Resumo da Rodada 28/4 – Celtics passa de fase

O primeiro Jogo 7 desses Playoffs foi a partida de ontem entre Boston Celtics e Milwaukee Bucks. Graças ao mando de quadra do Celtics, os discursos oscilaram entre lhes dar a clara vantagem para vencer a série e em dizer que talvez não aguentassem a pressão do favoritismo. Bobagem: sem Kyrie Irving e Gordon Hayward, dando minutos pesados para novatos e segundo-anistas, o Celtics falou ABERTAMENTE sobre como jogava com pressão zero, com qualquer resultado positivo já sendo um bônus incrível para essa temporada atribulada. Nem favoritismo nem pressão: o Celtics sabe das adversidades, sabe que já está no lucro e tenta apenas manter, o máximo possível, o plano de jogo.

Quando teve sucesso nessa série, o Celtics manteve a paciência ofensiva e a boa movimentação no ataque e forçou o Bucks a jogar na meia quadra na defesa. No Jogo 6, vitória do Bucks, a equipe de Milwaukee marcou 20 pontos no contra-ataque, acelerando o jogo e conseguindo fazer uso da clara vantagem em força física e explosão. O plano do Celtics, então, era limitar esse ataque em velocidade, amarrar o jogo e ganhar seus pontinhos de maneira controlada, sem perder a bola. O Celtics não teve uma partida perfeita, longe disso, então acabou perdendo bastante a bola no ataque, mas defensivamente foi um jogo impecável: o time limitou o Bucks a ZERO pontos de contra-ataque. Zero. Nada. Nenhum. Necas.

O que vimos foi o pior pesadelo para o Bucks, com o time tendo que pontuar na meia quadra contra uma defesa do Celtics organizada, com tempo para se posicionar. Nessas circunstâncias, o Bucks sobreviveu graças à uma partida fenomenal de Khris Middleton, com 32 pontos e um lugar consolidado no time e na NBA depois dessa série, e da partida mais agressiva ofensivamente de Eric Bledsoe, que enfim tentou 12 arremessos e saiu de quadra com 23 pontos. Os dois encontraram arremessos difíceis e seguraram as pontas nos espaços que surgiram quando Antetokounmpo foi fortemente contestado nas suas infiltrações. Bledsoe, principalmente, foi o responsável direto pelo Bucks ter conseguido uma vantagem de 5 pontos no placar no primeiro quarto mesmo com a defesa da equipe não conseguindo parar o Celtics de jeito nenhum. Mas assim que os titulares precisaram sentar e os reservas entraram ainda no primeiro período, o jogo acabou: o Celtics encaixou uma sequência de 20 a 2 avassaladora, impecável na defesa e dando bons arremessos no ataque. O Bucks até chegou a encostar no placar no segundo quarto, mas aí o Celtics fez outra sequência, dessa vez de 13 pontos seguidos sem tomar um pontinho sequer.

Aos poucos o Bucks foi encostando, e Jaylen Brown – que saiu do jogo no primeiro tempo sentindo uma lesão na coxa – ficou na lateral da quadra, numa bicicletinha, tentando ficar em condições para voltar. Quando o Bucks diminuiu a diferença no placar para apenas 3 pontos, parecia que Brown poderia ter que voltar a qualquer momento no sacrifício. E aí o ataque do Celtics finalmente desencantou. Al Horford começou a forçar o jogo perto da cesta e o time passou a transformar defesa em ataque, atacando cada vez mais rápido. Jayson Tatum, o NOVATO, fez isso aqui, primeiro com o toco e depois com a finta de passe e o arremesso de três pontos:

E Terry Rozier, o terceiro anista da NBA que o Eric Bledsoe DESPREZOU, começou a chover bolas de três pontos como se fosse a coisa mais natural do planeta no quarto período:

Rozier teve uma partida sensacional, mas quando ele pegou confiança parecia completamente imparável. Foram 26 pontos para ele, 5 bolas de três pontos e uma das bandejas mais atleticamente incríveis dessa pós-temporada:

No final das contas, o Bucks até superou sua dificuldade de pontuar na meia quadra – errou muito, desperdiçou bolas, deu contra-ataques para o Celtics e estava fora da zona de conforto, mas acertou quase metade dos seus arremessos, converteu bolas difíceis e mostrou que tem mais talento ofensivo e repertório do que parecia quando eles dependiam puramente de bolas na transição. Foi bonito ver que o time evoluiu no ataque e que, sob o comando correto, poderia ser um time muito melhor do que vimos até aqui. Mas o matou o time foi a ausência total de um banco de reservas confiável e, claro, uma defesa muito ingênua, muito agressiva, que comete erros bobos por estar sempre afoita e tentando interceptar as linhas de passe. O Celtics se aproveitou dessa defesa, como sabíamos que ia acontecer. Bastou três ou quatro momentos em que seus jogadores acertaram arremessos em sequência para o Celtics abrir diferenças grandes no placar que o Bucks precisava diminuir aos pouquinhos, sem poder de fogo suficiente para empatar ou virar. O Celtics pode contar com todo mundo – inclusive o banco inteiro – para ter grandes jogos ofensivos e para manter a disciplina defensiva. O time até teve momentos ruins na série, já que chegou num Jogo 7, mas principalmente jogando em casa contou com alguns GRANDES MOMENTOS de luz no ataque, algumas sequências matadoras que lembram aquilo que o Warriors e o Rockets fazem para quebrar a coluna dos adversários que estão lá lutando para encostar no placar. Mas o que mais assusta no Celtics é que os responsáveis por esses momentos iluminados são jogadores com um, dois ou três anos de experiência. Por fim, Bledsoe precisou ir lá e parabenizar Rozier. Acho que agora ele, e todos nós, reconheceríamos Rozier na fila do pão.

