Resumo da Rodada 15/5 – Expondo as limitações do Cavs

O Jogo 1 entre Boston Celtics e Cleveland Cavaliers foi um massacre. O Cavs só liderou o placar nos minutos iniciais, chegou a perder por 29 pontos e não teve chance nenhuma na partida. E, pior do que isso tudo, viu LeBron James fazer apenas 15 pontos, acertar apenas 5 dos 16 arremessos que tentou e errar todas as suas bolas do perímetro. Ainda assim, LeBron estava tranquilo: tem histórico de ter perdido alguns jogos iniciais de séries importantes e voltar completamente ADAPTADO e VINGATIVO nos jogos seguintes. Para ser mais exato, LeBron tem médias de 28 pontos, 9 rebotes e 7 assistências com quase 48% de aproveitamento nos arremessos em partidas seguintes a uma derrota em Jogo 1. E tem mais: a última vez em que ele perdeu os dois primeiros jogos de uma série nos Playoffs foi há DEZ ANOS atrás. Ou seja, todos nos preparamos para ver um ESPETÁCULO.

No Jogo 1, o mais preocupante para o Cavs foi que a defesa coletiva do Celtics funcionou, mas não foi exatamente necessária para parar LeBron James. A marcação individual foi suficiente para lhe tirar os espaços, forçá-lo a arremessos variados e, eventualmente, lhe colocar numa posição passiva de quem não encontrou uma resposta para atacar. Para dissipar essa preocupação, LeBron começou o jogo determinado a provar que a marcação individual não seria capaz de pará-lo: atacou a cesta, forçou contato em Marcus Morris e começou a arremessar bolas de três pontos contra a defesa, acertando sem parar. Chegou a ficar tão quente que tentou um arremesso de três ABSURDO, o famoso “heat check” só para testar, e nem se preocupou de ter errado, só foi lá e retomou de onde tinha parado. Continuou acertando e depois tentou mais um arremesso INSANO, só para ver se era um desses dias em que se atirar a bola pra cima ela vai entrar. Nesse caso aqui, era:

Na prática, LeBron não se importou com o grau de dificuldade dos arremessos: o plano era PUNIR a defesa do Celtics, forçá-la a dobrar a marcação, cometer faltas, temer seu arremesso, mesmo que nem tudo caísse. Mas como ele é LeBron James, quase tudo caiu: só no primeiro quarto foram 21 pontos, 4 bolas de três pontos convertidas e o estrago só não foi mais absurdo porque ele errou 3 lances livres. Foi uma performance absurda, histórica, capaz de provar um ponto e desmoronar completamente os planos e a moral dos adversários.

Mas aí o quarto acabou e se você espremesse os olhinhos para ver o placar frente a tanto BRILHO de LeBron perceberia que o Cavs só estava QUATRO PONTOS na frente. Quatro. Pontos. E foi aí que toda esperança ruiu.

Isso porque enquanto LeBron fazia arremessos difíceis e impressionantes, o Celtics manteve o plano de jogo no ataque, movimentando a bola. A defesa do Cavs tentou ser mais agressiva, inclusive dobrando a marcação no garrafão, e tentando por vezes perseguir arremessadores e por vezes simplesmente trocar a marcação, mas o resultado foi um DESASTRE. A rotação defensiva do Cavs quebrou um sem número de vezes, deixando jogadores do Celtics completamente livres. Quanto mais o Cavs queria atacar as linhas de passe, se antecipar às movimentações adversárias e dobrar a defesa no garrafão, mais o Celtics achava espaço para jogar com imensa tranquilidade. Não deu pra acompanhar o ritmo de LeBron, claro, mas foi suficiente para Jaylen Brown acertar 3 bolinhas de três pontos no quarto inicial e não deixar o Cavs escapar no placar.

No segundo quarto a defesa do Celtics voltou ajustada, recusando trocas de marcação para forçar Marcus Morris na defesa de LeBron. Nenhum time faz isso melhor do que o Celtics nesse momento na NBA, fingindo que vai rolar uma dobra de marcação apenas para trocar o marcador e colocar quem eles querem para defender a bola. E, quando LeBron atacou a cesta mesmo assim, recebeu marcação dupla duríssima no garrafão – tão dura que acabou tomando uma pancada no pescoço e teve que sair, tonto, para os vestiários.

