🔒Resumo da Rodada 6/6/01 – Allen Iverson passa por cima

Saudade do Resumo da Rodada dos Playoffs? Estreamos aqui uma sessão nova para fazer de tempos em tempos. Pegaremos um jogo clássico dos Playoffs da NBA e transformaremos o seu relato como se estivéssemos escrevendo um resumão para o blog naquela época. Começamos com o Jogo 1 da Final de 2001, quando o Philadelphia 76ers do MVP Allen Iverson visitou o atual campeão Los Angeles Lakers. de Kobe Bryant e Shaquille O`Neal. Como o Bola Presa iria relatar o melhor jogo daquela série?


Com a determinação quase irracional que nos acostumamos ao ver ao longo da temporada, com aqueles hipnotizantes olhos vidrados, Allen Iverson partiu para uma das posses de bola mais importantes do Jogo 1 da Final da NBA determinado a chegar no garrafão do Los Angeles Lakers. Ou era isso o que a gente pensava: quando parecia que a estrela do Philadelphia 76ers iria para uma infiltração, ele deu um corte seco com a bola, deu um passo para trás e, a centímetros do banco adversário, acertou o arremesso que cimentou a mais improvável vitória dos Playoffs de 2001. Com a bola na cesta e o seu marcador Tyronn Lue no chão, o mais baixo MVP da história do basquete passou de forma literal e teatral por cima do rival para passar o seu recado. Ninguém é imbatível.

Em uma das melhores partidas desta pós-temporada, o Sixers foi até Los Angeles e abriu a final da NBA impondo a primeira derrota de Kobe Bryant e Shaquille O`Neal nos Playoffs por 107 a 101. Iverson marcou seus 48 pontos em quatro períodos brigados e uma eletrizante prorrogação, superando os 44 pontos (e 20 rebotes!) de Shaq.

A partida começou sem cerimônias, com os dois times buscando as suas principais armas. Todas as primeiras posses de bola do Lakers foram para Shaq começar seu trabalho de tortura sobre Dikembe Mutombo, enquanto o Sixers fazia seus mil corta-luzes para tentar dar algum espaço para Iverson partir para o ataque. O resto dos participantes começaram a aparecer só quando as inevitáveis marcações duplas foram pipocando aqui e ali:

A marcação dupla não acontecia sempre, mas era bem claro como elas estavam a postos para serem acionadas a qualquer momento. Seja com cobertura simples e coletiva, Iverson amassou o aro loucamente enquanto via o Lakers dominar o garrafão, os rebotes e abrir uma rápida vantagem de 13 pontos em apenas 6 minutos. A posse de bola abaixo, que até acabou em pontos, mostra como estava difícil para o Sixers pontuar e porque Iverson errou boa parte do que tentou no primeiro quarto. Haja arremesso forçado:

O Sixers se salvou de deixar a vantagem escapar para um ponto incontornável porque passou a defender melhor antes do fim do quarto. Evitou passes para Shaq e aproveitou para sair na correria do contra-ataque quando conseguiu evitar cestas, produzindo alguns pontos mais fáceis para variar um pouco. Foi também o que ajudou Iverson a ganhar um pouco de ritmo e finalmente embalar alguns acertos seguidos.

No segundo quarto o jogo seguiu brigado na defesa e os dois times resolveram arriscar algumas coisas mais ousadas. O Sixers colocou o jovem reserva Raja Bell em quadra só para importunar Kobe Bryant, enquanto o Lakers decidiu adotar a marcação dupla sobre Iverson às vezes desde antes do meio da quadra, para forçá-lo a sair um pouco do jogo e tocar menos na bola:

O Sixers respondeu com sua própria marcação dupla sobre o jovem Kobe Bryant:

Para desafogar o seu ataque, o Sixers conseguiu ajuda de um lugar inesperado. Ao invés do sexto homem da temporada Aaron McKie, quem apareceu para salvar a pátria foi o pivô Matt Geiger, que esquentou a mão nos tiros de média distância que o Lakers se recusou a defender. O time parecia muito pesado com Geiger atuando ao lado de Mutombo, que continuava em quadra para tentar parar Shaq, mas a falta de mobilidade foi compensada pelo espaço criado pelo arremesso. Some isso ao fraco aproveitamento de Kobe no ataque, que não chegou perto dos 31 pontos de média que estava tendo nos Playoffs, e o Sixers virou o jogo e foi para o intervalo na frente.

