Contusões servem para muitas coisas na NBA. Uma delas é para estragar jogos que a televisão comprou meses antes. Quantas vezes na temporada passada não fomos obrigados a ver o Wizards passar vergonha em rede nacional só porque um tempão antes a ESPN tinha achado que era uma boa idéia passar um jogo do Gilbert Arenas? Tortura das mais cruéis aquela.
Mas em outros casos as contusões obrigam os times a se virar e eles se viram muito bem. Exemplo mais óbvio que o Houston Rockets, que insiste em parecer melhor quando não tem T-Mac e Yao Ming, não existe.
Então quando o Blazers começou a querer parecer o Clippers, fiquei na dúvida sobre o que esse time seria. Em questão de semanas eles perderam o Greg Oden, o Travis Outlaw, o Rudy Fernandez, o Nicolas Batum, os novatos Jeff Pendegraph e Patrick Mills e até o técnico Nate McMillan se machucou ao mostrar um movimento de defesa em um treino da equipe. Era a hora de mostrar se a tal profundidade exemplar do Blazers era mesmo de verdade.
Eles começaram capengando, em um mês de temporada foram 4 derrotas em casa, contra 7 em toda a temporada passada. Chegaram ao cúmulo de perder para o Grizzlies dentro do Rose Garden. Nos últimos jogos perderam para o Knicks, depois para o Bucks, Cavs, e venceram o Kings num jogo suado e vencido na marra. Mas ontem parece ter começado uma nova fase.
Não que vencer o Suns fora do Phoenix tenha sido uma missão lá tão difícil. Invicto em casa, o time do Nash tem só 50% de aproveitamento fora. Mas o jogo de ontem foi simbólico porque mostrou superação em um time que parecia cada vez mais apático e deu uma luz de que formação eles podem usar para voltar a vencer.
Depois de pagar uma nota preta pelo Andre Miller, o Blazers, claro, está usando ele como armador titular, mas não tem dado nem um pouco certo. Quando a troca foi feita eu achei que um armador não deveria ser a prioridade do Blazers (e não foi, é verdade, eles tentaram o Millsap antes) mas que mesmo assim tinha sido um acerto. Na minha cabeça, embora ele não fosse veloz e jogasse na correria, talvez justamente isso fizesse com o que o Blazers fosse um time mais completo. Não teria como ele atrapalhar. Um cara experiente, que sabe distribuir a bola, poderia muito bem dar certo em um time talentoso daquele. Mas sua lentidão, o quanto gosta de ficar com a bola na mão e o fato de não ter um bom arremesso de longe estão incomodando muito mais do que eu poderia imaginar.
É mais ou menos como o Elton Brand no Sixers. Antes a gente achava que só faltava um cara de garrafão pra eles, agora que tem ele parece atrapalhar até quando joga bem. Mesmo quando num bom dia, parece que está indo para o lugar oposto do resto do time, um incomodo. Melhor o Speights num dia mediano do que o Brand num dia bom e melhor um Steve Blake coadjuvante do que um Andre Miller protagonista.
Ontem o Andre Miller jogou por 17 minutos apenas e o time perdeu por 7 pontos nos minutos em que ele esteve em quadra. Com o Blake a coisa andou melhor e o auge do Blazers no jogo foi quando o Jerryd Bayless assumiu a armação da equipe. Sim, aquele Bayless que o Blazers pegou no draft do ano passado, que foi o melhor jogador das ligas de verão e que não tinha um minuto de quadra sequer no ano passado.
No ano passado o Bayless só entrava no garbage time para enfrentar os Scalabrines da NBA. Era o Steve Blake titular, o Sergio Rodriguez reserva e depois ele. Nesse ano saiu o Sergio e entrou o Andre Miller. Mas o que o Nate McMillan deve ter sacado agora, na marra, é que o Bayless não tem nada a ver com nenhum desses e que por isso mesmo pode ser o melhor parceiro para o Brandon Roy.
O Roy é daqueles shooting guards, os armadores da posição 2, que gostam de ter a bola na mão. Gosta de ditar o ritmo do jogo principalmente nos momentos decisivos. Caras assim pedem ajudantes que o complementam, como caras que arremessam de três ou cortam para a cesta atrás de um passe. O Andre Miller prefere comer repolho com mostarda a fazer qualquer uma dessas duas coisas. Não à toa, o Steve Blake, bom arremessador, era visto em quadra nos quartos períodos.
O Bayless é um mini Brandon Roy. É menor, mais elétrico, também gosta de bater pra dentro e tem um arremesso decente de longe. Ontem, com os dois em quadra, a bola podia ficar na mão de qualquer um deles e um podia fazer o papel do outro. Vimos o Bayless infiltrar pra fazer a cesta (ou tomar a falta, ele é a Rihanna num garrafão de Chris Browns) ou passando para o Roy, que infiltrava e passava para o Bayless, que ou chutava de três ou estava nas costas de um pivô recebendo a bola. O time ficou tão dinâmico com os dois dividindo os papéis dos dois armadores que o Suns não sabia mais o que fazer.
O Phoenix chegou a abrir uma grande diferença, mas liderados pelos 27 pontos do Roy e os 29 (em 29 minutos) do Bayless, a vitória de virada, empolgante, aconteceu. Engraçado que o grande jogo da carreira do Roy, que o levou ao status de estrela, foi também contra o Suns, quando marcou 52 na temporada passada. O Bayless não é do nível dele, mas parece saber disso. Contou em uma entrevista após o jogo que já conversou muito com o seu companheiro de time dizendo que os dois podem fazer em Portland o que Mo Williams e LeBron James fazem em Cleveland.
No Cavs o Mo Williams é meio armador, meio arremessador. Eventualmente o LeBron quer abraçar o mundo e vira armador, transformando o cabeça de azeitona em seu shooter particular. Essas ações divididas de jogar com ou sem a bola dão certo nos melhores dias do Cavs e acho que podem dar muito certo no Blazers também. Eu ainda começaria os jogos com o Steve Blake de armador principal, por eles ser mais tranquilo que o Bayless, que deve tomar a mesma água do Joakim Noah. E com certeza começaria a procurar pela NBA times interessados em levar o Andre Miller.
No fim das contas esse momento ruim do Blazers está servindo para muitos jogadores considerados bons terem espaço para mostrar que são mesmo. O Martell Webster, por exemplo, está conseguindo provar que é muito mais que um arremessador, que pode brigar por rebotes, infiltrar ou humilhar o Grant Hill. Já o Pryzbilla a gente já sabe que é um bom pivô e quebra um galhão na ausência do Oden.
Ou seja, o time é bom, o elenco ainda é profundo demais. Só que o elenco cortado pela metade exige que os jogadores lidem melhor com mais minutos em quadra, com o cansaço, tem menos gente para cobrir um jogador que está num dia ruim e alguns caras acostumados a jogar com os reservas precisam se adaptar aos titulares. Dificuldades que vão deixar o Blazers longe da briga pelo topo da divisão Noroeste mas mais do que preparados para brigar de igual pra igual com qualquer um nos playoffs. E Bayless, a gente entendeu o que você quis dizer, mas você nunca começa a carreira na NBA dizendo que quer ser o Mo Williams, nunca.
Semana dos novatos
Textos Mais Comentados
Bola Presa por Bola Presa
Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?
Como são os planos?
São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:
R$ 14
Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.
R$ 20
Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.
Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.
Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.
Como funciona o pagamento?
As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.