Resumo da Rodada 20/5 – O time que sonhou que era gigante

Damian Lillard e CJ McCollum inspirados, somando 9 bolas de três pontosMeyers Leonard com 25 pontos, recorde da carreira, ainda no primeiro tempo. Mais uma vantagem de 17 pontos no terceiro período, e dessa vez sem ser atropelado na volta do vestiário, chegando a vencer por 10 pontos no último quarto. E MESMO ASSIM o Portland Trail Blazers não conseguiu sair de quadra com uma vitória, perdendo a série por 4 a 0 enquanto o Golden State Warriors avançou para sua quinta Final consecutiva.

Nesse Jogo 4, o Blazers passou bem pertinho de não ser varrido: teve a chance de vencer o jogo na última posse de bola do quarto período e outra vez na última posse de bola da prorrogação, ambas nas mãos de Damian Lillard. Na primeira vez, o armador errou uma bandeja contestada bem marcado por Draymond Green, novamente um monstro defensivo; na segunda vez, uma jogada bizarramente executada não gerou um corta-luz para que Lillard recebesse a bola minimamente livre e o armador teve que dar um arremesso difícil enquanto era bem marcado por Klay Thompson na zona morta.

Esses arremessos difíceis não foram sempre a tônica do jogo, entretanto. Especialmente graças à partida incrível de Meyers Leonard, o Blazers teve mais espaço para pontuar do que em qualquer outro momento nessa série. A equipe de Portland depende muito de uma rota de passe quando Damian Lillard recebe o “trap”, a dobra de marcação após o corta-luz, e Enes Kanter não conseguiu se tornar essa opção porque Draymond Green está sempre entre ele e a cesta, impedindo sua progressão em movimento e forçando-a a virar de costas para a cesta, quando a marcação pode então dobrar e roubar-lhe a bola. Leonard, no entanto, consegue se tornar esse passe possível por não precisar entrar no garrafão – seus surreais 45% de aproveitamento na temporada regular dedam que ele é pouco utilizado no perímetro, mas muito eficiente quando requisitado. Quando a dobra de marcação ocorreu em Lillard nesse Jogo 4, Leonard estava imediatamente livre para um arremesso ou, na pior das hipóteses, para receber um passe e segurar a bola até que outros jogadores do Blazers se reorganizassem e aparecessem para buscá-la.

O plano funcionou muito bem especialmente porque Leonard foi bastante agressivo, arremessando sem hesitar e, quando incapaz de encontrar outros companheiros para ceder a bola, batendo para dentro ou convertendo arremessos de média e curta distância. Como Lillard acertou arremessos longos na partida, a defesa do Warriors resolveu até mesmo dobrar a marcação em cima dele sem que precisasse existir um corta-luz, e aí Leonard simplesmente arremessou sozinho sem nenhum sinal de contestação:

Os 25 pontos de Leonard no primeiro tempo forçaram o Warriors até mesmo a mudar seu plano defensivo, parando de dobrar em Damian Lillard para fazer a troca de marcação a cada corta-luz, o que permitiu pela primeira vez na série que o armador do Blazers jogasse no mano-a-mano contra defensores fora de suas zonas de conforto. Foi nessas circunstâncias que ele colocou seu defensor no chão antes do arremesso, sem a pressão de uma dobra:

A receita Lillard-Leonard deu tão certo que todo o resto do time se viu obrigado a emular a dupla. Enes Kanter passou a arremessar (e converter) bolas longas de dois pontos, ao invés de jogar próximo ao aro, e até tivemos o MELHOR COSPLAY DA NOITE, quando Rodney Hood recebeu marcação dupla e fingiu ser Damian Lillard, passando a bola para um Zach Collins que fingiu ser Meyers Leonard:

A cesta acima foi particularmente importante porque nesse momento Lillard, Leonard e CJ McCollum estavam descansando no banco de reservas enquanto o técnico Steve Kerr resolveu manter Stephen Curry e Klay Thompson em quadra. Ao fim da partida a dupla do Warriors jogou entre 46 e 47 minutos cada, mais do que qualquer jogador do Blazers, e foram importantes para reduzir aos poucos a vantagem que o time de Portland havia conquistado. Sem seus principais nomes em jogo, coube aos reservas do Blazers “imitar” a receita de sucesso dos seus titulares, com sucesso moderado.

O problema é que, especialmente no quarto período em que o Blazers marcou míseros 16 pontos, os próprios titulares tiveram dificuldades para imitar a si mesmos. Sabendo que existiria a troca da marcação e satisfeito por não estar havendo dobras em Lillard, o time praticamente parou de usar o pick-and-pop (corta-luz de Leonard seguido por sua movimentação para o perímetro), de modo que Leonard só somou 5 pontinhos no segundo tempo inteiro, sendo dois deles numa enterrada de contra-ataque – e nenhum ponto sequer na prorrogação, quando o time virou uma máquina de isolar Damian Lillard no mano-a-mano. O negócio ficou tão extremo que Leonard nem ficava mais no perímetro, espaçando a quadra perto do garrafão, quase na zona morta, só pra atrair seu defensor.

