Resumo da Rodada 02/5 – O feitiço contra o feiticeiro

O Houston Rockets não poderia ser mais favorito para o Jogo 2 contra o Utah Jazz: venceu as 4 partidas contra o adversário na temporada regular, venceu o Jogo 1 com certa tranquilidade, e vem de uma sequência de 24 vitórias nos últimos 25 jogos que disputou em casa. Se pensarmos que além disso o Jazz está sem seu armador principal, Ricky Rubio, ainda sem data certa para voltar de sua lesão na coxa, então o favoritismo do Rockets fica ainda maior.

Mas assim que o Jogo 2 começou, deu pra perceber que as coisas seriam diferentes. O Jazz entrou na partida decidido a usar o máximo possível o pivô Rudy Gobert, tanto na defesa quanto no ataque. No ataque, a ideia foi tentar acionar Gobert com passes rápidos dentro do garrafão toda vez que o adversário dobrava em algum corta-luz. O Rockets não é um time que gosta de manter uma marcação dupla nos armadores – até porque, vamos ser sinceros, o Jazz não está sequer USANDO ARMADORES – mas sempre pressiona com dois marcadores o jogador que está com a posse de bola por alguns poucos segundos enquanto a defesa se ajusta, decidindo se fará ou não fará uma troca. Donovan Mitchell entrou em quadra programado para, em todas essas situações, dar passes altos e certeiros para Gobert finalizar embaixo do aro. O pivô chegou até a desperdiçar um passe bom com suas mãos untadas de manteiga, mas duas enterradas certeiras depois o Rockets já estava preocupado em manter seus defensores da zona morta mais próximos do garrafão para tentar parar o ataque com Gobert. Foi aí que a PORTA DO HORROR se abriu: Joe Ingles começou a receber a bola livre no perímetro por conta desse ajuste defensivo do Rockets e não desperdiçou, convertendo três arremessos de longa distância seguidos e dando ao Jazz 10 pontos de vantagem no placar logo de cara. O estrago poderia ter sido maior, porque Ingles errou um arremesso livre e abriu mão de uma bola de três pontos para fazer uma bandeja, mas o que importa é que o Jazz impôs seu plano de jogo. Ao invés de carregar todo o fardo ofensivo, Donovan Mitchell acabou o primeiro quarto com 5 assistências, e quem tentou (e acertou) arremessos difíceis no mano-a-mano não foi ele, mas Jae Crowder, que converteu outras duas bolas de três pontos. No Jogo 1 inteiro, o Jazz acertou 7 bolas de três pontos; só no primeiro quarto do Jogo 2, foram 5 bolas de três pontos convertidas.

Com o plano para usar Gobert no ataque para abrir espaço para Joe Ingles funcionando, só faltava o plano de usar Gobert na defesa. A dificuldade aqui está no fato de que Gobert é certamente o melhor defensor de aro da NBA e, portanto, precisa jogar embaixo da cesta. O Rockets, no entanto, é um time de arremessos de três pontos, de modo que Gobert é atraído para o perímetro, perde sua capacidade defensiva e, aí sim, torna-se um alvo fácil para infiltrações. O que o Jazz fez, então, foi PROIBIR Gobert de fazer qualquer troca defensiva: ele se manteve embaixo do aro não importava o que acontecesse, nem que alguém tivesse que ficar livre para isso. A defesa do Jazz que se virasse tentando enfrentar os corta-luzes e correndo atrás de defensores; Gobert, NO MÁXIMO, contestava os arremessos de meia distância de Chris Paul, dando um passinho para frente da cesta. O plano funcionou porque infiltrar se tornou muito mais difícil e o espaço que o Rockets ganhou, na meia distância ou saindo de um corta-luz em movimento, gerava arremessos que o time não estava confortável em dar. Gobert voltou a ter uma função defensiva, desviando bandejas e distribuindo 3 tocos, incluindo esse aqui:

No meio do segundo quarto, a vantagem do Jazz no placar chegou a DEZENOVE pontos. O Rockets não conseguia infiltrar, estava desesperado para defender o próprio garrafão e com isso deixava arremessadores livres especialmente no contra-ataque, e Rudy Gobert continuava dominando ofensivamente graças às dobras em Mitchell. Quando Gobert sentou o Rockets achou que poderia enfim usar um “small ball”, jogando mais baixo, mas Derrick Favors continuou o mesmo plano, na medida do possível. Esse nó tático fez com que os times invertessem os papéis: enquanto o Rockets abria mão de arremessos de três pontos minimamente contestados, fissurado em procurar bandejas e com Chris Paul tentando em vão converter de meia distância, o Jazz abriu as PORTEIRAS para jogar o basquete mais veloz que eles conseguem, arremessando de 3 pontos com confiança em transição e finalizando com pouquíssimos segundos passados na posse de bola. Terminaram o primeiro tempo com mais bolas de três convertidas do que em todo o jogo anterior.