Com LeBron fora, o Cavs mudou um pouco de plano: se aproveitou de ter conseguido uma jogada bacana com o Kevin Love no primeiro quarto num corta-luz e resolveu investir nele e em Kyle Korver fazendo corta-luzes sem a bola. (Aliás, veja aqui nosso vídeo sobre como Kevin Love é usado nessas jogadas, que deram certo DEMAIS contra o Raptors!)

Korver acertou um par de bolas de três pontos, mas teve espaço para outras duas bolas mais próximas da cesta se aproveitando da rotação do Celtics e da ameaça constante de Kevin Love, mais agressivo. Quando LeBron voltou pro jogo, a 2 minutos do fim do quarto, o Cavs tinha sido capaz de sustentar a liderança e a defesa do Celtics pela primeira vez na série estava tendo que TOMAR DECISÕES, lidando com múltiplos arremessadores simultâneos. Mas as quebras da defesa do Cavs continuaram, permitindo principalmente que Jayson Tatum deixasse o jogo sob controle. Ao fim do primeiro tempo, a liderança do Cavs era de apenas 7 pontos – infinitamente menor do que a atuação de LeBron e o sucesso de Love e Korver indicavam que deveria ser.

Foi só o Celtics voltar um pouco mais preparado para as jogadas repetidas do Cavs e ciente dos erros na rotação defensiva adversária para o segundo tempo e aí todo o resto foi um BAILE. Então quer dizer que toda vez que alguém do Celtics corre do lado direito para o lado esquerdo da quadra o Cavs não sabe quem é que deveria acompanhar? Então legal, vamos fazer isso EM TODAS AS JOGADAS. JR Smith errou completamente essa rotação duas vezes seguida, o time tomou duas bolas de três pontos seguidas, e aí e na primeira pausa no jogo LeBron foi lá dar um ESPORRO nele.

O problema é que LeBron não tinha moral nenhuma para isso: não sei se por opção tática, não sei se por vontade do próprio LeBron, ele não desgrudou do garrafão em qualquer rotação defensiva, deixando gente livre no perímetro o tempo todo. Se estou num dia bonzinho, gosto de pensar que é um papel parecido com Draymond Green: LeBron fica lá para tocos na cobertura, atrapalhar infiltrações e roubar linhas de passe, e o resto do time que faça a rotação necessária para não deixar os arremessadores livres. Mas num dia mais crítico, não consigo ignorar que LeBron faz POUQUÍSSIMO pela defesa nessas situações e acaba tornando a rotação dos seus companheiros muito mais complexa do que precisaria ser. Talvez alguns times conseguissem fazer a rotação funcionar mesmo assim? Sem dúvidas. Mas se o seu time é famoso por errar rotações e JR Smith talvez seja o pior jogador vivo nesses momentos, por que insistir nessa loucura ao invés de uma defesa mais tradicional em que LeBron tenha que correr atrás dos adversários como todos os outros seres humanos normais?

Curioso é que na temporada passada a pessoa que errava TODAS as rotações defensivas era Kyrie Irving, que agora jogando com o Celtics não foi colocado em situações passíveis de erro – a defesa do Cavs facilita essas falhas de comunicação e Brad Stevens não sabe ver uma feridinha que já vai lá enfiar UMA FACA DE AÇOUGUEIRO. A defesa do Cavs no primeiro tempo foi ruim, mas depois que Stevens teve o intervalo para explorar isso no segundo tempo, aí desandou de vez.

Os números são até engraçados: dos 48 arremessos que o Celtics deu no segundo tempo, 20 deles foram completamente livres. O Cavs, ao contrário, só conseguiu 3 arremessos livres em suas 39 tentativas.

