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O Boston Celtics começou a temporada vencendo o Cavs em Cleveland, um fato raro e difícil para qualquer time da NBA. O primeiro mês de temporada seguiu com o Celtics derrotando adversários com facilidade como fizeram nos últimos dois anos, parecia bem claro que no ano passado só não voltaram à final da NBA porque Kevin Garnett perdeu os playoffs, machucado.
E o Garnett voltou numa hora em que o Celtics poderia fazer barulho na NBA, eram jogos contra Magic, Hawks e Lakers em sequência, três vitórias nesses jogos seria o bastante para colocar o Celtics de volta no topo de qualquer lista de melhores da temporada, mas ao invés disso o time perdeu as três partidas. Foi a quarta derrota na temporada para o Hawks, a terceira seguida para o Lakers e uma bela revanche do Orlando para vingar uma derrota do início de temporada. Pra completar a desconfiança, vieram duas vitórias bastante apertadas contra dois dos piores times da temporada, Wizards e Nets. Por melhor que seja o recorde e os números do Celtics, não precisa ser gênio pra ver que tem alguma coisa de errado por lá.
Eu vou listar aqui os quatro problemas que eu enxergo no atual momento do Boston Celtics. E adianto, os quatro podem ser resolvidos com o mesmo elenco, o mesmo técnico, sem trocas.
Turnovers
Com 1,9 ponto a menos de média do que no ano passado, o Celtics é o sexto pior time da NBA na comparação com o ano anterior. Dois pontos a menos por jogo parece pouco mas sua posição no ranking geral dessa estatística mostra como isso não é normal. O ataque do Boston realmente não é mais o mesmo de antes e o principal fator para isso acontecer é o excessivo número de turnovers, o Celtics é o sexto time que mais comete erros em toda NBA. Com mais TOs que o Celtics estão apenas times que jogam numa velocidade muito maior, como os três times que mais correm atualmente na NBA, Pacers, Warriors e Wolves. O motivo dos erros é relacionado a outro problema, o nosso próximo item.
Ataque em transição
O ataque em transição não é necessariamente o ponto de contra-ataque, mas sim o ataque veloz que usa da chegada rápida ao ataque para aproveitar a defesa mal montada do adversário. Às vezes o ataque pode demorar 10, 15 segundos, mas usa a chegada rápida ao ataque para criar matchups (os duelos pessoais) favoráveis ao time. O Celtics de 2008 era mestre em forçar o erro do adversário, pegar o rebote e partir em velocidade, quando o outro time ia ver tinha pivô tentando correr atrás do Ray Allen, armador tentando parar o Garnett no garrafão e todos os Celtics trocando passes em velocidade atrás de uma cesta fácil.
Com os duelos pessoais a favor, o Celtics vencia pela simplicidade. O ataque chegava a ser monótono de tão simples. Trocas de bolas básicas e alguns corta-luzes eram o bastante para criar a situação ideal de ataque.
Nessa temporada eles perderam muito do ataque de transição e assim têm que trabalhar mais vezes no ataque cinco-contra-cinco, exigindo que seus jogadores tentem jogadas mais elaboradas, difíceis e muitas vezes ações individuais, ou seja, situações mais propensas a erros e ao contra-ataque adversário.
Defesa e rebote
Chegamos então a um problema que não é exatamente um problema. Chamar a defesa do Celtics de problemática é uma ofensa pra quem assiste os outros 29 times da NBA, mas para o padrão que eles criaram para eles mesmos nos últimos anos é possível ver que o nível não é o mesmo.
Em comparação com o ano passado apenas o Warriors teve queda maior em número de rebotes por jogo. O Boston pega 3,4 rebotes a menos do que no ano passado e assim é o segundo pior time da NBA em rebotes por jogo, além de ser O pior em rebotes ofensivos por partida, com apenas 8 por jogo. Falta de rebotes ofensivos significa menos chances no ataque, menos confiança para os arremessadores e, lógico, menos pontos. A falta de rebotes de defesa dá mais chances para o adversário. Por melhor que seja a defesa do Celtics, com trocentas chances qualquer um faz pontos.
A defesa ainda é Top em qualquer outra categoria como número de pontos marcados pelo adversário (1º) , pontos marcados a cada 100 posses de bola (1º), aproveitamento dos arremessos do adversário (6º), pontos do adversário no garrafão (4º), etc. Por isso reafirmo que não é que a defesa seja ruim, mas que não é a mesma de antes e que só essa pequena piora pode ser a diferença entre chegar apenas à final da conferência ou ao título, principalmente em uma equipe que tem como base a sua defesa.
Confiança e relacionamento
Veja essa declaração do Rajon Rondo:
“Você consegue perceber a diferença no vestiário. Você não sente a mesma camaradagem do primeiro ano do time. No primeiro ano era um clima doido e ótimo no vestiário, agora não é mais a mesma coisa. Precisamos achar algum jeito de voltar ao que eramos antes.”
Lembram do Lakers de Kobe e Shaq no começo dos anos 2000? Os dois se odiavam mas enquanto ganhavam títulos tava tudo certo, brigaram pra valer depois que começaram a perder. É sempre assim, em time que ganha todo mundo se entende, quando começam a perder um começa a achar problema na atitude do outro.
Apontar problemas é sempre mais fácil do que resolvê-los e nesse caso não é diferente, mas sei que um problema tem a ver com o outro. Os rebotes influenciam o ataque de transição e a defesa, os turnovers influenciam o ataque, a confiança do time e seu relacionamento influenciam a atitude do time em quadra para fazer tudo isso. Resolver um problema é começar a resolver os outros, a ordem dos tratores não altera o viaduto. Com vários meses para o fim da temporada, não é hora de tirar o Celtics da briga.