Resumo da Rodada 7/5 – Basquete dos anos 80

O Sixers entrou em quadra para tentar impedir a “varrida”: para quem aprendeu a sonhar com as Finais da Conferência Leste, tomar um 4 a 0 em casa seria um fim melancólico demais para uma temporada de tantas alegrias para a franquia. Por isso, vimos não apenas o Sixers mais “intenso” da pós-temporada, mas também o mais taticamente diferente. Se já reclamei que o time não fez quaisquer ajustes enfrentando o Heat (em parte porque, bem, não precisou de muito), já não posso repetir o mesmo contra o Celtics.

O choque inicial já veio com o Sixers colocando TJ McConnell como titular, ou seja, colocando o então reserva para armar o jogo ao lado dos também armadores Ben Simmons e JJ Redick. A decisão teve um duplo papel: primeiramente tirou de quadra Robert Covington, que está fazendo uma pós-temporada que até sua mãe quer esquecer, mas também permite que Ben Simmons não tenha que armar o jogo o tempo inteiro, sofrendo marcação pressionada de quadra inteira como tem sido a tônica dessa série. Com McConnell podendo levar a bola da defesa para o ataque, Simmons ficou livre – para fazer o que, ainda não sabíamos.

Assim que o jogo começou, o Sixers mostrou um foco irrestrito no jogo de garrafão: colocou Joel Embiid para jogar embaixo da cesta, mais uma vez sofrendo com a marcação de Al Horford, mas insistindo mesmo assim. Até aí, nada de novo. Mas quando JJ Redick fez sua tradicional corrida por uma série de corta-luzes para tentar receber a bola livre para um arremesso, ele parou sua movimentação ainda próximo ao garrafão, recebeu um passe e acertou uma bola de meia distância. Algo definitivamente diferente estava acontecendo ali.

Pouco depois, começou o bizarro: Dario Saric, jogando então como ala de força, começou a lutar por posição no garrafão para receber a bola de costas para a cesta e forçar contato. Ben Simmons rapidamente reproduziu a jogada, dessa vez usando seu tamanho – e a armação de McConnell – para empurrar seus defensores e tentar jogar dentro do garrafão. Some isso a JJ Redick dando arremessos de meia distância e a sensação era de que o Sixers estava jogando com uma quadra ENCOLHIDA sempre que possível. A princípio, o time continuou errando demais no ataque, mas compensou com alguns rebotes ofensivos, já que estava TODO MUNDO no garrafão. Até tentou bolas de 3 pontos, todas meio no desespero, quando a defesa do Celtics apertava demais ou na transição.

Mas no segundo quarto a insistência nesse modelo começou a dar resultado. O Sixers acertou apenas uma bola de três pontos, mas cobrou ONZE lances livres no período. Ben Simmons e Saric no garrafão, de costas para a cesta, viraram um ímã de faltas, enquanto os contra-ataques se tornaram tentativas obstinadas de atacar o aro sem se importar com as consequências. Foi um festival de gente abaixando a cabeça, correndo pra frente e tomando pancada, e gente de costas para a cesta recebendo abraço de todos os lados. Quando o primeiro tempo terminou, Marcus Smart, Jaylen Brown e Marcus Morris já tinham 3 faltas cada, e isso porque tiveram que se segurar no final do segundo quarto para não cometer mais faltas ainda. O Celtics, um dos melhores times da NBA em defender o perímetro, entrou em COLAPSO tendo que defender dois ou três jogadores simultâneos no garrafão, com gente na linha de lance livre esperando passes curtos para atacar a defesa e cavar qualquer contato.

Na defesa, o que o Sixers fez do outro lado da quadra foi igualmente surpreendente: passaram a dobrar a marcação em qualquer armador depois do corta-luz, a mesma defesa que tanto atrapalhou o Blazers e o Wizards nesses Playoffs. Supostamente o Celtics deveria se beneficiar de ter sempre alguém livre nessas situações, mas a verdade é que entrou em pânico: perdeu bolas, deu passes arriscados demais, cometeu faltas de ataque tentando se livrar da dobra e, quando conseguiu um jogador livre, em geral ele era Aaron Baynes, que errou bolas fáceis ou tentou passar para seus companheiros e deu a chance da defesa do Sixers se recuperar. Ao todo foram 7 desperdícios de bola para o Celtics só no segundo quarto, todos transformados em mais oportunidades para o Sixers atacar a cesta e cavar faltas.

Foi tentando se livrar dessa dobra de marcação que Terry Rozier cometeu uma falta de ataque em JJ Redick, Embiid quis pegar a bola rapidamente de suas mãos para se aproveitar do “momento” do time na partida e aí abriram-se as portas do inferno:

Foi o primeiro desperdício de bola do Rozier desde o segundo quarto do JOGO 1, quase doze períodos seguidos sem um erro desses. A defesa ultra-agressiva do Sixers certamente mudou tudo.

No segundo tempo, Ben Simmons voltou jogando de costas para a cesta até mesmo contra Al Horford, quando o Celtics resolvia trocar a marcação. E quando estava sem a bola, ao invés de SUMIR no perímetro por não ter arremesso, ficou sempre pertinho do aro tentando rebotes ofensivos ou passes curtos para ganchos. Nessas circunstâncias, quem jogou de costas para a cesta foi Embiid, Saric e até Irsan Ilyasova, que aliás forçou a quinta falta de Jaylen Brown ainda no meio do terceiro quarto – o que rendeu uma falta técnica por reclamação para Brown e uma outra para Brad Stevens, descontente com o fato de que seu time naquele momento tinha cobrado quase 10 lances livres  menos que o adversário.

