Resumo da Rodada 21/5 – Mais vale um Kawhi lesionado do que Kawhi nenhum

Quem vê o Milwaukee Bucks de hoje, melhor campanha da NBA na temporada regular, muitas vezes se esquece de que até a revolução do time nas mãos do técnico Mike Budenholzer o ataque era disfuncional. Ver as movimentações ofensivas do Bucks nas temporadas passadas era como assistir a um parto longo e doloroso, toda cesta era sofrida e o ataque totalmente estagnado. Foi a migração para as bolas de três pontos que transformou completamente esse time e gerou inclusive o espaço necessário para Giannis Antetokounmpo quebrar recordes de pontos no garrafão.

Mas a derrota nesse Jogo 4 para o Toronto Raptors por quase 20 pontos, depois de estar perdendo por VINTE E CINCO, deixou bem evidente que aquele Bucks de ataque medonho de antigamente ainda está entre nós, escondidinho, em estado dormente. Coube ao Raptors apenas despertar a pior versão possível desse Bucks com uma defesa impecável e uma série de ajustes que não apenas foram minando o adversário como também inverteram completamente a dinâmica de uma série que parecia inteiramente decidida após o Jogo 2.

Para um time que vive e morre pela bola de três pontos, os números não são nada animadores para o Bucks: ao fim do Jogo 4, a média de aproveitamento do time nas bolas de três pontos nessa série chegou a 29%. No Jogo 4 o aproveitamento foi de 31%, mas despencou depois do primeiro quarto – momento em que o Bucks perdeu a liderança da partida e nunca mais recuperou. No meio do terceiro período, Mirotic havia errado 27 dos seus últimos 35 arremessos de três pontos na série, um número assustador para um dos principais arremessadores do time. Some a isso também o fato de que Eric Bledsoe, que tem apenas 28% de aproveitamento no perímetro em situações em que arremessa após receber um passe, passou a receber ZERO atenção da defesa do Raptors e mesmo assim errou as duas bolas de três que tentou no jogo, ficando constrangido demais para continuar tentando.

Brook Lopez, que matou o Jogo 1 com suas bolas de fora e o espaço que elas geraram perto do aro, não conseguiu ser um fator de mudança no perímetro do Bucks porque mal conseguiu ficar em quadra. Pode não parecer, mas Lopez tem também um papel defensivo fundamental, se posicionando bem e protegendo o caminho para a cesta, mas tem sido muito explorado nas últimas partidas e o foi novamente nesse Jogo 4: quando recuou para proteger o garrafão, sofreu arremessos de longe; quando trocou a marcação e foi defender fora de sua área habitual, cometeu faltas e ficou pendurado. Com isso a defesa do Raptors teve tranquilidade para se focar naquilo que realmente importa, que é SE AGLOMERAR ao redor de Giannis Antetokounmpo e perseguir os arremessos de Khris Middleton.

Se não bastasse a dificuldade de ter que enfrentar múltiplos defensores, Giannis passou também a ser marcado individualmente por Kawhi Leonard desde a partida anterior. Desde que esse ajuste entrou em vigor, Antetokounmpo só acertou 30% dos seus arremessos contra Kawhi, desperdiçando a bola 5 vezes e conseguindo apenas 3 assistências. Vejam no vídeo abaixo como funciona essa defesa:

Enquanto Kawhi faz sua marcação individual, Serge Ibaka abandona seu homem para marcar o possível caminho de Antetokounmpo para a cesta. Vejam que é uma “dobra à distância”, e aí VanVleet tem que marcar o garrafão deixando Eric Bledsoe livre no perímetro porque NINGUÉM RESPEITA ele por lá. Bledsoe até percebe a situação e corta para a cesta, mas aí a bola sai das mãos de Antetokounmpo e Bledsoe tem que enfrentar Ibaka e VanVleet no garrafão, o que é uma baita furada.

