Resumo da Rodada 17/4 – Pelicans tem um plano; Wizards e Bucks derretem

O New Orleans Pelicans passou a maior parte da temporada parecendo um time caótico, com pouca ou nenhuma criatividade e inteiramente dependente de DeMarcus Cousins – que só jogou 48 partidas antes de ser cortado em definitivo por lesão – e de Anthony Davis. Nas últimas duas semanas antes dos Playoffs, com o time ainda lutando pela classificação, vimos o elenco dar seus primeiros sinais de organização. Mas foi só no Jogo 2 dessa série contra o Blazers que o Pelicans finalmente mostrou sua melhor versão e pareceu, contrariando TODO O BOM SENSO, um time de verdade.

O mais estranho é que o responsável por isso foram os ajustes táticos super POLÊMICOS do técnico Alvin Gentry. No ataque, o mote principal foi a coisa mais contra-intuitiva possível: acionar menos Anthony Davis. Ao invés de lhe entregar a bola nos contra-ataques para tentar infiltrar contra o garrafão adversário lotado (e cavar mil faltas no processo, tomando porrada) ou então em jogadas isolado contra a defesa na meia quadra, o Pelicans resolveu executar jogadas que usassem Anthony Davis como fator de espaçamento da quadra, com a estrela do time se afastando da bola e atraindo, consigo, a marcação. Na prática, Anthony Davis já estava acostumado com esse esquema quando jogou ao lado de DeMarcus Cousins e precisava, de tempos em tempos, deixar o companheiro jogar. Mas agora ele teve que repetir a função mesmo sendo supostamente o motor solitário do ataque da equipe.

Essa decisão teve alguns resultados incríveis. Primeiro, abriu espaço para Rajon Rondo passar mais tempo com a bola nas mãos, controlando o ritmo do jogo, encontrando companheiros que cortassem para a cesta e, claro, acionando Anthony Davis principalmente nas pontes aéreas quando a defesa tentava conter as infiltrações do armador. Depois de umas três pontes aéreas seguidas, Anthony Davis virou alvo da defesa mesmo mal encostando na bola e Rondo passou a ter muito espaço para bandejas. Para incentivar essas jogadas, Anthony Davis praticamente não foi acionado no seu tradicional pick-and-pop, o corta-luz seguido por Davis correndo para uma bola de dois pontos longa. Davis até manteve essa movimentação, mas a bola não ia para ele, funcionando apenas para atrair os marcadores e abrir mais espaço para as infiltrações.

Com isso Jrue Holiday também ganhou protagonismo, espaço para infiltrar e muitas situações de arremesso sob marcação individual. Após algumas infiltrações, passou a frear sua passada no meio para arremessos longos de meia distância e, eventualmente, bolas de três pontos. Podem não ser os arremessos mais espertos do planeta porque estão quase sempre contestados, mas Holiday é grande e controla muito bem suas mudanças de velocidade, gerando espaços pouco usuais, ainda que mínimos, para finalizar.

E, por fim, a ideia de colocar pouco Anthony Davis em jogadas individuais liberou o jogador para lutar por rebotes ofensivos (foram 4, dos seus 13 rebotes totais) e manter o fôlego para a parte defensiva e para o ataque nos momentos mais importantes da partida. Poucas vezes tinha visto Davis tão inteiro numa partida mesmo tendo jogado 40 minutos. Foram 22 pontos acertando 9 de 18 arremessos, mas forçando menos bolas e tendo tempo para respirar em quadra. Enquanto isso, Jrue Holiday fez 33 pontos e foi o jogador mais agressivo da partida, com Rondo se focando em passes pontuais e acertando seus arremessos rumo a 16 pontos, 10 rebotes e 9 assistências. Rajon Rondo converteu até 2 das 3 bolas de três pontos que tentou, com a última delas num momento crucial em que a defesa do Blazers deixou o armador livre de propósito para dobrar a marcação em Jrue Holiday. O armador repete a situação de sua última participação nos Playoffs, quando também roubou os dois primeiros jogos fora de quadra com atuações espetaculares pelo Bulls, que antes disso parecia igualmente um time desorganizado e perdido. São 4 vitórias seguidas na pós-temporada para o armador, invicto desde o final de 2015:

Mas contra o Blazers não adianta apenas encontrar novas maneiras de pontuar, é preciso parar um ataque com dois dos melhores arremessadores da NBA. A decisão do técnico Alvin Gentry na defesa também foi polêmica: dobrar em qualquer armador no primeiro sinal de corta-luz. A ideia é tornar a vida de Damian Lillard e CJ McCollum um inferno se eles tentarem ganhar espaço usando um corta-luz, forçando os dois a passarem a bola para os companheiros ou então tentar arremessos no mano-a-mano, contra marcação individual, caso optassem por não pedir o corta. Nenhuma das duas opções funcionou muito bem.

