Resumo da Rodada 21/5 – Maiores e mais fortes

O Celtics ainda está invicto jogando em Boston, mas fora de casa a situação é bem diferente: foram 3 derrotas na primeira fase para o Bucks, uma para o Sixers nas semi-finais e uma para o Cavs nessas Finais de Conferência. Ainda assim, o Cavs não podia se permitir qualquer tranquilidade: a diferença entre uma série empatada em 2-2 e uma com um time liderando por 3-1 é maior do que os números indicam à primeira vista. Estatisticamente são raras as vezes em que times se recuperam após estar perdendo por 3 a 1, especialmente se o time na frente pode disputar o Jogo 5 em casa, com a chance de fechar a série.

Vimos então o Cavs jogando com um incrível senso de urgência, aliado à já costumeira dificuldade ofensiva do Celtics fora de Boston. Bastou apenas um quarto para o Cavs abrir 16 pontos de frente no placar, e poucos minutos de segundo período para a diferença saltar para 19. Não deu nem tempo do Celtics piscar e o placar já decretava uma distância intransponível, no que parecia mais um jogo dessas Finais de Conferência decidido por um atropelamento súbito e uma margem elástica de pontos.

O resto do jogo não seguiu essa dinâmica, no entanto – foi extremamente equilibrado, brigado e parelho, com os dois times dando trombadas, correndo de um lado para o outro e se jogando no chão em busca de qualquer bola perdida. Não ganhou nenhum concurso de beleza, mas foi um dos jogos mais pegados e disputados dessa pós-temporada. Na verdade, o Celtics até ganhou os três quartos posteriores, de maneira progressivamente mais emblemática: o segundo quarto por um pontinho, o terceiro quarto por 2 pontos e o quarto período por 4 pontos. Só não foi suficiente para ESTANCAR A SANGRIA que o primeiro quarto do Cavs e o começo do segundo causaram – e nem para arrumar de maneira convincente os problemas que o Cavs continuou explorando até o fim do jogo para impedir o Celtics de cortar demais a vantagem.

O atropelamento inicial teve uma série de causas. Uma foi, mais uma vez, LeBron James encontrando aquele equilíbrio necessário: não pontuou sozinho, como foi no Jogo 1, mas também não se esquivou do jogo deixando seus companheiros jogarem, como já ocorreu eventualmente. LeBron POTENCIALIZOU seus companheiros, criando jogadas para eles e garantindo que os arremessos do perímetro fossem dados nas melhores situações possíveis. Além disso, tivemos assim como no Jogo 3 o RENASCIMENTO de Tristan Thompson. É surreal quão útil ele foi nas duas vitórias do Cavs, especialmente nesse Jogo 4: contestou arremessos, lutou por rebotes de ataque, manteve a bola viva, atacou quando foi marcado por jogadores mais baixos e, mais importante, deu os corta-luzes certos para o Cavs finalmente ter jogadas longe da bola que viraram arremessos dos jogadores secundários do elenco.

Tristan Thompson sequer é um grande defensor, nunca foi de dar tocos, mas bastou ele contestar infiltrações que antes o Celtics transformava em cestas fáceis principalmente na transição para forçar alguns erros. Na jogada abaixo ele nem tocou na bola, mas já atrapalhou o bastante para Jayson Tatum errar a enterrada:

Ele também não é o maior reboteiro de ataque do planeta, mas os pequenos tapinhas que ele consegue dar na bola são suficientes para desestruturar a defesa do Celtics, até porque tudo que os verdinhos querem é puxar logo contra-ataques e pontuar nos primeiros segundos de posse de bola contra um Cavs que tem uma péssima defesa de transição. Na jogada abaixo dá pra ver como só de manter a bola viva num rebote ofensivo Thompson já permite que LeBron se organize, roube a bola e faça uma cesta simples:

Mas não foi apenas a presença de Thompson e o equilíbrio de LeBron que garantiram a surra inicial: por mais que eu odeie dar o braço a torcer, pode colocar essa na conta do técnico Tyronn Lue. Nos primeiros jogos dessa série, qualquer tentativa de gerar mismatches – em geral, algum jogador maior do Cavs atacando o diminuto Terry Rozier – foi um fracasso porque o Celtics simula uma dobra de marcação e, nesse caos, troca a marcação para um duelo que lhe seja mais interessante. Mas dessa vez Tyronn Lue veio preparado para não permitir que isso acontecesse e explorar as limitações físicas de Terry Rozier ao máximo.

