Resumo da Rodada 5/5 – Três tempos técnicos e uma bola de último segundo

Jogando em casa, o Sixers estava com toda a pressão do mundo nas suas costas – uma derrota significaria estar perdendo a série por 3 a 0, algo de que nenhum time jamais conseguiu se recuperar em toda a história da NBA. Isso explica a FEROCIDADE com que Joel Embiid e Ben Simmons começaram o primeiro quarto do Jogo 3. Depois de marcar apenas um pontinho na partida anterior, Simmons resolveu atacar o aro agressivamente, não recusou os arremessos de meia distância e forçou o Celtics a ter que usar mais de um defensor para ocupar seus espaços de infiltração. Simultaneamente, o Sixers entrou decidido a estabelecer Embiid dentro do garrafão, usando ele menos na média e longa distância como acabou acontecendo nas partidas anteriores. Para isso, o Sixers tentou aumentar ainda mais a velocidade do jogo, com Embiid tentando estabelecer posição nos primeiros segundos de posse de bola e, com isso, atraindo toda a defesa do Celtics na transição e, com sorte, conseguindo algum jogador mais baixo para marcá-lo no susto. Aaron Baynes e especialmente Al Horford fizeram um trabalho incrível de defesa individual em Embiid, mas isso não impediu o pivô do Sixers de continuar pontuando, conseguindo oportunidades de arremessos bem próximos à cesta e descolando rebotes ofensivos no caminho. Foram arremessos contestados e ele errou 4 bolas só no primeiro quarto, mas acertou também outras 4 e manteve o ataque do Sixers funcionando mesmo sem as bolas de três pontos – Robert Covington, no pior momento da carreira, errou todas as 4 bolas de três pontos que tentou no quarto inicial.

Na defesa, o Sixers executou melhor o plano de não deixar Embiid sair de dentro do garrafão, onde ele é um dos melhores da NBA contestando arremessos. Ao invés de deixá-lo marcando jogadores no perímetro nas trocas de marcação depois do corta-luz (ou então Al Horford, que usa o espaço para arremessar), Embiid passou a recuar rumo ao aro e outros jogadores fizeram as trocas. O Celtics passou a explorar isso, com jogadores do perímetro cortando rapidamente para o aro durante essas trocas, pegando Embiid desprevenido quando ele ainda está procurando um jogador de garrafão do Celtics para se aproximar. No primeiro quarto Jayson Tatum usou e abusou desses momentos, mas ao longo do jogo até Aaron Baynes fez uso da movimentação:

Vejam que Embiid precisa ficar no garrafão, então JJ Redick precisa fazer a troca e aí um corta-luz rápido, com um pique para a cesta, é suficiente para que o Celtics consiga alguém atacando a cesta com Embiid chegando necessariamente atrasado. O preço a se pagar por isso, no entanto, é que o Celtics precisa dar passes rápidos e agressivos para o meio do garrafão, o que acabou gerando muitos roubos de bola para o Sixers. Ao fim do primeiro tempo Embiid já não parecia mais relevante defensivamente, mas o Sixers se manteve vivo na partida puxando contra-ataques vindos dos erros de passe do Celtics, o que permitiu que Simmons brilhasse novamente.

Embiid tentou, então, ser relevante no ataque, mas não foi uma noite fácil para ele. Instruído a não recorrer aos arremessos longos, acabou trombando – e se frustrando – com a marcação de garrafão do Celtics. Em duas posses de bola, Al Horford conseguiu dar tocos CERTEIROS em Embiid simplesmente por manter sua posição, como um muro de tijolos, já que o pivô do Sixers está acostumado a desequilibrar seus defensores antes de tentar um ganchinho curto. Embiid reclamou de faltas durante o jogo todo, mas Al Horford apenas ESTAVA LÁ, existindo em seu modo bloco de cimento a ponto de terminar o jogo com ZERO FALTAS:

A reclamação de Embiid tem fundamento porque a arbitragem foi extremamente presente nas jogadas no perímetro, protegendo alas e armadores de qualquer contato, mas deixou O PAU COMER no garrafão, ignorando o contato extremo das jogadas de costas para a cesta e das infiltrações. No entanto, o Celtics pareceu ainda mais desfavorecido por essa “escolha” de arbitragem, dada a constância com que tentou infiltrações rápidas nas trocas de marcação e os poucos lances livres que recebeu frente ao contato.

