>Quarenta

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Apesar da crença popular, Zach Randolph
não engoliu a bola depois da foto

A noite de domingo teve três jogadores alcançando a marca dos 40 pontos – dois deles, inclusive, no mesmo jogo. Esses são os primeiros indícios de uma briga pelo posto de cestinha da temporada entre Kobe Bryant e Carmelo Anthony, especialmente graças às condições de suas equipes.

Kobe marcou 41 pontos contra o Hawks, acertando 15 de seus 29 arremessos, 10 de seus 11 lances livres, e apenas uma bola de três pontos. Mas no primeiro tempo, quem estava chutando traseiros era o Joe Johnson, errando apenas um de seus oito arremessos, marcando 18 pontos e mantendo o jogo disputado. Foi aí que entrou em ação Ron Artest. Embora ele esteja tendo alguns problemas de decisão no novo esquema tático e a pontaria esteja um bocado desregulada (embora nós torcedores do Houston saibamos que sua mira é desregulada por natureza), sua defesa foi o grande diferencial. Tá legal, a gente sabe que o Trevor Ariza é um bom defensor, mas o Artest vai estar em outro nível mesmo com os cabelos brancos e numa cadeira de rodas. Ele é simplesmente mais forte, mais físico, mais chato e mais rápido do que o Ariza pode ser. Não vejo o Artest numa forma física tão boa desde os tempos de Kings, então acho que o sujeito ficou empolgadinho de jogar com seu ídolo Kobe e compareceu de vez em quando a uns treinamentos de férias. Quando ele resolveu defender o Joe Johnson no segundo tempo, que até então havia sido responsabilidade do Kobe, o jogo desandou. O coitado do Joe Johnson não conseguia mais fazer nada, o Kobe ficou livre para ser Kobe, marcou 14 pontos no terceiro período, o time inteiro do Hawks se desesperou, começou a dar uns passes ridículos e aí a partida virou “NBA Live”: todo mundo roubando a bola, correndo e terminando com uma enterrada (para quem não sabe, toda jogada no “NBA Live” pode acabar com uma enterrada se você quiser, por favor faça um favor a si mesmo e ao bom gosto e compre imediatamente o “NBA 2K10”, combinado?).

Aí está finalmente a diferença que Artest pode trazer ao Lakers. Não é tão inteligente quanto o Ariza, não é tão obediente taticamente, não é tão explosivo atacando a cesta e nem tão concentrado e focado na partida. Mas sua defesa transforma o jogo quando ele não precisa se preocupar em carregar o time nas costas ofensivamente, e o próprio Kobe disse que foi a energia de Artest que transformou o ânimo de todo mundo em quadra no terceiro período. É claro que ele também vai eventualmente discutir com alguém, fazer uma gracinha e tacar sorvete na cabeça de algum torcedor, mas isso são apenas mais coisas que o chato do Ariza não era capaz de trazer ao Lakers. Do jeito que eles são favoritos, com um elenco ainda mais forte e um Andrew Bynum cada vez mais consistente, eles precisam mesmo de um jogador mais fanfarrão pra não virarem uma coisa chata como o Spurs ou uma visita ao pinguinário.

Mas enquanto o Kobe tinha o apoio de Artest para marcar 41 pontos, o Carmelo foi lá e marcou 42, só de pirraça. Sempre bati na tecla de que o Carmelo Anthony é o jogador ofensivamente mais completo da NBA, e dia desses uma velhinha me deu uma bengalada na rua por causa disso. Eu sinto muito, mas nem Kobe, nem Wade, nem o Chuck Norris têm o arsenal ofensivo que o Carmelo tem, tudo por culpa do seu tamanho, habilidade, distância no arremesso e possibilidade de jogar com as costas para a cesta como praticamente ninguém na NBA consegue. Muito mais maduro, longe daquela besteira de querer ser reconhecido pela mídia e ser melhor do que LeBron James, Carmelo está mais focado, lendo melhor as defesas que tacam em cima dele, sabendo quando parar de forçar os arremessos e quando passar a bola. O resultado é bastante engraçado: os colegas de equipe agora confiam em seu julgamento, o Billups não tem medo de deixar a bola em suas mãos, e o que acontece é que Anthony ganha mais oportunidades de finalizar – e converter – do que em qualquer outro momento de sua carreira quando ele apenas se preocupava em arremessar sem parar. Não dá pra enganar ninguém, o Nuggets é o time do Billups, foi ele quem tornou a equipe uma coisa séria, e se ele falar que o Mark Madsen é melhor que o Carmelo, a equipe provavelmente coloca o Carmelo pra vender cachorro-quente na porta do ginásio. Se o Billups disse que a maturidade do Carmelo é evidente e que coloca a bola em suas mãos mais vezes agora, então o time inteiro também o fará e, tendo em vista o arsenal e aproveitamento que vem apresentando, não tenho como imaginar que ele não seja o cestinha da temporada. Em três jogos, a média é de quase 38 pontos por jogo (foram mais de 40 em duas partidas seguidas), e tudo isso sem precisar acertar mais do que uma bola de três por jogo. O Carmelo joga mais perto da cesta, cobra mais lances livres, e o Nuggets é muito mais eficiente. Apesar de não ter se reforçado como as principais equipes do Oeste, o time de Denver tem tudo para melhorar muito a campanha já irrepreensível da temporada passada.