A polêmica da decisão defensiva está no fato de que você sempre deixa um jogador livre na quadra a cada corta-luz. Isso significou, na prática, que o pivô Jusuf Nurkic virou um dos protagonistas do primeiro tempo, recebendo passes frequentes muito perto da cesta. Foram 12 arremessos em 15 minutos de jogo, já que Nurkic ficou meio baleado após uma trombada. Na sua ausência, Ed Davis recebeu passes nas mesmas circunstâncias e finalizou 3 vezes, o pivô novato Zach Collins tentou 11 finalizações (quase todas elas no perímetro, onde ele prefere chutar), Farouq Amino teve que arremessar 10 vezes (incluindo 4 acertos em 6 tentativas de três pontos) e Mo Harkless outras 5, acertando todas. Somou aí? São 41 arremessos que o Blazers teve que dar só com jogadores participando de corta-luz e, consequentemente, arremessos que Lillard e McCollum tiveram que abrir mão.

Curiosamente o elenco de apoio do Blazers acertou grande parte desses arremessos, mas os efeitos colaterais são enormes: duas estrelas praticamente fora do jogo, jogadores muito secundários se viram obrigados a tentar bolas de três pontos em momentos cruciais da partida, e o time acabou cometendo 16 desperdícios de bola (7 deles só do Lillard) tentando tirar a bola da dupla marcação. Para tentar impor seu plano de jogo original, coube a Lillard e McCollum tentar atacar seus marcadores pessoais, infiltrando ou arriscando bolas de três pontos. O resultado foi um desastre: Lillard acertou 7 dos 18 arremessos que tentou, com apenas uma conversão em suas 7 tentativas de três pontos; McCollum acertou 9 dos seus 21 arremessos. Muitos desses erros da dupla foram arremessos relativamente livres, mas muitos – especialmente os de Lillard – foram responsabilidade de Jrue Holiday, que mais uma vez sufocou o adversário na defesa.

Ainda assim, o Blazers chegou a estar na frente do placar no quarto período – principalmente porque o Pelicans cometeu muitos desperdícios de bola tentando aumentar a velocidade do ataque – e por um momento teve a vantagem psicológica da partida, com vários jogadores de apoio jogando bem. O que aconteceu foi que a defesa do Blazers não soube parar a nova estratégia ofensiva adversária e, na hora das cestas decisivas, precisando encostar de vez ou virar o placar, Lillard e McCollum não encontraram nada que não fossem bolas forçadas e arremessos longos demais. O final foi até mais apertado do que o placar de 111 a 102 para o Pelicans mostra, mas ainda assim o Blazers não chegou a assustar. Faltou confiança e plano de jogo para contar com o resto dos jogadores na hora do pânico, o que é compreensível, mas dessa vez foi um erro central. Perdendo agora por 2 a 0 indo jogar em New Orleans, o Blazers parece a versão mais perdida de si mesmo contra a melhor versão que vimos do Pelicans nos últimos anos. Vai ser duro.


Na partida que abriu a rodada, vimos o Raptors finalmente IMPOR seu mando de quadra, vencer com facilidade por 130 a 119 e abrir, pela primeira vez em sua história, uma vantagem de 2 a 0 numa série de Playoff. A única liderança do Wizards no jogo foi quando marcou os dois primeiros pontos no placar – a partir daí, o Raptors dominou. O time largou com um primeiro quarto tão AVASSALADOR que os 44 pontos marcados no período foram o melhor começo de jogo da história da pós-temporada para a franquia. TODOS os titulares do Raptors, até o Jonas Valanciunas, acertaram pelo menos uma bola de três pontos no quarto inicial, num total de 7 bolas de três convertidas. DeMar DeRozan fez 13 pontos nesse primeiro quarto tentando bolas de três pontos como se sempre tivessem sido sua especialidade, usando o espaço que lhe deram e chutando da zona morta até mesmo contra a marcação. Foi uma partida ultra-agressiva de sua parte, que ditou a energia do Raptors desde a largada, e que acabou forçando o Wizards a cometer faltas demais. John Wall durou 4 minutos na partida antes de cometer duas faltas, Breadley Beal cometeu sua segunda falta não muito depois, e aí os reservas do Wizards foram ENGOLIDOS VIVOS. A diferença ao fim do quarto inicial só não foi maior do que os 17 pontos porque Mike Scott encontrou duas bolas de três pontos para o Wizards e o Raptors perdeu algumas posses de bola bobas. O estrago poderia ter sido até pior, mas foi suficiente para gerar GRITARIA E DESESPERO:

Mas precisamos dar mérito para o Wizards por ter mantido a cabeça minimamente no lugar e ter tornado os outros quartos verdadeiramente disputados. O problema é que toda vez que o Wizards diminuía a vantagem para 10 pontos, o Raptors engrenava uma sequência incrível, com defesa apertada e bolas de três pontos, e abria outra vez uma distância intransponível. E, claro, muito disso teve a ver outra vez com o banco de reservas. Fred VanVleet jogou apenas 2 minutos ainda sentindo seu ombro lesionado, mas CJ Miles fez 18 pontos com 4 bolas de três pontos e Delon Wright fez isso aqui:

No quarto período o Wizards chegou a diminuir pra 5 pontos a diferença no placar, um daqueles momentos estranhos em que o ginásio do Raptors parece que vai começar a chorar. Aliás, o ginásio do Raptors é MUITO estranho: no meio da sequência destruidora do primeiro quarto, Raptors vencendo por 20, Kyle Lowry errou uma bola de três pontos na transição, Wizards respondeu com uma cesta rápida e o lugar parecia UM VELÓRIO, como se uma bomba nuclear tivesse caído – parece que qualquer reação do adversário traz TRAUMAS para a população da cidade. Mas enfim, com 5 pontos de diferença no placar o Raptors tinha tudo para seguir sua torcida e começar a derreter, mas não: três posses de bola depois a diferença já era de 12 pontos, com DeMar DeRozan acertando bolas difíceis rumo aos seus 37 pontos em 37 minutos e a defesa MORDENDO e controlando os rebotes defensivos (o Wizards, um dos melhores times em rebotes ofensivos da NBA, pegou apenas 4 no jogo inteiro). O Raptors não quis saber do adversário nem nas horas mais apertadas.

O Wizards nunca ficou confortável e só conseguiu jogar de maneira decente no contra-ataque. John Wall até teve uma boa partida na transição (foram 29 pontos e 9 assistências), mas dá pra SENTIR a equipe rolando os olhos todas as vezes em que ele infiltra primeiro e tenta descobrir o que fazer com a bola depois. Wall gerou 4 desperdícios assim, mas no geral a equipe errou pouco – foram só 8 desperdícios totais – e deveria se aproveitar da agressividade do Wall ao invés de condená-la. O maior problema do time parece ser CLIMA COCÔ, enquanto DeRozan e Kyle Lowry são a amizade que todo mundo sonha em encontrar na vida:


Enquanto o Raptors passeava, o Celtics também tinha um jogo facinho pra chamar de seu, a vitória por 120 a 106 em cima do Bucks. Não é que o Bucks não tenha encurtado a diferença no placar ao longo do jogo – que ficou em menos de 10 pontos em vários momentos – mas é que não conseguiu encurtar a diferença de talento mesmo. Vamos resumir assim: se o basquete mudar, proibir chamar jogadas e virar uma corrida de 100 metros rasos, o Bucks pode até ter alguma chance. E ainda assim vai ser disputado, porque Al Horford é capaz de fazer isso aqui:

O Bucks só consegue fazer alguma coisa minimamente decente quando está jogando em transição, mas jogar em transição é incrivelmente difícil de fazer quando o time adversário só comete CINCO DESPERDÍCIOS numa partida inteira. A ideia do Celtics é simplesmente NÃO ERRAR: movimentação defensiva simples e impecável, rotação constante no ataque, carta branca para todo mundo finalizar se estiver na situação certa, e nenhum passe arriscado ou apressado durante o jogo. Al Horford continua sendo um PILAR para essa equipe, continuamente armando o jogo, se comunicando e garantindo que o Celtics está sempre no controle do ritmo, mesmo que continue fazendo isso de maneira solene e discreta – Tim Duncan estaria orgulhoso. Enquanto isso, Jaylen Brown e Terry Rozier viraram máquinas de pontuar, se aproveitando dos espaços e das situações de arremesso que o Celtics cria sem parar. Brown é o jogador mais novo do Celtics a marcar 30 pontos num jogo dos Playoffs (acertando 12 de 22 arremessos) e Rozier fez 23, além de 8 assistências (acertando 8 de 14 arremessos). Zero medo de arremessar.

O mais engraçado é que Eric Bledsoe, pagando de gatinho, fingiu não saber quem era esse tal de Rozier quando foi entrevistado, pra não dar moral. É compreensível: sei lá se eu iria reconhecer o Rozier na fila do pão, ele é pirralho, terceiro ano de NBA e não tinha nada que estar sendo destaque de série de Playoff por ai. Mas cá estamos: Rozier soma nessa série 46 pontos, 9 assistências e NENHUM desperdício de bola enquanto Bledsoe, condenado a jogar num basquete medonho de meia quadra, soma 21 pontos, 8 assistências e 6 desperdícios.

 

A gente sabia que o Celtics iria jogar direitinho, errar pouco e que a molecada iria continuar arremessando porque as jogadas iriam lhes criar espaço. O que a gente não sabia (na verdade sabia, mas não queria acreditar) é quão HORRÍVEL é a defesa desse Bucks, ainda pior desde a saída do ex-técnico Jason Kidd, e quão estagnado é o ataque fora de transição. O Bucks teria mais chances contra times malucos que jogam em velocidade, mas contra time inteligente que não erra o que estamos vendo é um desastre. O jogo só não foi uma surra porque Antetokounmpo transforma REBOTES em jogadas de transição, atropelando os defensores e marcando mesmo assim:

O grego teve 30 pontos e 8 assistências, com ótimo aproveitamento, mas nem ele nem Khris Middleton, que também arremessou muito bem, conseguiram participar como deveriam do ataque da equipe porque as jogadas NÃO ACONTECEM. Bledsoe supostamente deveria ser capaz de criar espaços com suas infiltrações, mas está sendo engolido pela defesa, completamente passivo. O time vê que não conseguiu um contra-ataque e já quer chorar na calçada. Que é o que eu vou fazer também se o Bucks tiver outro jogo desses nessa série, claro.


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Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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