Resumo da Rodada 26/5 – A chuva

Depois da derrota no Jogo 5, o Golden State Warriors foi duramente criticado por estar jogando completamente fora da sua identidade, isolando Kevin Durant em jogadas de mano-a-mano. A confiança de que a mudança no estilo de jogo era necessária para o confronto contra o Houston Rockets – às vezes é preciso fazer concessões ao adversário – virou farofa em definitivo após perder o último jogo. Enfrentando uma possibilidade de eliminação, o Warriors resolveu que poderia até perder, mas seria NOS PRÓPRIOS TERMOS. E se Kevin Durant sendo isolado contra defensores menores é bom, mas não bom o suficiente, então o time voltaria para seu estilo habitual de jogo.

O técnico Steve Kerr até tentou, sem sucesso, equilibrar as duas opções nas últimas partidas. Insistiu que Kevin Durant passasse a bola ENQUANTO jogava no mano-a-mano, o que definitivamente não é sua praia e, convenhamos, é mesmo um plano de jogo um tanto confuso. Para o Jogo 6, então, a mudança foi categórica: chega de Durant isolado contra seus defensores. Passa a faquinha, corta pela raiz. Era hora de voltar às origens.

E foi sob esse preceito que no primeiro quarto Durant acertou apenas um dos 6 arremessos que tentou, que o time inteiro converteu apenas uma bola das suas 7 tentativas do perímetro, que o time desperdiçou 4 bolas e que a liderança do Rockets chegou a 17 pontos no placar. Foi uma aula para nos mostrar não apenas como o Rockets é um time incrível, mas também os motivos para o Warriors ter apostado tão incondicionalmente em Durant ao longo da série – aquela aposta mediana, mas segura.

Uma das jogadas mais características do Warriors, que são os corta-luzes fora da bola para que algum jogador – geralmente Klay Thompson, Stephen Curry ou Kevin Durant – saiam livres na zona morta, foi completamente cancelada pelo Warriors no primeiro quarto. Toda a rotação de bola do time, a movimentação ofensiva constante e o trabalho de corta-luzes foram inutilizados por uma defesa impecável do Rockets, com trocas de marcação perfeitas e jogadores – especialmente James Harden – atacando as linhas de passe, interceptando as bolas no meio do caminho e gerando contra-ataques. Quando as bolas não eram roubadas os passes simplesmente não criavam o espaço necessário para bons arremessos, de modo que a maior parte deles foi duramente contestada. Para acertar sua única bola de três do quarto, Curry teve que arremessar quase do meio da quadra:

Além disso, infiltrações rápidas, com trocas de passe, encontraram resistência no garrafão e alimentaram o jogo de transição do Rockets.

Ao invés de jogar exclusivamente no mano-a-mano, o Rockets se aproveitou desse momento para arremessar bolas de três pontos no contra-ataque e aumentar o ritmo do jogo. Provavelmente por isso, o Warriors fez o pior quarto defensivo dessa série até aqui: cometeu MUITOS erros de troca de marcação, especialmente nos primeiros segundos do cronômetro com o Rockets tentando acelerar. No vídeo abaixo, Durant e Curry se atrapalham na transição, deixam Eric Gordon arremessar (e converter) livre e depois discutem entre si sobre a falha:

Depois, Durant e David West também não se entendem e ninguém sai para cobrir o arremesso de James Harden, que acertou sua primeira bola de três pontos depois de ter errado VINTE E DUAS delas em sequência em contarmos os últimos três jogos da série:

O Rockets acelerou tanto o jogo a partir desses erros que parou de ficar “escolhendo” em toda posse de bola os marcadores ideias para as jogadas individuais. Quando Eric Gordon (titular na ausência de Chris Paul) recebeu a bola em movimento, atacou o aro mesmo quando marcado pelo gigantesco Kevin Durant, e com sucesso. Mas não é como se a escolha do defensor mais frágil não tivesse rolado eventualmente – Steve Kerr resolveu dar uma nova chance para Jordan Bell, que tinha sido tirado da série por cometer faltas demais em Harden, e o Barba atacou o garoto sempre que possível:

Esse é o grande medo do Warriors: quando o time movimenta demais a bola e gera desperdícios ou arremessos de três pontos contestados, alimenta o ataque do Rockets e vê o placar se tornar uma catástrofe. A diferença de 17 pontos ao fim do primeiro quarto foi até barata porque o técnico Mike D’Antoni, SEI LÁ O MOTIVO, continua insistindo em incluir Clint Capela no ataque.

