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Ao contrário da Conferência Oeste, que já tem os oito times que vão para os playoffs praticamente definidos (apenas um milagre coloca o Suns na busca pela oitava vaga), a Conferência Leste parece uma piriguete: todo mundo pode tirar uma casquinha se quiser. A luta parece ser para ver quem fede menos, mas às vezes tenho a impressão de que é justamente o contrário: para que serve conseguir a oitava vaga, enfrentar o Cavs e ser humilhado ao invés de conseguir uma escolha melhor no draft? É por isso que de vez em quando tenho quase certeza de que a briga é pra ver quem fede mais, e que se classificar para os playoffs é a punição máxima para o último colocado nesse concurso de horror.
Na disputa ao contrário, Bulls, Bobcats, Bucks, Knicks, Nets e Pacers lutam para não se classificar para a pós-temporada. Pacers e Knicks parecem largar na frente, mais inconstantes e um pouco atrás na tabela, perigando conseguir a oitava vaga apenas em caso de desastre. O Nets corria o perigo de escalar a tabela, mas então o Devin Harris sofreu uma lesão e está fora pelo resto da temporada, o bastante para os teóricos da conspiração acharem que ele sentou de propósito para que não acabem ganhando uns jogos sem querer. O Vince Carter, de quem infelizmente ninguém jamais se lembra nesses tempos pós-Clodovil, está garantindo uma vitória aqui e outra ali, mas acho que não será o suficiente para manter o ritmo necessário para a equipe. Perdendo essa competição do Mundo Bizarro, então, temos três times bastante curiosos: o Bobcats, favorito do Denis para agarrar a oitava vaga já há muito tempo; o Bulls, atualmente um jogo à frente e potencial classificado; e o Bucks, o time que não consegue perder nem sem suas principais estrelas.
Além do nome dos três times começar com a letra “B”, o que não pode ser simples acaso (compre já o livro “Nada é fruto do acaso” e ganhe grátis “A vida fora da matéria”, ligue já!), há outras coisas que eles têm em comum. As três equipes, por exemplo, contrataram técnicos novos para essa temporada após terem fedido na anterior.
No Bobcats, como o próprio Gerald Wallace reclamou, quando o time finalmente estava entendendo o esquema do técnico Larry Brown e adquirindo uma química defensiva, alguém era trocado e o time se transformava por completo. O Larry Brown reconstruiu o time quase por completo de modo que a equipe refletisse suas crenças táticas, uma liberdade que só tem aquele técnico com certeza de que seu trabalho será de longa duração e que o apoio dos dirigentes será total – algo que não aconteceu na sua curta estadia no Knicks, aliás. Além dessa constante alteração do elenco, o próprio Gerald Wallace virou farofa nas mãos do Bynum (que agora provavelmente acredita em “karma”) e voltou só agora, aliás jogando bem pra burro. A temporada não foi fácil, completamente atípica, e arrisco dizer que não apenas eles merecem mais ir para os playoffs como também parecem ser os mais interessados. Não tenho dúvidas de que o Larry Brown receberia isso como uma prova de que seu trabalho foi recompensado e aproveitaria a oportunidade para dar experiência para a pivetada, que há tantos anos sempre acha que “agora vai” e nunca consegue nem ganhar campeonato de peteca.
