Resumo da Rodada 19/4 – Movido a ódio

Russell Westbrook é um homem feito de ódio e rancor. Sua primeira temporada com média de triple-double aconteceu depois da saída de Kevin Durant do Oklahoma City Thunder e o armador entrava em quadra todos os dias para PROVAR UM PONTO. Essa é a bênção e a maldição de Westbrook: sua agressividade e sua motivação incomparáveis transformam o armador num dos maiores pesadelos possíveis para as defesas adversárias; esse grau de intensidade, no entanto, muitas vezes transforma Westbrook num trem descarrilhado.

Após perder os dois primeiros jogos na série contra o Blazers e ser DESRESPEITADO por Damian Lillard se negando a marcá-lo no perímetro, Westbrook entrou em quadra para o Jogo 3 espumando pela boca. Não apenas vimos uma das partidas mais agressivas da carreira do armador, com ele atacando a cesta o tempo inteiro e mostrando seu repertório completo, como vimos também uma de suas melhores performances defensivas: ele estava decidido a ACABAR COM A EXISTÊNCIA de Lillard e, consequentemente, com o burburinho nas redes sociais de que o armador de Portland talvez fosse ligeiramente melhor do que ele.

Durante todo o Jogo 3, Westbrook flertou com a linha tênue entre a motivação e o DESCONTROLE, e ficou muitas vezes no limite de fazer uma burrada ou de ser punido pelos árbitros com faltas técnicas. Rolou de tudo: o armador arremessou bolas de três pontos na cara de Damian Lillard, jogou de costas pra cesta só pra empurrar/esmurrar seu rival, gritou a plenos pulmões ofensas ao seu adversário a cada cesta, berrou que Lillard era “baixo demais” depois de uma cesta e falta e, claro, “embalou o neném” para deixar claro quem era o adulto da relação. Poderia ter dado tudo errado, mas foi um desses dias em que absolutamente funcionou para Westbrook. A falta técnica contra o armador só veio no minuto final de jogo, os árbitros deixaram a falação rolar, Westbrook acertou 4 das 6 bolas de três pontos que tentou, seus desperdícios de bola foram mais do que compensados pelo pânico que ele criou na defesa adversária e sua defesa, digamos, enfática em Lillard foi recompensada com momentos históricos como esse toco abaixo:

O sucesso de Russell Westbrook já estava decidido desde o início do jogo, quando ele perdeu o controle da bola na armação, a bola passou por baixo das pernas de um defensor sem querer e Westbrook foi simplesmente mais rápido e mais agressivo para pegar a bola de bola e transformar aquela palhaçada em uma bandeja. Ali já era perceptível que nenhum erro ou descuido seria suficiente para aplacar a FÚRIA de uma estrela magoada.

Isso não quer dizer, entretanto, que a partida tenha sido fácil. Paul George sofreu demais no primeiro período com a defesa do Blazers, que chegou a estar liderando a partida no segundo quarto até o ala começar a atacar mais a cesta e cavar algumas faltas. Além disso, apesar do Thunder ter feito alguns ajustes defensivos contra Lillard e CJ McCollum que forçaram alguns erros – especialmente os ajustes para evitar os splits, que é quando os armadores passam NO MEIO dos dois defensores que estão tentando fazer uma marcação dupla – Damian Lillard mostrou um repertório inacreditável para lidar com qualquer coisa que o Thunder jogasse em sua direção. Falo sem medo que nesse momento Damian Lillard é o jogador da NBA que melhor lida com marcações duplas, que melhor escapa das “barreiras” para sufocá-lo na lateral e que melhor costura por entre essas defesas para chegar à cesta. O curioso é que o armador ficou famoso por ser DESTROÇADO por esse tipo de defesa, especialmente nos Playoffs, e agora aparece com recursos, saídas e soluções que eu sequer julgava possíveis. É evidente que Lillard resolveu que, para além de quaisquer ajustes táticos que sua comissão técnica deveriam fazer para facilitar sua situação, ele é quem deveria construir as ferramentas necessárias para lidar com a situação.

O terceiro quarto em particular foi uma aula de Lillard. Quando parecia que o Thunder iria abrir uma vantagem colossal no placar atrás de bolas de três pontos de Jerami Grant, Terrance Ferguson, Paul George e Russell Westrbook – ao todo, 6 bolas convertidas no perímetro no quarto, justamente aquilo que o time pareceu incapaz de fazer nos dois primeiros jogos da série – lá estava Lillard parecendo completamente imparável para manter sozinho o Blazers vivo no jogo. Foram VINTE E CINCO pontos para o armador só no terceiro quarto, acertando 8 arremessos em 11 tentativas, incluindo 3 bolas de três pontos. Foi o bastante para o último período começar com uma vantagem de apenas 2 pontos no placar para o Thunder.

