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“Abaixa o cabeção aí, rapá!”

Esse tempo sem basquete na NBA não foi entediante apenas para nós, não. Pelo jeito, foi um bocado entediante também para os engravatados que mandam na liga. O David Stern, que é o dono da bola (se ele não brinca então ninguém brinca), já é um entediado clássico que volta e meia inventa alguma regra ou alteração maluca apenas pra ter o que fazer. O tempo inteiro está multando alguém por causa de alguma declaração idiota, o que significa que o Stern definitivamente não tem nada melhor na vida do que ficar se importando com besteiras e arrancando dinheiro de todo mundo. Deveria comprar um canário.

Enquanto a gente boceja e muda o visual do Bola Presa nesse tédio sem NBA, o David Stern tem mais poder e então consegue mudar muito mais para matar o tempo. Primeiramente, proibiu todos os jogadores, técnicos e outros membros das equipes de usar celular ou sites de relacionamento na internet, como o Twitter e o Facebook, durante as partidas. Na verdade, a proibição começa 45 minutos antes de cada partida e se extende até o final das entrevistas coletivas que acontecem após os jogos.

O David Stern é todo moderninho, foi com ele que a NBA se globalizou, dominou o mercado chinês, transformou a China nuns Estados Unidos genéricos, colocou replays eletrônicos nas partidas e tabela luminosa para avisar estouro de cronômetro. Com certeza ele está antenado, deve ter tido um fotolog quando era moda tirar foto com a linguinha pra fora e deve jogar GTA no videogame da filha. A NBA tem um site de ponta e entrou na moda de conseguir postar mesmo sem ter nada pra falar com o Twitter, que por exigir apenas meia-dúzia de caracteres poderia ser usado por um gorila. A transmissão das partidas pela internet agora está à venda para o mundo inteiro, através do “League Pass International” (estamos já contando as moedinhas pra poder assinar e comentar aqui sobre a qualidade do serviço). Então o David Stern está de olho em tudo que é novo, moderno e possa gerar dinheiro. Mas ele não quer dor de cabeça, reclamação ou polêmica, quer que a NBA tenha imagem de ser respeitável com jogadores de bem, dando as mãos e cantando “we are the world“.

As multas para quem reclama de arbitragem sempre foram severas e muitas vezes desnecessárias, porque árbitros erram (até a Alinne Moraes erra, tem hora que a franjinha não funciona). Agora tem multa para quem pede abertamente para ser trocado, de modo que o Stephen Jackson pediu pra sair (no melhor estilo “Tropa de Elite”, porque o Warriors é mais maluco do que treinamento militar) e foi imediatamente punido em dinheiro. Tudo isso sem falar nas multas para quem não se veste conforme foi estabelecido, ou seja, para quem não parecer que na verdade vende Bíblia ao invés de jogar basquete. Agora, o Twitter virou alvo de punição. Tornou-se febre entre os jogadores de um jeito tal que vários anúncios de trocas e contratações acabaram saindo primeiro no Twitter, antes da própria imprensa, e com tanto jogador brincando de escrever em menos de 10 palavras porque não tem mesmo nada a dizer, acabou tendo muita gente soltando umas merdas. Teve postagem suicida e meio emocore do Michael Beasley, de dentro da clínica de reabilitação, jogador postando em intervalo de jogo, provocações, e um tanto de polêmica. Como o David Stern não quer lidar com isso, proibiu de uma vez e pronto, que é mais fácil. Engraçado é que o Gilbert Arenas nunca quis ter um Twitter, ele deve se sentir plagiado ao ver tanto jogador dando opiniões idiotas sobre tudo, mas ainda assim anunciou que não vai mais postar nada na internet. Em parte para se focar no basquete, mostrar que ele pode ser conhecido pelo seu jogo, mas em parte também porque se ele der bobeira acaba multado. O melhor jeito de não sofrer punição é ficar quieto, não dar opinião sobre nada, responder apenas o essencial e quando te perguntarem (não responder jornalistas também gera multa) e ainda por cima se vestir direitinho. Repito: o David Stern deveria ter comprado um canário.