O Bulls, além de um técnico novo como o Bobcats, também fez um punhado de trocas para reformular o elenco. No entanto, parecem não ter muita certeza do que estão fazendo, qual será o núcleo do time, o que pretendem em quadra. A única certeza é que o Derrick Rose é de verdade, joga pra burro, vai liderar esse time pelo próximo século e algum blogueiro por aí está engolindo um pé por ter dito que o Bulls deveria ter draftado o Beasley. Confesso, nunca achei que o Rose fosse ser tão bom assim tão rapidamente, e o Beasley supria uma posição muito mais deficiente na equipe de Chicago. Mas o Universo estava certo e eu errado, com o Derrick Rose comandando a brincadeira não tem como esse circo dar errado muito tempo, basta apenas que decidam como será o time que ele irá controlar. A primeira decisão deverá ser manter ou não o danado do Ben Gordon. Pessoalmente, isso me tira o sono às vezes. Não faço idéia de quem ele é, num jogo pode fazer 43 pontos em 8 bolas de três (contra o Heat), mas no seguinte pode fazer 4 pontos acertando apenas um dos 10 arremessos que tentou (contra o Magic). Muitos torcedores do Bulls dizem que o Gordon atrapalha o ritmo ofensivo da equipe, mas eu concordo com o Denis e sua opinião de que “um cozinheiro cozinha, um arremessador arremessa”. O Ben Gordon tem mais é que arremessar como um louco, fazer 40 pontos às vezes, 4 pontos em outras, mas não dá para confiar num cara assim para carregar seu time para sempre. Arrisco dizer que, ainda que muito menos talentoso e sem o poder mutante de pontuar como um louco no quarto período, o John Salmons é muito mais eficiente e constante do que o Ben Gordon. Sei que é meio bizarro, mas acho que o Bulls ganhou muito ao recebê-lo na troca com o Kings e deveriam mantê-lo por lá enquanto o Gordon vai tentar ganhar bilhões em outro time e acabar lavando pratos. O John Salmons, inclusive, jamais reclamou de desempenhar o papel de sexto homem em Sacramento, embora tenha resmungado – e com razão – que, nas oportunidades que recebeu como titular, tinha jogado muito melhor mas era como se ninguém estivesse olhando. Acho que um time vencedor precisa muito mais de um Salmons do que de um Ben Gordon, e muito mais de um Leon Powe, por exemplo, do que de um Charlie Villanueva. Consistência é algo subestimado, mas essencial na NBA.
O que me leva imediatamente ao Bucks, que por tanto tempo ficou meio sem querer com a oitava vaga no Leste e agora está em nono lugar. Sem dúvida a equipe tem grandes jogadores, como o próprio Villanueva e o Michael Redd. Só que, para mim, os dois são excelentes exemplos de jogadores sensacionais que não te levam a lugar nenhum. Me dói muito dizer isso, aliás, porque sou um enorme fã dos dois: acho o Redd um jogador genial, muito mais completo do que as pessoas costumam imaginar, e o Villanueva por vezes é um monstro no ataques e nos rebotes, além de ser muito jovem. Mas colocá-los como foco de um ataque é suicídio. O Michael Redd, em especial, precisa que o time jogue exclusivamente para ele ou suas maiores qualidades não serão exploradas. Na temporada passada, todo o ataque do Bucks se baseava em um corta-luz atrás do outro, em geral dos pivôs na cabeça do garrafão, para que o Redd pudesse usar seu arremesso de fora. O resultado era um time lento e terrível nos rebotes, porque o garrafão estava sempre vazio. Com o técnico Scott Skiles, que veio do Bulls para pentelhar os veadinhos roxos, o ataque ficou mais distribuído e veloz e o Redd passou a ser apenas mais um jogador em quadra, um daqueles especialistas que em geral vêm do banco – só que ele é espetacular. É aquele jogador que parece ser fadado a ver seu talento mal utilizado por não se encaixar em lugar nenhum (Iverson, alguém?). Quem daria um contrato máximo para um arremessador cuja maior especialidade é ficar bem longe da cesta e que, eventualmente, terá seus dias ruins e não poderá compensar isso com outros fundamentos? Se o Ben Gordon está errando tudo, dá pra sentar sua bunda no banco, mas não tem como sentar o Redd se ele deveria ser justamente a estrela e a alma do time. O resultado é o dinheiro mais mal gasto desde a plástica de nariz do Michael Jackson e uma grande lição para os times interessados em assinar cheques a torto e a direito.
