Resumo da Rodada 22/4 – O Spurs vive

O San Antonio Spurs entrou em quadra ontem com as costas contra a parede: uma derrota decretaria o final da série, uma eliminação em casa e uma varrida para a conta. Ter uma partida muito melhor no Jogo 3 não foi suficiente, e passou uma impressão de que o Spurs simplesmente não tinha material humano suficiente para bater de frente com o Warriors, de que jogar bem não era o bastante. Sem o técnico Popovich no banco de reservas, novamente fora por conta do falecimento de sua esposa, a missão para o Jogo 4 parecia praticamente impossível.

Mas o Spurs entrou mais uma vez com aquela postura obstinada, quase obsessiva, de que ainda dava pra vencer. Foram poucos ajustes para essa partida, mas o principal foi jogar com mais velocidade e agressividade no ataque. Rudy Gay ganhou a ingrata função não apenas de arremessar mais, inclusive por cima de seus marcadores, mas também de atacar o rebote ofensivo com o máximo de fúria que ele conseguisse. O plano faz sentido porque para diminuir o ritmo do Warriors, que joga melhor em velocidade, existem basicamente duas receitas principais: uma é lutar pelos rebotes ofensivos, forçando o Warriors a não sair correndo para o ataque antes de proteger o garrafão e garantir o rebote; e a outra é acertar os arremessos, forçando o Warriors a colocar a bola em jogo na linha de fundo ao invés de ligando imediatamente o ataque na corrida. O Spurs fez o possível no Jogo 3 para acertar os arremessos, sem muito sucesso, então restava tentar os rebotes de ataque. No ataque, limitou-se a tentar arremessar mais rápido e puxar mais contra-ataques, além de continuar incentivando seus arremessadores – que não acertaram nada durante a série – a seguir tentando.

Logo de cara o plano do Spurs já parecia estar fazendo efeito. Rudy Gay conseguiu um rebote ofensivo, Danny Green acertou enfim uma bola de três pontos, e até Dejounte Murray, que só tentou uma única bola de três pontos na série e estava sendo deixado livre no perímetro pelo Warriors, acertou 3 bolas de três pontos no primeiro tempo. Sendo forçado a desacelerar, o Warriors tentou subir o ritmo do jogo à força, caindo no seu maior (se não único) grande defeito: os desperdícios de bola. A defesa do Spurs se manteve disciplinada e organizada e foi gerando turnover atrás de turnover. Só nos primeiros 3 minutos de jogo, o Warriors já somava 5 desperdícios. Quando começou o segundo quarto, já eram 8 deles contra NENHUM do Spurs.

A partida do Spurs não foi perfeita, continuou errando arremessos de longe e encontrar espaço para infiltrações é sempre um desespero, mas foi a partida CORRETA que o Spurs é capaz de dar nessas circunstâncias: pouquíssimos erros defensivos, pouquíssimos erros nos passes, e insistência para continuar arriscando os arremessos adequados. Isso não foi o bastante no Jogo 3, mas bastou o Warriors se atrapalhar um pouquinho – especialmente tentando passes agressivos, tanto nos contra-ataques quanto na meia quadra – para essa disciplina do Spurs dar ao time uma folga decente no placar. Ainda no segundo quarto, já vencia por 17 pontos – sendo que não tinha conseguido em nenhum momento na série chegar sequer a 9 pontos de vantagem.

Ainda no segundo quarto, o Warriors começou a se adequar. Começou o jogo com Andre Iguodala de armador principal, mas logo deixou a bola nas mãos de Draymond Green e aos poucos foi acalmando o ataque e deixando Kevin Durant atacar sozinho contra LaMarcus Aldridge. Coube a Rudy Gay, também, o desafio de defender Durant na cobertura lá na cabeça do garrafão – mesmo que para isso tenha aberto espaço embaixo da cesta, que o Warriors aproveitou com passes rápidos. O técnico Steve Kerr, num tempo técnico, disse para seu time que “já estavam jogando melhor, o resultado só não estava aparecendo no placar, mas logo apareceria”.