Não tem ninguém nesse time que não possa EXPLODIR rumo a uma partida sensacional. É um esquema tático que garante os fundamentos para que todo mundo brilhe, cedo ou tarde. O Bucks, pelo contrário, não tem sequer fundação, tem mais um conceito, uma ideia do que o time deveria ser e NADA concreto para colocar esse conceito em ação. Para a temporada que vem, precisam de um técnico capaz de fazer as coisas aconteceram. O Celtics, por outro lado, já está vendo tudo acontecer agora. E nem precisava ser tão cedo.


Junto com o primeiro Jogo 7 tivemos o primeiro Jogo 1 das semi-finais de Conferência. O Pelicans, a grande surpresa da pós-temporada até aqui, foi enfrentar os atuais campeões da NBA. E, ao menos durante o primeiro quarto, parecia que o Warriors estava tão surpreso quanto o resto do mundo de ver o Pelicans ser uma das maiores potências desses Playoffs. Rajon Rondo comandou o ataque e encontrou passes difíceis, Anthony Davis foi agressivo e atacou a cesta, E’Twaun Moore acertou arremessos livres, Klay Thompson foi bem marcado e errou arremessos. Parecia que o Pelicans tinha chances, parecia que o Pelicans jogaria de igual para igual. Como assim não percebemos que esse time de New Orleans seria capaz de vencer QUALQUER UM?

Mas algumas coisas no primeiro quarto não eram tão promissoras: o Pelicans não encontrou uma maneira de marcar Kevin Durant e Klay Thompson, mesmo bem marcado, começou a sair de corta-luz atrás de corta-luz livre para os arremessos, só não conseguiu convertê-los. Ainda assim, 34 a 35 para o Warriors, jogo apertado e muito, muito tenso.

Começou o segundo quarto e Klay Thompson acertou uma bola de três pontos, livre, depois de sair de dois corta-luzes seguidos. Depois acertou outra bola de três pontos. E outra. Em apenas SEIS MINUTOS, o Warriors fez uma sequência de 24 a 2 contra o Pelicans, e o banco do Warriors só faltou entrar inteiro em quadra para estourar champagne:

Durante essa sequência, o Pelicans se desesperou: começou a perder a bola e gerar mais contra-ataques, e o pânico de tomar bolas de três pontos fez com que cometessem o erro mais imperdoável contra o Warriors, que é marcar o perímetro e deixar quem tem a bola correr sozinho para a cesta. A enterrada de Shaun Livingston, por exemplo, foi a coisa mais fácil do mundo:

A defesa do Warriors forçou o Pelicans a dar passes difíceis e arremessos contestados, e conforme a diferença no placar abria, pior o ataque do Pelicans parecia. Do outro lado, o Pelicans não encontrou nenhuma maneira de marcar Klay Thompson: a gente já tinha previsto, no podcast, que Jrue Holiday não teria como ajudar muito porque Klay não pega a bola nas mãos, ele é um dos jogadores que consegue marcar mais pontos tendo a posse de bola por menos tempo. Saindo de um corta-luz, correndo a quadra inteira, Klay não tem como sofrer nas mãos de Holiday. O Pelicans terá que arrumar outra solução. Depois de um quarto em que isso não funcionou, o jogo já estava acabado.

Como se não bastasse, Draymond Green também estava num dia inspirado. Usou o espaço que lhe deram para contribuir em todos os cantos da quadra. Dá uma olhada na jogada abaixo, em que ele faz DE TUDO, em todos os lados, sofrendo um mínimo de interferência:

Com Green nesse nível – e somando um triple-double com 16 pontos, 15 rebotes e 11 assistências – o Warriors vira uma máquina azeitada que o Pelicans não conseguiu nem ver a placa. Klay Thompson somou outros 27 pontos, Kevin Durant outros 26, enquanto Jrue Holiday foi forçado a bolas contestadas e não passou dos 11 pontos. Vai ser uma série muito, muito difícil para o Pelicans porque todas as soluções ofensivas e defensivas que eles arranjaram contra o Blazers não valem mais aqui. Precisam começar tudo praticamente do zero, sem se dar ao luxo de perder um quarto por 20 pontos – uma diferença que o Warriors nunca mais deixa seus adversários recuperarem.

 

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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