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Já falamos aqui de como o basquete em cadeira de rodas é bem parecido com o basquete comum, já que as regras são todas iguais com exceção do drible. Mas tem uma coisa que é muito, muito diferente, e óbvia, a cadeira de rodas.
No basquete convencional os jogadores se preocupam com o tênis que usam. Se preocupam com a parte estética, se é confortável, se amortece o impacto e se não vai causar problemas futuros ao joelho, todas preocupações bem válidas, mas que no fundo não impactam no resultado do jogo, ao contrário das cadeiras no basquete sobre rodas.
Nisso o basquete se assemelha mais a outros esportes, como a natação, em que a evolução dos maiôs e toucas ditam o ritmo de quebras de recorde na modalidade. No basquete sobre rodas a cadeira tem grande influência no jogo. Embora existam regras, como um limite da altura da almofada ou de angulação das rodas, não existem regras para o material, por exemplo. No Brasil ainda usamos as velhas cadeiras de alumínio, que nem se comparam com as cadeiras gringas feitas com o todo poderoso titânio, que é mais resistente, mais leve, mais bonito, mais caro, se veste melhor, tem carro mais bonito e uma mulher mais gostosa do que o alumínio.
Mas o Brasil não usa as cadeiras de alumínio porque quer, como é em qualquer esporte, tem mais quem tem mais grana. Uma cadeira usada aqui no Brasil custa de 1.000 a 1.800 reais, sendo que as gringas custam pelo menos 2.300 dólares, o que dá mais ou menos uns 3.800 reais dependendo do câmbio. Imagina comprar cadeira de 3.800 pra todo mundo num elenco de 12 jogadores, haja Bill Gates. O preço também é um dos motivos que fazem com que a maioria das equipes, a do Brasil inclusive, não tenha cadeiras reservas, apenas algumas peças e rodas. Se bem que é difícil ter cadeiras reservas, já que elas são ajustadas para cada jogador. Alguns são mais magros, outros mais gordos (outros só têm ossos largos) e tudo precisa ser certinho para os atletas ficarem bem presos à cadeira, ninguém quer perder a firmeza na cadeira no meio de um contra-ataque, não é?
Uma das diferenças básicas das cadeiras comuns, as chamadas cadeiras sociais, em relação às de jogo, é aquela rodinha na parte de trás, chamada anti-tip, que serve para os jogadores não capotarem pra trás durante o jogo. Imagina se você tá jogando contra um Bruce Bowen de cadeira de rodas. Na impossibilidade de colocar o pé sob o seu depois de um arremesso, para torcê-lo, ele não iria pensar duas vezes na hora de virar sua cadeira pra trás. Digo isso porque o cara é safado e porque sei que ele não sabe português, então não vai vir aqui tirar satisfações.
Além da rodinha atrás, uma outra diferença óbvia é a inclinação das rodas, que serve para dar mais velocidade, mais agilidade e também, me surpreendi ao descobrir isso, para os jogadores não machucarem os dedos. Vi num vídeo um cara explicando que se as rodas fossem retas como numa cadeira comum os dedos dos jogadores poderiam ser esmagados caso uma roda batesse na outra. Com a inclinação as rodas se batem apenas na parte de baixo, a parte de cima, onde os dedos dão o impulso, não é atingida. A questão que fica é, depois dessas porradas na roda, que não pegam na mão, pode acontecer alguma coisa com a cadeira?
Não só pode acontecer como realmente acontece, com frequência. São peças que caem, o pneu fura e a rebimboca da parafuseta dá problema e a senhora vai ter que estar indo estar trocando as peças todas e essa é difícil de encontrar e o carro só vai liberar na terça-feira depois do almoço. Por isso que existe na seleção o excelentíssimo senhor Marcelo Romão, mecânico da equipe. Em um primeiro momento parece que estamos falando de Fórmula 1 quando dizemos que existe um mecânico, mas como as cadeiras realmente se danificam durante o jogo, um bom mecânico é essencial para qualquer equipe.
Quando uma cadeira é danificada o mecânico tem um minuto para resolver o problema, se não conseguir o jogador deve ser substituído. Imagina a pressão nas costas do mecânico se acontece alguma coisa com a cadeira da estrela do time no último período do jogo, o cara tem um minuto pra resolver ou o time tem que se modificar inteiro na hora mais decisiva. Nisso pode-se sim comparar com a pressão de um mecânico de Fórmula 1 em uma parada de boxe importante, ambos são decisivos.
Abaixo uma imagem que explica todas as medidas obrigatórias que as cadeiras devem ter, é só clicar na imagem que ela fica maior.