Não podemos ignorar, claro, que Leonard se aproximar do garrafão foi uma tentativa um tanto desesperada de impedir o Golden State Warriors de dominar os rebotes, tanto os defensivos quanto os de ataque, mas me pareceu que no final do jogo – e por “final” entendamos todo o quarto período e adendo – o Blazers não queria arriscar ver Leonard decidindo, escolhendo dar prioridade para as jogadas individuais de Lillard e, em menor escala, CJ McCollum. Não à toa, foram essas jogadas individuais que vimos para tentar vencer o jogo ao fim do quarto período e da prorrogação, com o acréscimo de que na última bola do período extra Leonard sequer conseguiu fazer um corta-luz decente para participar da jogada e ajudar Lillard na sua tentativa heroica – e solitária – de vencer o jogo.

O problema dessa queda de produção do Blazers – que foi, ao mesmo tempo, uma queda na qualidade e nos tipos dos arremessos – foi que do outro lado o Warriors nunca parou de fazer cestas fáceis. Defensivamente o Blazers errou muitas trocas de marcação, deixando gente livre, e se recusou a fazer algumas trocas, permitindo que os arremessadores do Warriors ficassem momentaneamente livres. Além disso, na hora de fazer o “híbrido”, trocando a marcação apenas momentaneamente até o defensor original se restabelecer, essa troca “fajuta” foi bastante explorada e rendeu arremessos com os quais Stephen Curry está razoavelmente acostumado, e se ele quisesse poderia ter tentado duas dúzias de coisas assim:

Vejam que essa abaixo é um repeteco da anterior, mas tão longe da linha de três pontos que o marcador original sequer se dá ao trabalho de caçar Curry pelas costas:

Some isso também aos problemas GRAVES da defesa do Blazers em transição, numa dificuldade tremenda de parar as aceleradas de Draymond Green com e sem a bola, e vemos como mesmo depois de tomar cestas doloridas o Warriors sempre conseguia uns pontinhos tranquilos do outro lado:

Para termos uma ideia, enquanto o Blazers estava num dos melhores momentos ofensivos da sua temporada e acertou 60% dos seus arremessos no primeiro quarto, incluindo 4 bolas de três pontos, o Warriors acertou 67% com 6 bolas de três pontos. Pra abrir uma vantagem qualquer no placar, o Blazers teve que elevar seu aproveitamento para 62% no segundo quarto. Não foi na defesa, mas na incrível produção ofensiva que a equipe de Portland se manteve viva, liderou por 17 e se colocou em condições de vencer o jogo. Quando o Warriors errou arremessos fáceis ou livres, a diferença no placar aumentou; quando o Warriors converteu essas bolas e além de tudo pegou os rebotes de ataque, a diferença encostou.

No final do jogo, com o ataque do Blazers mais estático e monotemático, o Warriors deixou ainda mais evidente como tem um ataque completo, imprevisível, coletivo e em constante movimento. Foi numa cesta de três pontos de Draymond Green, com seu defensor deixando ele arremessar de propósito, que o Warriors abriu a distância necessária para vencer o jogo na prorrogação.

O arremesso de Green dói ainda mais se levarmos em conta que o Blazers não queria confiar sequer em Leonard, que tinha 5 bolas de três pontos convertidas, nos momentos finais do jogo. Enquanto o Warriors saiu de quadra com dois jogadores seus sendo donos de triple-doubles – Stephen Curry e Draymond Green, primeira dupla a conseguir a proeza na história dos Playoffs – o Blazers não foi capaz sequer de continuar executando um esquema ofensivo que funcionou durante todo o primeiro tempo, viu suas assistências irem diminuindo progressivamente de ritmo – foram 20 no primeiro tempo, apenas 10 no segundo – e Leonard voltou para a obscuridade de onde saiu. Pareceu faltar um padrão de jogo, algo em que o time confiasse nos momentos de maior pressão que fosse além do jogo individual, e esse tipo de erro fica sempre mais explícito – e tem consequências mais cruéis – quando o time do outro lado da quadra é o Golden State Warriors.

Uma varrida como essas deixa um gosto amargo na boca; quando comparado com o Warriors, o Portland Trail Blazers parece estar a uma distância intransponível, seus erros parecem amadores e seu ataque, mesmo nos momentos de mais de 60% de aproveitamento, parece limitado em contraste com o rival. Mas esse não é um demérito do Blazers; apenas um time pode ser campeão e, bem, o Warriors não tem 3 títulos em 4 anos à toa. O Blazers chegou incrivelmente longe, especialmente dadas as suas limitações; brilhou no grande palco da pós-temporada; colocou Damian Lillard em definitivo no hall dos grandes momentos do esporte. A varrida evidencia um abismo gigante entre os times, mas não pode ofuscar o fato de que o Blazers fez o que muita gente julgava impossível: chegou até aqui e, por alguns momentos, em um punhado de minutos, com as bolas de Meyers Leonard voando pelos ares, nos fez achar que eles eram gigantes, que eles tinham uma chance, que poderiam brigar com qualquer um. Não podiam, mas nos fazer sonhar é mérito deles, e um presente que qualquer torcedor deveria receber com gratidão. Eles sonharam que eram gigantes, e nós sonhamos junto.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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