Mas dizer que Embiid foi bem marcado (e tomou 4 tocos na partida) não significa dizer que ele não conseguiu pontuar: foram 22 pontos no jogo, fora os 19 rebotes. Para compensar os tocos, Embiid deu enterradas incríveis em cima de Al Horford e de Baynes, que mantiveram o Sixers vivo mesmo quando Terry Rozier assumiu o terceiro quarto e Jayson Tatum assumiu o quarto período.

O Celtics, no entanto, não conseguiu disparar: errou arremessos fáceis a noite toda e, quando a defesa do Sixers entrou no seu modo clássico de fim de jogo para MATAR E DESTRUIR, o Celtics errou NOVE arremessos de três pontos seguidos, 7 deles no último quarto. Aos trancos e barrancos em um jogo extremamente disputado (foram 12 empates e 14 trocas de liderança na partida), o Sixers chegou nos minutos finais parecendo ter finalmente encontrado a defesa ideal e estando no controle da partida mesmo com o placar empatado. Mas aí o horror começou. Primeiro, Ben Simmons foi deixado livre num dos raros erros de marcação do Celtics e ERROU A ENTERRADA completamente sozinho, daquelas que a gente até dá risada depois do erro porque não tem outro jeito. E aí, com o placar em 87 a 85 para o Sixers e a defesa ENGOLINDO O CELTICS VIVO na última posse de bola do time, o técnico Brad Stevens viu que Marcus Morris iria ter que forçar uma bola horrível no perímetro com 8 segundos restantes no relógio de arremesso e pediu um tempo. Na volta, desenhou essa PÉROLA aqui:

Vejam como o Celtics se aproveita do fato de que o Sixers está agressivamente trocando a marcação em cada corta-luz e Jaylen Brown apenas finge que fará um corta-luz antes de cortar livre para a cesta, já que seus companheiros atraíram seus defensores todos para fora do garrafão.

Ainda assim, o Sixers tinha a última posse de bola do último período, jogo empatado, precisando de um mísero pontinho para vencer. E aí JJ Redick se desentendeu com Ben Simmons, tentou devolver a bola para Simmons na cabeça do garrafão enquanto, na verdade, Simmons já NÃO ESTAVA ALI porque cortou para a cesta, e Terry Rozier só teve que pegar a bola desse desperdício ESTÚPIDO para puxar um contra-ataque e dar a bandeja fácil para Brown do outro lado. Parecia a derrota mais horrível e melancólica do mundo, perder um jogo apertadíssimo por conta de um tempo técnico maravilhoso de Stevens, de um lado, e um desperdício de bola AMADOR do outro. Por sorte, Marco Belinelli salvou o time dessa humilhação com uma bola de dois pontos no estouro do cronômetro:

O mais engraçado é que o estagiário que cuida da CHUVA DE CONFETES no final dos jogos achou que a bola do Belinelli tinha sido de três pontos e, pra comemorar a “vitória” soltou aquele monte de papel picado na quadra. O jogo ficou parado uma ETERNIDADE para que o confete fosse varrido e a prorrogação pudesse começar. E se você quer conhecer o carinha do confete, ele é esse aqui, usando a camiseta com os dizeres “notícia quentinha: eu não me importo”:

O Sixers voltou para a quadra com a mesma energia com que parecia estar controlando o quarto período e rapidamente abriu 5 pontos de vantagens em bolas de JJ Redick e Belinelli mais uma vez. Taytum ajudou o Celtics a encostar no placar (Rozier dessa vez não pontuou na prorrogação), mas o Sixers tinha a posse de bola vencendo por 2 pontos no minuto final. Embiid foi minimamente pressionado perto da lateral e tentou entregar a bola para Belinelli, que estava do seu lado. Mas o passe foi tão MOLE, tão FLÁCIDO, tão PREGUIÇOSO, que Rozier acabou roubando a bola e conseguindo dois lances livres para Al Horford do outro lado, que converteu um.