Foi o que aconteceu: mantendo um padrão, o Warriors voltou a ser o melhor time em quadra no terceiro quarto. O que salvou o Spurs de ser atropelado foi aquilo que não havia acontecido na série até aqui: as bolas de três pontos começaram a cair. O Spurs somou 24% de aproveitamento no perímetro durante as três partidas anteriores, mas dessa vez acertou mais da metade de seus arremessos de longe. LaMarcus Aldridge acertou duas bolas de três pontos contra JaVale McGee que puniram a defesa de garrafão do Warriors, abriram espaço para Tony Parker infiltrar e impediram um pouco o avanço do Warriors no placar. No quarto período, quando Kevin Durant parecia IMPARÁVEL, Aldridge acertou uma bola de três pontos HORRÍVEL, no desespero, por cima do seu marcador num giro desequilibrado, que acalmou os ânimos quando o placar apertou. É o tipo de bola que o Warriors converte para MATAR REAÇÕES, e dessa vez aconteceu do outro lado da quadra.

Para os minutos finais, Rudy Gay passou a marcar Durant pressionado, o tempo inteiro, não tentando parar seus arremessos, mas sim os PASSES na sua direção. Conseguiu forçar o Warriors a jogar algumas posses de bola sem participação de Durant justamente quando o time tinha se acostumado a apoiar nele na reação. Sobrou espaço para Draymond Green arremessar, mas sem sucesso, enquanto Manu Ginóbili – sempre ovacionado pela torcida e pelas CARAVANAS de argentinos que vão acompanhar sua suposta “última temporada” – converteu mais um par de bolas de três pontos para matar o jogo e abrir uma diferença intransponível, rumo à vitória por 103 a 90.

Ginóbili foi essencial para manter o PLANO: ele jogou com agressividade mesmo quando suas pernas o traíram, atacou as linhas de passe na defesa para gerar desperdícios de bola, e converteu suas bolas de três pontos. Ele é um MOTIVADOR, o líder simbólico dessa equipe, e manteve o elenco todo no mesmo caminho.

Dá pra vencer o Warriors mesmo sem uma partida perfeita? Sem dúvidas. Mas para isso é preciso que o Spurs não apenas faça as coisas certas, mas também CONVERTA as coisas certas em pontos – e que o Warriors se atrapalhe do outro lado, cometendo o máximo de desperdícios de bola possíveis. Se Steve Kerr está certo, jogar do jeito certo pode não dar resultado instantâneo, mas aparece mais tarde no placar. Quem sabe o Spurs seja recompensado por jogar certo com mais uma vitória, prolongando a série?


Outro time que parecia morto na série, embora não estivesse em risco de eliminação, era o Milwaukee Bucks. Jogando em casa, chegaram a estar perdendo o primeiro quarto por 7 pontos e aí, de repente, DESLANCHARAM. O dia estava tão bom que coisas assim aconteceram:

Esse roubou e bandeja BIZARROS do Dellavedova poderiam até virar o novo logo da NBA, que tal?

Pela primeira vez o Bucks pareceu aquilo que deveria ter parecido desde o princípio da série: o time mais atlético, mais forte e mais rápido. Pressionaram o Celtics sem parar no ataque e na defesa, perderam pouco a bola (foram apenas 9 desperdícios no jogo), puxaram contra-ataques sempre que possível e tentaram jogar de maneira mais física, atacando a cesta.

Enquanto isso, o Celtics simplesmente não conseguia pontuar: foi um festival de arremessos errados e infiltrações contestadas que levou a diferença no placar a 20 pontos. O jogo só não acabou antes da hora porque no segundo tempo Jaylen Brown pegou fogo. Começou a acertar as bolas de três pontos de que o Celtics precisava e, de repente, parecia IMPARÁVEL: foram 34 pontos para o pirralho. Aliás, quão surreal é que em sua segunda temporada de NBA ele tenha jogado 41 minutos num Jogo 4 e dado VINTE E QUATRO arremessos (convertendo 13) para salvar um ataque que passou todo o primeiro tempo sufocado?

Aos poucos o Celtics foi voltando pro jogo, o Bucks começou a perder algumas bolas e de repente, com Jayson Tatum – o NOVATO – acertando uma bola improvável de três pontos, eis que o Celtics estava, na miúda, à frente do placar. O Bucks é especialista em perder vantagens no placar e derreter em quartos períodos porque o ataque, que já não flui normalmente, fica completamente sem saber o que fazer, e a defesa é agressiva demais – o que é perigoso nesses momentos cruciais. Quem acabou salvando o ataque do Bucks foi Malcom Brogdon, finalmente titular, e que foi muito mais agressivo e criativo do que Eric Bledsoe em qualquer momento dessa série. Primeiro Brogdon matou uma bola de três pontos da zona morta, e depois tentou a bandeja vencedora em cima da super defesa do Celtics. Acertou? Não. Mas o que importa é que o Bucks tentou alguma coisa que não foi uma bola de três forçada ou uma bola com Antetokounmpo cercado por oito mil defensores. Pelo contrário: Antetokounmpo, embaixo da cesta onde passou a maior parte do jogo, atraiu marcação suficiente para Brogdon conseguir uma tentativa razoável. E aí, por ser o cara MAIS FORTE DO PLANETA, Antetokounmpo conseguiu o tapinha que salvou o erro de Brogdon e venceu o jogo.

