Resumo da Rodada 16/4 – Voltando no tempo

Mais um jogo entre Sixers e Heat, mais uma vez que NÃO VEMOS a estreia de Joel Embiid em Playoffs. Depois de ter quebrado a cara (não metaforicamente, mas pra valer), ter passado pelo famoso protocolo de concussão para garantir que está bem e ter sido liberado medicamente para jogar usando uma máscara, o Sixers resolveu NÃO COLOCÁ-LO EM QUADRA, só por “garantia”. Até dá pra entender os motivos: Embiid é a coisa mais preciosa que o Sixers tem e o time só precisou de um único quarto com defesa bem encaixada para atropelar o Heat na partida inaugural dessa série. Devem ter pensado que a equipe não precisava desesperadamente dele ainda, e que seria melhor garantir sua saúde para a próxima etapa, contra Celtics ou Bucks.

Mas quando Dwyane Wade liderou uma investida que venceu o segundo quarto por 21 pontos, ficou bem claro que as coisas não iam ser tão fáceis quanto a comissão técnica do Sixers imaginava. O técnico do Heat, Erik Spoelstra, é famoso por seus ajustes entre jogos de Playoffs e embora não possa se orgulhar de ter um elenco muito talentoso, pode ao menos ostentar um elenco obediente. Seus jogadores estavam prontos para contestar as bolas de três pontos do Sixers, que foram determinantes no primeiro jogo, e se preocuparam em sufocar os arremessadores na saída de todo corta-luz, forçando arremessos apressados ou desequilibrados. Robert Covington acertou uma das 9 bolas de três que tentou, JJ Redick converteu uma das 7, Marco Belinelli duas das 8. No total, o Sixers acertou abismais 19% de seus arremessos do perímetro, receita pra fracasso. E isso porque o time já está praticamente excluindo Markelle Fultz da rotação pelo receio com seu arremesso, especialmente quando Simmons tenta cada vez menos bolas de três pontos também. Não é à toa que Belinelli e Ersan Ilyasova, contratações de última hora do Sixers com bom arremesso de fora, estão tendo tanto espaço. Ilyasova foi até mesmo titular e DESTROÇOU nos rebotes ofensivos contra o plano do Heat de jogar mais baixo, terminando com 11 rebotes (6 deles ofensivos), mas não foi páreo para a defesa de perímetro e errou todas as suas bolas de três da noite.

Mas o principal ajuste defensivo do Heat foi a maneira de marcar o homem que comanda o show adversário, Ben Simmons. No primeiro jogo, dar espaço para Simmons arremessar não funcionou muito bem porque o armador do Sixers, ainda que não arremesse nada, usa esse espaço para criar ACELERAÇÃO e atacar a cesta, acionando seus companheiros no processo. Dessa vez, a ideia foi justamente fazer o contrário: tirar o espaço de Simmons, ter sempre um corpo na sua frente, trombando com ele a cada ameaça de infiltração. Justise Winslow, principalmente, fez esse trabalho com perfeição, usando sua boa velocidade lateral para contestar todos os espaços do adversário, inclusive marcando desde a reposição da bola e contando com a disciplina dos seus companheiros para que não houvesse troca defensiva no corta-luz:

Simmons é sensacional lidando com marcadores em movimento, adversários que corram na direção dele, porque consegue mudar de ritmo rapidamente, contornar a defesa, trocar a bola de lado, e você nunca sabe se ele vai passar ou finalizar. Mas com alguém trombando peito-no-peito, Simmons foi obrigado a finalizar quase sempre com contato, o que dedurou que ele não tem as mãos mais SUAVES do mundo quando está perto da cesta. Às vezes eu tenho a impressão que ele tem braços meio engessados na hora de fazer bandejas e muito da energia dele se perde, gerando arremessos mais fracos do que deveriam sob marcação. E ainda assim, claro, ele conseguiu 24 pontos, 9 rebotes e  8 assistências, apenas teve que jogar fora de sua zona de conforto e num ritmo muito mais lento. Sem Embiid, ficou evidente que o Sixers sofre bastante com esse ritmo lento no ataque de meia quadra, forçando arremessos contestados e com enorme dificuldade de criar espaços.

O Heat, por sua vez, continuou criando boas oportunidades no ataque, mas sempre acertando menos arremessos do que poderia. Curiosamente, foi quando o ataque do Heat não estava em seu melhor momento, sufocado pela defesa do Sixers, que o time se saiu melhor. Tudo porque o segundo colocado no ranking de arremessadores MENOS EFICIENTES DA NBA começou a, sob pressão, tentar uma série de arremessos longos de dois pontos, aquele que é famosamente o tipo de arremesso MENOS EFICIENTE DA NBA.

