🔒Qual o estilo de Billy Donovan?

De todos os times que decidiram trocar de técnico para a próxima temporada da NBA, o primeiro a anunciar seu novo comandante foi o New York Knicks, que vai apostar em Tom Thibodeau mesmo após um trabalho que não terminou nada bem no Minnesota Timberwolves. Depois foi a vez do Brooklyn Nets decidir ir com uma novidade: Steve Nash. O ex-jogador, um dos melhores armadores da história, nem era citado pela galera dos rumores e de repente vai estrear já comandando Kevin Durant, Kyrie Irving e um elenco que não aceitará nada menos que um título. A lista de times sem técnico ainda tem o Indiana Pacers, o Houston Rockets, o Philadelphia 76ers e o OKC Thunder. E a decisão deste último de não renovar com Billy Donovan já criou o primeiro efeito dominó, com o treinador sendo anunciado nesta semana como o novo líder do Chicago Bulls.

A contratação de Donovan é a primeira decisão de peso de Arturas Karnisovas, o lituano contratado pelo Bulls para assumir a gerência da franquia depois de duas décadas de loucos altos e baixos sob o comando de Gar Forman e John Paxon. A decisão por um técnico experiente, com inúmeros anos de basquete universitário e quatro temporadas de NBA mostra que Karnisovas não planeja arriscar nem esperar muito para começar a mostrar resultados, mas ao mesmo tempo indica que percebe que tem em mãos um elenco ainda jovem e que precisa se desenvolver.

Os outros principais candidatos à vaga do Bulls eram nomes que buscavam seus primeiros trabalhos como técnicos principais, como Ime Udoka, Adrian Griffin e Wes Unseld Jr. Todos estes elogiados por seus companheiros de profissão, mas é sempre um risco contratar alguém novo. Em parte porque não se sabe o que esperar, em parte porque talvez eles precisem de tempo para pegar o jeito da nova função. O Bulls, ao que parece, tem um pouco mais de pressa do que isso e ninguém lá encara esse processo como uma mera reconstrução: o elenco é jovem, mas não de novatos e futuras escolhas de Draft, o núcleo de Zach LaVine, Wendell Carter Jr, Lauri Markkanen, Coby White e Daniel Gafford tem de 19 a 24 anos. O time ainda tem Kris Dunn e Otto Porter com 25 e 26 anos, respectivamente. São jovens e há muito o que desenvolver, mas também é hora de começar a mostrar resultado.

Billy Donovan

A análise da contratação de Donovan é curiosa e difícil porque o treinador está na NBA há CINCO temporadas e ainda não sabemos exatamente qual é o seu estilo. Se analisarmos os outros novos contratados, por exemplo, podemos falar dos conceitos defensivos pregados por Thibodeau, das suas rotações com poucos jogadores e dos treinos extenuantes. Sobre Nash é mais difícil, mas ao menos conhecemos seu perfil conciliador de liderança e que todos os seus times sempre jogaram com muita velocidade, movimentação sem a bola e arremessos de longa distância. Mas e Donovan? Na Universidade da Florida ele foi bicampeão com um time baseado em dois jogadores de garrafão, Al Horford e Joakim Noah. Depois em OKC ele treinou o time de Kevin Durant e Russell Westbrook, depois a temporada da VINGANÇA de Westbrook, depois o time com Paul George e, por fim, o dessa temporada com Chris Paul e companhia. Todas essas equipes não tem lá muito em comum.

A primeira versão do seu Thunder frustrou muita gente por não mudar muito do ataque meio previsível (embora mortal) treinado por Scott Brooks, depois ele se adaptou para tirar o máximo de Westbrook e comandou o armador nos seus anos de média de triple-double e troféu de MVP. Enquanto Westbrook estava lá, o time corria e estava entre os que mais arremessavam dentro do garrafão. Neste ano com Chris Paul, virou o time da meia distância e a frequência de contra-ataques despencou. De 17º time que mais finalizava em pick-and-roll há cinco anos, virou o quinto nesta temporada. E o mesmo vale para a defesa: o time era elétrico, abusava das dobras de marcação no perímetro e usava o físico para interceptar passes e causar terror quando reunia Kevin Durant, Serge Ibaka, Westbrook e Andre Roberson em quadra ao mesmo tempo, mas depois recuou e fez uma defesa mais conservadora, até abusando do agora padrão drop coverage para proteger Steven Adams de sair muito do garrafão. A defesa do Thunder sempre esteve no Top 10 da liga sob Donovan, mas nem sempre jogando com a mesma estratégia.