Logo na primeira posse de bola do jogo, Harden deixou Curry para trás com um drible seco e, ao invés de tentar a bandeja contra Draymond Green, preferiu um passe para Capela que foi interceptado. Na segunda posse de bola, Harden fez um pick-and-roll com Capela, tentou acioná-lo e o passe foi interceptado outra vez. Tentaram de novo, Capela sofreu uma falta; tentaram OUTRA VEZ, mais um passe interceptado. Foi assim que o Warriors conseguiu 8 pontinhos de contra-ataque e o Rockets deixou de esticar a vantagem ainda mais. Cansei de avisar que passar a bola para um pivô contra o Warriors parece boa ideia mas é ESTÚPIDO, não passe de UMA CILADA, BINO (uma referência super atual, em tempos de greve dos caminhoneiros, aliás). Mas ainda assim, a vantagem do Rockets era imensa: no começo do segundo quarto, o time já contava com 23 pontos de contra-ataque contra aqueles 8 do Warriors.

Ali foi a hora da verdade: o Warriors iria, no desespero, recorrer ao jogo individual de Durant (e eventualmente de Stephen Curry) ou continuaria com o plano de jogo coletivo que, até ali, estava dando MUITO ERRADO? Na entrevista à beira da quadra, Steve Kerr foi enfático: estava feliz com o ritmo do jogo e do time, com a movimentação de bola, e que eventualmente os arremessos iriam cair. Cravou a decisão de poder até perder por 17 pontos num quarto, mas INSISTIR na identidade original desse time.

E foi aí que quando Durant com a bola recebeu um corta-luz de Klay Thompson (o que na série inteira significava apenas que Durant estava trocando de marcador, para poder arremessar por cima de alguém mais vulnerável), Durant passou a bola para Klay que, com um mísero segundo de vantagem enquanto a defesa do Rockets tomava o susto, converteu uma bola de três pontos.

E logo em seguida, quando Kevin Durant infiltrou, resistiu à tentação de um arremesso de meia distância contra PJ Tucker para dar de presente uma bandeja para Kevin Looney:

E não é como se Durant tivesse se negado a arremessar, mas quando o fez foi em movimento, com passes, forçando seus marcadores (como James Harden, abaixo) a correr atrás dele. Assim ele conseguiu dar bons arremessos sem ter alguém grudado em seu corpo e, mais importante ainda, sem ter que colocar a bola no chão, que é onde o Rockets sabe surpreendê-lo:

Quando o primeiro tempo terminou, o Warriors tinha convertido 20 arremessos em 13 assistências – muito mais próximo do time que conhecemos bem do que qualquer coisa que vimos ao longo dessa série.

Com as bolas caindo, o ataque de transição do Rockets deu naturalmente uma baqueada – assim como James Harden que, mesmo cansado, só sentou um minutinho no primeiro tempo porque Mike D’Antoni não confia no time sem ele ou sem Chris Paul em quadra. Na ausência de Paul, sobrou para Harden trabalhar dobrado. Ainda assim, o ataque não estagnou totalmente: Harden leu bem o uso de um jogador extra na cobertura para barrar suas infiltrações e começou a acionar seus companheiros livres na zona morta oposta, para alegria de PJ Tucker. Ao fim do primeiro tempo, a vantagem do Rockets ainda era de 10 pontos – uma vantagem boa o bastante para ajudar na resistência aos FAMIGERADOS terceiros quartos matadores do Warriors.

E o Rockets até resistiu, foi fofo. Tomou duas bolas consecutivas de Klay Thompson com um mínimo de espaço, continuou insistindo em Capela e perdendo umas bolas idiotas, mas Harden segurou a bucha sozinho atacando Jordan Bell (o Barba chegou aos 30 pontos ainda com 7 minutos sobrando no terceiro quarto) e a 3 minutos do fim, apesar da melhora significativa do Warriors, o jogo ainda estava empatado. “Acho que sobrevivemos ao terceiro período”, pensei. “Vai dar para jogar um quarto período parelho!”. E aí a chuva começou.

O Warriors estava tão confiante de que os passes não chegariam em Capela que começou a dobrar em Harden, roubou uma bola e puxou um contra-ataque, que terminou com Klay Thompson acertando uma bola de três pontos. Depois, Kevin Durant tinha uma boa posição para atacar James Harden sozinho, virou de costas para a cesta e ABRIU MÃO DA BOLA para deixar Stephen Curry no mano-a-mano com Gerald Green – Curry nem hesitou, só subiu e converteu a bola de três pontos. Do outro lado, Harden cometeu uma falta ofensiva tentando infiltrar a todo custo mesmo com a língua pra fora, e aí Curry ficou um segundo no mano-a-mano com Eric Gordon e já subiu para converter outra bola de três pontos.