Primeiro foi colocando Tristan Thompson em cima dele, que podia finalizar por cima do armador antes da dupla-marcação chegar. Depois, quando o Celtics ajustou tirando Rozier das proximidades do garrafão, foi colocando JR Smith para arremessar por cima dele:

E por fim foi colocando LeBron para enfrentar Rozier não de costas para a cesta no garrafão, como nas tentativas dos jogos anteriores, mas de frente para a cesta quase no perímetro. Nessas situações LeBron tem uma vantagem que ele não pode transformar em infiltrações ou ganchos, é verdade, mas qualquer tentativa de trocar a marcação geraria para ele um passe livre para JR Smith ou para Tristan Thompson em baixo do aro, de modo que a ajuda defensiva nunca vem:

Tristan Thompson agressivo perto da cesta e LeBron James sendo colocado contra Terry Rozier fez o Cavs subitamente parecer um time de GIGANTES, muito mais altos e fortes do que o adversário. Chegou ao ponto de Kevin Love poder dar o passe mais ABSURDO para a quadra do ataque, em meio a todos os defensores, e LeBron se sentir seguro de pular mais alto e finalizar entre Marcus Smart e Jaylen Brown como se estivesse brincando com crianças. Foi um dos momentos mais incríveis desse Cavs e um lembrete de que um time mais baixo, como o Celtics, pode ser explorado de maneiras que às vezes a gente nem imagina:

O Cavs parecia tão mais alto e mais forte que o Celtics inteiro que chegou um momento em que TODA A LÓGICA DO UNIVERSO DESINTEGROU e Jaylen Brown, numa displicência incrível de quem achava ter uma cesta GARANTIDA, tomou um toco humilhante de Kyle Korver:

Está preparado para esse número macabro? Kyle Korver deu TRÊS TOCOS na partida (dois deles em cima de Jaylen Brown só no primeiro quarto!), um banho de água fria para um esquema tático ofensivo que muitas vezes mirou nele como se ele fosse o alvo mais fácil, mais frágil do sistema do Cavs. Ele pode ser magrinho, ter baixa mobilidade lateral e ser meio velhinho (dá pra acreditar que ele tem 37 anos?), mas ele ainda é um defensor disciplinado com mais de 2 metros de altura que vai se aproveitar da ingenuidade (e da soberba) de qualquer moleque que tentar enfrentá-lo.

Terry Rozier, no entanto, seria incapaz de distribuir tocos assim por uma limitação FÍSICA. Até os primeiros minutos do segundo quarto, o Cavs havia tentado 7 arremessos em cima do armador e convertido 6 deles, inserindo todos os jogadores do ataque em movimentações focadas em explorar os problemas de tamanho adversários.

No segundo quarto podemos ver como assim que LeBron James passou a receber a bola contra Terry Rozier, Al Horford batia em disparada para trocar a marcação. Mas nesse segundo de hesitação, nesse pequeno buraco em que acontece a “passagem de bastão”, LeBron James arremessou completamente livre:

E não foi só isso: Tristan Thompson também ajudou a inviabilizar essa ajuda de Al Horford. Por vezes ele fez um corta-luz fora da bola que impedia Al Horford de se aproximar, por outras fez um corta-luz que dava espaço para algum arremessador receber um passe de LeBron nessas jogadas. Al Horford foi ficando limitado na defesa, e na hora de tentar compensar no ataque, sofreu demais com Thompson protegendo o aro. Chegou uma hora em que Al Horford ficou restrito à marcação individual na defesa, o que não lhe permite brilhar, e seu papel no ataque se tornou ficar PARADO na zona-morta só para tirar Tristan Thompson do garrafão. Foi uma medida desesperada para um time que de repente não conseguia encontrar respostas melhores para as decisões táticas do Cavs na partida. Não deve se repetir, mas trata-se do famoso “é o que tem pra hoje”.