Em teoria, ter Antetokounmpo puxando contra-ataques é incrível porque ele é mais forte e mais rápido do que a maioria dos jogadores adversários. Mas na meia quadra, em geral o que vemos são defesas inteiras fechando nele, forçando que ele passe a bola com dezenas de mãos tentando atrapalhá-lo. Mais perto do aro, sem a bola, o grego conseguiu ser mais agressivo por ter menos defensores preparados para ele – e ganhou a chance de vencer, na força bruta, o espaço que ele precisava para salvar o jogo. Foi apertado, 104 a 102, mas foi bem melhor do que outras coisas que vimos o Bucks fazer em momentos decisivos. Antetokounmpo precisa ser colocado em melhores situações para pontuar – e precisa, também, ser ATENDIDO quando ele vai comer tacos depois de vencer o jogo para o Bucks! Pelo jeito ele passou uma eternidade de pé esperando uma mesa, com várias pessoas do lugar tentando ceder a mesa pra ele, mas os donos do lugar não entenderam nada e deixaram ele esperando, até que o grego encheu o saco e foi embora. O restaurante só percebeu hoje a MERDA QUE FEZ e prometeu que no próximo jogo do Bucks vai ter uma mesa vazia reservada para o Antetokounmpo – e taco de grátis pra todo mundo se o time vencer.


A coisa mais importante da partida entre Cavs e Pacers é que outra vez o elenco do Cavs apareceu com ternos idênticos, dessa vez com mais cara de Homens de Preto:

Na quadra, tivemos mais uma aparição do SUPER LEBRON decidido a vencer o jogo sozinho. Foram 23 pontos no primeiro tempo, mantendo na marra a liderança do Cavs nessa primeira metade apesar dos constantes erros na defesa de transição da sua equipe. O técnico Tyronn Lue tentou uma ENXURRADA de composições diferentes de quinteto, misturando todo mundo pra ver se encontrava um grupo capaz de parar os contra-ataques do Pacers e manter um ataque minimamente organizado do outro lado. Kevin Love foi substituído com menos de 3 minutos de jogo, para dar lugar a Tristan Thompson, que praticamente nem tinha jogado na série. Na ausência de George Hill, com problemas nas costas, rolou até Jeff Green de armador principal no segundo quarto, compondo um time mais atlético ao lado de Larry Nance Jr, Kevin Love e Jordan Clarkson, e que até deu certo. O único elemento comum a todos esses quintetos? LeBron James. Foram QUARENTA E SEIS minutos para ele, rumo a 32 pontos, 13 rebotes e 7 assistências.

O problema é que tantos minutos cobraram seu preço. No segundo tempo LeBron teve que controlar seu ritmo, participar menos do ataque e praticamente não tentou nenhuma infiltração. Faltando 6 minutos para terminar o jogo, LeBron tinha apenas 3 pontos no segundo tempo – vinte a menos do que na metade anterior. Foi o suficiente para, aos pouquinhos, o Pacers ir encostando no placar.

Victor Oladipo está tendo que enfrentar a mesma defesa que matou Damian Lillard na série contra o Pelicans, com dobra de marcação em todo corta luz, e até Darren Collison passa pela mesma situação às vezes, talvez pela força do hábito do Cavs. O resultado foi que Oladipo acertou apenas 5 de 20 arremessos, com Collison acertando 5 de 14. Bogdanovic também recebeu atenção especial na zona morta depois de destruir no jogo anterior, com defensores abrindo mão do garrafão para segui-lo no perímetro. O Pacers só voltou pro jogo porque não cometeu NENHUM desperdício de bola no terceiro quarto inteiro e Myles Turner acertou seus arremessos de fora do garrafão que ele tanto hesitou nas outras partidas, acabando com 17 pontos e 3 bolas de três pontos em 4 tentativas.