Essa combinação de arremesso ruim com arremessador péssimo deveria não apenas dar completamente errado como também ser PROIBIDA por qualquer técnico de basquete, com chantagens poderosas (como aquela campanha para matar uma foca toda vez que o Josh Smith arremessasse de três pontos, pra ver se ele parava). Mas acontece que esse arremessador horrível era ninguém menos que Dwyane Wade, e o Heat precisa dele – e de seu julgamento do que é melhor em quadra, independente das estatísticas. Ele tem 28% de aproveitamento no perímetro nessa temporada e horrendos 33% na meia distância, só não é pior que o arremesso do Derrick Favors, coitado. Ainda assim, com carta branca total, Wade acertou arremesso difícil após arremesso difícil, sem parar, rumo a 21 pontos só no primeiro tempo. Terminou o jogo com 28 pontos em 25 minutos, criando uma vantagem no segundo quarto que o Sixers não teve condições de recuperar. Não foi apenas em sua saúde e mobilidade que Wade voltou no tempo, mas também no ESTILO DE JOGO, matando o Sixers com a bola que ninguém mais quer tentar hoje em dia:

Quando o Sixers chegou perto, na única sequência ofensiva decente da equipe na partida (movida principalmente por contra-ataques), Wade roubou uma bola para finalizar com enterrada do outro lado da quadra, e logo em seguida acertou uma bola longa mesmo bem marcado, CONTRA TUDO E CONTRA TODOS:

Foi assim que ele DECRETOU o final do jogo. O próprio jogador admitiu que “foi contratado para jogos como esse”, parece perfeitamente confortável com o papel e deu um choque de realidade num Sixers que pareceu, por algumas horas, ter acreditado que a série seria fácil demais.

Quem não gostou nada disso foi Joel Embiid, que foi na famosa rede social cujos posts são pensados para não durarem muito tempo reclamar, com direito a palavrão, que está “cansado de ser tratado como bebê”, em referência a ter sido mantido fora da partida.

Sem dúvida o time precisa dele, e a série com Embiid será praticamente resetada: o plano defensivo do Heat terá que mudar, o jogo de meia quadra do Sixers volta a ser poderoso, e Hassan Whiteside talvez seja ressuscitado de sua TUMBA para travar com Embiid um duelo pessoal. O pivô do Sixers não é garantia para o próximo jogo, mas se for é garantia de bagunça nos planos de todo mundo. Oremos.


No outro jogo da noite tivemos o San Antonio Spurs tentando mostrar que tem ALGUMA CHANCE contra o Golden State Warriors. Para o técnico Gregg Popovich, o mais importante para sua equipe era uma mudança de ATITUDE, porque o time pareceu psicologicamente derrotado depois de ser engolido pela defesa do Warriors, que o Popovich chamou de “os melhores 48 minutos de defesa que enfrentamos na temporada”. Aumentar a intensidade, bater de frente e acertar arremessos era essencial para termos uma partida digna.

O pedido do técnico funcionou: o Spurs entrou em quadra com uma energia diferente, muito mais físico e ACREDITANDO QUE DAVA. A defesa da equipe foi impecável, principalmente na transição contra um Warriors que queria correr e acelerar o máximo possível, e LaMarcus Aldridge foi super agressivo no ataque, com 17 pontos só no primeiro tempo. Das 11 vezes que o Aldridge fez tantos pontos assim antes do terceiro período nessa temporada, o Spurs venceu 10, ou seja, era bom sinal.

A defesa do Spurs é que foi a estrela da noite, no entanto. Quanto mais ela apertava, mais o Warriors se afobava querendo finalizar logo, acertar bolas de três pontos seguidas para abrir uma vantagem ou então lançar passes de quadra inteira para pegar a defesa desprevenida. O Warriors se transformou num time afobado e ansioso e chegou a passar quase 7 minutos inteiros sem fazer uma única cesta, gerando um monte de desperdícios de bola no processo – foram 11 só no primeiro tempo. Coisa linda para o Spurs, que parecia o melhor time em quadra, e por muito.