Essa defesa não é capaz de parar Antetokounmpo por completo, mas é o bastante para que ele tenha acertado apenas 4 arremessos longe do aro na série INTEIRA e para que ele muitas vezes confunda as infiltrações eventuais mas eficientes – como vimos no Jogo 2 – com períodos de total inação, em que ele tenta abrir mão da bola e acaba não sendo útil no ataque.

Essa passividade do grego e a possibilidade de ter sempre um defensor a mais para marcar suas eventuais investidas fez com que a responsabilidade caísse ainda mais nos ombros dos arremessadores do Bucks, que tiveram atuação muito ruim na partida – em parte porque às vezes bolas de longe simplesmente não vão cair mesmo, mas em parte porque a defesa do Raptors cede espaço para alguns e tenta ao máximo rotacionar para pressionar outros. No vídeo abaixo dá pra ver como a rotação defensiva de Kyle Lowry é perfeita e ele chega a tempo de incomodar demais um arremesso de Middleton que deveria ter sido livre. Middleton acerta o arremesso porque É BOM DEMAIS, mas passa a ter que apressar sua mecânica e recusar algumas bolas a partir de então:

E enquanto o Bucks errava suas tradicionais bolas de três pontos, o Raptors tentou hesitar menos do que nas outras partidas e acertou inclusive arremessos MUITO DIFÍCEIS. No vídeo abaixo temos uma jogada emblemática: não dá pra ver na edição, mas Marc Gasol rejeita um arremesso de três pontos que ele deveria ter dado (jura?) e aciona Kyle Lowry na zona morta sob marcação. Ao invés de recomeçar tudo de novo, ou devolver a bola para Marc Gasol, Lowry simplesmente arremessa, acertando uma bola surrealmente difícil e mostrando que ia ser um desses dias felizes no perímetro de Toronto:

Ajudou também o fato de que Norman Powell ganhou mais minutos (como havíamos proposto por aqui nas primeiras partidas, ele teve agora 8 minutos a mais de quadra do que o sempre discreto Danny Green) e ele foi picado por JR Smith, tendo desde então perdido qualquer senso de CRITÉRIO: ele arremessa pra valer, a todo momento, deixando o Raptors mais veloz e forçando a defesa do Bucks a ter que contestá-lo sem pensar duas vezes. Eu sei que dá nervoso ver que ele, em apenas 32 minutos, foi DISPARADO o jogador que mais arremessou no Raptors (foram 18 tentativas!), mas alguém precisa manter o volume de arremessos acontecendo, já que isso ajuda a equipe a escolher menos seus arremessos, entrar num ritmo ofensivo e a jogar mais em velocidade, explorando os contra-ataques. Powell acabou tendo papel ainda mais importante porque Pascal Siakam mais uma vez cometeu faltas demais e ficou pendurado (o Raptors ainda não achou uma maneira de poupá-lo defensivamente) e porque Kawhi Leonard jogou bem baleado, nitidamente sentindo alguma coisa na perna esquerda apesar de oficialmente o Raptors alegar que está tudo bem. Ver Kawhi jogar no sacrifício nas Finais de Conferência deve ter partido o que restava do coraçãozinho sofrido do San Antonio Spurs, que tanto insistiu para que Kawhi voltasse para os Playoffs passados…

Kawhi não chegou aos 20 pontos pela primeira vez desde o Jogo 3 da primeira série dessa pós-temporada, mas não precisou; seu trabalho defensivo foi incrível, ele teve ajuda de outros companheiros arremessando de maneira corajosa, especialmente Powell, Lowry e Serge Ibaka, e além de tudo causou problemas na defesa do Bucks só por simplesmente EXISTIR.

