por Denis
O assunto da tarde de ontem na interwebs da NBA foi o Toronto Raptors: foi porque jogaram bem? Talvez tenham vencido o Cleveland Cavaliers? Acharam um jeito de parar LeBron James? Não. O que aconteceu é que eles estão oficialmente ELIMINADOS da temporada e partem agora para uma das offseasons mais interessantes da liga.
Depois de ver DeMar DeRozan fazer a melhor temporada da vida e de movimentar o mercado de trocas para pescar PJ Tucker e Serge Ibaka, abrindo mão de peças importantes do time, eles descobriram que isso não serviu nem para fazer cócegas no atual bi-campeão do Leste. Esse decepção aguda chega junto com diversas decisões a serem tomadas: Kyle Lowry e Serge Ibaka serão Free Agents buscando dinheiro GRANDE, o time precisa se livrar de DeMarre Carroll e/ou Jonas Valanciunas para abrigar os novos contratos e precisa definir o que quer para os próximos anos: se manter no topo do Leste e torcer para a sorte virar ou dar passos para trás e buscar jogadores um pouco mais jovens, talvez esperando a dominância de LeBron dar uma aliviada enquanto os jovens do time (DeRozan, Powell, Poetl e o próprio Valanciunas) amadurecem. E, claro, devem pensar se continuam com o técnico Dwane Casey ou se buscam um novo nome para chacoalhar as coisas: talvez promover Jerry Stackhouse, campeão da D-League com o afiliado do Raptors?
Não só a discussão do futuro do time canadense é fascinante, como é muuuuito mais interessante do que a série que eles acabaram de disputar contra o Cavs. Após 4 jogos, nenhum ajuste tentado por Casey surtiu efeito, e LeBron James e Kyrie Irving brincaram de magoar canadenses. LeBron marcou exatos 35 pontos em 3 dos 4 jogos, no outro fez 39. Em TODOS acertou ao menos 50% dos seus arremessos e fez 13/25 bolas de 3 pontos!
Preview of LeBron James' 2017 playoff run.
— NBA SKITS (@NBA_Skits) May 8, 2017
Foi impressionante, mas nem tão surpreendente, ele é LEBRÃO JAMES afinal! O que me pegou mais de surpresa foi ver Kyrie Irving como um criador de jogadas! Não no sentido Chris Paul de coordenar a posição de todo mundo, mas mais do jeito Russell Westbrook de ser indefensável e usar a atenção da defesa para encontrar finalizadores. Em 4 partidas, ele teve jogos de 10, 11, 9 e 4 assistências. Sua média durante a temporada regular foi de 5.8.
Esse jogo que destoou, com apenas 4 assistências, foi o de ontem: o Toronto Raptors, que novamente não contou com Kyle Lowry, machucado, na marcação dele, contou com boa performance individual de Cory Joseph e boa mobilidade dos coadjuvantes para minar os passes de Irving, que foi obrigado a arremessar (e errar). Mas no último quarto de jogo, quando o Raptors TINHA A LIDERANÇA e parecia que iria se salvar da eliminação em casa, Irving fez jus à fama de jogador decisivo e fez ONZE pontos em sequência, virando o jogo nos minutos finais e decidindo a série.
Em Washington, o Wizards usou mais uns deses MINUTOS DE INFERNO para engolir o Boston Celtics e empatar a série em 2 a 2. Até agora, em TODOS os jogos o time de John Wall e Bradley Beal conseguiu humilhar seu adversário em sequências perfeitas e avassaladoras de pontos sem resposta. Até agora a maioria tinha acontecido no primeiro quarto, mas dessa vez foi na volta do intervalo: o jogo estava empatado na virada, o Celtics abriu uma diferença mínima nos primeiros minutinhos do segundo tempo e de repente…
Let's take a closer look at the Wizards game-breaking run in their win over the Celtics. pic.twitter.com/UoOLR0WFH7
— ESPN Stats & Info (@ESPNStatsInfo) May 8, 2017
Eles fizeram VINTE E SEIS a ZERO! Em 6 minutos! Tudo o que vocês podem imaginar que estava no plano de jogo do Wizards deu certo nesse período: contra-ataques com John Wall, post-ups sobre Isaiah Thomas, interceptações das linhas de passe, rebotes de ataque… pegaram todos os defeitos do Celtics e espremeram por alguns minutos até sair as vísceras do time de Brad Stevens, que até tentou pedir tempo uma vez no miolo da sequência, mas não adiantou nada.
About that 26-0 run ?#DCFamily #WizCeltics pic.twitter.com/99EWcO2TD5
— Washington Wizards (@WashWizards) May 8, 2017
Times que tem plantel para transformar erros em contra-ataques fáceis tem o poder dessas sequências avassaladoras de pontos. Erro vira cesta fácil, causa desespero no adversário, inflama a defesa e o desastre está feito. O que não é comum é ver sequências tão longas, e nem tão corriqueiras. Nos dois jogos em Washington o Celtics fez jogo duro por 3 períodos só pra ver tudo ir por água abaixo ao perder uma etapa por iguais VINTE E DOIS pontos: o primeiro período no Jogo 3, o terceiro período no Jogo 4.