Você está contando? São duas posses de bola decisivas para o Sixers em situação de controle do jogo, dois passes MEDONHOS e portanto dois roubos para Rozier. Mantém isso aí na conta porque AINDA NÃO ACABOU.

O Sixers, ganhando por um, ainda tinha mais uma posse de bola, mas errou dois arremessos (incluindo um vindo de rebote ofensivo) e concedeu ao Celtics uma chance de ganhar o jogo. Os verdinhos aceleraram, correram para o ataque e só quando chegaram lá, com 8 segundos para o fim do jogo, o técnico Brad Stevens pediu um tempo técnico. Outro tempo no meio de uma posse de bola com 8 segundos no cronômetro? Isso lembra alguma coisa?

Stevens tentou repetir a jogada que empatou o jogo no quarto período, mas assim que percebeu que o Sixers não iria tirar alguém do garrafão, pediu um novo tempo técnico. Desenhou a mesma jogada, mas dessa vez com Al Horford, após uma troca de marcação, se preparando para receber a bola próximo à lateral e o seu marcador, Robert Covington, marcando-o pela frente para impedir o passe. E aí o plano do Celtics deu certo: bastou um passe por cima para Al Horford receber a bola e pontuar sem problemas, com todos os outros defensores do Sixers no perímetro marcando os outros jogadores do Celtics que atraíram a marcação.

O Sixers ainda tinha 5 segundos no cronômetro para tentar empatar o jogo de novo, como fez com Belinelli. O técnico Brett Brown pediu um tempo e aí a jogada que ele desenhou não chegou NEM PERTO de acontecer porque MAIS UM PASSE MOLENGA, dessa vez de Simmons para Embiid, foi interceptado por Al Horford e sua marcação espetacular. São TRÊS jogadas decisivas, TRÊS passes, TRÊS desperdícios e TRÊS ROUBOS para o Celtics. Para manter o tema: o Celtics, entre o fim do terceiro período e o final do jogo, errou todas as 10 bolas de TRÊS pontos que tentou, mas só precisou de TRÊS tempos técnicos de Brad Stevens para dar um jeito de pontuar mesmo assim.

Com o Sixers parecendo finalmente o time jovem, inexperiente e cheirando a talco de bebê que imaginávamos, um pirralho do Celtics quebrou recordes: Jayson Tatum, que terminou o jogo com 24 pontos, se tornou o primeiro jogador da HISTÓRIA da NBA a, com 20 anos de idade ou menos, ter 5 jogos consecutivos nos Playoffs marcando ao menos 20 pontos. Com isso, também superou Larry Bird como o novato com mais jogos de 20 pontos consecutivos pelo Celtics. Num momento em que o Sixers dedou sua idade, Tatum pareceu estar na NBA há vinte anos – e o técnico Brad Stevens fez questão de camuflar a idade e o nervosismo de sua equipe com jogadas geniais que serão comentadas por gerações. Ainda falta um jogo, mas estatisticamente acabou: já podemos contar com o Celtics nas Finais da Conferência Leste.


Finais da Conferência Leste que, aliás, também teriam estatisticamente o Cleveland Cavaliers caso o Toronto Raptors perdesse o Jogo 3 – mas, ao contrário do Sixers, o Raptors teria que arrumar uma vitória fora de casa. Para tentar ALGUMA MUDANÇA, o time canadense começou com Fred VanVleet de titular, buscando um time mais rápido, que arremessasse com mais velocidade e confiança. Na defesa, a tentativa foi de fazer uma marcação pressão de quadra inteira em LeBron James, com uma marcação pressão total, também nos outros jogadores, na maior parte das posses de bola. Curiosamente o Raptors começou bem os dois jogos anteriores e só foi morrer no final, quando passou a errar arremessos RIDÍCULOS e foi incapaz de parar LeBron. Dessa vez começaram com marcação pressão, o que supostamente deveria deixá-los ainda mais mortos para o final do jogo. Será que o plano era abrir uma vantagem tão larga, mas tão larga, que nem mesmo LeBron James seria capaz de recuperar na segunda metade do jogo?