Mas o mais curioso é que os 41 pontos do Carmelo ontem fizeram todo mundo esquecer dos 40 pontos que o OJ Mayo fez no mesmo jogo. Ao contrário da overdose de arremessos com a qual o Mayo nos acostumou, ontem ele atacou a cesta, foi agressivo, abusou das infiltrações – principalmente nos momentos decisivos do jogo – e manteve o time sempre na cola do Nuggets. Ué, mas o Grizzlies não ia ser um dos piores times do Oeste, não ia feder pra burro, não ia ter que jogar com seis bolas em quadra para conseguir deixar Mayo, Rudy Gay, Zach Randolph e Iverson felizes? Pois é, mas estranhamente o time está bastante contido. Rudy Gay está focado na defesa, Iverson ainda está machucado e não estreiou, e Zach Randolph se diz um novo homem. Não porque ele perdeu peso, afinal aquelas bochechinhas gordinhas de Quico a gente reconheceria em qualquer lugar, mas porque Randolph está decidido a não arremessar mais bolas de três nessa temporada, deixando isso para quem realmente sabe o que está fazendo, e com isso forçando menos arremessos, ficando mais perto da cesta e tentando se encaixar numa rotação ofensiva que tem que deixar todo mundo feliz. É o ápice de maturidade de um sujeito que antigamente já veio a público reclamar que sua pontuação no videogame era mais baixa do que a do Nenê e que isso era uma afronta. Em três partidas, Randolph ficar mais perto do aro já deu resultados, com uma média de 5 rebotes ofensivos por jogo. Quer mais? Randolph deu pelo menos duas assistências em todos os jogos, incluindo 7 ontem quando ele resolveu deixar o OJ Mayo brilhar e tentou pouquíssimos arremessos. A média de assistências por jogo já é de 4, o que é um absurdo para o homem conhecido como “Buraco Negro”, afinal quando a bola chega nele não volta nunca mais.

Com esse Randolph mais transformado do que bêbado em programa da Igreja Universal, Mayo parando de arremessar só de fora e o time focado em colocar a bola nas mãos de todo mundo, o Grizzlies já surpreendeu vencendo o Raptors, que por sua vez já venceu o Cavs, o que numa lógica fajuta significa que o Zach Randolph é melhor do que o LeBron James. Hoje, Carmelo e Kobe tiram uma folga de sua disputa pelo título de cestinha, mas o Grizzlies volta às quadras e merece que todo mundo dê uma espiada em como os jogadores estão funcionando juntos. Até porque hoje estreia Allen Iverson, que fará parte de uma rotação de três jogadores junto com Mike Conley e OJ Mayo. Um Randolph mudado já é milagre o suficiente, será que veremos um novo Iverson em quadra, obstinado a se encaixar na equipe para salvar sua carreira? Quando Vince Carter topou se encaixar naquele Nets porcaria, ganhou fama o bastante para que o Magic topasse colocá-lo num elenco sem medo de destruir a química do time. Iverson precisa ganhar a mesma fama, e o primeiro passo é hoje. Estaremos de olho, até porque só acredito num Randolph que não é fominha vendo com meus próprios olhos – e o Iverson, quer você ame ou odeie, merece sua audiência. Sempre.

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