Paul Pierce é um anão
Nem acredito, uma série em que o Magic vai enfrentar um time adversário! Tem gente achando que exagerei nos comentários sobre o embate com o Hawks, que os jogos não seriam tão fáceis assim, mas acabou em 4 jogos, ninguém derramou uma única gota de suor, teria sido mais disputado e estratégico se fizessem sete partidas de jogo-da-velha, e eu dei de presente para mim mesmo os jogos do Magic como “tempo livre”, a oportunidade de não olhar uma bola laranja pingando por aí e lembrar que eu tenho uma vida. Talvez por isso estou mais empolgado do que o normal para ver as partidas do Magic, quase como se sentisse saudade do time de Orlando. Apesar de ter vencido 3 das 4 partidas que disputou com o Celtics na temporada regular, tudo leva a crer que teremos uma série disputada, que pelo menos não seja uma surra de pau mole como foi no pobre Atlanta. Apesar do Celtics não encaixar muito bem contra o Magic e não ser o favorito para vencer a série, ao menos o time está motivado, empolgado, vitorioso, e o Garnett aparenta ter voltado a beber o sangue de criancinhas, como parecia nos tempos de Wolves. Bons tempos aqueles em que o Garnett era, em todos os jogos, um psicopata homicida em potencial. Mas se essa série entre Celtics e Magic também for sem graça ou um massacre impiedoso, aí eu desisto desse esporte idiota e faço um blog sobre algo mais interessante, como esgrima.
O que o Magic precisa fazer para vencer: O maior problema para o Magic quando enfrenta o Celtics é manter o Dwight Howard em quadra e envolvê-lo no ataque. O Perkins marca o Dwight melhor do que qualquer outro pivô da NBA, sabe muito bem como obrigá-lo a cometer faltas e ter que sair de quadra para mofar no banco de reservas. Para o jogo do Magic não ficar exclusivamente no perímetro, ou até para garantir que o ataque no perímetro tenha espaço para funcionar, é preciso que o Dwight seja uma ameaça no garrafão ofensivo e produza. Como o Celtics é um time inteligente defendendo o garrafão e conseguiu interromper todas as movimentações ofensivas de LeBron James, é bem óbvio que vão descer a mão no Dwight e mandá-lo para a linha de lances livres. Se o Dwight acertar, dificilmente o Magic perde. Caso contrário, o Magic vai inconscientemente parando de colocar a bola nas mãos do pivô e o Celtics anula a maior vantagem do Magic na série.
Outro modo do time de Orlando manter um jogo no garrafão funcionando é, bizarramente, acionar muito Jameer Nelson. O armador é mais forte e experiente do que Rajon Rondo e precisa usar isso para levar o adversário até o garrafão, seja de costas para a cesta, seja atacando o aro. De qualquer modo, isso garantirá que a defesa do Celtics marque os espaços de infiltração e se mantenha nas proximidades do garrafão e deixará os arremessadores da equipe mais abertos. Basta que isso aconteça um pouquinho e o Magic é imbatível. Aqui, a chave é manter Kevin Garnett preocupado com as infiltrações de Jameer Nelson ou com o jogo de Dwight Howard, porque aí Rashard Lewis terá espaço para destruir com o jogo.
Outro modo de manter Garnett ocupado e ineficaz na defesa é aumentar a altura do Magic. Na temporada regular, funcionou muito bem contra o Celtics colocar em quadra ao mesmo tempo Dwight Howard, Marcin Gortat e Rashard Lewis. Com dois pivôs tão grandes no garrafão, Garnett e Perkins ficam mais ocupados e Rashard Lewis deve ser marcado por Paul Pierce, confronto em que Lewis sai ganhando e que deixa Vince Carter mais livre para arremessar (ele infiltra, mas faz tempo que não quer mais). Ou seja, se o garrafão do Magic funciona, o cobertor defensivo do Celtics é curto demais. O time só não pode nunca esquecer de infiltrar e atacar a cesta de vez em quando, porque tirar Perkins com excesso de faltas – ou cansaço – é fundamental para que o Garnett sobre sozinho no garrafão e Dwight domine o jogo. Nos momentos em que o Garnett foi obrigado a jogar de pivô na defesa contra o Magic, todo o esquema tático do Celtics foi pelo ralo.