Mas é claro que o problema não era a arbitragem, mas a insistência no jogo de garrafão e a quantidade de desperdícios de bola: enquanto o Sixers tinha apenas 3 no terceiro período, passando pouco a bola e se focando em passes curtos, o Celtics somava 13 graças às dobras de marcação nos seus armadores. Fora isso, o Sixers pegou 10 rebotes ofensivos a mais. Foi depois de um rebote ofensivo seguido por enterrada de Embiid que ele resolveu atravessar a quadra falando merda para Marcus Morris, que respondeu com a melhor linguagem de sinais de todos os tempos:

Com a defesa do Celtics tentando um último gás para apertar a partida, o Sixers voltou a ter problemas e até passou a arremessar mais de 3 pontos, assim como o Celtics para tentar cortar a vantagem que chegou a 18 pontos – o problema é que nenhum dos times acertou o suficiente. Não faltaram oportunidades para o Sixers levar a vantagem para além dos 20 pontos, mas o Celtics não conseguiu puni-los por errar tantos arremessos porque não deu tempo – o jogo acabou antes da equipe de Boston entender de verdade o que é que os tinha atingido.

O Sixers fez o primeiro ajuste tático real do time nesses Playoffs, que consistiu de TELETRANSPORTAR a partida para os anos 80: as bolas de três pontos passaram para segundo plano, o time jogou com dois ou três jogadores simultâneos próximos ao aro, dominou os rebotes ofensivos, marcou VINTE E DOIS pontos a mais no garrafão do que o Celtics, forçou uma infinidade de contatos, falou MERDA na cara dos adversários, promoveu empurra-empurra e forçou o Celtics a perder tanto a cabeça (com faltas técnicas) quanto jogadores importantes (com excesso de faltas). Al Horford ainda marcou bem Embiid, que saiu de quadra com apenas 15 pontos, mas o Celtics não teve condições de parar todos os outros jogadores no garrafão: foram 25 pontos para Saric, 19 para Ben Simmons e 19 para McConnell, o máximo da sua carreira, quase tudo infiltrando sem parar.

É a antítese do basquete moderno, e foi um soco no queixo do Celtics, que vai ter que se recompor para a próxima partida. Com 3 a 1 na série, ao menos o Sixers escapou da varrida em casa, mas será que além disso estamos vendo novos caminhos táticos surgirem justamente junto com as novas gerações de jogadores? Mesmo que esses novos caminhos lembrem quatro décadas no passado?


Na outra partida da Conferência Leste, o Raptors também tentou drásticas mudanças táticas para tentar, assim como o Sixers, impedir a varrida e continuar vivo na série e… ah, quem é que eu estou querendo enganar? O Raptors não tentou nada demais: pediu para o DeMar DeRozan ser agressivo mesmo quando ele estiver errando arremessos (o que lhe gerou 13 pontos no jogo e uma EXPULSÃO por dar uma porrada no quarto final), tentou usar Serge Ibaka de pivô para parar Kevin Love (Love ainda assim teve 23 pontos no jogo) e seu melhor momento na partida veio de novo com Jonas Valanciunas (que fez 18 pontos em 15 minutos mas que o técnico Dwane Casey não consegue deixar em quadra mais do que isso porque não sabe o que fazer com ele na defesa).

Se não fosse a mão quente de Valanciunas, o jogo teria acabado muito antes: foi graças a ele que o Raptors assumiu uma breve liderança no segundo quarto e terminou o primeiro tempo perdendo “apenas” por 16 pontos. Mas com Kevin Love acertando arremessos, Kyle Korver acertando 4 bolas de três pontos e JR Smith acertando outras 3 bolas do perímetro, ficou difícil manter o pivô em quadra. A tentativa de trocá-lo por Lucas Bebê durou um minuto de puro pesadelo: o brasileiro cometeu uma falta tentando parar um arremesso de três pontos, errou a recepção de um passe para ponte-aérea e errou um passe ele próprio para um companheiro. O Raptors não achou resposta defensiva na série inteira, e isso porque nem falamos de LeBron James, que jogou com tranquilidade, se poupou na defesa, infiltrou quando bem entendeu e, quando bem marcado, fez de novo seus arremessos OBSCENOS:

Não deu nem pro cheiro. O garbage time começou no quarto período, e a diferença mesmo assim chegou a TRINTA E CINCO PONTOS no placar. Foi o final mais melancólico possível para o Raptors, que teve chance ZERO de tornar o jogo minimamente interessante. Foi um daqueles dias para se esquecer: o DeRozan não conseguiu sequer impedir arremessos de entrar quando o jogo NÃO ESTAVA VALENDO:

O Raptors é um time incrível, teve uma campanha histórica e não dá para querer tacar tudo na privada só porque você perde para LeBron (pensem no que o Hawks fez quando isso aconteceu, é receita para desastre). Mas é assustador, e um pouco ridículo, que uma semi-final de Conferência seja tão desigual mesmo com o Cavs tendo passado pela quantidade ridícula de adversidades dessa temporada.

Talvez o melhor seja o Raptors manter tudo como está, continuar tendo campanhas incríveis, mas NUNCA MAIS entrar em quadra contra o Cavs. Só deixa pra lá, fica em casa, economiza a gasolina, emite menos gás carbônico. A gente já sabe a vergonha que vai ser, pelo menos poupamos nosso tempo. Da próxima vez que eu acreditar no Raptors, por favor, alguém me dê uma SURRA, e me lembre que eu poderia ter usado o tempo desses 4 jogos para fazer coisas mais úteis, como lavar cueca, contar azulejos no meu banheiro ou ir enxugar meia hora de gelo.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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