Resumo da Rodada 24/5 – O dilema do Warriors

Em 4 jogos entre Houston Rockets e Golden State Warriors nessas Finais de Conferência, tivemos 3 vitórias fáceis (duas surras do Warriors, uma surra do Rockets) e apenas um jogo apertado, truncado, de placar baixo, que o Rockets venceu contra todas as expectativas fora de casa. Para o Jogo 5, ao invés das surras tivemos um repeteco da partida anterior: jogo disputado, brigado, de placar baixo.

É curioso que dois ataques históricos acabem, depois de tantos confrontos na pós-temporada, achando como ponto de “equilíbrio” jogos de placar limitado. Os dois times aprenderam com os erros, as defesas conhecem perfeitamente bem o adversário, e concessões foram sendo feitas para, no pensamento de cada time, maximizar suas chances de vitória. Acontece que essas concessões, esses ajustes, acabaram se tornando mais evidente na diminuição do poder de ataque dos dois times. O resultado não é bonito, não é um emblema do basquete moderno e não vai angariar muitos fãs novos, mas é verdadeiramente interessante do ponto de vista tático – e uma série muito mais disputada do que a maior parte dos torcedores imaginava. Trata-se de um desses exemplos de que cada encontro entre dois times é novo, único: nos Playoffs, um time força o outro a decisões inusitadas, o que por sua vez força o adversário a novas decisões inusitadas, num processo que testa o repertório e o limite das equipes e que, muitas vezes, acaba por DEFORMÁ-LAS ao ponto de que se tornam irreconhecíveis. Se eu cruzasse com o Warriors na rua jogando do jeito que estão, não seria capaz de perceber sequer para pedir um autógrafo. Não se trata do Warriors “em si”, mas sim do Warriors ENQUANTO AFETADO PELO ROCKETS, e vice-versa. E se o resultado pode não ser particularmente agradável, ver esses times se transformando é o que torna is Playoffs o momento mais legal do basquete.

No primeiro quarto desse Jogo 5 o Warriors marcou apenas 17 pontos, no que parecia uma continuação DIRETA do quarto período do Jogo 4, em que o Warriors marcou apenas 12 pontos. Foram 4 desperdícios de bola para o time e total incapacidade de achar arremessos de três pontos na transição. O time oscilou dois momentos: ou tentou correr com a bola, puxar contra-ataques e acabou desperdiçando a bola no processo frente à forte defesa do Rockets, ou o time tentou as jogadas no mano-a-mano, com menos chance de perder a bola, saindo de sua característica fundamental de rotação de bola para ser um ataque alimentado simplesmente por Kevin Durant sendo marcado por adversários menores do que ele.

Durant acertou 5 dos 10 arremessos que deu no primeiro quarto, mas foi muito pouco para se equiparar a um ataque do Rockets alimentado pelos desperdícios de bola iniciais. O Rockets só não DISPAROU no placar porque errou uma infinidade de bolas livres na transição, especialmente no perímetro. A vantagem de apenas 6 pontos para o Rockets tinha gosto de derrota.

Se o ataque mano-a-mano de Kevin Durant não estava dando particularmente certo, também não estava dando particularmente errado. Ele é um dos maiores pontuadores do jogo e pode arremessar por cima de todos os seus marcadores, sobrando para o Rockets apenas a função de pressioná-lo, marcá-lo no corpo e incentivá-lo a colocar a bola no chão, atacando a cesta onde a defesa pode dobrar nele embaixo do aro. Ele ainda certa MUITAS bolas nessa situação, mas ao menos você cria chances de erro como esse abaixo:

O Warriors tentou desesperadamente encontrar o equilíbrio entre duas abordagens muito distintas: por um lado não podia abrir mão de Durant, que estava salvando o ataque, mantendo o time próximo no placar e pontuando, ainda que com mais dificuldade, em cima da defesa do Rockets; por outro lado, ter apenas ele em jogadas individuais tornava o ataque estático, a defesa do Rockets mais e mais preparada, e se fazia necessário voltar ao basquete coletivo, de muitos passes e arremessos de fora. Steve Kerr, microfonado no banco, tentou convencer Durant de que mesmo Michael Jordan tinha que confiar nos seus companheiros, e que o técnico Phil Jackson incentivava Jordan a passar a bola sempre que alguém estivesse livre. O Warriors precisava de passes precisos, pontuais, para tentar bater a forte defesa adversária. Mas toda vez que algo dava errado a bola já estava de novo com Durant, que tem uma dificuldade enorme de passar a bola no meio de suas movimentações ofensivas, seja em contra-ataques, seja no meio de sua dinâmica de arremesso. Aos poucos, o Rockets começou a dobrar a marcação no meio do ato de arremesso de Durant, dificultando ainda mais a sua vida. Ao todo, Durant deu 22 arremessos, acertando 8 deles.

Parece longe do ideal, mas quanto menos o Warriors passava a bola, menos desperdícios cometia e pior ficava o ataque do Rockets. James Harden teve uma dificuldade monstruosa no mano-a-mano, especialmente porque FINALMENTE o Warriors passou a designar um marcador na sobra apenas para ele. Vejam no vídeo abaixo Kevon Looney se dirigindo para o lado esquerdo de Harden, seu favorito, apenas para cobrir uma possível infiltração – o que leva Harden a tentar, e errar, um arremesso de três pontos:

Nessas situações Harden pode infiltrar e acionar Capela quando Looney o abandona, mas a escolha do Warriors foi por sempre deixar alguém grudado em Capela – o responsável por fazer essa “sombra” numa possível infiltração de Harden era o marcador de outro jogador, mais especificamente de quem estivesse na zona morta oposta, dando tempo do Warriors rodar a defesa se necessário. É difícil de fazer e muitas vezes o Warriors não fez a tempo, como na jogada abaixo:

Mas foi suficiente para Harden preferir, ao invés de infiltrar em toda jogada, arremessar por cima dos seus defensores – arremessos de que ele gosta, é verdade, mas que são TODOS contestados. Ao todo, Harden tentou 11 bolas de três pontos e não acertou nenhuma. Incluindo na conta também o Jogo 4, Harden errou as últimas VINTE bolas de três pontos que tentou – 19 delas contestadas pelo seu defensor. É um desses casos em que PARECE que o Rockets está fazendo direito, em que esse é o plano de jogo mesmo, e que Harden tem uma vantagem sobre os defensores, só não está dando NADA certo. O mesmo vale para o Rockets: grande parte dos arremessos de três pontos foram dentro do plano da equipe, só não entraram – foram 13 acertos em 43 tentativas do perímetro para a equipe, e míseros DOIS pontos de contra-ataque por puro desperdício de bons arremessos.

No terceiro quarto – os TEMÍVEIS TERCEIROS QUARTOS DO WARRIORS – o time visitante voltou passando mais a bola, deixando Kevin Durant de lado um pouco e tentando retomar sua identidade. Klay Thompson entrou no jogo, acertou duas bolas de três pontos, o time assumiu a liderança no placar. Mas foram também 5 desperdícios de bola, que SALVARAM o Rockets quando Harden não estava conseguindo produzir nada que não fossem lances livres esporádicos. Além disso, o Rockets se beneficiou da presença de David West em quadra: Chris Paul assumiu o ataque de mano-a-mano contra ele, marcou uns 8 pontos seguidos na cabeça do adversário e West teve que sair apressado da quadra. Na única jogada em que Chris Paul foi bem marcado por West, o armador do Rockets fez isso:

Steve Kerr simplesmente não pode usar todo o seu banco, eles são destroçados em quadra. E no duelo individual contra Stephen Curry, que também é um alvo prioritário para o ataque do Rockets, Chris Paul fez isso aqui, com direito a imitação do SACOLEJO como se fossem crianças de 10 anos:

Dá pra perceber nessa série que os dois times encontram os duelos que querem: Kevin Durant contra Harden, Chris Paul ou Eric Gordon e Stephen Curry contra Harden por um lado, e Harden e Chris Paul contra Curry, David West e Kevon Looney do outro. O problema é que nesse momento da série, com as defesas tão calejadas, mesmo esses confrontos “ideias” são bem defendidos, contestados. Não deixam de ser bons arremessos – afinal, são os arremessos planejados, aqueles que os times acreditam que serão os melhores que eles podem conseguir – mas ainda assim são arremessos de grande dificuldade. O Rockets errou muitos, incluindo alguns mais fáceis, e Harden errou TODOS, mas bastou Chris Paul acertar alguns desses arremessos complicados para qualquer momento que o Warriors conquistou no terceiro período virar farofa. E com o quarto período começando com uma diferença de apenas um ponto no placar, parecia que a vitória viria para quem acertasse mais arremessos difíceis.

O Warriors até tentou, especialmente no quarto período, recusar os confrontos “ideias” que Harden queria. Pegou o Rockets de surpresa, porque estava tão acostumado com as trocas de marcação automática que sequer tinha preparado um corta-luz “de verdade”. Mas durou apenas uma ou duas posses de bola: rapidinho o Rockets já tinha na manga jogadas com DOIS corta-luzes simultâneos que forçavam o Warriors a trocar de qualquer jeito. É só pra mostrar que os times não cedem as trocas por preguiça, mas porque SABEM QUE NÃO ADIANTA LUTAR. Dá pra pegar o adversário despreparado de repente, dobrando uma marcação pontual, trazendo uma “sombra” para Harden do outro lado da quadra quando ele atacar em ângulos específicos, mas qualquer coisa que for usada demais será dissecada e perderá sua validade muito rápido.

E foi o caso com Durant saindo de seu jogador para cobrir uma infiltração de Harden, a 1 minuto e meio do fim do jogo, quando o Rockets conseguiu um passe preciso e encontrou Eric Gordon para uma bola de três pontos que deu ao time da casa 4 pontos de vantagem no placar. Harden sabia que a cobertura viria, que o Warriors estava abrindo mão de marcá-lo individualmente em infiltrações, e por isso deixou Curry para trás com um drible e na sequência acionou Gordon.

Do outro lado da quadra, o Rockets fez o mesmo: dobrou a marcação em Durant para evitar um arremesso, e aí a bola rodou, Eric Gordon cobriu perfeitamente bem Stephen Curry, e sobrou para Draymond Green arremessar e converter sua única bola de três pontos da noite. Com a diferença no placar em apenas um ponto, Chris Paul assumiu o mano-a-mano, atacou Quinn Cook e errou um floater por cima do marcador – caindo no chão, sentindo a coxa, e INCAPAZ de voltar para a defesa. Tudo que lhe restou foi ASSISTIR AO APOCALIPSE:

O Warriors fez um contra-ataque perfeito, o Rockets fechou o garrafão para a infiltração de Draymond Green e então Green acionou seu companheiro livre: Quinn Cook, o pirralho, aquele que só entrou nessa série porque Nick Young tem sido um desastre, e que jamais estaria em jogo se Andre Iguodala estivesse disponível. Ali o UNIVERSO PAROU e Quinn teve que tomar uma decisão: ou abria mão do arremesso, passando a bola para Stephen Curry que se aproximava, arriscando um passe desperdiçado, ou dava um arremesso completamente livre, no preceito do time de não abrir mão de arremessos em situações excelentes, mesmo que ele fosse o reserva do reserva. Quinn decidiu arremessar – e errou.

