Resumo da Rodada 16/5 – O Rockets responde

O plano do Houston Rockets no Jogo 1 era isolar seus jogadores contra os defensores mais frágeis do Golden State Warriors e conseguiu executá-lo com perfeição. Só não previa que o Warriors executaria exatamente o mesmo plano, mas mil vezes melhor. A dúvida para o Jogo 2 era, então, se o Rockets mudaria de plano ofensivo ou se tentaria impedir o Warriors de executar o plano deles. Pois bem: a equipe de Houston resolveu fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

Depois de perder o Jogo 2 para o Jazz em casa, o Rockets voltou nas semi-finais com uma defesa completamente pilhada, como se todo mundo tivesse enfiado o dedo na tomada, e a mudança de intensidade foi suficiente para mostrar que o time estava em outro nível. A partir daquele momento as semi-finais mudaram completamente de cara e o Rockets venceu todos os outros jogos, com aquela derrota em casa sendo a única do time na série.

Relembro essa história aqui não para anunciar que a mesma coisa acontecerá nas Finais da Conferência Oeste (não vejo nenhum cenário em que o Warriors tomasse um 4 a 1 na cabeça depois de vencer um jogo fora de casa), mas para indicar o poder que a defesa do Rockets possui quando joga com energia e intensidade. O time entrou nesse Jogo 2 incrivelmente focado em impedir as bolas de três pontos, pressionando fora do garrafão e atacando as linhas de passe na defesa. Com 5 minutos de jogo enfrentando essa defesa, o Warriors já tinha colecionado 5 desperdícios de bola dos 7 que fariam no primeiro quarto. Como comparação, o Warriors tinha cometido apenas 9 desperdícios no Jogo 1 inteirinho.

Isso mudou completamente o ataque do Rockets logo de cara. No Jogo 1 o time da casa fez míseros TRÊS PONTOS de contra-ataque, enquanto no primeiro quarto do Jogo 2 conseguiu o dobro disso. Parte disso foi, claro, uma defesa que gerou esses contra-ataques e acelerou o jogo, mas outra parte foi uma nova postura ofensiva. Ao invés de investir no basquete de mano-a-mano, que deu certo mas NÃO O BASTANTE, o Rockets resolveu apostar na movimentação constante da bola e conseguir algumas bolas de três pontos na transição. O plano ficou claro rapidamente: acertar bolas de perímetro justamente num dia em que o foco da defesa era impedir o adversário de conseguir essas bolas de longa distância. Ou seja, o Rockets não quis correr o risco de, como no primeiro jogo, executar um plano e ver o adversário simplesmente fazê-lo melhor.

Isso não impediu James Harden, evidentemente, de atacar Kevin Looney e Stephen Curry no mano-a-mano, mas o Rockets preferiu atacá-los apenas para criar espaços e rodar a bola até seus arremessadores. O time finalmente pareceu algo orgânico, criativo, ao invés daquele robô engessado da partida anterior. Quando o primeiro tempo terminou, o Rockets tinha 3 bolas de longe convertidas (ajudando a resgatar Eric Gordon no processo, que está tendo uma pós-temporada complicada) enquanto o Warriors errou TODAS as 7 bolas que tentou, 4 delas só vindas das mãos de Curry. Mas é claro que o Warriors se adequou: sem as bolas de fora, Curry começou a infiltrar e finalizar no meio da marcação, porque ELE TEM TALENTO PRA ISSO.

Enquanto isso, Kevin Durant continuou arremessando sobre seus marcadores – mas dessa vez longe da linha de três pontos, e eventualmente marcado por Clint Capela, para fazer o arco da bola ter que ser minimamente mais alto.

Apesar de estar roubando bolas, forçando erros e dos ajustes que secaram o perímetro do Warriors, o Rockets não conseguiu disparar na frente. Pelo contrário, o primeiro quarto foi incrivelmente tenso e disputado: foram 6 empates e outras 5 trocas de liderança nesse período, que terminou com o Rockets conseguindo uma vantagem módica de 5 pontinhos, coisa meramente simbólica contra o Warriors.