A maior preocupação para o Magic é que bolas de três pontos em excesso às vezes simplesmente não caem. Quando isso acontece, o time adversário abre uma vantagem no placar até que as bolas voltem a cair e a diferença diminua ou suma. Mas o Celtics joga muito melhor quando está liderando o placar, é muito mais experiente, então o Magic não pode se permitir entrar num buraco muito fundo quando as bolas pararem de cair e o garrafão é essencial para isso. Jameer Nelson, Dwight e Gortat precisam produzir constantemente debaixo da cesta.
O que o Celtics precisa fazer para vencer: Manter Kendrick Perkins em quadra é essencial. Outros jogadores precisam cometer as faltas bobas e poupar Perkins para que ele possa apenas enfrentar Dwight Howard. Nas partidas da temporada regular contra o Celtics, Dwight foi praticamente anulado ofensivamente e o Magic é um time muito limitado quando isso acontece porque parece ser um time de um plano só. Existem muitas variações ofensivas possíveis que a vastidão do elenco permite, mas o técnico Van Gundy não é muito fã delas. O Celtics provou na série contra o Cavs que joga muito melhor no contra-ataque (coisa de time que não tem muitas jogadas de meia-quadra planejadas, né, Doc Rivers?) e que sabe abusar desse fundamento quando o time adversário arremessa muitas bolas de três pontos, que dão rebotes mais longos e que são papados frequentemente pelo Rajon Rondo. Se o Perkins parar o garrafão ofensivo do Magic e a defesa do Celtics se focar no perímetro, é certeza de que existirão muitos erros de arremesso, muitos rebotes, e portanto muitos pontos de contra-ataque.
Quando o Celtics abrir alguma vantagem no placar, é importante se segurar a ela. O Magic é um time com dezenas de altos e baixos durante uma partida, não consigo pensar numa equipe que varie tanto no curso de um mesmo jogo. Mas os pontos altos são realmente muito altos, então o Celtics precisa garantir que os pontos baixos vão ser explorados. É aí que entra o banco de reservas, com Glen Davis, Tony Allen e Rasheed Wallace, que precisa produzir muito ofensivamente quando o Magic não estiver acertando nada. O banco inteiro deles tem “Síndrome de JR Smith“, jogam melhor quando estão na frente, e eventualmente o Celtics sempre vai estar na frente porque o Magic vive no pêndolo. Cabe também à defesa tentar segurar a vantagem que conseguirem, mas é no ataque que essa vantagem tem que ser ampliada com a ajuda do banco (que não defende bulhufas, com exceção do Tony Allen que defende muito e me assustou porque eu não sabia).
O outro ponto chave da série é o Kevin Garnett. O Mickael Pietrus é excelente na defesa e vai torrar o saco do Ray Allen e do Paul Pierce, então o Garnett precisa explorar a defesa do Rashard Lewis. O problema é que o time tem problemas de colocar a bola em suas mãos. O técnico Doc Rivers decidiu, durante a série contra o Cavs, que eles ganhariam se o Garnett desse 20 arremessos por jogo sendo marcado pelo Antawn Jamison. O plano estava lá, no papel, e mesmo assim o time teve problemas em estabelecer o Garnett no garrafão. Quando aconteceu, o Celtics teve muito sucesso. Mas rapidamente o time passava a forçar arremessos de longe, Pierce forçou infiltrações, e o Garnett fica muito secundário. Se sua presença ofensiva for sentida desde o primeiro segundo, como aconteceu no Jogo 6 contra o Cavs, as chances do Celtics são muito maiores. Sua presença ofensiva depende também de como ele estiver na defesa. Não dá pra ele ficar se preocupando com o Dwight Howard, cometendo faltas para parar o pivô do Magic ou tendo que dobrar a marcação. É aí que o papel do Perkins na defesa influencia o ataque de Garnett.
Rajon Rondo também precisa jogar muito, pegando rebotes para puxar-contra ataques, forçando o ritmo, mas precisa jogar bem especialmente na defesa. É preciso manter o Jameer Nelson fora do garrafão, e de preferência punir o Nelson por ter uma velocidade lateral reduzida na defesa. Quanto mais Rondo deixar o Jameer Nelson pra trás na velocidade e infiltrar no garrafão, maiores as chances do Dwight cometer mais faltas e ir apodrecer no banco. Os armadores Rondo e Jameer Nelson têm tudo para decidir a série, mas dentro do garrafão, porque decidem o que acontece com Garnett e Dwight Howard.