A virada do Blazers só não aconteceu porque Westbrook PIROU no quarto período, ameaçando ter um aneurisma e mudando na unha toda a dinâmica que o oponente havia criado até ali. Marcado individualmente por Lillard, Westbrook jogou de costas para a cesta, cavou faltas, acertou arremessos de três pontos contestados (um deles completamente desequilibrado) e, junto com Dennis Schroder, não parou de ATORMENTAR a estrela adversária. Olha Schroder “embalando o neném” no banco de reservas e depois, quando a vantagem do Thunder no placar já era de 12 pontos a 2 minutos do fim, tirando sarro do gesto que Lillard usa para dizer que é “clutch”, ou seja, que ele é decisivo nos momentos finais das partidas:

Lillard aplaudiu o esforço do Westbrook e do Thunder quando foi pela última vez para a linha de lances livres, num misto de sarcasmo e admiração por algo que teria resposta na partida seguinte. E aí, para decretar guerra DE VEZ e tornar Blazers e Thunder a rivalidade mais legal dos últimos anos, Paul George quebrou todo o protocolo, a etiqueta, o código de ética silencioso da NBA ao dar uma enterrada de circo na última posse de bola de um jogo já decidido ao invés de driblar a bola até o cronômetro zerar:

A lição que podemos tirar desse Jogo 3 é que, como falamos no podcast, essa é certamente a série mais parelha a ter ficado 2 a 0. Lillard pode ser incomodado, mas é imparável; o Thunder tem problemas no perímetro e Westbrook foi desafiado a arremessar, mas às vezes essas bolas caem e o time parece invencível. Se Westbrook tiver mais alguns jogos assim na série, o que poderá pará-lo? Por outro lado, Lillard respondeu a uma defesa especialmente desenhada contra ele com 25 pontos num único quarto – como será a resposta do Thunder a isso num dia em que as bolas de longe não estiverem caindo? A série está totalmente aberta e os jogos são imperdíveis, até porque a qualquer momento os envolvidos podem SAIR NA FAQUINHA. Tirem as crianças da sala.


O Jogo 2 entre Raptors e Magic foi decidido basicamente porque Kawhi Leonard simplesmente resolveu que nenhuma defesa poderia pará-lo quando se é mais forte e mais rápido que seus adversários. Pois bem, talvez após o Jogo 3 seja necessário dar uma reconsiderada nisso…

Kawhi Leonard não apenas teve muita dificuldade contra a defesa do Magic – que, dessa vez, usou mais Aaron Gordon numa marcação individual, com dobras mais pontuais – como também não parou de tomar decisões ruins na tentativa de vencer essa defesa sozinho. No último quarto, quando o Magic estava colocando em prática uma recuperação impressionante, a moral do Raptors estava na privada, a MALDIÇÃO™ estava à espreita e o time precisava desesperadamente de um arremesso para deixar as coisas sob controle e tirar do Magic a chance de decidir na última posse de bola, Kawhi tentou mais um arremesso forçado e desequilibrado em cima de Aaron Gordon – seu décimo quarto arremesso errado em 19 tentativas. Foi um desastre, que só não se transformou em derrota porque Kyle Lowry conseguiu um rebote ofensivo contra o melhor time da NBA em rebotes defensivos – e porque, antes desse momento decisivo chegar, Pascal Siakam havia criado uma vantagem no placar suficiente para resistir ao colapso do final do jogo.

Contra a fortíssima e opressiva defesa do Orlando Magic, Siakam acabou se tornando a melhor saída para o Raptors pontuar. Kyle Lowry passou o jogo acionando Siakam em um dos cantos da quadra ANTES da marcação dupla chegar no armador e forçá-lo a um dos lados, dessa maneira garantindo que a defesa do Magic não pudesse saber em qual lado da quadra colocar um marcador extra, ou então recebendo a bola no lado oposto da bola, quando o marcador extra estava no outro canto da quadra. Siakam teve assim marcação individual na maior parte do tempo, quase sempre com marcadores em movimento, e com arremessos MUITO RÁPIDOS conseguiu se aproveitar desse espaço que ganhou. Enquanto Kawhi fez questão de driblar contra a defesa, Siakam apenas finalizou com confiança assim que tocava na bola – e quando bateu para a cesta, a defesa do Magic recusou a dobra com medo das bolas de três pontos de Danny Green e de Marc Gasol, o que deu espaço para Siakam fazer isso aqui, por exemplo:

Foi das mãos dele que saiu a sequência de 14 a 0 que deu ao Raptors alguma tranquilidade para entrar no quarto período depois do Magic chegar a assumir a liderança no terceiro quarto. Ao todo foram 30 pontos para Siakam, incluindo 3 bolas de três pontos.