Mas aí você olha para o placar e O QUE RAIOS ACONTECEU, onde está a vantagem que deveria estar ali? O Spurs foi para os vestiários só 6 pontos na frente do placar quando parecia que deveriam ter sido 60. Parte disso é que enquanto o Spurs errou uma quantidade obscena de bolas de três pontos fáceis, o Warriors acertou arremessos muito, muito difíceis. Andre Iguodala, que ganhou mais espaço para arremessar por motivos de ELE NÃO ACERTA, converteu as suas três tentativas do perímetro só no primeiro quarto. Além disso, poucas vezes vi Klay Thompson ser tão bem marcado, mas também poucas vezes vi uma marcação bem feita fazer tão pouca diferença. Klay teve 31 pontos, acertou 12 de 20 arremessos e 5 bolas de três pontos, mas pode ver no vídeo abaixo que ele nunca arremessou sozinho, sempre tem algum marcador encostado, se aproximando rapidamente, ou até mesmo dois marcadores, com a cobertura tentando ajudar. Não adiantou:

Os arremessos são contestados, mas o Warriors segue o plano de jogo: continua rodando a bola e arremessando em movimento, gerando assistências sem parar. São os arremessos CERTOS, mesmo que a defesa esteja próxima demais. É quase como se eles fizessem o que devem e ignorassem quão próxima a defesa adversária está chegando, especialmente porque a defesa do Spurs quase nunca é alta e forte o suficiente para impactar os arremessos de maneira significativa – que dó ver Patty Mills ter que usar aqueles braços de velociraptor para defender Klay Thompson. O Warriors converteu 41 arremessos e deu 32 assistências, números surreais que escondem quão bem a defesa do Spurs se saiu na partida, e que mostram quão pouco essa defesa impactou o jogo do Warriors.

No quarto período, com o Spurs perdendo por apenas 5 pontos, o Warriors acertou arremessos muitíssimo contestados como se nada estivesse acontecendo. Enquanto isso, o Spurs fazendo tudo certo converteu apenas 4 das 28 bolas de três pontos que tentou. QUATRO DE VINTE E OITO, são 14% de aproveitamento. E quanto mais o jogo avançava e mais o Spurs se mantinha impecável na defesa, mais faltava gás para o ataque. Não é à toa que comentaram que o “Quinteto da Morte do Spurs” se chama assim não porque eles aniquilam os adversários (como é o caso do “Quinteto da Morte” do Warriors, um time sem pivô que arremessa sem parar), mas porque alguns dos jogadores, como Manu Ginóbili e Pau Gasol, estão a apenas alguns anos de distância do FALECIMENTO.

O Warriors só precisou entrar no segundo tempo disposto a se equiparar, em questão de energia, ao que o Spurs estava apresentando. Jogando com mais calma, mas também infiltrando com mais força e lutando pelos rebotes defensivos, antes da metade do quarto período já estava evidente para todos os envolvidos que o Warriors ia ganhar de lavada. O único problema é que se você fala para o Draymond Green que ele precisa voltar para o segundo tempo “com mais energia”, ele faz isso aqui:

O Spurs deu tudo que tinha: defesa impecável e disciplinada com um time mais baixo para caçar os arremessadores adversários, forçando turnovers, além de 34 pontos e 12 rebotes para LaMarcus Aldridge. Mas enquanto o Warriors mantiver a bola rodando e acertar arremessos minimamente contestados enquanto o Spurs erra bolas fáceis no perímetro, a série vai continuar sendo uma baba.

Depois do jogo, Popovich mais uma vez elogiou Aldridge, dizendo que ele faz um trabalho incrível sem nunca reclamar de nada, enfrentando as adversidades para estar do lado de seus companheiros. Se por um lado a declaração faz parte de um longo processo de fazer Aldridge se sentir querido e gostado e de coração quentinho em San Antonio, por outro pode ter sido também um SOCO NO QUEIXO de Kawhi Leonard, que não topou a “adversidade” de jogar com dores mesmo que os médicos de San Antonio tenham dito que isso não pioraria sua lesão – os novos médicos do jogador, em Nova Iorque, insistem em mantê-lo sob reabilitação, longe da equipe que precisa dele como nunca antes numa pós-temporada. Sem ele, acho difícil que o Spurs consiga diminuir o ritmo de Kevin Durant ou Klay Thompson e acertar arremessos com consistência saindo do pick-and-roll no perímetro. Popovich não pode ser nunca desconsiderado, e se o Spurs tivesse acertado metade das bolas simples que teve já teria vencido o jogo, mas parece que a série não tem muito futuro.

Levando isso em consideração – e Popovich dizendo que estava de “saco cheio” das coletivas na partida anterior – perguntaram se o técnico do Spurs ainda está gostando do seu trabalho. Sua resposta: ele come de graça, viaja de graça, e tem o melhor trabalho do mundo vendo jogadores incríveis, pessoas incríveis, se desenvolverem dia após dia.

Por enquanto, perdendo a série por 2 a 0, esse prazer terá que ser suficiente.


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