Mas no segundo quarto a insistência do Rockets na movimentação de bola finalmente encaixou e o time deslanchou. Aproveitando que Clint Capela foi bem marcado e teve dificuldade de receber a bola em algumas tentativas de costas para a cesta no primeiro quarto, o técnico Mike D’Antoni tentou deixá-lo no banco e colocar um time mais baixo totalmente voltado para as bolas de três pontos. PJ Tucker, que marcou UM ponto no primeiro jogo da série, de repente tinha espaço o bastante para converter duas bolas de três pontos consecutivas em contra-ataques.

Mais algumas posses de bola depois, acertou sua terceira e, mesmo que ele estivesse INDIGNADO exigindo a bola para tentar de novo, o Rockets manteve o plano de seguir girando a bola rumo às melhores oportunidades. Numa jogada em que ele cansou de esperar um passe na zona morta, visivelmente frustrado porque Chris Paul estava segurando demais a bola, ele resolveu simplesmente tentar cortar para a cesta – ficou totalmente livre, recebeu um passe embaixo do aro e converteu a bandeja.

Isso porque sem Capela e sem Harden sendo orientado para infiltrar em toda posse de bola contra seu marcador, o garrafão do Rockets ficou mais livre e bastava um arremessador cortar para dentro para receber passes com pouca ou nenhuma marcação.

O Warriors tentou atacar esse elenco mais baixo do Rockets a princípio com David West, que conseguiu bons arremessos. Mas bastou que ele errasse um par de bolas e não conseguisse acompanhar arremessadores na defesa para o técnico Steve Kerr ter que desistir dessa tática. Quando o Warriors resolveu ir com um elenco mais baixo também – aquele que já foi conhecido como o “Quinteto da Morte” por ser o elenco eventual que matava partidas para o time – o resultado não foi muito melhor, entretanto. A defesa do Rockets estava tão MORDIDA no perímetro, tão agressiva, que a insistência do Warriors de arremessar bolas de três pontos para dar aquelas tradicionais encostadas/viradas no placar se transformaram em arremessos completamente forçados, quase sempre em jogadas individuais. Acho que foi uma das primeiras vezes em que vi Klay Thompson batendo bola no perímetro, não achar ninguém para passar a bola por conta da defesa pressionada, e ter que forçar um arremesso em movimento ele próprio – que passou a uns bons METROS de entrar. Ele acertou outros dois arremessos de longe no segundo quarto porque é um gênio, mas ficou bem longe de encontrar um ritmo confortável para arremessar.

Mike D’Antoni contabilizou, analisando os vídeos, e afirmou que o Rockets tomou 15 pontos no Jogo 1 só porque alguém errou a rotação defensiva e um jogador do Warriors (quase sempre Klay Thompson) surgiu livre depois de um corta-luz para arremessar. Com o foco em não errar a rotação especialmente no perímetro, Klay não encontrou espaços e passou a tentar infiltrar, sem muito sucesso. Durant até continuou acertando bolas difíceis, mas também teve que colocar a bola no chão mais vezes por ter sido marcado de maneira muito grudada. Foram 38 pontos para ele no jogo, mas teriam sido muitos mais se ele não tivesse que driblar tanto e pudesse só ter arremessado por cima dos marcadores como na partida anterior. Ele acerta coisas como essa jogada abaixo, mas são claramente mais difíceis do que qualquer cesta que ele teve que fazer nessa pós-temporada:

E enquanto o Warriors tinha dificuldade de não fazer jogadas puramente individuais, o Rockets sempre deu “aquele” passe a mais: Chris Paul infiltrou contra Stephen Curry e assim que Durant surgiu na cobertura, fechando o garrafão com o quinteto mais baixo, Chris Paul passou para o perímetro, que foi girando a bola até encontrar Trevor Ariza tão livre, mas tão livre, que conseguiu até INFILTRAR e fazer uma bandeja. Capela foi fundamental na série contra o Jazz de Rudy Gobert, mas contra o Warriors os momentos mais impressionantes do Rockets foram sem ele em quadra e um elenco de arremessadores dispostos a achar quem estivesse livre. Quando não aparecia um bom arremesso – coisa que aconteceu bastante, porque a defesa do Warriors é incrível – ao invés de tentar algo numa jogada individual, como foi o lema da primeira partida, o Rockets tentava uma infiltração curta com um passe pra fora, que virava automaticamente, sem hesitação, uma outra infiltração com passe para fora. Eventualmente alguém sobrava com um pouco mais de espaço para que Harden não tivesse que forçar arremessos totalmente contestados que, por não darem nem aro, virariam contra-ataques fulminantes do Warriors.