Allen Iverson acabou o primeiro tempo com TRINTA pontos em 24 arremessos. O aproveitamento não foi dos melhores, mas marcar 30 em um primeiro tempo do seu primeiro jogo numa Final da NBA é algo para aplaudir de pé. Iverson foi agressivo no começo do jogo quando estava frio, foi agressivo quando as bolas começaram a cair, agressivo quando a marcação dupla apertou e agressivo contra qualquer que fosse o defensor colocado na sua frente. Ele sabe que ele é, sozinho, o ataque do time e que para o Sixers ter alguma chance de vencer e até para que os Geigers da vida tenham espaço para arremessos, ele deve atacar sem parar.

O segundo tempo começou como acabou o primeiro: na defesa, o Sixers pressionava o Lakers desde a saída de bola, atrasava o ataque do rival e dava pouco tempo e oportunidades para que Shaq recebesse a bola no garrafão. No ataque, Iverson fez pontos de infiltração, de arremesso de longe e ainda achava assistências de vez em quando. A diferença a favor do time visitante cresceu e chegou a QUINZE pontos após uma falta de Derek Fisher sobre Eric Snow no meio do terceiro período.

O momento de crise fez o técnico Phil Jackson mudar de estratégia. Ele tirou Fisher e colocou em seu lugar Tyronn Lue, baixinho que pouco jogou ao longo da temporada, quase foi cortado antes dos Playoffs e que estava sendo usado nos treinos como clone de Allen Iverson. Ele até fez as trancinhas iguais no cabelo e ficava no time reserva imitando jogadas do MVP para preparar a defesa para esta decisão. O resultado foi imediato: defensor chato, Lue forçou erros do Sixers no ataque –que agora tentava usar Iverson mais longe da bola– e com sua velocidade, ele foi o primeiro a conseguir ultrapassar a barreira de marcação pressão do rival, criando assim espaços no ataque para acionar Shaq. Ajudou que Dikembe Mutombo, com problemas de faltas e precisando respirar, teve que sentar no banco de reservas. Apesar de Matt Geiger ajudar com seu arremesso, ele não tem a menor condição de marcar Shaq, que marcou 8 pontos seguidos sobre o rival assim que Mutombo deixou a partida:

Do momento da saída de Mutombo e da entrada de Lue até o fim do quarto, o Lakers cortou a diferença em TREZE pontos e foi para o quarto final perdendo por apenas 79 a 77. Com a volta do seu pivozão, o Sixers melhorou e voltou a abrir pequena vantagem nos primeiros minutos do período decisivo, forçando Phil Jackson a ir um passo a mais com seu experimento: dali pra frente Tyronn Lue não iria só levar a bola no meio da defesa pressão, mas também seria o responsável ÚNICO por defender Iverson no mano-a-mano. A tarefa antes vinha sendo feita em revezamento com Brian Shaw, Derek Fisher e Kobe Bryant, mas nenhum deles tinha o tamanho e a velocidade para fazer o que o menino fez DUAS VEZES SEGUIDAS logo que assumiu a função de vez:

Logo depois disso Lue ainda mandou uma bola de 3 pontos para punir o Sixers por fazer marcação dupla em Shaq e de repente a vantagem caiu para só dois pontos mais uma vez. E não é que Iverson passou a errar seus arremessos a partir daí, a real é que ele não conseguia mais sequer RECEBER A BOLA. A soma do cansaço natural de um último período, do fato dele estar carregando o ataque nas costas e de ter um defensor descansado, jovem e veloz nas suas costas foi pesado demais.

