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Era uma vez uma porcaria de time liderado pelo nosso gordinho favorito, Zach Randolph. Apesar de fazer mais de 20 pontos e pegar mais de 10 rebotes por jogo, não conseguia vencer nunca. Era a temporada 2006-07 e seu time mequetrefe acabou com 50 derrotas. E o mais engraçado é que poderia ter sido pior: quando o Randolph se contundiu nos últimos jogos, o Blazers melhorou misteriosamente de produção e abocanhou algumas vitórias na miúda, quando não valia mais nada.
Quantos times teriam os culhões necessários para se livrar de sua grande estrela, baseado apenas na crença meio aleatória de que, sem seu melhor jogador, as coisas vão melhorar? Graças aos bagos de jumento do Blazers, Randolph foi feder lá no Knicks enquanto a primeira escolha do draft, Greg Oden, se contundia seriamente e anunciava sua ausência por toda a temporada. Com isso, o resultado foi o mesmo time horrível que perdeu 50 jogos na temporada anterior, mas sem Randolph e sem a ajuda que o pivô novato (mas com cara de velho) traria. O resultado deveria ter sido uma catástrofe.
Temporada 2007-08, o Blazers acaba com 41 vitórias e 41 derrotas, uma sequência de 13 vitórias consecutivas, Brandon Roy vai para o All-Star Game e todo o planeta não sabe o que dizer do time. Porque todos nós sabíamos que as 41 vitórias eram apenas a superfície, apenas o sintoma de algo mais profundo. Por trás do palco, era possível assistir anos de planejamento e um estranho fetiche por comprar escolhas de draft prestes a montar o time do futuro, a equipe a ser vencida pela próxima década. Era o espetáculo por trás das quadras que enchia a todos nós, não-torcedores do Blazers, de um medo irracional. Eles deveriam feder, que merda é essa que eles estão aprontando?
Já falei uns tempos atrás, o Blazers é ridículo: se livrou dos jogadores que atrapalhavam o rendimento da equipe, fez as trocas necessárias, draftou os jogadores certos, comprou trocentas escolhas de draft que supostamente não fariam nenhuma diferença e então, de repente, montou um time jovem, coletivo e cheio de potenciais estrelas. Estamos prestes a presenciar a primeira vez que esse projeto completo entrará em quadra para chutar uns traseiros. Mesmo que, vejam bem, não chutem traseiro nenhum.
O negócio é o seguinte: sem nenhuma estrela, com Greg Oden fora de toda a temporada com sua lesão misteriosa no joelho, não havia nenhuma pressão para que o Blazers ganhasse um jogo sequer. Em alguns palpites pela internet, achei gente chutando que eles teriam apenas 13 vitórias na temporada. Era a situação ideal para surpreender, jogar numa boa, com aquela sensação de que tudo que vier é lucro. Agora, com todo mundo achando que o Blazers nessa temporada vai acabar com a fome no mundo e encontrar a cura para a AIDS, é bem possível que o jogo coletivo sofra um pouco, que o emocional passe a perna no elenco. Eu não ficaria surpreso se o Blazers não chegasse a ganhar 41 partidas como fez na última temporada, mas também não ficaria surpreso se ganhasse 50 jogos. Estamos lidando com um elenco novo demais, profundo demais e não dá para saber o que esperar. A única certeza que posso dar, no entanto, é para o futuro: tenha medo! O Blazers ainda vai puxar teu pé enquanto você dorme! Mas por enquanto, não dá pra saber direito. Pelas notícias que estão chegando, o primeiro treino do Blazers ontem foi uma porcaria e o Greg Oden já torceu o pé e deve ficar fora até o começo da temporada, ou seja, ele parece um Gilbert Arenas mas sem um blog bacanudo. Quanto mais a gente espera, mais a gente sonha com esse time, mais os erros tolos dos treinos vão parecer grotescos. Mas eles tem tempo o bastante para se livrar desses erros, na verdade.
Grande parte do sucesso do Blazers logo de cara estará em como Nate McMillan vai lidar com a infinidade de times diferentes que ele pode colocar em quadra, sabendo lidar com a juventude e com a experiência. Se encontrar as combinações certas, o time será imprevisível, completo e matará a pau. Se as combinações não forem dando certo e for necessário testar coisas demais, de forma inconstante (no maior estilo Larry Brown no Knicks, que faltou apenas colocar em quadra um orangotango ou um torcedor aleatório escolhido por sorteio), o Blazers deve sofrer para engrenar. Mas também, grandes merdas. O time terá uns 500 anos até alcançar o ritmo necessário para vencer o Oeste, todo mundo no elenco ainda usa Pampers. Enquanto times levam uma década tentando se reconstruir, o Blazers colocou em prática um projeto rápido e indolor, mas isso não quer dizer que o resultado em quadra tenha que ser rápido. É bem óbvio que, por enquanto, não há pressa – todas as combinações podem ser testadas até dar no saco.
Pensando nisso, resolvi dar uma olhada em todas as combinações possíveis que o Blazers pode colocar em quadra, apenas levando em conta as posições de PG, SG e SF. Como é que é? Você não sabe o que essas siglas significam? Assistiu a filmes dublados de basquete em que “guard” (armador) é sempre traduzido como “defensor”? Então tá, vamos dar uma forcinha para aqueles que ao invés de acompanhar NBA ficam vendo desfile de lingerie do Superpop e depois querem acompanhar o Bola Presa mesmo assim para não serem excluídos pelos amiguinhos.
PG – É o armador principal, o cara que em geral carrega a bola para o ataque e inicia as jogadas ofensivas. No português (em que só existem armadores, alas e pivôs; o resto é a mistura dessas posições), o “point guard” é chamado minimalistamente de “armador”. Simples.