Após esse Jogo 4 acho que já é hora de admitirmos que a defesa do Bucks tem um problema considerável em suas mãos. Trocar a marcação a cada corta-luz não é o usual para a equipe de Milwaukee, mas eles entraram nessa série não apenas dispostos a trocar como também tentando executar uma defesa específica contra Kawhi que envolve dobras constantes e a tentativa de impedir o adversário de sequer receber passes no perímetro. O problema é que, como todo time pouco acostumado com esse tipo de defesa, o Bucks está cometendo cada vez mais erros nas trocas de marcação, deixando adversários livres após o corta-luz. O técnico Nick Nurse tem cada vez mais explorado isso, inclusive tirando a bola das mãos de Kawhi e, mesmo assim, incluindo ele no ataque. A jogada abaixo é incrível:

Vejam que Khris Middleton está tentando impedir Kawhi de receber um passe na linha de três pontos, mas Marc Gasol dá um aceno maroto com a cabeça, Kawhi bate para a cesta e aí acontece um passe em movimento para a enterrada. Giannis Antetokounmpo foi um dos melhores defensores da temporada justamente porque ele está sempre na cobertura impedindo que jogadas assim aconteçam, mas percebam que nesse caso ele aparece super atrasado, apenas para constar na fotografia. O motivo para a ausência de Antetokounmpo a gente pode ver com a câmera mais afastada:

Giannis está ocupado numa troca de marcação, acompanhando Siakam e cogitando perseguir Kyle Lowry, que passa correndo por ele. Essa nova função, que não é seu posicionamento habitual, leva o jogador a virar de costas para a bola, um erro MORTAL para quem precisa defender na cobertura. A jogada acontece em versão praticamente idêntica poucos minutos depois, como podemos ver no segundo vídeo acima, com outra enterrada de Kawhi, que nesse momento nem estava mais tendo que levar a bola para o ataque ou driblar seus defensores.

Depois desse passeio, o Bucks vai ter que reconsiderar seu trabalho defensivo: talvez eles escolham voltar à sua defesa original, desafiando Kawhi a arremessar do perímetro – onde seu aproveitamento não tem sido dos melhores nesses Playoffs -, talvez eles tentem trocar apenas quando Kawhi tem a bola nas mãos, marcando o resto da equipe do Raptors de maneira diferente. Talvez isso até permita que Brook Lopez fique menos exposto e possa voltar a produzir em quadra, vai saber. Só é difícil imaginar que veremos essa mesma defesa, nesses exatos moldes, em ação novamente. Quando as bolas do Bucks não estão caindo, o que é algo natural para times focados no perímetro, a defesa precisa dar um jeito de compensar e criar contra-ataques.

Mas o mais importante é que os arremessadores do Bucks voltem mesmo a acertar seus arremessos: já está mais do que evidente que o Raptors não dará espaço para as bolas de fora, mas dará AINDA MENOS se alguns arremessadores puderem ser abandonados sozinhos no perímetro. Os arremessos de fora são a chave não apenas para que o Bucks tenha uma chance de se manter no jogo, mas também para criar uma tensão para os arremessos de três do próprio Raptors – que, claro, coletivamente arremessa muito melhor e sem hesitar quando está à frente no placar – e, principalmente, para criar algum espaço para Antetokounmpo. Contra a defesa atual do Raptors, que soma Kawhi a uma marcação “fantasma” de Ibaka ou Marc Gasol, o grego não tem muitas oportunidades de pontuar fora dos contra-ataques, que são cada vez mais raros.

Para o Raptors, a possível lesão de Kawhi é uma incógnita. Mesmo baleado ele foi capaz de marcar Giannis e produzir eventualmente no ataque, mas precisará cada vez mais de seus companheiros acertando os arremessos difíceis que converteram nesse Jogo 4. Com ele em quadra, seja como estiver de saúde, seus companheiros já terão muito mais espaço para encontrar seus arremessos. No fundo, o Raptors para vencer a série precisa acertar mais bolas de três pontos do que o Bucks, já que as duas defesas são fortes demais e estão limitando o acesso ao garrafão. Se o elenco de apoio for capaz de converter esses arremessos, especialmente nos deslizes pontuais do Bucks, o Raptors pode se mostrar favorito para avançar para as Finais – como parece ser nesse momento, depois de mudar tanto a história da série até aqui. Por outro lado, o Bucks não costuma ter sequências muito ruins de arremessos em jogos consecutivos – a volta a Milwaukee será importante para que o time recupere seu ritmo no perímetro, e aí veremos como essa série que está atualmente “zerada” se ajustará para seu final.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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