Aos poucos a vantagem do Rockets no placar foi abrindo e ao fim do primeiro tempo já era de 14 pontos. Isso foi essencial porque o Warriors é famoso por ter os melhores terceiros quartos da NBA, conseguindo fazer ajustes importantes nos vestiários e voltando com uma intensidade invejável quando os outros times ainda estão em ritmo de descanso. Com 14 pontos na frente, o Rockets conseguiu resistir à FÚRIA inicial do Warriors no terceiro período, alimentada especialmente por Durant. A diferença chegou a cair para 8 pontos quando o Rockets ainda estava pegando no tranco, mas a vantagem no placar deu tranquilidade para PJ Tucker acertar mais uma bolinha e Chris Paul forçar umas infiltrações no garrafão que acabaram funcionando:

Tomar uma sequência do Warriors e ver eles recuperarem a liderança no placar é avassalador, os adversários ficam desesperados e os arremessos começam a ficar tensos, a mão chega a tremer. Mas tomar uma sequência dessas e ainda estar sobrando pontos de vantagem é mais tranquilizador e os coadjuvantes sentem-se à vontade para continuar arremessando – foi assim que PJ Tucker terminou o jogo com 22 pontos, Trevor Ariza com 19 e Eric Gordon, renascido, com 28. Com essas bolas caindo e a diferença do Rockets voltando a abrir, foi o Warriors que desesperou e começou a forçar bolas de três pontos, o que só contribuiu para o Rockets esticar a vantagem. Dá pra ver aqui como o trio se saiu no jogo e como isso reflete não apenas a tranquilidade no placar como também o foco no perímetro com o time mais baixo:

E PJ Tucker, em particular, sabe exatamente qual o lugar dele na quadra para ajudar o time, não precisa inventar muito:

No quarto período rolou repeteco: Warriors focado, Stephen Curry infiltrando, o time puxou uma sequência e a diferença caiu para 12 pontos. Embora como torcedor eu tenha entrado em pânico, porque 12 pontos não é NADA para um time como o Warriors, como analista deu pra ver que a distância era grande o bastante para o elenco de apoio do Rockets continuar tranquilo e com carta branca. PJ Tucker e Eric Gordon somaram, só eles, 4 bolas de três pontos CONSECUTIVAS no quarto e aí, de repente, sem sufoco, a diferença no placar chegou a VINTE E NOVE. Era hora de jogar a toalha e colocar o fundo no banco na quadra.

O Rockets é um time que passa relativamente pouco a bola, uns do que dá menos assistências na NBA, porque tem sucesso em forçar as defesas adversárias a situações em que não conseguem parar as jogadas no mano-a-mano. É um time de muitas infiltrações, bolas de três pontos de Harden contra fraca marcação individual e facilidade incrível de deixar marcadores para trás com cortes secos para a cesta. Dá pra jogar bem assim contra o Warriors? O pior é que dá, mas como vimos no Jogo 1 não dá pra jogar bem o SUFICIENTE porque esse Warriors é um time histórico.

Mas focado na defesa – uma das maiores características desse Rockets que todo mundo ignora, ainda presos nos preconceitos contra o técnico Mije D’Antoni – e movimentando a bola no perímetro, o Rockets se torna uma outra criatura, bem diferente. Foi preciso ignorar o garrafão e ao invés de depender de Capela para pontuar nas trocas de marcação, passar a infiltrar e passar sem ninguém parado embaixo do aro – Nenê sequer pisou em quadra dessa vez. Meu grande medo nessa série é que o Rockets precisaria fazer ajustes, algo que pouco teve que fazer na temporada, enquanto o Warriors tinha a vantagem de poder manter sua identidade e seu jogo intactos. Com os dois times fiéis ao seu jogo, o Warriors sobrou. Mas bastou um ajuste para o Rockets desfilar na liderança do começo ao fim e voltar a sonhar com ganhar essa série. O time mais baixo de arremessadores possivelmente teria sido destruído pelo Jazz, mas contra o Warriors parece, nesse momento, a melhor escolha possível. É assim que o Rockets prova ser um time mais versátil do que todo mundo – eu incluso – imaginava. Era isso que faltava para aquela ANIMADA que todo mundo sonhava em ver na Conferência Oeste. Aqui está o que pedimos: aproveitemos!

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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