Se esse era o plano, deu muito errado. O cansaço na defesa se refletiu no ataque, que também queria correr, gerando vários desperdícios de bola. Além disso, a defesa pressionada forçou o Cavs a infiltrar, o que não costuma ser um problema para eles. Verdade seja dita, LeBron pareceu incomodado com a marcação, que além da pressão foi fantástica em VARIAR modos de defendê-lo (às vezes dobrando, às vezes deixando na marcação individual, às vezes dando o arremesso, às vezes ocupando o garrafão). Mas o incômodo de LeBron não impediu o ataque do Cavs de continuar fluindo e abrir 17 pontos de vantagem ainda no começo do terceiro período, especialmente graças aos 11 desperdícios de bola do Raptors só no primeiro tempo e DeRozan ter acertado apenas um dos 9 arremessos que tentou.

No quarto período, perdendo por 14 pontos, o esperado é que o Raptors colocasse a língua pra fora, exausto, e desistisse, derretesse de vez. Mas foi aí que o time finalmente pareceu menos nervoso e, depois de ter conseguido cavar várias faltas no período anterior, passou a jogar com mais agressividade. Kyle Lowry simplesmente PIROU, rumo a 15 pontos no período final (foram 27 no jogo inteiro), 2 bolas de três pontos e uma confiança ainda não vista nessa série. E pra ajudá-lo, o novato OG Anunoby, praticamente ignorado pela defesa do Cavs na partida, começou a usar seu espaço para arremessar: acertou as 3 bolas de três pontos que tentou no período, incluindo umas bolas absurdas, rumo a 11 pontos (foram 18 no jogo inteiro). A diferença foi caindo, mas o problema de marcar LeBron James continuou: toda vez que dobrava em LeBron, tomava uma bola de três pontos de alguém livre ou uma bandeja de alguém que surgia embaixo da cesta; quando não dobrava, LeBron arrumava uma infiltração. E quando a diferença no placar caiu para apenas uma posse de bola, LeBron assumiu e acertou mais um daqueles arremessos OBSCENOS que ele fez no jogo anterior:

O Raptors outra vez encostou e aí, perdendo por 3 pontos, pediu um tempo técnico com 8 segundos no relógio de posse de bola. Uau, será que veremos uma jogada como vimos as do Brad Stevens? Claro que não. A jogada foi passar a bola para VanVleet que recuou para a QUADRA DE DEFESA, esqueceu do cronômetro e forçou uma bola de três pontos ridícula e apressada quando se deu conta de que o cronômetro ia estourar.

Perdendo por 2 pontos nos segundos finais, o Raptors errou a defesa pressão, não conseguiu contestar a cobrança de fundo bola do Cavs, teve que fazer uma falta e teve a SORTE de tomar apenas um lance livre do outro lado. E aí, contra tudo e contra todos, Anunoby acertou uma bola de três pontos TORTA para empatar o jogo a 8 segundos do fim. De novo esses 8 segundos – mas dessa vez, sem tempo técnico para pedir.

LeBron então recebeu a bola na quadra de defesa, correu casualmente para o ataque e tentou um floater, de média distância, desequilibrado, usando a tabela no estouro do cronômetro. O resultado?

Não adianta. Não dá. A próxima vez que o LeBron estiver em quadra, tomara que o Raptors nos faça a GENTILEZA de só se recusar a jogar. Nada dá certo pra eles, nunca. Ainda tiveram que ficar lá, com cara de MORTE, esperando pra saber se eles ainda teriam alguns décimos de segundo para uma última tentativa, coisa que não aconteceu. Foi só pra aumentar a crueldade, deixá-los em quadra olhando para o cadáver deles próprios em rede nacional. Minha nossa. Que horror. Que morte horrível.

Pode subir na mesa de novo, LeBron. Ainda falta um jogo, mas teu time TODO ZOADO, numa temporada que foi uma bagunça, deve jogar as Finais do Leste. Que absurdo.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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