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Kobe, assim como Mavs e Nuggets, choram mais uma vez

Todos nós sabemos que o Oeste é tão difícil quanto conseguir dar uns amassos na Alinne Moraes, e por isso mesmo temos motivos para esperar séries disputadas, partidas imprevisíveis, jogos inteiros sendo decididos em alguma mudança tática, com um time vencendo um jogo apenas para perder o próximo graças a alguma sacada conquistada na prancheta ou a um arremesso de último segundo. Se o Phil Jackson tomou um nó tático num jogo, o que esperamos é que ele resolva os problemas e volte com o time mudado, vença a partida, e então permita ao Thunder tentar criar um novo nó tático na partida seguinte. Em séries disputadas, esperamos um jogo de xadrez mas com menos gente nerd (deixemos os nerds apenas cuidando dos blogs), com vitórias e derrotas intercalando-se até o final da série, em que todos os conhecimentos adquiridos sobre as estratégias dos adversários são postos à prova.

Mas não foi exatamente isso que aconteceu nas partidas mais recentes da Conferência Oeste. Vantagens táticas conseguidas pelos times mais fracos acabaram se repetindo. Três times sem mando de quadra (Thunder, Spurs e Jazz) conseguiram duas vitórias seguidas, e a sensação é que conseguirão emplacar mais uma. Sabe aquela história de que um golpe de um Cavaleiro do Zodíaco não funciona duas vezes contra o mesmo adversário? Pois bem, se funcionou duas vezes – sem qualquer tipo de resposta ou solução do adversário – então por que não funcionaria três?
Quando comentei sobre a primeira vitória do Thunder em cima do Lakers, fiquei pagando pau para o técnico Scott Brooks. Não por ele ser gatinho, mas porque sua leitura do Lakers foi de dar inveja. Com um garrafão mais fraco, a solução foi colocar seus pivôs apenas para impurrar Gasol e Bynum para longe da cesta, deixar os rebotes a cabo de outros jogadores, e dobrar a marcação sempre que a bola chega no garrafão. No ataque, a decisão do Thunder foi de correr o máximo que der, atacar a cesta para cavar faltas sempre que possível, e aumentar ao máximo o ritmo de jogo. Como resultado, o Lakers passa a também jogar com velocidade, fica desencorajado a jogar dentro do garrafão e aí começa a dar arremessos rápidos de três pontos. Foi uma grande sacada perceber que arremessar de fora é o grande ponto fraco da equipe e explorá-lo. Além disso, cabe ao Westbrook atacar a cesta porque o Lakers não tem um armador que saiba defender, e ao Durant marcar o Kobe no final do jogo, quando as bolas ficam apenas na sua mão. Perfeito.
Para o jogo seguinte, o Phil Jackson sabia que a solução seria jogar dentro do garrafão o máximo possível, para evitar os arremessos de três pontos e punir os pivôs meia-boca do Thunder. No começo do jogo o plano se manteve, mas a frustração com a marcação dupla foi levando Gasol cada vez mais pra longe da cesta, o Bynum perdeu uma bola, e aí o time inteiro vai inconscientemente desistindo do plano de jogo e arremessando cada vez mais de longe. Perderam feio a partida, o técnico Scott Brooks é um gênio, e agora – como eu disse no nosso Twitter – todos os técnicos da NBA estão sentados em casa, com cara de bunda, tentando entender o porquê de não terem pensado nessa estratégia para vencer o Lakers antes. O Kobe pode estar machucado, Bynum pode não estar em plenas condições físicas, mas essa estratégia para frustrar o Lakers deveria ter sido usada por cada uma das equipes da NBA durante a temporada. Phil Jackson é um dos melhores técnicos da história, mas se a sua resposta a essa tática deu tão errado no último jogo, não vejo como dará certo na partida de amanhã. Mais do que nunca, acredito no Thunder eliminando o Lakers – mesmo que pareça tão difícil.
Na série entre Spurs e Mavs, o time de San Antonio não ganhou as duas partidas seguidas do mesmo jeito, mas parece ter conseguido uma consistência dentro da própria equipe. Quando analisei os problemas da temporada do Spurs, botei a culpa no Popovich – não por ele ser um treinador ruim, mas por seu esquema tático ser muito rígido e exigir jogadores que o elenco atual não possui. O time precisava basicamente de um bom defensor, bastante físico, que pudesse arremessar de três pontos (de preferência da zona morta). Como Richard Jefferson não é esse jogador e só brilha nos contra-ataques, acabou se afundando na rigidez do esquema tático do Popovich. Mas eis que, então, a contusão de Tony Parker acabou revelando o talento de George Hill.