Quando essa chuva de bolas de três acabou, o Warriors tinha feito 33 pontos no quarto e tomado apenas 16, convertido 7 bolas em 11 tentativas no perímetro (3 para Curry e 4 para Klay) e aberto uma vantagem de 7 pontos para o período final.

Nem foi como se a defesa do Rockets tivesse entrado em colapso, pelo contrário, continuou marcando bem. Mas o Warriors começou a acertar seus arremessos em movimento, com ritmo, errando poucos passes e, principalmente, puxando contra-ataques, já que o Rockets desperdiçou 6 bolas no terceiro quarto. Tentando diminuir o ritmo para parar o bom momento adversário, o Rockets só tornou o ataque mais estático, dependeu mais de Harden, perdeu mais bolas e alimentou o contra-ataque adversário. Essa é uma série decidida pelos turnovers, os desperdícios de bola, porque os dois ataques se alimentam disso: quando o Warriors roda a bola sem errar passes e o Rockets, por sua vez, não para de desperdiçá-la, o jogo vira uma surra.

O Rockets tentou se recuperar com Clint Capela no banco, desistindo do jogo de garrafão, mas o Warriors já estava EM OUTRA MARCHA, se movimentando na quadra com intensidade e confiança. Para termos uma ideia, quando Draymond Green recebeu a bola livre na linha de três pontos, ao invés de bufar e ter que arremessar (caindo no plano de jogo do Rockets), ele apenas esperou um Curry em movimento receber um corta-luz fora da bola e se posicionar para acioná-lo com um passe arriscado, porém preciso:

Harden sentou por alguns poucos minutos no quarto e rapidamente a diferença no placar saltou para 15 pontos. Eric Gordon errou uma bola de três pontos completamente livre em transição (seu único no jogo), num dos raros erros do Warriors, e do outro lado tomou um contra-ataque fulminante de Klay Thompson. Com 6 minutos sobrando ainda no relógio a diferença já era de 20 pontos, Harden não parava de trombar exausto com seus marcadores, e Mike D’Antoni colocou até Ryan Anderson em quadra, também conhecido como um grito de EU ESTOU DESESPERADO, MEU DEUS. Dois minutos depois a diferença já era de 25 pontos e era hora de descansar todo mundo.

Nos últimos 18 minutos de jogo, o Rockets marcou apenas 18 pontos, atordoado com a CHUVA de bolas de três pontos que o Warriors conseguiu com basquete veloz, passes confiantes e contra-ataques. Klay Thompson sozinho acertou outras três no período final, para acabar o jogo com 9 bolas de três pontos convertidas e 35 pontos. Durant, para isso acontecer, foi apenas o terceiro cestinha: 23 pontos, 10 deles na linha de lances livres atacando defensores ao receber passes velozes, não em jogadas individuais em que o Rockets praticamente não comete faltas.

Por que às vezes o Warriors tem medo de jogar esse basquete incrível que tornou o time um campeão histórico? Resposta: o primeiro quarto. Quando dá errado, alimenta os contra-ataques adversários e esse Rockets é um time MONTADO PARA ISSO, pronto para fazer o seu melhor justamente a partir daquilo que o Warriors tem de pior. É, taticamente, um casamento muito feliz para o Rockets.

Por que o Warriors deveria insistir nesse basquete mesmo assim, ainda que perdendo por 17 pontos em casa e com um pé na eliminação? Resposta: o terceiro e o quarto período, as 12 bolas de três pontos convertidas só no segundo tempo (depois de 4 no primeiro tempo), a confiança destruidora que esse time conquista quando PEGA NO TRANCO, e a defesa monstruosa que esse time coloca em prática quando está jogando sem medo de errar.

Podia ter dado errado: o Rockets poderia ter aberto 30 pontos no primeiro quarto, Chris Paul poderia estar em quadra para ajudar o ataque no terceiro período e dar um respiro para James Harden, algumas bolas de três pontos do Warriors poderiam não ter caído e os desperdícios de bola poderiam ter continuado no segundo tempo, o que teria eliminado o time dessas Finais. Mas o Warriors está disposto a ARRISCAR e retomar sua identidade, que quando funciona é imbatível, fazendo chover bolas por um quarto para compensar quaisquer deslizes dos quartos anteriores. No Jogo 7, deve repetir a aposta fora de casa – veremos, então, se terá valido a pena.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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