Como na partida anterior, o Magic teve que lidar com a forte defesa do Raptors e, principalmente, o fato de que Nikola Vucevic é incapaz de jogar contra pivôs mais pesados do que ele – Marc Gasol não se cansa de engolir Vucevic com arroz e farofa. Para tentar se livrar da defesa e incluir o pivô, o Magic se viu obrigado a ou forçar passes mais difíceis, ou a acelerar demais o ataque. As duas coisas fizeram o time errar demais, perder a bola, parecer afeito e atrapalhado e, em última instância, ceder rebotes de ataque – justamente o que condenou a recuperação que eles tentaram no quarto final. O motivo pelo qual o time é tão bom nos rebotes defensivos é porque eles não correm imediatamente para o ataque, mas a vontade de pontuar rápido para não pegar a defesa do Raptors atrapalhou isso e ainda forçou o Magic a fazer algo que ninguém, fora Terrence Ross, está acostumado. Aliás, Ross está tão na zona de conforto dele correndo pra frente e arremessando qualquer porcaria que conseguiu essa obra de arte aqui:

Os melhores momentos do Magic vieram quando as bolas de três pontos caíram, especialmente quando Marc Gasol saiu com 4 faltas e Vucevic passou a misturar cortes para a cesta com arremessos certeiros do perímetro no terceiro quarto. Foi o bastante para manter o Magic na partida e quando a defesa encaixou e o Raptors entrou em modo pânico no quarto período, o time até parecia ter alguma chance de vitória. Mas faltou ao ataque conseguir bolas de segurança sem ter que se afobar tanto, sem ter que abrir mão do plano de jogo que trouxe a equipe até aqui. Evan Fournier só foi acertar seu primeiro arremesso no último quarto, o único dos 12 que tentou, e DJ Augustin abandonou o corpo e deixou o invólucro vazio no instante em que Danny Green passou a defendê-lo nessa série. Sem um ataque capaz de aproveitar as oportunidades que a defesa cria contra o Raptors, é difícil imaginar que eles sejam capazes de vencer outra vez ao longo dessa série.


Outra série que está com ares de que já acabou é Boston Celtics e Indiana Pacers. Não é que o Pacers não tenha jogado bem e que não tenha chances de vencer uma partida na série, longe disso: acabaram o primeiro tempo à frente no placar, tiveram uma defesa impecável no segundo período e em alguns momentos vimos aquele ataque de tirar o fôlego que é marca de time arrumadinho, com a bola rodando a quadra em busca dos melhores arremessos possíveis. O problema é que nada disso foi suficiente – não apenas o ataque voltou a ter longos períodos de “apagão” em que o time depende exclusivamente de jogadas individuais de Bojan Bogdanovic e principalmente de Tyreke Evans, como também vimos relances de tudo aquilo que o Boston Celtics NOS PROMETEU que seria desde a temporada passada, e isso por si só já é demais para Pacers.

Se o ataque do Celtics oscilou – precisando demais de arremessos heroicos para salvar posses de bola desastradas – a defesa se manteve num nível digno de campeão da NBA em quase a totalidade do tempo. O Pacers teve que suar para encontrar espaços, se manteve vivo convertendo arremessos contestados e ao invés de crises aleatórias de confiança no ataque como vimos no Jogo 2, foi forçado a um ataque estático dessa vez por responsabilidade da defesa sufocante do Celtics. E se já gastei anos da minha vida criticando a defesa do Kyrie Irving, que é um dos mais CONFUSOS defensores coletivos da NBA, na noite de ontem ele fez um trabalho muito perto do impecável, sem errar as rotações, ajudando em todas as coberturas e até conseguindo um toco na transição defensiva:

Foi essa defesa que permitiu ao Pacers apenas 12 pontos no terceiro período, o que simplesmente decidiu o jogo ali mesmo.

Mas mesmo o ataque, que teve altos e baixos, mostrou em alguns momentos tudo o que ele poderia ser em nossos sonhos. Jayson Tatum teve uma partida verdadeiramente confiante, mas sem dar alguns dos arremessos estúpidos que ele tentou na temporada regular. Quando o jogo começou ele já estava dançando na frente dos defensores pra executar seu arremesso de meia distância:

Jaylen Brown, por sua vez, teve mais jogadas desenhadas especialmente para ele, acertou 8 dos 9 arremessos que tentou e foi a imagem perfeita do Celtics quando segue o plano de jogo, executando à risca o que foi desenhado na prancheta. Já Kyrie Irving foi a rota de fuga quando as jogadas quebraram ou não saíram, e é legal perceber como isso às vezes acontece de duas maneiras distintas: uma é ele tendo que inventar um arremesso, uma bola forçada; outra é o Celtics se movendo ao redor dele e o armador usando seu arsenal ofensivo para forçar as defesas a abrirem espaço para os seus companheiros, que podem receber passes certeiros. No vídeo abaixo dá pra ver como às vezes ele precisa finalizar sozinho, e às vezes tem o Al Horford, por exemplo, completamente sozinho para um arremesso fácil:

Contar com Irving para quebrar defesas quando tudo o mais dá errado é o que faz o Celtics não ser o Pacers, um time que está preso na prancheta e não sabe o que fazer na individualidade contra as melhores defesas da NBA. É uma pena que tenhamos visto esses times se enfrentarem nesses termos, sem Victor Oladipo do outro lado para cumprir justamente esse papel, mas sem ele a série já caminha para o fim – e o Celtics parece mais e mais a equipe que pode sonhar bater de frente com o Bucks.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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