O ataque do Cavs foi infinitamente melhor do que no primeiro jogo e conseguiu realizar o que queria, impôs seu jogo de certa maneira. Foi bonitinho ver o Cavs voltar de um tempo e fazer imediatamente uma cesta fácil com um corte sem a bola de Kevin Love, algo nitidamente desenhado por Tyronn Lue. Mas enquanto essas bolas aconteciam apenas eventualmente e LeBron era obrigado a acertar bolas difíceis e receber uma defesa agressiva e física sem parar, o Celtics dava arremessos totalmente livres dignos de bocejo. Nem os contra-ataques, que poderiam dar uma aliviada no desgaste do ataque do Cavs, rolaram. Isso porque o Celtics, super controlado no ataque e explorando sempre os mesmos defeitos do adversário, praticamente não perdeu a bola. Com poucos minutos rolando no quarto período, o Celtics só tinha 4 desperdícios de bola – e uma vantagem no placar que já passava dos 10 pontos.

Quando o ataque do Celtics começou a errar alguns arremessos na metade final do último período, LeBron até tentou um último esforço para salvar o jogo sozinho. Passou a tentar receber a bola mais perto do garrafão, jogar de costas para a cesta, forçar contato. Mas o Cavs tinha problemas sérios para COLOCAR a bola nas mãos de LeBron – chegou um momento em que me convenci de que o único capaz de passar a bola para ele em boas condições de arremesso no garrafão seria ele próprio, o LeBron. O que falta nesse time é uma máquina de clonagem. Ainda assim, a diferença no placar chegou a cair para 6 pontos com 5 minutos restando no cronômetro, mas nenhum time com tantos COLAPSOS defensivos consegue cortar uma vantagem. O Celtics errou bolas no quarto, mas com tantas oportunidades não continuaria errando para sempre. O desespero foi tanto que em mais um erro de rotação de JR Smith ele achou que seria uma boa ideia empurrar Al Horford NO AR, numa tentativa de ponte-aérea, para impedir a cesta. Pois bem: acabou com mais faltas flagrantes (uma) do que fez de pontos no jogo, já que terminou zerado. Sua melhor defesa foi contra um COMPANHEIRO DE TIME:

E na defesa, o Celtics esperou os momentos cruciais para tentar uma nova abordagem: passou a dobrar a marcação em LeBron no meio do seu drible para a cesta, com Al Horford assumindo as dobras, roubando bola, puxando contra-ataque e acertando bola de três pontos. Foi a cereja final num segundo tempo massacrante para os verdinhos.

O primeiro quarto nos apresentou o que o LeBron pode fazer de melhor, mas isso não ter criado distância suficiente no placar era o sinal de que algo muito, muito errado estava acontecendo. O segundo quarto viu o Cavs usar suas jogadas mais eficientes contra o Raptors, envolver Kevin Love e Kyle Korver, conquistar bolas de três pontos, tudo aquilo que todo mundo esperava do Cavs, mas isso não gerar uma vantagem de nem 10 pontos mostrava que algo mais errado ainda estava rolando. E se há algo errado, pode ter certeza de que esse Celtics só precisa de uns minutinhos para sentar, pensar, desenhar numa prancheta e aí EXPOR o que há de mais errado. Expor, ridicularizar, transformar em GIF na internet.

O Cavs não precisa de 20 pontos do LeBron num quarto ultra-agressivo tentando provar para Marcus Morris que pode atropelá-lo na marra, até porque não está dando muito certo – LeBron acertou apenas 4 de 14 arremessos sendo marcado por Morris na série.

O que o Cavs precisa é não ter nada de MUITO RUIM acontecendo, não ter uma falha óbvia, evidente e ridícula na defesa para o Celtics poder explorar até cansar. LeBron saiu de quadra com 42 pontos, 10 rebotes e 12 assistências, um dos triple-doubles mais impressionantes em termos estatísticos que os Playoffs já viram. Mas o Celtics não precisa ter um LeBron James da vida, e nem se preocupar com isso, se todos os arremessos que o time der forem vindos de falhas patéticas na defesa do Cavs. O problema é que talvez seja tarde demais para esconder essa falha e o Celtics, como podemos ver, não terá nenhuma piedade.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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