Todo o resto do jogo, desde o grande primeiro tempo de Isaiah Thomas até os problemas que Al Horford cria quando tem jogado perto da cesta, se tornam irrelevantes quando o placar a inalcançável. Muitos técnicos gostam de falar em “compostura” para enfrentar as inevitáveis adversidades de cada partida, é o que faltou ao Boston Celtics nas últimas partidas.
por Danilo
Precisando empatar a série, Patrick Beverley entrou mais uma vez como titular mesmo tendo acabado de perder seu avô, mais uma das muitas notícias tristes que vem povoando esses Playoffs. Sua presença foi essencial logo no começo do jogo: pressionando o novato Dejounte Murray, ajudou a encaixar a defesa do Rockets e criar, ainda no primeiro quarto, uma vantagem de 15 pontos no placar. Dos primeiros 27 pontos da equipe, 8 vieram apenas de contra-ataques gerados por roubos de bola. Ao todo foram 12 pontos gerados por turnovers do Spurs no primeiro quarto, contra nenhum pontinho do outro lado. Isso foi essencial para o Rockets porque mais uma vez a defesa do Spurs se concentrou em não deixar que James Harden acionasse os pivôs embaixo da cesta, de modo que Capela e Nenê só receberam assistências do Barba em contra-ataques, com a defesa do Spurs má posicionada.
Mas como as notícias ruins se acumulam, Nenê trombou com Jonathon Simmons no garrafão e saiu de quadra com uma lesão, que só hoje descobrimos que foi um rompimento na virilha, o que deve deixar o brasileiro fora dos Playoffs num mero acaso – justo nessa temporada em que Nenê encontrou um time disposto a ajudá-lo a cuidar do corpo (quem falar sobre “Maldição Bola Presa” apanha!).
INJURY UPDATE: Nenê will miss the remainder of the postseason with a left adductor tear. https://t.co/hX0qVv5ljg pic.twitter.com/Ia9W0LQei2
— Houston Rockets (@HoustonRockets) May 8, 2017
Sem Nenê, Mike D’Antoni foi obrigado a experimentar com diferentes formações. Tentou colocar Patrick Beverely em Kawhi Leonard para descansar Trevor Ariza, num desastre terrível que permitiu ao ala do Spurs dominar o jogo. Tendo errado todos os seus 19 arremessos de três pontos em Houston nesses Playoffs, Ryan Anderson estava receoso em arremessar e ficou jogando batata-quente com Beverley, que também evitando arremessos, acabava forçando floaters tolos por cima da defesa, um repeteco do jogo anterior em que o Spurs tranco o aro e forçou o Rockets a esses arremessos de média distância idiotas. Até que D’Antoni resolveu apostar todas as suas fichas no small ball: sem Nenê, era a hora de tentar jogar baixo.
Com Beverley, Lou Williams, James Harden, Eric Gordon e Ryan Anderson o Rockets começou sua recuperação. Anderson teve mais espaço para arremessar e acertou 3 bolas do perímetro, enquanto o resto do elenco usou a velocidade para infiltrar e para criar espaços para as bolas de três pontos. No segundo tempo, Eric Gordon foi titular e rapidamente Ryan Anderson entrou para assumir o cargo de pivô. O Rockets choveu bolas de três pontos como se não houvesse amanhã e acertou sua décima quinta (o número mágico que, se alcançado antes do adversário, garantiu a vitória do Rockets durante toda a temporada) no estouro do relógio do terceiro quarto. Com um time mais alto, naquele ponto o Spurs havia acertado apenas 5.
Todas as dezenove bolas de três pontos do Rockets no jogo
Mas essa formação nanica só funcionou por dois motivos: o primeiro foi o trabalho MONUMENTAL que o Rockets fez no box out, protegendo o garrafão para os rebotes defensivos e dando “tapinhas” para enviar os rebotes na direção correta; o segundo foi que o Spurs, no ataque, foi totalmente incapaz de se aproveitar da vantagem em tamanho. Insistindo com o time mais alto possível, Popovich exigiu que LaMarcus Aldridge e Pau Gasol atacassem a cesta com agressividade. Gasol passou a maior parte do segundo tempo marcado por James Harden e não conseguiu usar seu jogo de costas para a cesta, enquanto LaMarcus Aldridge perdia várias bolas ao ser marcado por Capela ou Ryan Anderson e se limitava a arremessos de baixo aproveitamento. Apenas em contra-ataques o Spurs conseguia fazer Harden marcar Aldridge e aí o jogador do Spurs tirou vantagem, mas a situação não aconteceu o suficiente.
Para o Spurs, o excesse de tamanho só atrapalhou na defesa. Com Aldridge ou Gasol tendo que marcar Harden numa quantidade enorme de bolas, o Barba simplesmente fez isso aqui:
A lebre e a tartaruga
Pesadelo para a defesa focado no garrafão do Spurs, Eric Gordon e James Harden somaram 10 bolas de três pontos convertidas. O Spurs não teve nenhuma resposta para o small ball, Popovich não tinha nenhuma carta na manga e quando o quarto período começou colocou todos os reservas, jogou a toalha e já começou a pensar na próxima partida.
A diferença só não foi maior porque Harden empolgou e deu muitos passes errados que viraram uma sequência de 8 a 0 num pedaço do terceiro período. Mas com a vantagem sempre na casa dos 20, não fez muita diferença. A ausência de Nenê é muito, muito, muito triste, não só pela história do jogador mas pelo que ele oferece mental e fisicamente para esse time. Mas a verdade é que o small ball do Rockets foi muito mais eficiente nessa série e exigirá que Popovich encontre uma solução com um elenco que não soube aproveitar seu tamanho e não tem muitas opções para acompanhar a correria. O que será que ele vai inventar?