SG – É o segundo armador, o armador que em teoria está mais preocupado em pontuar do que com armar o jogo. Numa tradução literal, o “shooting guard” seria o “armador-arremessador”, mas na língua de Camões ele costuma ser o ala-armador. Uma regra informal diz que, se o cara é alto, vira ala-armador, se ele é baixo, vira armador. Mas não vá responder isso na prova, vai acabar tirando zero!
SF – É um jogador que pode jogar no garrafão mas que é mais voltado para o perímetro. Na tradução do Google (que tudo sabe, tudo vê, mas está longe de ser poliglota), “small forward” é o “ala pequeno”, que de pequeno não tem nada, a não ser que comparado com os pivôs ou os alas-de-força (PF), que ficam dentro do garrafão. Em bom e velho brasileiro, é chamado apenas de “ala”.
Então pronto, agora vamos dar uma olhada no que o Blazers pode fazer com esse monte de posições.
Possibilidade 1:
PG – Steve Blake
SG – Brandon Roy
SF – Martell Webster
Muito provavelmente será a escalação titular. É a mais feijão-com-arroz, a mais tradicional e a mais sem criatividade. Steve Blake é um armador puro, e com isso não quero dizer que ele não pense bobagens e não tenha nenhuma Playboy escondida debaixo da cama. Quero dizer que seu jogo é inteiramente voltado a compartilhar a bola, dar os passes certos, e seu arremesso de 3 pontos, embora sólido, é usado apenas como último recurso. Essa formação permite que Brandon Roy passe bastante tempo com a bola nas mãos mesmo sem a responsa de ficar armando as jogadas, além de garantir que Martell Webster receba a bola sempre que houver espaço atrás da linha de 3 pontos.
Possibilidade 2:
PG – Brandon Roy
SG – Jerryd Bayless
SF – Rudy Fernandez
É praticamente certo que os calouros Bayless e Rudy Fernandez devem vir do banco de reserva. O técnico Nate McMillan está apaixonado pelo espanhol e garantiu que, mesmo não sendo titular, seus minutos não serão de um simples reserva. Ou seja, ele deve passar bastante tempo em quadra e sua versatilidade ajudará para isso: seu jogo é excelente tanto nas infiltrações quanto nos arremessos de 3 pontos. Enquanto isso, Brandon Roy pode jogar de armador principal como em inúmeros momentos da temporada passada. Ele é alto demais para a função (1,98m) e com isso tende a dominar no ataque, aproveitando do físico e ainda assim movimentando a bola. Pra mim, é a posição em que o Roy se sai melhor mas que exige mais fisicamente, porque ele tem que carregar a bola o tempo todo. Na defesa, Roy trocaria com o Bayless, garantindo que armadores menores e mais rápidos não chutem o traseiro da estrela do Blazers. Assim, a quadra fica dominada por jogadores novos pra burro, meio porra-loucas, propensos a muitos erros, e esse troço de “armador puro” vira farofa em troca de umas enterradas que vão parar no YouTube.
Possibilidade 3:
PG – Steve Blake
SG – Rudy Fernandez
SF – Brandon Roy
Com essa formação, Brandon Roy não tem a obrigação de armar o jogo e pode se focar mais nos chutes de fora. Rudy Fernandez pode jogar na sua posição natural e, com sua excelente envergadura, Roy não tem problema algum de jogar como ala. Gosto dessa escalação por ser bem equilibrada: Fernandez e Roy formam uma dupla atlética, com boa pontaria, capaz de jogar com e sem a bola nas mãos, e Steve Blake saberá exatamente quando acionar cada um deles. Vejo essa formação terminando os jogos, com a calma de Blake organizando o jogo nos momentos decisivos e sentando o traseiro novato do Bayless quando o negócio aperta.
Possibilidade 4:
PG – Jerryd Bayless
SG – Rudy Fernandez S
F – Brandon Roy
É apenas uma variação da mesma escalação da “possibilidade 2”, mas a abordagem é diferente. A idéia seria usar o Bayless como armador principal, algo que definitivamente não é sua especialidade, mas faria com que a bola estivesse em suas mãos o tempo todo para que ele penetrasse no garrafão à vontade. Com Fernandez ao seu lado, essa dupla será um inferno para a defesa e cavará mais faltas do que o Ginóbili dentro de um ônibus lotado. Será um festival de lances livres, enterradas e cotoveladas em uma dupla que deve ser extremamente agressiva em quadra. Como ala, Brandon Roy trará liderança e experiência para balancear dois jogadores que, segundo as críticas, jogam completamente fora de controle às vezes.
Na verdade, existem mais possibilidades. Martell Webster pode jogar em mais posições e seu jogo deve evoluir bastante da temporada passada. Travis Outlaw pode jogar também de SF, diz a lenda que seus arremessos estão fantásticos graças aos treinos dos últimos meses e ele chutou traseiros no quarto período de trocentas partidas na temporada passada, em geral sendo o jogador que decidia no finalzinho. Ele também pode jogar na outra posição de ala, dentro do garrafão, mas aí tem que arranjar espaço para LaMarcus Aldridge e Greg Oden, se ele não estiver jogando bingo.
Não me importa se esse tive vai feder ou vai comandar, se eles vão demorar dias ou anos para engrenar. Basta ver na enciclopédia, ao lado da palavra “profundidade”: tem uma foto do elenco do Blazers logo ali, bem do lado de uma foto da garganta da Bruna Surfistinha. Se você achava seu time profundo, com um elenco completo, pense duas vezes. Com tantas opções assim, o que será que o Blazers vai ser quando crescer?