Resumo da Rodada 20/5 – A surra

Quem acordasse de um coma profundo ontem e visse apenas os momentos finais do Jogo 3 entre Golden State Warriors e Houston Rockets acharia que se tratava de um desses amistosos entre os campeões do mundo e um time de aposentados amadores do bairro. O placar final estampou uma diferença de QUARENTA E UM PONTOS no placar, a pior da história do Rockets nos Playoffs e a pior do time nos últimos 22 anos. O jogo não deveria sequer ter tido um quarto período (a diferença era de 21 pontos ao fim do terceiro quarto mas a diferença MORAL era muito maior), e quanto mais o técnico Mike D’Antoni insistia em vão em manter seus titulares em quadra, mais os titulares do Warriors precisavam ficar em jogo também aumentando mais e mais a vantagem. D’Antoni, sei lá porque, achou que ia ser uma boa ideia dar PALCO para o Warriors finalizar o massacre ao invés de jogar logo a toalha. 

O resultado foi um Rockets moralmente arrasado, que já tinha desistido inteiramente da partida, com seus titulares sendo mantidos À FORÇA em quadra e sendo humilhados até pelo Shaun Livingston:

E quando os titulares finalmente foram para o banco colocar a HONRA de molho, o fundo do fundo do fundo do banco do Warriors assumiu a surra. Quando JaVale McGee acerta um arremesso desses, girando e longe do garrafão, a resposta natural deveria ser APAGAR A LUZ, cortar a música e mandar todo mundo pra casa:

Mas o massacre não foi assim desde o princípio. Quem estava acordado e consciente já viu essa série ter uma vitória fácil para o Warriors no Jogo 1 e uma vitória mais fácil ainda para o Rockets no Jogo 2. Os dois times mostraram que podem explorar uma falha do adversário a ponto de transformar uma partida em HUMILHAÇÃO EM PRAÇA PÚBLICA, e o Rockets, mesmo jogando fora de casa, começou o Jogo 3 com a vantagem de ter sido a última equipe a encontrar a “solução mágica” para a vitória. A responsabilidade estava inteiramente nas costas do Warriors para tapar os buracos que foram expostos na última derrota acachapante.

E, ao menos durante a maior parte do primeiro quarto, parecia que teríamos um jogo parelho, disputado e de alto nível. Os dois times começaram acertando arremessos, errando as bolas de longe, trocaram de liderança três vezes e não parecia que alguém teria caminho fácil. Até que o Rockets perdeu algumas bolas no final do primeiro quarto, o Warriors puxou alguns contra-ataques e a vantagem do time da casa saltou para 9 pontos.

A princípio o Rockets manteve o mesmo plano: impedir as bolas de três pontos do Warriors, forçar erros, puxar contra-ataques e acelerar o jogo. Mas dessa vez passou por uma série dificuldades brutais: a defesa de transição do Warriors foi impecável, dificultando os contra-ataques, e o Warriors tomou um cuidado absurdo para perder menos bolas, o que não permitia sequer que os contra-ataques começassem. Além disso, o Warriors encarou de uma maneira levemente diferente a defesa das situações de mano-a-mano que o Rockets adora: defensores, mesmo em desvantagem de altura ou velocidade, já se preparavam para as infiltrações. Com isso, o Rockets perdeu tanto as bandejas quanto os passes após as infiltrações que encontram, através de excelente movimentação de bola, arremessadores em condições ideais de arremesso. O Warriors cedeu arremessos de perímetro para o Rockets, mas apenas arremessos no mano-a-mano, sem passes ou movimentação de bola – ou seja, bolas mais raras e de pior aproveitamento.

Com um basquete novamente mais individual, o Rockets insistiu em infiltrações e o Warriors conseguiu colocar ATÉ A MÃE para tumultuar o garrafão e gerar roubos de bola. Na primeira metade do primeiro quarto o jogo foi uma bagunça, com os dois times perdendo a bola para defesas agressivas e bem preparadas. Mas quando o quarto terminou, o Rockets já tinha 6 desperdícios contra apenas 4 do Warriors – e o Warriors tinha conquistado 10 pontos de contra-ataque, contra NENHUM do Rockets. Era visível na cara dos jogadores, desde esse quarto inicial, o quanto o ataque do Rockets estava frustrado, e a coisa só foi piorando mais e mais.

Para termos uma ideia, os 6 turnovers do Rockets se transformaram, até o fim do jogo, em VINTE desperdícios e 23 pontos de contra-ataque. O Warriors, por outro lado, só perdeu 8 bolas na partida, que viraram 10 pontinhos para o Rockets. Chris Paul foi completamente INCAPAZ de deixar qualquer marcador dele para trás, fosse para uma infiltração, fosse para um arremesso de meia distância, porque a defesa já estava preparada para isso. É evidente que estudaram seus padrões, sua maneira de atacar a cesta, e só lhe concederam arremessos de três pontos contra defesa individual, em geral na transição. O armador acertou 5 dos 16 arremessos que tentou e duas das 8 bolas de três pontos arremessadas. James Harden teve um pouco mais de sucesso para infiltrar – praticamente não conseguiu deixar para trás seus defensores, mas ele infiltra mesmo assim, por cima da galera ao controlar o ritmo da passada – mas na impossibilidade de passar a bola para fora, gerou 4 desperdícios de bola. Dessa vez os coadjuvantes do Rockets não foram acessados simplesmente matando a ORIGEM das jogadas de distribuição da bola – mesmo com Kevon Looney e Stephen Curry sendo atacados na defesa. Foi uma das melhores defesas de transição e de proteção de aro que já vi, uma maravilha de comunicação, entrosamento e plano tático.