Esse Bucks do Skiles me lembra obviamente um pouco o Pistons do Iverson. A equipe de Detroit joga melhor sem o Iverson, mantendo o estilo de jogo coletivo que deu tão certo nos últimos anos. Já o Bucks sequer percebe se o Redd está ou não na quadra. Um arremessador pode mudar completamente um jogo, é verdade, mas se ele é a principal arma de ataque, pode apostar que sua equipe está encrencada. Num jogo mais focado na defesa, na velocidade e na coletividade, o Redd tem mais cara de sexto homem do que tem de All-Star. Acho que o Bucks nem notou que o Redd se contundiu, o elenco continuou fazendo a mesma coisa e também não deu a mínima para o Andrew Bogut estar contundido também, afinal ele passou quase toda a temporada com uma lesão ou outra e fedeu nos intervalos entre suas contusões (e ferrou meu time de fantasy). É com uns caras nada a ver que o Bucks segurou as pontas, como o reserva Luc Mbah a Moute defendendo bem pra burro e pegando rebotes mesmo quando joga no garrafão, fora da sua posição natural. O ex-novato sensação Ramon Sessions joga cada vez melhor e é mais um jogador vindo do nada, escolhido na segunda rodada do draft, que mostra ser o futuro da equipe, exatamente como aconteceu com o Redd. O Sessions controla bem o ritmo do jogo, arremessa cada vez com mais consistência e defende bem melhor do que o Luke Ridnour (eu também defendo melhor do que ele, afinal sei ficar em posição ereta em cima das minhas duas pernas). Só espero, por favor, que o Bucks não assine um contrato máximo com o Sessions também, ou seja, que eles não tenham um estranho fetiche por enriquecer jogadores da casa que de repente deslancham.
Com tantas contusões, o Charlie Villanueva acabou ganhando espaço na equipe e a fama de ter o estranho poder mutante de chutar traseiros quando joga em Milwaukee, o que provavelmente faz dele o único mamífero do mundo que gosta de estar lá. Fora de casa, no entanto, ele tem uma tendência a feder. Mas seja em casa ou fora, ele nunca defende, só que seus arremessos de três pontos, sua capacidade de atacar a cesta, mecânica sólida de lance livre e tempo nos rebotes ofensivos são fantásticos. O problema é que ele segura a bola demais, monopoliza o ataque e tem um complexo de Rasheed Wallace, ou seja, uma certa alergia de garrafão. Joga muito, mas parece desencaixado nesse time tão carente de alguém perto da cesta e de um elenco todo capaz de abraçar o jogo coletivo. É um daqueles casos estranhos em que o time seria melhor com jogadores piores: o pau-pra-toda-obra Leon Powe seria mais útil no garrafão, e o John Salmons poderia substituir o Redd sem que houvesse muita comomoção.
Muito provavelmente o Bucks vai ganhar a disputa inversa e não ir para os playoffs. Richard Jefferson é mais um que precisa mandar uma porcentagem do salário para o Jason Kidd, sendo óbvio que ele não pode carregar um time sozinho (apesar do salário para carregar uns três times e ainda lavar a roupa de todo o elenco). O Luke Ridnour é um tapa-buraco eterno, tem reserva escrito na testa e parece ser o real sucessor do Tyronn Lue no papel de reserva que acaba virando titular em todo lugar que vai porque os outros fedem mais do que ele. Ou seja, um time desses não tem como ir muito longe e parece só segurar as pontas por obra mágica do Scott Skiles, que eu tanto critico por ser um pentelho mas que é um dos melhores do planeta em montar um elenco do nada, sem estrelas, e fazê-lo chegar a algum lugar. O melhor para a equipe seria uma reconstrução, nos moldes do Bobcats, trocando o Michael Redd e arriscando a idéia de um time sem estrela alguma, que afinal de contas deu certo no Bulls do Skiles algumas temporadas atrás (e que levou o Sixers a fazer barulho nos playoffs passados). Mas quem seria louco de aceitar o contrato do Redd, o especialista mais bem pago da história da humanidade?
Deixo minha sugestão de fã, porque estou repetindo isso há anos: o Michael Redd é o parceiro ideal para o Yao Ming, eles são almas gêmeas, pão e manteiga, Claudinho e Bochecha. Nada de T-Mac, senhoras e senhores! Com Artest e Redd o meu Houston Rockets só não seria campeão se pegasse o Spurs em ano ímpar. Mandem para Milwaukee o Shane Battier, que defende como ninguém e seria tipo o filho favorito do Scott Skiles. O pobre do Redd precisa se encaixar em algum lugar, e eu tenho a solução: ajudem meu time a ser campeão!