Mas o tempo sem basquete foi bem grande, proibir Twitter não seria o suficiente para matar o tempo. O senhor Stern aprovou uma das regras mais bizarras e engraçadas de todos os tempos: os jogadores do banco de reservas não podem ficar de pé. Podem até se levantar para “reagir naturalmente” quando acontecer uma jogada bacana, mas devem sentar imediatamente depois. O motivo? Levantados, os jogadores dos bancos de reserva tapam a visão dos torcedores endinheirados que estão logo atrás.

Não tenho muitas dúvidas de que o Stern deve ter ido ao cinema, não assistiu nada por ficar atrás de algum chinês gigante (como no comercial em que o Yao tapa a visão do Jackie Chan, presente na série de vídeos comerciais que o Denis separou) e aí, pra se vingar de ter um cabeção atrapalhando o filme, aprovou essa nova lei na NBA. Troço mais inútil, mais idiota e mais desnecessário, será que alguém algum dia reclamou de não conseguir ver o jogo porque o Kobe tá bem na sua frente? É tipo reclamar que não dá pra assistir a novela porque a Alinne Moraes tá se esfregando na tua cara.

Com multas para quem atrapalhar a visão dos torcedores, o time mais prejudicado é imediatamente o Cavs. Não apenas eles tem o Anderson Varejão, que deve ser multado mesmo sentado no banco porque seu cabelo causa até eclipse solar, mas também são o banco mais empolgado, exagerado e engraçado da liga. Quando o LeBron dá uma daquelas enterradas características, o banco inteiro levanta, pula, se segura, ameaça um ataque cardíaco, se abana, interpreta uma peça de Sheakspeare, e depois volta ao normal. Vai ser uma merda se eles passarem a apenas aplaudir, como se todos os jogadores da NBA fossem clones do Tim Duncan. Às vezes parece que o David Stern quer transformar o basquete em tênis, em que todo mundo aplaude sentado, em silêncio, e mostrar emoção geral multa (não entendo o lance de recber punição por tacar a raquete no chão – diabos, a raquete é minha e eu faço com ela o que eu quiser!).

Mas se até tênis tem revisão por replay hoje em dia, a NBA tem a obrigação de ficar cada vez mais aberta à empreitada. Por enquanto, replays são permitidos para bolas no estouro do cronômetro de cada quarto. Agora, com o apoio de uma série de técnicos e dirigentes, os replays também valerão para os estouros do cronômetro de 24 segundos. Além disso, nos últimos dois minutos do jogo e das prorrogaçoes, o replay pode ser usado para descobrir quem foi o infeliz que tocou por último numa bola que saiu pela lateral. Basicamente, a intenção é poder usar o replay quando o jogo já estiver mesmo parado (nos estouros de cronômetro e saídas de bola, por exemplo), e tentar gerar menos polêmica nos momentos mais decisivos das partidas. Ou seja, o David Stern está sempre tentado evitar a polêmica, enquanto cria seus soldadinhos transgênicos jogadores de tênis.

Mas o uso de replay sempre acaba gerando, por si só, uma polêmica própria. Se o replay é usado no final dos jogos, por que não ser usado no jogo inteiro? Por que apenas para bolas tocadas para fora, não vale em faltas de ataque, quando não se sabe se foi falta do atacante ou do defensor? E que tal para certificar-se de que o defensor estava pisando no semi-círculo abaixo do aro em que qualquer contato é falta da defesa? Talvez seja questão do replay conquistar seu caminho aos poucos, mas qual é seu real valor em quadra? Adianta errar em todo o resto e acertar naquilo que o replay permite? O problema é que não há espaço na NBA para que os jogadores questionem esse tipo de coisa e opinem sobre o esporte que eles próprios constituem. As regras acumulam-se para deixá-los dóceis e comportados, quietinho na jaula. Mas pelo menos vamos ter vários replays pra ver todo mundo fazendo cara de Duncan.

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