No começo do quarto período, a liderança do Cavs que chegou a 16 pontos já havia se transformado em uma derrota por 3 pontos no placar. LeBron não apenas pareceu cansado (talvez “comedido”) como foi o tempo inteiro perseguido – e enlouquecido – por Lance Stephenson. Stephenson é um desastre, um trem descarrilhado, faz coisas que não tem SENTIDO NENHUM, mas às vezes ele consegue incomodar o suficiente para atrapalhar um adversário. É um cara que de repente, do nada, vai lá e faz isso aqui com você:

E quando teve a chance, se ENGALFINHOU com LeBron, erguendo a bola depois como se fosse SEU TROFÉU:

E que quando EMPOLGOU e achou que estava vencendo o jogo, foi lá e resolveu DESFILAR PELA QUADRA esquecendo de bater a bola:

Mas quando o Cavs perdeu a liderança no placar, a coisa mudou de figura. LeBron voltou a atacar a cesta e, sei lá porque, resolveu confiar em Kyle Korver no ataque. Foram duas bolas de três pontos do arremessador que, sinceramente, está tendo uma série melhor na defesa do que no ataque (o que é demérito do ataque, não mérito da defesa). E quanto mais jogadas o Cavs fazia especialmente para Korver arremessar, mais espaço sobrava para LeBron decidir o jogo. Olha a jogada abaixo, que maravilha:

Ficou todo mundo concentrado nos dois corta-luzes para Korver e LeBron só precisou correr para a cesta, abrindo uma vantagem nos minutos finais que o Pacers não conseguiu recuperar. Stephenson até tentou gerar uma bola presa (marca registrada) nos segundos decisivos para empatar o jogo, mas como ele só sabe ENGALFINHAR acabaram marcando uma falta dele e o jogo virou farofa, 104 a 100:


O Wizards era outro que parecia meio sem esperança e tirou uma vitória de dentro da orelha na rodada de ontem. O truque? O OPOSTO de tudo aquilo que aprendemos sobre como defender o Raptors. Depois de tentar dobrar em DeRozan e em Kyle Lowry, como sempre foi feito contra eles na pós-temporada, o Wizards percebeu que o resto do elenco estava matando os jogos, incluindo os reservas que passam a bola com velocidade e precisão. A equipe de Washington resolveu, então, tentar o contrário: manter DeRozan e Lowry sob marcação individual, trocando os marcadores a cada corta-luz (ao invés de dobrar a marcação), e impedindo a todo custo os passes, interrompendo as linhas de passe. Forçaram o Raptors a voltar no tempo e ser um time de mano-a-mano, só com jogadas individuais.

DeRozan foi obrigado a forçar o jogo, infiltrando sozinho e na marra, e cobrou 18 lances livres no processo – mas também teve que dar 29 arremessos na partida, acertando apenas 10. Além disso, cometeu 4 dos 18 desperdícios de bola do time, já que as linhas de passe estavam todas congestionadas. O Wizards se aproveitou desses desperdícios para CORRER PELA SUA VIDA, jogando o máximo possível no contra-ataque – só que o Raptors respondeu na mesma moeda, forçando erros e também correndo na quadra aberta. Ao todo foram QUARENTA E DOIS pontos de contra-ataque no jogo, 22 para o Raptors e 20 para o Wizards. Foi uma loucura, com contra-ataques gerados em defesas de contra-ataque, e o Raptors em geral levando a melhor, tipo isso aqui:

Parecia que ia ser mais uma derrota para o Wizards, até que no terceiro quarto o time PIROU na linha de três pontos: Breadley Beal meteu três bolas, Otto Porter Jr. meteu outras duas, o Wizards fez 40 pontos no período e assumiu a liderança. Mais uma daquelas vezes em que nosso INSTINTO é achar que o Raptors vai derreter.

Mas outra vez não foi o caso: o Raptors se recompôs, os reservas entraram em quadra e fizeram uma sequência de 10 pontos a 2, retomando a liderança. Já está na hora da gente parar de achar que o Raptors vai virar farofa frente a qualquer adversidade, não é mesmo? Isso, vamos começar a confiar nesse time! Eles sabem lidar com a pressão!… Breadley Beal continuou iluminado no quarto período, marcando 8 pontos no quarto até sair com sua sexta falta. Hora da virada do Raptors? Não, porque John Wall tomou para si a MISSÃO de salvar o Wizards. Foram 10 pontos para o Wall no quarto período, fora as 3 assistências. Finalmente a dupla pareceu impossível de marcar e o Raptors deixou escapar a vitória por 106 a 98. Ao todo, 31 pontos para Beal, 27 pontos para Wall. Não foi DERRETIDA, mas também não foi bonito para o Raptors. Se acontecer outra vez, a gente não perdoa. Fica o aviso.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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