Foi só depois de estar no fundo do poço no segundo período, perdendo de quase 20 pontos em casa, que o Rockets começou a fazer seus primeiros ajustes. Percebendo que Gobert não trocaria de marcação com ninguém, o Rockets acelerou mais o jogo para que Clint Capela chegasse antes que Gobert na quadra de ataque. Se algum ala ou armador ficassem em Capela, Gobert teria que voltar para marcar o perímetro, o que estava fora de cogitação. Então o resultado foi esse aqui:

Além disso, James Harden começou a infiltrar contra Gobert e esperar até o ÚLTIMO SEGUNDO POSSÍVEL, com Gobert já comprometido no toco, para soltar a bola para Capela enterrar. Harden assumiu sozinho a responsabilidade de tirar o time do buraco, ficou mais agressivo e passou a controlar o RITMO do ataque. Isso significou por vezes correr, por vezes tentar arremessos no mano-a-mano, e mudar de velocidade em suas infiltrações e arremessos o tempo inteiro, forçando os defensores do Jazz em movimento a se chocarem com ele e cavando faltas. Harden é mestre em disparar, fazer os marcadores correrem afoitos às suas costas e aí PARAR, protegendo a bola com o corpo, fazendo com que os defensores trombem de maneira faltosa. Numa jogada dessas, Gobert resolveu pegar toda a energia da perseguição a Harden e, quando o armador parou, usar essa energia para MATAR UMA MOSCA que estava ali pousada no adversário:

Na defesa, o Rockets colocou em prática uma movimentação exclusivamente contra Gobert: passou a trocar a marcação em todo corta-luz com o pivô, com Harden e principalmente PJ Tucker assumindo a defesa no garrafão e imediatamente tentando empurrar Gobert para longe do aro, inclusive DEPOIS dos arremessos, para negá-lo os rebotes ofensivos. Para celebrar essa decisão do Rockets, Donovan Mitchell acertou uma bola de três pontos na primeira oportunidade em que não sofreu marcação dupla, mas o ajuste valeu a pena: ao fim do primeiro tempo, a diferença no placar voltou à casa dos 9 pontos.

Com PJ Tucker exclusivamente dedicado a empurrar Gobert de um lado para o outro e Capela virando o foco dos ataques nas infiltrações de James Harden, o Rockets voltou a dominar o jogo. A insistência do Jazz em acionar seu pivô virou uma série de desperdícios de bola que o Rockets transformou em contra-ataques. Harden deu 5 assistências em infiltrações só no terceiro quarto, o que começou a abrir espaço para ele próprio finalizar, com sua JÁ CLÁSSICA comemoração de MEU NARIZ ESTÁ SANGRANDO, MEU DEUS:

Com tudo isso, o Rockets chegou a abrir 5 pontos de frente no placar – a liderança só não durou porque apesar de ter se desesperado no ataque, como o Jazz eventualmente faz quando seu plano não sai exatamente como imaginado, o time continuou acertando bolas de três pontos OUSADAS. Ainda assim, a diferença era de apenas um ponto no começo do quarto período.

Foi aí que Joe Ingles colocou uma faquinha afiada no coração do time da casa. Com PJ Tucker e os outros alas do Rockets dedicados ao garrafão, o Jazz começou a passar a bola mais rapidamente para Ingles arremessar em velocidade. Foram mais duas bolas de três pontos certeiras para ele, 4 totais para o Jazz no período. Enquanto isso, o Rockets resolveu que sua melhor fonte de bolas de três pontos seriam jogadas individuais de James Harden (com o seu lendário passo para trás em cima do marcador) e de Chris Paul (em movimento, recuando da meia distância depois de um corta-luz). Ainda é um MISTÉRIO para mim os motivos que levam o Rockets a, nos momentos de pânico, se tornar um time de jogadas de mano-a-mano ao invés da máquina de passar a bola que funcionou ao longo da temporada. Harden acertou uma das 4 bolas de três pontos que tentou no quarto final; Chris Paul acertou uma das suas 3 tentativas no período. Dante Exum, que saiu das PROFUNDEZAS do banco do Jazz e marcou os armadores do Rockets especialmente no segundo tempo, comeu os dois com azeite e sal: ele não faz movimentos desnecessários, não cai em fintas, mantém a compostura e aposta em seus braços que são GIGANTES, assustadoramente gigantes, para fazer o trabalho. Nas 22 posses de bola em que foi marcado por Exum nesse jogo, James Harden somou patéticos DOIS PONTOS. Chris Paul não foi muito melhor.

Errando bolas de três pontos sem parar, o Rockets permitiu que o Jazz fizesse uma sequência de 16 pontos a 2 em míseros 3 minutos. Foi na base da defesa que o Rockets apertou de novo – Donovan Mitchell foi muito bem marcado – e diminuiu a diferença para 6 pontinhos a poucos minutos do fim, mas PJ Tucker e Eric Gordon erraram arremessos de três pontos completamente livres enquanto Mitchell, forçado ao erro com o jogo APERTADÍSSIMO, fez isso aqui:

Não dá pra acreditar em como esse novato é fantástico. Além das jogadas de efeito, ele ainda é versátil: no seu novo papel de armador principal, acionando Gobert e tirando a armação das mãos de Ingles para que ele pudesse se dedicar aos arremessos, Mitchell somou 11 assistências, além dos 17 pontos. Joe Ingles, com isso, fez 27 pontos incluindo SETE bolas de três pontos.

Foram 15 bolas convertidas no perímetro em 32 tentativas para o Jazz, números que deixariam o Rockets orgulhoso. O time da casa, no entanto, tentou mais (37 vezes) e converteu muito menos (10 bolas de três), experimentando um pouco do seu próprio veneno, o feitiço sendo usado contra o feiticeiro e todos esses clichés de um time que não foi capaz de parar a própria arma que lhe faz famoso. Mas talvez o mais preocupante tenha sido como o Rockets está fora de sua zona de conforto nesses Playoffs, forçando muitos arremessos de três pontos RUINS, sob marcação pesada, e lidando mal com o ritmo de jogo. Permitiu que o Jazz corresse o quanto queria, mas não soube transformar isso em velocidade para o próprio ataque. O Jazz não conseguiu usar Gobert bem no segundo tempo, mas os ajustes da primeira metade foram suficientes para deixar o Rockets DESCONFORTÁVEL durante toda a partida. Por enquanto, a vitória tática é do Jazz – veremos como o técnico Mike D’Antoni responderá no próximo jogo.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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