O Warriors ainda teve outra chance de empatar o jogo, logo na sequência, e dessa vez escolheu deixar Stephen Curry no mano-a-mano. Com um corta-luz simples elegeu James Harden como seu defensor e então infiltrou – algo que não é sua marca registrada mas que o Warriors pensa QUE SE DANE, ESTÁ DANDO CERTO. Só que a defesa do Rockets fez o ajuste, fechou o caminho para o aro com PJ Tucker na hora exata e Curry teve que fazer um arremesso difícil – que, ao contrário das bolas de Chris Paul no terceiro quarto, não caiu.

O Rockets sofreu a falta imediatamente, errou um lance livre do outro lado e então o Warriors se viu com uma TERCEIRA CHANCE de empatar ou virar o jogo, perdendo por 2 pontos dessa vez a 6 segundos do fim. Mais uma vez bola nas mãos de Stephen Curry correndo da defesa para o ataque, mas o Rockets fez novo ajuste: Clint Capela abandonou o garrafão e foi dobrar em Curry no meio da quadra. Ainda em movimento Curry acionou então seu pivô, Draymond Green. Acontece que ele não estava livre com a investida de Capela, estava marcado por Eric Gordon – que teve uma partida defensiva impecável. Sabe quem estava livre de novo? Quinn Cook, o responsável por cobrar o lateral e que sequer correu para o ataque depois disso. O Rockets escolheu não marcar a saída de bola, usou Capela para forçar Curry a abrir mão da bola, apertou todos os outros jogadores e o resultado foi Draymond Green recebendo um passe em movimento, correndo para a cesta, sob marcação de Eric Gordon. Ou seja: muita coisa para dar errado.

E deu, claro: o passe de Curry foi baixo demais, Draymond Green não quis parar para pegá-lo, tentando manter sua dinâmica de movimento para atacar Eric Gordon, e o resultado foi Green chutando a bola, todo desequilibrado, e abrindo mão da chance de arremesso. Vitória, mais uma vez, para a defesa do Rockets.

O Warriors tem muitas coisas para pensar com esse jogo. Seu melhor momento na partida, o terceiro quarto, veio com ritmo acelerado, muitos passes, contra-ataques e bolas de três pontos. Mas esse mesmo plano foi um DESASTRE no primeiro quarto, desperdiçando a bola e dando pontos fáceis para o Rockets, e deu errado novamente na jogada final, com Curry tentando passar em velocidade e, com isso, aumentando as chances de algo sair do controle. Correr tem gerado o melhor e o pior do Warriors, e o medo do pior – que fica explicitado pelo poder da defesa do Rockets – está forçando o time a abrir mão de sua identidade e, também, abrir mão de seu melhor. Kevin Durant num basquete de mano-a-mano não é o melhor que o time pode fazer, mas também nunca dá MUITO ERRADO, de modo que o time acaba se refugiando nele mesmo que Steve Kerr esteja desesperado pedindo para Durant passar a bola. Foram 29 pontos para Durant, mas NENHUMA assistência.

E contra esse time mediano, que abre mão do seu melhor para escapar do seu pior, o Rockets parece tirar vantagem: o basquete de mano-a-mano está perfeitamente dentro daquilo com que o time se acostumou ao longo da temporada regular, mesmo quando Harden está errando tudo. Sem Chris Paul, que não deve jogar o Jogo 6, será mais difícil, mas o Rockets certamente está mais dentro de sua zona de conforto. O Warriors, por sua vez, precisa decidir: acha que Durant é a melhor saída e só precisa ajudá-lo a brilhar mais, ou deve retomar sua identidade, que pode dar muito certo ou muito errado (e várias vezes, num mesmo jogo) arriscando o que pode se transformar, por puro azar e desperdícios de bola, numa derrota acachapante no Jogo 6 – que seria o fim da temporada para o time? Pode não ser bonito e estar recheado de TIJOLADAS, mas é por uma série com decisões assim que acompanhamos basquete. Aproveitemos!

 

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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