A princípio ele era apenas um cosplayer de Tony Parker, ou seja, se fantasiava do armador francês em concursos de animes e mangás e tentava descolar uns prêmios, sem no entanto poder comer a Eva Longoria. No Spurs, apenas puxava contra-ataques solitários e volta e meia dava um tear drop típico do Parker (aquele arremesso com uma mão só, por cima da marcação adversária no garrafão). Mas o Popovich se apaixonou pela disciplina do rapaz, por sua vontade em quadra, e pela capacidade defensiva. Aos poucos ele foi deixando a fantasia de Parker de lado e foi se tornando único, ganhando mais responsabilidades na defesa e treinando cada vez mais arremessos. Na vitória do Jogo 3, o Spurs usou Parker, Ginóbili e George Hill ao mesmo tempo, forçando o técnico Rick Carslile a usar Kidd, Barea e Terry ao mesmo tempo, como vimos na análise da partida feita pelo Denis. Na vitória do Jogo 4, em que Parker teve um jogo muito fraco, quem venceu a partida foi mesmo o George Hill. Sabe como? Com arremessos de três pontos da zona morta. É isso mesmo: ele deixou de ser cosplayer do Tony Parker para virar cosplayer do Bruce Bowen.
Na última vitória do Spurs, George Hill foi o cestinha do jogo com 29 pontos – e 5 bolas de três pontos certeiras da zona morta. Mais bizarro do que isso, George Hill acabou marcando o Nowitzki em uma série de posses de bola, trabalhando como o Bowen em desequilibrar a linha da cintura do alemão e forçá-lo a cortar para um dos lados, onde a marcação dupla do Spurs pode obrigá-lo a parar. O Spurs sempre teve a melhor rotação defensiva de toda a NBA, já faz quase uma década. Nenhum time se recupera tão bem após fazer uma marcação dupla e ver a bola rodando em busca de um arremessador livre. O Spurs faz bem a rotação, sempre pega o cara que está livre e obriga a movimentação de bola a começar de novo. Ao fazer o Nowitzki bater para dentro, e portanto chegar mais perto do garrafão, o Spurs decidiu dobrar sempre, e aí a rotação defensiva fez um ótimo trabalho impedindo os arremessos. O alemão não ficou à vontade, os arremessadores do Dallas reiniciavam a movimentação ofensiva, e o Spurs desafiou o Mavs a jogar debaixo da cesta – sendo que eles não querem acionar Dampier e Haywood de modo nenhum, ainda mais com a insistência em jogar com três armadores em quadra ao mesmo tempo.
Ontem nada deu certo para o Spurs, o Duncan teve a pior partida da carreira, o Parker não acertava nada, o Ginóbili não calibrou a mira, mas foi a marcação dupla, a rotação defensiva e o trabalho de George Hill que garantiram o jogo. O jovem armador destruiu na defesa, nas bolas da zona morta e deu até uma cotovelada para deixar o Bruce Bowen orgulhoso. Além dele, mais sangue novo apareceu dentro do rígido esquema de Popovich: o ala nanico mas brigador DeJuan Blair lutou por rebotes, salvou bolas importantes e fez o trabalho do Duncan quando nosso cara-de-nada favorito não estava nos seus melhores momentos. A gente já sabe: se o Spurs tem uma partida de merda, em que tudo dá errado, e eles saem de quadra com a vitória (graças à defesa e às bolas de três da zona morta), é porque vão ganhar a série. Não tem nem conversa, o Mavs não tem muita chance contra essa equipe que agora acha ter as peças certas.
O bizarro é que, ainda que o Tony Parker seja muito melhor que o George Hill (o Parker está sempre nas listas de melhores armadores da NBA, e pra mim é, junto com o Monta Ellis, o melhor a finalizar dentro do garrafão), o George Hill é atualmente muito mais útil para o Spurs do que o armador francês. Jogue o Parker no lixo, lhe dê umas férias, tranque-o num quarto escuro com a Eva Longoria dentro, e o Spurs ainda ganhará do Mavs se tiver o George Hill. Nesse esquema tático do Popovich, é muito mais importante aquilo que o Hill traz à mesa, enquanto o Parker pode salvar jogos mas é, comparativamente, descartável. Outros podem pontuar, o Spurs precisa é de defeza e zona morta. Deram a sorte de que o George Hill, ainda que baixinho, é forte pra burro e treina como um débil mental. Disse estar arremessando milhares de bolas da zona morta em treinos particulares, e isso é algo que o Parker nunca conseguiu fazer. Não tem como não odiar o Spurs, até quando dá tudo errado, dá certo. Conseguiram a peça de que precisavam na hora certa, quando nós, pobres mortais, achávamos que a contusão do Tony Parker afundaria o time. Coisa nenhuma, é agora que eles parecem ter os primeiros minutos de consistência tática na temporada.
A gente também achou que o Jazz ia virar farofa com as contusões, mas no fundo isso apenas forçou o time a se focar mais em Boozer, Deron Williams e Paul Millsap. Todo mundo sabe que, num mundo ideal em que a Alinne Moraes andasse pelada, o Millsap seria titular em algum time da NBA. Com tantas lesões, Millsap ao menos ganhou mais espaço na equipe, e puniu duramente o Nuggets no garrafão. Aliás, o Jazz conseguiu expor as grandes fraquezas do Nuggets, coisas que a gente não desconfiava: o garrafão e o psicológico.