O Rockets se manteve vivo no jogo (a diferença no placar era de apenas 11 pontos ao fim do primeiro tempo), mas o elenco estava fazendo careta, chacoalhando a cabeça, Harden errou bandeja numa rara vez em que ficou sozinho, D’Antoni estava dando chilique no banco de reservas e Chris Paul só tinha acertado um mísero arremesso. O ataque parecia DESFUNCIONAL, e a defesa do Rockets teve vida muito mais difícil com o Warriors puxando tantos contra-ataques. O placar só não tinha IMPLODIDO porque Stephen Curry, arremessando sem dó em transição, só tinha acertado uma das 7 bolas de três pontos que tentou. As bolas de Kevin Durant por cima da marcação, no entanto, foram mais do que suficientes para manter a vantagem:

No Jogo 2, um dos motivos para o Rockets ter vencido o jogo fácil foi ter construído uma vantagem no placar capaz de segurar a tradicional FÚRIA do Warriors no terceiro período. Mas dessa vez, já perdendo por 10 pontos, não precisou de muito para o Warriors fazer uma sequência de 10 pontos consecutivos e esticar a vantagem para 20. Foi uma bola de neve: quanto mais o Rockets perdia a bola, mais o Warriors jogava no contra-ataque; quanto mais o Warriors pontuava fácil no contra-ataque, menos oportunidades o Rockets tinha para acelerar o jogo (já que não conseguia nem roubos nem rebotes); quanto menos o Rockets acelerava o jogo, mais dependia de um basquete de meia quadra sufocado pela defesa que acabava perdendo mais bolas. Virou um ciclo infinito.

Foi nessas circunstâncias que Stephen Curry começou a acertar os mesmos arremessos que tinha tentado – e errado – no primeiro tempo. Primeiro uma bola na transição, longa, indefensável. E aí a defesa do Rockets entrou em PÂNICO tentando caçá-lo no perímetro, ao que ele respondeu simplesmente cortando para a cesta. Olha o Chris Paul na certeza de que ele precisa perseguir Curry até a linha de três pontos ser enganado pelo corte:

E logo na sequência, Curry passou uma MEIA HORA fingindo que ia arremessar de três pontos até Trevor Ariza cair na finta e liberar um corredor gigante para o ataque à cesta. Em infiltrações que terminam no aro, Curry acertou 19 das suas 24 tentativas nessa série, um total de 79% de aproveitamento em 8 arremessos desses em média por partida.

Se ele já estava com altíssimo aproveitamento infiltrando, quando começou a acertar as bolas de três pontos o aproveitamento e a confiança DECOLARAM DE VEZ. Curry acertou todos os 7 arremessos que deu no terceiro período, incluindo duas bolas de fora, e uma delas foi totalmente no mano-a-mano, o arremesso que o Rockets queria que ele tentasse, e que tornou patética a boa defesa de Harden no lance:

Se Curry SACOLEJOU depois do arremesso certo, amigos, o jogo acabou. É um daqueles casos em que a defesa não tem muito o que fazer, só torcer contra mesmo. Foram 35 pontos para Stephen Curry no jogo, 26 deles no segundo tempo.

Não é nem que um time que chegou numa Final de Conferência não fosse capaz de cortar uma vantagem de 21 pontos no quarto período, mas o Rockets não conseguiu um momento sequer de fluidez ofensiva, de marcadores batidos, de contra-ataque fulminante que não fosse um arremesso desesperado do Gerald Green o jogo todo, por que iria mudar no quarto final? Com a frustração estampada na cara e a SURRA do terceiro período, tudo que o Rockets tentava só parecia alimentar ainda mais a máquina que estava do outro lado. Nessas situações, o melhor é se fingir de morto e torcer para viver mais um dia. Quanto mais Mike D’Antoni insistiu, mais o Rockets viu que não tinha resposta, mais se frustrou e mais cedeu pontos na transição. Foi um espetáculo de horrores.

O ataque do Rockets é, estatisticamente, um dos melhores de todos os tempos. No Jogo 2 não rolou uma má defesa do Warriors como alguns sugeriram, pelo contrário, foram só os coadjuvantes do Rockets sendo alimentados constantemente por uma movimentação de bola inteligente baseada em infiltrações e contra-ataques. Indo na origem do problema – não dando oportunidades de contra-ataque, defendendo a transição com maestria e se focando em não tomar infiltrações que virem passes – é como se os coadjuvantes do Rockets nem existissem para ser defendidos. Some a isso a incapacidade de Chris Paul de bater defensores fora de posição na base da explosão e o ataque do time simplesmente SECOU da pior maneira possível, aquela maneira que gera rebotes longos e desperdícios de bola que o Warriors transformou em contra-ataques para se livrar da boa defesa do Rockets do outro lado.

Não é sempre que o Warriors consegue desperdiçar tão pouco a bola, mas nessas circunstâncias o Rockets é forçado a um ataque muito individualizado contra uma das melhores defesas da NBA – receita para fracasso, claro. Já temos uma base simples agora para entender a série: quem perder menos bolas e forçar desperdícios do adversário consegue salvar o próprio ataque e forçar o outro time a uma ESPIRAL DE HORROR, em que todos os elementos vão se somando para criar um cenário desastroso e, pelo que parece, irremediável. A série pode até ir longe, mas dificilmente teremos um placar apertado. E se o Rockets repetir os problemas desse Jogo 3, pode apostar que tomará outra surra – o recorde de 41 pontos de diferença parece pequeno perto do que o Warriors pode fazer quando todas as coisas estão funcionando ao seu favor.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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