O que podemos tirar disso tudo é que Donovan não tem um estilo próprio que necessariamente enfia nos seus times, ele é alguém com alguma versatilidade que é capaz de olhar para o seu elenco e montar algo de acordo com o que tem em mãos. A versatilidade tem sido tema nesses Playoffs de 2020, com elogios a Nick Nurse, Brad Stevens, Erik Spoelstra e até Frank Vogel por conseguirem mudar drasticamente seus times de um jogo para o outro baseado no que os adversários estão fazendo. Mas não é essa a versatilidade de Donovan: em cinco anos de Thunder, ele ficou na primeira rodada em quatro deles, sempre recebendo críticas por não ter a agilidade de encontrar soluções dentro das partidas para fugir das estratégias dos rivais.

A sua versatilidade está em montar um estilo de jogo condizente com os talentos de seus principais jogadores, não em uma criatividade ou repertório para ficar tirando coisas da cartola no meio de um jogo. Pelo contrário, ele está mais do lado dos técnicos conservadores que acreditam em sempre manter o plano usado ao longo do ano. Não há certo e errado por definição, cada estilo combina mais ou menos de acordo com o que se tem em mãos. E essa é minha dúvida para o seu trabalho com o Chicago Bulls: o que é tirar o melhor desse grupo? Sabemos bem a diferença de montar um time para Russell Westbrook e para Chris Paul, mas como é montar um time pensando em Zach LaVine? Ou Lauri Markkanen? Ninguém sabe ainda, talvez nem os próprios jogadores, ao contrário das estrelas consagradas que Donovan comandou até aqui.

Muito tem se falado também sobre o talento do treinador de desenvolver esses jovens jogadores. Ele tem um bom retrospecto mesmo, não só nos tempos de técnico universitário mas na NBA, onde ajudou a transformar jogadores completamente desconhecidos em peças importantes, especialmente na defesa. Passaram por lá e cresceram no Thunder caras como o citado Andre Roberson, Jerami Grant, Terrance Ferguson e agora Lu Dort. O problema está quando lembramos que Victor Oladipo e Domantas Sabonis tiveram um ano fraco sob sua tutela e só foram deslanchar quando deram o fora. É engraçado pensar que ele se dá bem demais com estrelas (Westbrook MVP, ressurreição de Chris Paul, melhor temporada da vida de Paul George) e também com desconhecidos que lutam por espaço na NBA, mas tem um histórico menos brilhante com esses jogadores no meio do caminho como Oladipo, Sabonis e até mesmo Steven Adams, que nunca virou mais protagonista como poderia. A exceção é Dennis Schröder. Só que o Bulls não é justamente um apanhado enorme desses caras do pelotão do meio sonhando em se tornar estrelas? Vamos ver como Donovan se vira com isso.

Embora com muito ainda a ser respondido, parece uma contratação segura para o Chicago Bulls. Os times de Donovan sempre foram organizados, disciplinados e a prova de drama extra quadra, fator importante após anos agitados na franquia. Os últimos nomes que passaram por lá sempre se envolveram em algum tipo de conflito interno: Thibodeu com a diretoria, Fred Hoiberg com Jimmy Butler e Dwyane Wade e depois Jim Boylen e todo mundo, especialmente LaVine e suas críticas bem explícitas no meio das partidas. Um técnico que saiba navegar entre chefia, jogadores veteranos e cobrança e desenvolvimento das jovens promessas irá ajudar muito o Bulls a não perder para si mesmo como no passado recente.

Analisar contratação de técnico antes de qualquer jogo, treino ou sequer declaração do treinador sobre o que pretende fazer é sempre arriscado (ou uma furada), mas dá pra ter alguma confiança de que Donovan não vai fazer a torcida soltar tantos “o que ele tá fazendo?” como os últimos caras que passaram por lá. É um começo. E se daqui duas temporadas estiverem reclamando dele por falta de ajustes nos Playoffs, como torcedores do Thunder fazem hoje, será um avanço, sinal de que o Bulls voltou para a pós-temporada.

Noah

Um último adendo: após vencer o Jogo 4 da final do Leste pelo Miami Heat nesta terça (23), Jimmy Butler elogiou seu ex-companheiro Joakim Noah e o citou como um dos veteranos que o ajudou no seu começo na NBA e que o inspirou a ser o mentor do novato Tyler Herro nesta temporada. Noah é também ídolo supremo da torcida do Chicago Bulls, está muito perto de encerrar a carreira e tem uma relação pessoal profunda com Donovan desde os tempos de Universidade da Florida. Que tal uma reunião entre mestre e pupilo? Poderia ser uma ajuda para a molecada, especialmente jovens jogadores de garrafão como Wendell Carter e Daniel Gafford, e também seria um agrado para a torcida, uma despedida caseira de um ídolo e uma voz veterana no vestiário para ajudar nos momentos difíceis. E tudo com discurso alinhado com o técnico. Daria até pra embalar uma carreira de assistente depois disso, embora seja difícil imaginar Noah nessa de terno e tablet na mão. Seria uma boa história.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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