Se o Celtics não foi dizimado e pegou no tranco nos três últimos quartos foi só porque o Cavs continuou errando na defesa e permitindo arremessos livres do perímetro. O Cavs tentou compensar com intensidade, com correria, com gente perseguindo a bola sem parar, mas as limitações técnicas são evidentes. O Celtics teve dificuldade para infiltrar e sofreu com o jogo físico e trombado, mas só no segundo quarto converteu 6 bolas de três pontos, todas com pouca ou nenhuma contestação, em geral em transições que pegavam a defesa do Cavs totalmente desarrumada ou se aproveitando das dobras de marcação desordenadas do Cavs no garrafão. Terry Rozier tentou justificar sua presença na quadra justamente nessas bolas, convertendo bolas do perímetro e ajudando a puxar o ritmo dos contra-ataques.

No terceiro quarto a defesa do Celtics voltou, como sempre, mais bem preparada e passou a tentar cobrir melhor Terry Rozier. Não funcionou sempre – na verdade, não funcionou quase nunca – mas foi suficiente para LeBron sentir que precisava tentar outra coisa, se aproveitando do momento da troca de marcação de Rozier para passar a bola e encontrar outras jogadas. Acabou desperdiçando demais a bola nessas situações, dando a chance do Celtics atacar em transição. Para termos uma ideia de como essa abordagem deu errado, o Cavs deu 15 assistências no jogo, mas somente DUAS delas foram no segundo tempo. Sem explorar Rozier diretamente – até porque ele sentou em parte considerável do segundo tempo, dando a armação para Marcus Smart – o ataque do Cavs secou e passou a viver de jogadas individuais de LeBron James, dessa vez minimamente mais descansado pela facilidade do primeiro tempo. Mas seu descanso durou pouco: para compensar o ataque estagnado, o Cavs passou a forçar contato e o Celtics devolveu com uma injeção de garra e força de vontade que tornou o jogo uma luta de ringue. Com Al Horford numa situação nada lisonjeira, Aaron Bayes foi PURO CORAÇÃO e começou a prever a movimentação ofensiva do Cavs, esquivar dos corta-luzes na marra e PREGAR os arremessadores no perímetro na mais pura força bruta. Mas no CAOS em que ele se enfiou, chegou um ponto em que ele não sabia nem mais o que fazer com a bola e o seu time inteiro teve que AVISAR que ele tinha caminho livre para a cesta. Foi total descontrole:

Nessa bagunça a diferença chegou a cair para 7 pontos no último quarto, depois de ficar muitas vezes na casa dos 8 pontos, mas LeBron manteve as coisas sobre controle. Não foram apenas os 44 pontos e quase 61% de aproveitamento, mas também o fato de que ele explorou as poucas falhas do Celtics sempre que elas ocorreram. Nos minutos finais, numa sequência do Celtics para tentar se aproximar em definitivo, Terry Rozier fez o que lhe pediram (não ficar marcando LeBron James), Marcus Smart não conseguiu fazer a troca a tempo e, naquele segundo que ganhou de bônus, LeBron converteu sua única cesta de três pontos da partida para matar de vez o jogo, que o Cavs venceu por 9 pontos:

Não há nada de novo nessa narrativa. O Cavs foi campeão em 2016 mesmo sendo um time que tinha falhas defensivas MUITO GRAVES, elas apenas não foram tão decisivas quanto as bolas de três pontos que converteram, os rebotes ofensivos que conquistaram e a sensação geral de que eles eram apenas MAIORES E MAIS FORTES do que o Warriors naquelas Finais. E quanto mais apertadas as séries são, quanto mais tempo damos às séries, mais o Cavs volta a nos lembrar dessa força física, do poder de tumultuar o garrafão na defesa e de explorar o tamanho diminuto dos adversários no ataque. Talvez o Celtics tenha jogado de maneira mais organizada e tenha até um plano de jogo mais reconhecível, mas Tyronn Lue soube explorar as limitações do Celtics de uma maneira SIMPLES e deu ao Cavs simplesmente a oportunidade de usar seu tamanho, sua explosão e seu atributo mais importante, que é LEBRON JAMES.

Enquanto todo o senso estético parece se recusar a admitir que o Cavs jogou bem, eis eles aí novamente parecendo claramente superiores, vencendo uma partida do começo ao fim sem abrir mão da liderança nos momentos cruciais, e expondo falhas defensivas que o Celtics não mostrou ao longo de toda a temporada. A série volta para Boston para o Jogo 5, mas independente do sucesso que o Celtics tem em casa, é impossível que eles não estejam em PÂNICO: do outro lado estará LeBron James pronto para assumir a liderança dessas Finais de Conferência pela primeira vez na série.

 

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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