Enfim a final da Conferência Oeste que esperávamos: Houston Rockets e Golden State Warriors, dois dos três melhores ataques dessa temporada (o infiltrado aí na lista é aquele time do Canadá do qual eu me RECUSO a falar) prontos para mostrar para o mundo o que há de mais incrível e moderno em movimentação ofensiva. E aí o que vimos foi a maior coleção de jogadas individuais no mano-a-mano de que já se teve notícia.
Em parte por respeito às defesas adversárias (as duas estão entre as 10 melhores), em parte por confiança irrestrita no talento individual dos seus jogadores, os dois times resolveram que caso tivessem o duelo de marcação que desejavam iriam simplesmente arremessar. E assim foi, por longos e impressionantes 48 minutos. A ideia é simples: para não deixar ninguém livre, já que estamos falando de times matadores no perímetro, as duas defesas escolheram trocar de marcação a qualquer MENÇÃO de um corta-luz. Se você tenta brigar contra o corta-luz por um segundo que seja, alguém está livre e você certamente será punido. Então tudo que o Rockets precisou fazer foi um ou dois corta-luzes, até Stephen Curry trocar e se tornar o marcador de James Harden para o Barba se sentir confortável para um par de bolas de três pontos.
Perfect start for the #Rockets. Warriors will give this shot up all game, Harden will take this shot all game pic.twitter.com/OHfigB6R74
— BBALLBREAKDOWN (@bballbreakdown) May 15, 2018
Curry não foi o único alvo: Kevon Looney também foi a opção da vez em TODOS os momentos em que esteve em quadra. Esse é o resultado do coitado tentando marcar Chris Paul:
Rockets have gotten every switch they’ve planned for in this 1st quarter pic.twitter.com/Gg0scYJIa2
— BBALLBREAKDOWN (@bballbreakdown) May 15, 2018
O Rockets conseguiu todos os arremessos que queria, contra todos os defensores que queria. Com duas bolas de 3 pontos em apenas 2 minutos, já abriu uma vantagem de 9 pontos logo de cara no primeiro quarto para mostrar que estava no controle. O único porém é que a defesa do Rockets também escolheu trocar em todo corta-luz, o que significa que o Warriors também podia conseguir os duelos de marcação que bem entendesse para jogar no mano-a-mano. Após um toco inicial tentando forçar uma bandeja, Kevin Durant preferiu metodicamente atacar James Harden sempre que ele estivesse em quadra, arremessando tranquilamente POR CIMA do seu marcador.
As duas estrelas praticamente não erraram: foram 12 pontos para Harden no primeiro quarto, 13 pontos para Durant. E os dois times, ainda assim, se recusaram a dobrar a marcação ou fazer qualquer ajuste. O desafio era claro: os dois times pareciam ter o que queriam, mas qual deles desistiria primeiro desse plano? O jogo se transformou num campeonato de “quem pisca primeiro”. Com os dois times parelhos, 5 bolas de três pontos para cada lado, o primeiro quarto acabou com o Rockets um ponto na frente.
No segundo quarto, mais do mesmo: troca de marcação e jogadas individuais, mas enquanto o Warriors perdia mais a bola de um lado, o Rockets passou a errar mais arremessos do outro – que o Warriors transformava em contra-ataques brutais. A defesa de transição do Rockets foi infinitamente pior que a do Warriors e gerou, em falhas de comunicação, um par de bolas de três pontos valiosas para o adversário. Ainda assim, ninguém fez concessões ou ajustes. Warriors venceu o segundo quarto por um pontinho; placar empatado ao fim do primeiro tempo.
No terceiro quarto, Kevin Durant continuou escolhendo seus marcadores: James Harden, PJ Tucker ou Eric Gordon para arremessar por cima, ou Nenê para um drible seco e um arremesso sem marcação. Do outro lado, Harden e Chris também continuaram atacando Curry e Looney, eventualmente acionando Clint Capela. Mas conforme o Warriors começou a abrir uma pequena diferença no placar, uma coisa foi se tornando evidente: embora os dois times estivessem conseguindo os arremessos que queriam, os arremessos do Warriors eram INFINITAMENTE mais fáceis do que aqueles que o Rockets pegava para si.
Arremessar por cima de marcadores, no caso de Durant, é muito mais fácil do que driblar, infiltrar e desviar de contato próximo ao aro, ou então ter que dar um passo pra trás na linha de três pontos, que era o que Harden precisava fazer de maneira exaustiva toda posse de bola. Além disso, para evitar tumultuar o garrafão para eventuais infiltrações de Harden e Chris Paul, mantendo o plano de ter Capela lá embaixo para receber passes caso Draymond Green fosse contestar as bandejas, o Rockets praticamente cancelou qualquer corte de outros jogadores para a cesta sem a bola. Já o Warriors, por não depender de bandejas de Durant, podia ter seus jogadores cortando embaixo do aro o tempo inteiro. Duas ou três falhas de marcação deixaram jogadores do Warriors livres no garrafão para receber um passe e finalizar, isso quando Durant não finalizava sozinho dada a facilidade do arremesso. Enquanto isso, o Rockets precisava CONQUISTAR NA UNHA cada bola, mesmo que fosse contra os defensores mais frágeis do time adversário. Mano-a-mano tem dessas, às vezes a bola escapa, às vezes você não consegue o espaço que planejava, e o Rockets estourou MUITAS vezes o cronômetro de 24 segundos porque eventualmente algo dava errado e a jogada individual não conseguia gerar um arremesso decente. Faz parte.