É uma espécie de lugar comum dizer que o garrafão do Nuggets é um dos mais fortes da NBA. No entanto, Nenê, Kenyon Martin e Chris Andersen são limitados no ataque. A defesa perto da cesta é o ponto forte dos três, mas Kenyon Martin está seriamente limitado – e o Jazz joga cada vez mais fora do garrafão. O Deron Williams está jogando melhor do que nunca, e o foco do Nuggets é claramente pará-lo. A equipe de Denver tem optado por dobrar a marcação, o que abre espaço para os arremessos do Boozer, e obriga os pivôs do Nuggets a saírem um pouco do garrafão – tanto para impedir os pick-and-rolls com o Deron quanto para o jogo refinado de meia-distância do Carlos Boozer. Se o Martin estivesse em melhores condições, poderia até marcar mais tempo o próprio Deron Williams, mas em suas atuais condições físicas cabe a ele ficar só olhando enquanto o melhor armador dos playoffs trucida o Nuggets. Deixando de lado todo o patriotismo que nós achamos tão idiota, posso falar também que o Nenê mostra que fede pra valer quando precisa marcar alguém no corpo-a-corpo fora do garrafão. Quando ele é colocado no Boozer, não consegue evitar cortes para dentro e nem os arremessos constantes. O Chris Andersen também é daqueles defensores fajutos, que dá tocos na cobertura mas não segura ninguém no mano-a-mano. O resultado é que na batalha do garrafão, ninguém do Nuggets pontua lá dentro, e na defesa Deron Williams e Carlos Boozer tiram os jogadores de garrafão do Nuggets de sua zona de conforto.
Mas pior do que isso é o lado psicológico. Já comentei antes que o JR Smith é um daqueles clássicos jogadores que joga muito melhor quando seu time está na frente. Seus arremessos sem critério machucam mais o Nuggets quando o time está atrás do placar e precisa de cestas fáceis e com alta porcentagem de aproveitamento. Por outro lado, esses arremessos quando o time está na frente são o que falta para terminar de aniquilar o adversário, e se eles não caem não chegam a deixar o Nuggets atrás no placar. O Jazz está jogando essa série com muito mais vontade e agressividade do que o Nuggets, com um monte de jogadores nada a ver tentando mostrar serviço e provar que a temporada não vai pro saco só por culpa de algumas contusões. A garra do Jazz é óbvia na briga por rebotes, na defesa, e nas séries de pontos seguidos que surgem de repente durante a partida, fruto apenas de algumas bolas recuperadas, rebotes ofensivos e defesa mordendo. Com isso o Nuggets fica repentinamente atrás no placar – e aí o time, assim como o JR Smith, deixa de jogar.
O JR Smith, depois de tantos conflitos com o técnico George Karl, sequer tem coragem de forçar seus arremessos idiotas quando o time está perdend nos playoffs. O resto do time acaba seguindo o mesmo padrão, e sobra para o Carmelo e para o Billups jogarem de verdade. A sensação, quando o Jazz passa à frente, é de que o Nuggets simplesmente desiste – principalmente na defesa. Falta ao Nuggets aquela calma de “time superior”, aquela certeza de que sairá de quadra com a vitória não importa de quantos pontos estejam perdendo no meio do jogo. Essa calma era a marca registrada do Pistons campeão da NBA que tinha Billups na armação, e é notável a frustração do armador com a postura do Nuggets em quadra. É fato que o Billups conseguiu colocar um orgulho no time, uma calma de time vencedor, mas nada disso se aplica quando o time está perdendo. Na última partida o Jazz começou o terceiro período com uma força absurda, fez uns 10 pontos seguidos, o Nuggets simplesmente desistiu e de repente perdia por 16 pontos uma partida que tinha liderado com tranquilidade. Dali em diante o jogo foi apenas desistência, com um Billups frustrado sequer querendo envolver os companheiros, e um Carmelo Anthony puto da vida tentando resolver sozinho no ataque enquanto berra com seus colegas de equipe. Não dá pra negar a vontade de Billups e Carmelo de vencer essa série, mas o resto do time tem preguiça. Jogam maravilhosamente bem quando estão na frente, desistem quando estão atrás. Basta ao Jazz jogar com vontade e forçar uma sequência de pontos para que o Nuggets inteiro venha abaixo.
Também vejo o Nuggets com poucas chances de se recuperar das duas últimas surras que tomou do Jazz. Tanto o Thunder quanto o Spurs e o Jazz parecem ter alcançado aquele grau de compreensão do adversário que nos leva a nem acreditar que a série possa ter outro fim que não a vitória deles. A outra série do Oeste, entre Blazers e Suns, é a única cheia de altos e baixos e que vai ter um final surpreendente. As séries do Leste também estão bem surpreendentes, até mesmo com uma vitória heróica do Dwyane Wade sozinho (tinha uns outros caras em quadra, mas eles não jogavam basquete) em cima do Celtics para manter o time vivo na série. Do mesmo modo, o Bucks conseguiu uma vitória em casa fácil fácil em cima do Hawks e joga hoje novamente tentando empatar a série. Amanhã daremos uma olhada, então, no lado Leste, depois de acompanhar Bucks e Hawks hoje de noite e gritar loucamente “fear the deer” – ou, em hilário português, “tema a rena”!

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