E não estava muito mais fácil para eles do outro lado. Embora o Sixers fizesse ótimo trabalho negando passes e empacando os passes do triângulo do Lakers, eles não tinham ideia de como parar Shaq sem faltas. No meio do quarto período Mutombo precisou sair após ter cometido sua 5ª falta, mas voltou um minuto depois porque seu reserva Matt Geiger entrou, cometeu a sua SEXTA e foi eliminado. Se Shaq acertasse seus lances-livres a virada já teria rolado, mas não foi o caso. O fim do jogo, aliás, foi um festival de erros. Se somarmos os últimos QUATRO MINUTOS de jogo, o placar foi de 2 a 2. De um lado Shaq enterrou uma bola após linda infiltração de Kobe, do outro Eric Snow acertou uma bandeja dificílima no fim de uma posse de bola apertada. E só. De resto só erros e mais erros para manter o placar empatado até o apito final. Destaque para Mutombo, que errou dois lances-livres a 34 segundos do fim da partida, os dois primeiros lances errados do Sixers no jogo todo!

E querem mais uma palhinha de como estava a defesa de Lue sobre Iverson? O MVP NÃO TOCOU NA BOLA na posse final do tempo normal:

Depois de 41 pontos em três períodos, Iverson fez só TRÊS no quarto final quando começou a ser marcado por Lue. A sensação era de uma chance jogada fora: estavam desperdiçando uma partida onde Iverson jogou muito, Kobe jogou pouco e eles tiveram, fora de casa, a bola final no estouro do cronômetro. Será que dava pra repetir tudo isso na prorrogação? Começou parecendo que não, com Kobe e Shaq marcando os primeiros pontos do período e Iverson, de novo, sendo forçado a erros por Lue.

Mas o melhor jogo da temporada não poderia simplesmente ir embora sem uma reviravolta final. Quando parecia que o Lakers tinha controle total, Robert Horry fez uma falta de ataque sem motivo e o Sixers respondeu com uma cesta de Raja Bell no estouro dos 24 segundos. Mais um erro do Lakers virou um contra-ataque de Iverson e de repente o jogo estava em apenas um ponto de vantagem de novo. Foi quando Lue se animou no ataque, tentou fazer demais e, ao cair no chão após uma bandeja errada, deu todo o espaço que Iverson não tinha tido nos últimos quinze minutos: jogo virado de novo, Sixers na frente por dois.

Após um desastroso passe errado de Rick Fox que deveria ser para Shaq e foi para a arquibancada, o Sixers recuperou a bola com pouco mais de um minuto no relógio e foi aí que aconteceu o lance que todos não param de falar: Iverson finalmente conseguiu receber a bola para encarar Lue no mano-a-mano, o Sixers espaçou um pouco melhor a quadra para evitar a dobra e aí o talento falou mais alto. O corte seco enganou todo mundo, o arremesso foi magnífico e a pisada por cima do marcador foi o que fez AI ser maior do que outras tantas estrelas nessa liga. Ele soma talento com estilo e com personalidade. É mais que só mais um dia de trabalho para ele. É um prazer quase indescritível quando nos vemos envolvidos e absortos dentro de um jogo e os caras lá dentro não quebram a magia, eles se mostram envolvidos também. Iverson sabia que a história do jogo era Tyronn Lue o anulando no quarto período, e não hesitou na hora de criar uma imagem que jogasse essa narrativa na lata do lixo.

O lance foi tão icônico que ninguém está falando dos arremessos finais. Kobe Bryant acertou um fade away jordanesco para cortar a diferença para dois e dar a chance do Lakers ainda parar o Sixers e ter uma posse de bola para empatar o jogo. Não deu certo porque Eric Snow fez um de seus tradicionais runners para matar o jogo de vez a 10 segundos do fim. Com 4 pontos de frente, o Lakers não teve mais resposta sofreu sua primeira derrota nos últimos 20 jogos, somando temporada regular e Playoffs.

Além do jogo, o Sixers ganhou um pedaço da história e um pouco de esperança, mas ainda é difícil dizer que há uma chance real de título. Eventualmente os arremessos de Kobe vão cair e eles claramente não tem como marcar Shaq e muito menos como marcar pontos o bastante no ataque para vencer nos dias em que Iverson não fizer 48 pontos de novo. Será que dá pra somar defesa de elite com mais três atuações impecáveis dele? Será que eles se salvam em mais jogos apertados? Não apostaria nisso, mas antes do jogo de ontem eu nem sequer acreditava que a série não seria outra varrida. Uma pequena vitória de cada vez.


Assista abaixo o jogo completo e veja aqui o seu box score:

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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