Vale também um comentário sobre a diferença de “fragilidades” desses defensores. James Harden foi facilmente batido, principalmente no segundo em que as trocas de marcação ocorrem, por chegar sempre um pouquinho atrasado. Stephen Curry, por outro lado, foi DESTRUÍDO por James Harden e Chris Paul, mas nunca foi facilmente batido. Forçou James Harden continuamente para a direita, seu lado menos favorecido, e o fez dar arremessos de meia distância ao invés das infiltrações que queria. Harden acertou essas bolas mesmo assim, mas são arremessos visivelmente mais SOFRIDOS do que qualquer coisa que o Warriors conseguiu na partida. Estamos falando de defensores MAIS FRÁGEIS, não de defensores “ruins”, e de um ataque que é simplesmente melhor ainda:
More good Steph defense. More great Harden offense pic.twitter.com/Dx5dP7t3cG
— BBALLBREAKDOWN (@bballbreakdown) May 15, 2018
Enquanto isso, Kevin Durant estava lá acertando arremessos sobre Harden que pareciam, independente da vontade ou da habilidade do Barba, completamente SEM MARCAÇÃO por uma questão FISIOLÓGICA, não de talento:
Durant is en fuego with 33 so far 🔥🔥🔥
🎥: @NBA pic.twitter.com/rbLyz5IqCM
— Yahoo Sports NBA (@YahooSportsNBA) May 15, 2018
A diferença é sutil, mas foi suficiente para que o Rockets passasse 5 minutos no terceiro quarto conseguindo marcar apenas dois pontos: não foi nada demais, foram erros comuns, coisas que acontecem ao longo de um jogo quando você dá arremessos relativamente contestados. Mas Durant não passaria 5 minutos acertando só uma cestinha nem por decreto, e aí o Warriors abriu 14 pontos de vantagem. A dominância de Durant foi tão grande que quando Steve Kerr colocou ele no banco no terceiro período para descansar o ala ficou PUTO DA VIDA, porque queria continuar o massacre. E ainda assim, nenhum ajuste da defesa do Rockets. Tudo dentro do planejado.
O Rockets até cortou essa vantagem logo no começo do último quarto para apenas 4 pontos com algumas bolas de três pontos, mas cada arremesso errado que dava se transformava numa transição impecável do Warriors e algum arremesso que o oponente QUERIA MUITO DAR, em geral infiltrações de Stephen Curry, que não teve uma noite muito boa nos arremessos de longe mas soube atacar o aro. Chegando no meio do quarto período, perdendo por 10 pontos, o Rockets então fez o que parecia impensável naquele momento: PISCOU. Harden passou a abrir mão das jogadas individuais contra a marcação da sua escolha para passar a bola no meio das infiltrações, tentar acionar o garrafão e a zona morta, e Chris Paul passou a arremessar bolas longas de três em transição. Isso era tudo que o Warriors precisava para ABOCANHAR o adversário: as mil mãos na defesa transformaram os passes em desperdícios e defenderam perfeitamente os contra-ataques para que os arremessos acontecessem ainda em movimento. Jogo 1 em casa, último quarto, perdendo por 10 com um plano que DEU CERTO e mesmo assim não pareceu suficiente foi simplesmente demais para o Rockets, que desesperou, saiu da estratégia e deixou o Warriors apenas descer o machado no pescoço.
James Harden teve os arremessos mais tranquilos dessa pós-temporada, acertou quase 60% deles, converteu 5 bolas de três pontos e terminou o jogo com 41 pontos – seu terceiro Jogo 1 consecutivo com pelo menos 40 pontos nesses Playoffs. O resto do time também foi bem: acertou 45% dos arremessos, um número que seria ainda maior se desconsiderássemos os arremessos desesperados na segunda metade do quarto final. O problema é que dadas as mesmas oportunidades para o Warriors, eles acertaram mais de 52% de todos os arremessos em quadra, mesmo aproveitamento individual de Kevin Durant, que somou 37 pontos. O que você faz quando o plano está dando certo, mas ele está dando ainda MAIS CERTO – mesmo que pouquinha coisa – para o seu adversário? A resposta do Rockets foi piscar e colapsar nos momentos finais, tentando inventar alguma coisa que não tinha sido planejada. Mas a verdade é que se tivessem simplesmente mantido o plano, teriam perdido da mesma maneira – já não dava tempo de virar o placar.
Para o Jogo 2, será que o Rockets insiste na brincadeira? Será que o time confia não apenas que continuará acertando seus arremessos, mas que o Warriors passará a errar alguns? Ou será necessário inventar um novo plano, totalmente distinto? Uma derrota na próxima partida seria CATASTRÓFICA, colocando o time num buraco do qual certamente não será capaz de sair. Seja qual for o plano, portanto, é melhor que ele funcione – e muito, muito rápido.