu auge e conseguir outra estrela desse nível que tope essa bagunça não vai ser nada fácil. Mas tem tanta coisa errada no processo e no elenco que o Knicks não tem nada a fazer a não ser dar passos pequenos rumo a melhoras pontuais. O primeiro e certamente mais importante foi abrir a carteira para o Robin Lopez, um excelente defensor, um dos melhores protetores de aro da NBA, e que joga o tempo inteiro como se tivesse tomado um relâmpago na cabeça. Como o Knicks vem de uma temporada com uma das piores defesas já conhecidas pelo ser humano, Robin Lopez ajuda o time a ser minimamente respeitado pelos adversários, que não vão poder achar que toda jogada terminará em bandeja.
Outro passo na mesma direção foi a contratação de Arron Afflalo, jogador que quando inserido num bom esquema tático pode ser um dos melhores defensores individuais da NBA e um excelente arremessador, daqueles que não tem medo de pontuar nos momentos importantes da partida e que também não foge de buscar contato no garrafão. Kyle O’Quinn, que era reserva no Magic, também tem esse perfil de ser um defensor físico e brigador embaixo da cesta. Os três juntos automaticamente tiram o Knicks do atual nível “saco de pancada” e o inserem no nível “poodle chato”, pelo menos reclamando bastante das cestas que invariavelmente tomará.
O Knicks será certamente mais digno, mas nada que o tire da parte de baixo da tabela mesmo no Leste fracote. Se há uma chance dos sonhos do Knicks de voltar aos playoffs se concretiza é Kristaps Porzingas matar a pau. Ele tem talento, é inteligente, arremessa pra burro, tem bom jogo de pernas, mas ainda falta um tanto pra gente saber se o talento que ele tem é algo que se encaixa na caixinha de exigências da NBA. A gente aprendeu a não sair por aí babando em arremessadores gigantes gringos desde o Andrea Bargnani, que pelo menos nisso conseguiu deixar sua contribuição ao mundo. Mas se o Porzingas tiver uma temporada inacreditável, dá pra imaginar uma oitava vaga chorada e um futuro um pouco mais promissor para a temporada que vem. Só precisamos ver se a paciência do Carmelo, e se o emprego do Derek Fisher, duram até lá.
Brooklyn Nets
Quem chegou: Andrea Bargnani, Thomas Robinson, Rondae Hollis-Jefferson (novato)
Quem saiu: Deron Williams, Mason Plumlee, Alan Anderson
A ambição: Uma vaga chorada nos playoffs
A realidade: Cem anos de danação
Titulares | Reservas | Resto |
Jarrett Jack | Shane Larkin | Donald Sloan |
Joe Johnson | Wayne Ellington | Markel Brown |
Bojan Bogdanovic | Rondae Hollis-Jefferson | Sergey Karasev |
Thaddeus Young | Thomas Robinson | Chris McCullough |
Brook Lopez | Andrea Bargnani | Willie Reed |
O projeto “vamos ganhar agora” mais fracassado da História, que injetou milhões e milhões em dinheiro, comprometeu escolhas de draft por todo o futuro da franquia, e não deu em absolutamente nada. Quando finalmente implodiu na temporada passada, com o Nets admitindo o tamanho da merda e tendo que reconstruir sem ter espaço salarial e escolhas de draft (processo de reconstrução também conhecido como “deixa exatamente como está e torce pro mundo acabar”), o resultado foi basicamente o mesmo: playoffs chorados, oitava colocação no Leste, e uma série digna contra o Hawks que nunca saberemos se foi sofrida porque o Nets é um time de verdade ou se o Hawks é profissional em tentar entregar paçocas.
Pra não abandonar a brincadeira de vez, só cabe ao Nets reassinar os jogadores que já tem e torcer para não ser um desastre completo: Brook Lopez e Thaddeus Young agora são felizes milionários. Os dois são bons, mas são péssimos complementos um para o outro. Lopez vem de um final fantástico de temporada, depois de conseguir se recuperar aos poucos de uma lesão séria no pé através da ajuda do Mason Plumlee, que segurou as pontas na sua ausência. Mas o Mason foi trocado pelo Rondae Hollis-Jefferson, rara cara nova na equipe, um dos melhores defensores do último draft, e que pode ser um complemento interessante para o Brook Lopez quando eventualmente ficarem ao mesmo tempo em quadra.
Não seria surpresa nenhuma se o Nets acabasse em último na divisão, atrás até mesmo do Sixers. Mas projeto de reconstrução em que sua próxima escolha de draft vai para o Celtics sem qualquer tipo de proteção é um projeto em que você precisa vencer mesmo quando a vitória não faz sentido. É um time que não pode se dar ao luxo de entregar a rapadura, numa conferência em que esse simples fato já te dá uma vantagem louca rumo aos playoffs. Mas quer classifique, quer não, não há vitória nenhuma conceitual para essa equipe nos próximos anos. Não há pra onde correr.
Philadelphia 76ers
Quem chegou: Jahlil Okafor (novato), Kendall Marshall, Nik Stauskas
Quem saiu: Luc Mbah a Moute, Jason Richardson
A ambição: Que nenhum ligamento seja rompido
A realidade: Vai dar ruim
Titulares | Reservas | Resto |
Isaiah Canaan | Kendall Marshall | TJ McConnell |
Tony Wroten | Nik Stauskas | Hollis Thompson |
Robert Covington | Jerami Grant | JaKarr Sampson |
Nerlens Noel | Carl Landry | Richaun Holmes |
Jahlil Okafor | Joel Embiid | Christian Wood |
Na sua temporada de novato, Nerlens Noel teve uma lesão grave e perdeu toda a temporada. No ano seguinte, com todo mundo empolgado pelo impacto que teria Joel Embiid na equipe, a mesma coisa ocorreu: temporada inteira fora por lesão. Tony Wroten, a única cara de esperança nesse Sixers que reconstrói tudo de novo a cada duas semanas, também rompeu um ligamento e ficou fora de mais da metade da temporada anterior. Agora é a vez do Jahlil Okafor, que o Lakers deixou cair no colo do Sixers, e que tem tudo para ter um impacto imediato – especialmente porque o Embiid deve perder um pedaço da temporada (se não ela inteira) ainda se recuperando da lesão anterior. Então o que resta ao Sixers? Torcer para o Okafor não perder a temporada inteira com uma contusão, né?
Feder por tantos anos com uma sorte razoável no draft deu ao Sixers um núcleo jovem de jogadores de garrafão, tão raros na NBA atual. Noel, Embiid e Okafor podem um dia bater cabeça e brigar pra ver quem fica ou sai da equipe, mas até lá tinham tudo para criar um dos garrafões mais dominantes da NBA, tanto na defesa quanto no ataque. Por trás deles, vários outros novatos poderiam ir aos poucos ganhando experiência no perímetro, dando uma identidade para a equipe e portanto dando indícios de que tipo de jogador seria mais importante para complementar esse garrafão dominante em futuras contratações. Mas como esse garrafão tá sempre lesionado e o Sixers não tem pressa nenhuma de coisa nenhuma nessa vida, esse time vai se arrastando pelos cantos, desmotivado, sem propósito, com um dos elencos mais baixo astral que eu já vi na minha vida. O que essa galera precisa é de um abraço. Especialmente porque tudo indica que acabarão no fim do Leste mais uma vez. E mais outra. E mais outra…