[Resumo da Rodada] A despedida de Westbrook

Foram 47 pontos, 11 rebotes e 9 assistências para Russell Westbrook. Converteu 5 bolas de três pontos apenas no terceiro quarto, tirando uma vantagem que era de 7 pontos para o Rockets no intervalo e transformando numa vantagem de 5 pontos para o Thunder para entrar no quarto e decisivo período. Tudo isso em Houston, com a água batendo na bunda, ou seja, perder era sinônimo de eliminação.

Mas aí começou o quarto período, com o Rockets forçando Westbrook aos arremessos de menor aproveitamento possível, e seja por exaustão, seja por vitória estatística, as bolas deixaram de cair. O armador do Thunder errou os primeiros 5 arremessos do quarto, errou 7 bolas antes de acertar sua primeira no período, e viu seu time acertar apenas 4 de 17 arremessos antes do placar virar em definitivo para o time da casa. Quando o Thunder dependia de um último esforço, uma última explosão, um último sacrifício heroico para evitar a desaparição, aí o Rockets simplesmente repetiu a estratégia da última partida e a 3 minutos do fim passou a fazer faltas intencionais em André Roberson, que acertou apenas 1 de 4 lances livres nos instantes finais. Na série, Roberson converteu apenas 3 de suas 20 tentativas na linha de lances livres, números de chorar na calçada. O jogo estava acabado ali.

E mesmo assim o Rockets passou sufoco: talvez porque sentisse que o jogo estava decidido, o time não conseguia segurar os rebotes defensivos enquanto Westbrook estava pulando em todas as bolas e gerando pontos na marra. No fim, mais uma vez, faltou poder de fogo para o Thunder no quarto decisivo, especialmente quando Westbrook estava visivelmente cansado, e o Rockets criou uma vantagem segura o suficiente no placar para poder se permitir errar simplesmente porque tem mais armas ofensivas. Foi um jogo muito difícil para James Harden – dá pra dizer com tranquilidade que André Roberson e o resto da defesa do Thunder conseguiram criar um plano surpreendentemente funcional para defender o Barba – que acabou tendo que forçar arremessos de três pontos que não caíram de jeito nenhum (foram 2 acertos em 13 tentativas). Mas o Rockets nunca deixa os adversários abrirem muita vantagem porque garante pontos nos lances livres (Harden cobrou 17, acertando 16) e sempre tem algum outro jogador em condições de ajudar. As 6 bolas de três pontos que o Rockets converteu no jogo estão MUITO LONGE do número alvo da equipe, que são 15 bolas de três por jogo, e parte da responsabilidade disso está nos ombros de Ryan Anderson, que teve uma série DESASTROSA – ainda que Harden não o tenha ajudado muito, dando passes verdadeiramente ruins em situações pouco ideias para o especialista em arremessos. Mas Nenê compensou com mais uma partida impecável, com 14 pontos, Lou Williams passou de novo dos 20 pontos dessa vez com um repertório de infiltrações, e até Patrick Beverley acertou de novo seus floaters por cima da defesa do Thunder. É simplesmente gente demais que pode dar um jeito de vencer a qualquer momento mesmo quando as bolas do perímetro não caem.

Antes da série começar, arrisquei que o Rockets iria vencer com certa facilidade porque a equipe de Houston poderia superar um dia ruim de Harden enquanto o Thunder IMPLODIRIA caso Westbrook não jogasse bem. Na verdade, quando Harden não esteve num dos seus melhores dias, como ontem, ainda assim saiu de quadra com 34 pontos, 8 rebotes, 4 assistências, 3 roubos e 2 tocos. Mas não teria sido suficiente sem um forte elenco ofensivo de apoio. Por outro lado, Westbrook não teve um único jogo ruim como eu esperava, mas não ter jogos PERFEITOS foi suficiente para o Thunder cair.

Westbrook deixa a série com MÉDIAS de 37 pontos, 11 rebotes e quase 11 assistências por partida, números inacreditáveis. Quando Westbrook esteve em quadra durante a série, seu time fez 15 pontos a mais do que tomou; quando esteve em quadra ao mesmo tempo que James Harden, Westbrook ainda deixou um saldo positivo de 5 pontos. Mas quando o armador do Thunder saiu de quadra, seu time tomou CINQUENTA E OITO PONTOS a mais do que conseguiu fazer. É um saldo negativo impossível de superar nos Playoffs.

E agora que a série terminou e estou com a cabeça fria e o coração quente, meu pânico é de que Westbrook seja responsabilizado por isso. O armador teve postura tática e ética exemplar nessa série: sua capacidade de encontrar Taj Gibson na linha de fundo, ATRÁS da defesa que o Rockets montou para parar Westbrook, foi um dos motivos para o Jogo 5 ter sido tão apertado. Sua capacidade de encontrar Taj Gibson no meio da defesa durante as infiltrações foi o motivo do Thunder ter vencido o Jogo 3. Westbrook acionou os companheiros, não gritou com ninguém durante os TROCENTOS erros defensivos dos primeiros 2 jogos, ajudou a montar a defesa que complicou a vida de Harden e tornou o Jogo 5 uma coisa DIFÍCIL DE ASSISTIR (melhor descrição da partida: “pior jogo dos Playoffs, mas melhor projeto de arte”).

Além disso, Westbrook acionou com frequência exemplar os poucos arremessadores da equipe que, sem ritmo e com baixíssima prioridade na fila de reservas, não conseguiram produzir à altura dos passes que recebiam. Nos quartos períodos, Westbrook acionou companheiros que DEVOLVIAM a bola sem nem pensar duas vezes.

O técnico Billy Donovan não montou um esquema tático inteiramente baseado em Westbrook porque ACHOU LEGAL, ou porque é amiguinho do armador, ou porque quer lhe dar triple-doubles de presente de Natal, mas porque era a única chance de vitória com um elenco extremamente limitado, com deficiências em todas as posições, dificuldades do perímetro e jogadores essenciais com fraquezas facilmente exploráveis (Kanter na defesa, André Roberson nos lances livres, Steven Adams nas trocas de corta-luz, etc). Nesse esquema o time se classificou bem para os Playoffs e venceu um jogo contra um Rockets que – as pessoas esquecem – tem chances reais de ganhar um título nessa temporada dada a profundidade do elenco.

Ontem, quando Patrick Beverley – que CAÇOU Westbrook a série inteira – foi bater boca com o armador em quadra, dizendo que ele era “do time de melhores defensores da NBA” e que “Westbrook não tinha chance”, achei a postura do armador do Thunder exemplar, não jogou lenha na fogueira, mal reagiu, esperou a turma do deixa disso e seguiu a vida. E ainda pediu desculpas para seus companheiros pelo erro que causou a bagunça toda:

Deixou para criticar Beverley na coletiva de imprensa (dizendo que marcou 50 pontos contra esse “defensor”, ao que Beverley respondeu que “Westbrook precisou de 40 arremessos pra isso”), mantendo-se focado no jogo o tempo todo e cordial com adversários e companheiros.

Beverley de fato fez um bom trabalho: quando esteve marcando Westbrook, limitou o armador a 7 acertos em 27 arremessos, além de 5 desperdícios de bola. Mas esse aproveitamento não impediu Russell de continuar tentando, de inventar soluções, e de manter o time à frente do placar enquanto conseguia estar em quadra.

Como torcedor do Rockets fico feliz de ter passado para as semi-finais e ALIVIADO que essa bobagem de “qual das duas estrelas é MVP” vai dar uma pausa, mas a sensação que tenho nesse instante é de mais profunda admiração e reverência a Russell Westbrook e o que ele fez nessa série. Pra achar que ele foi o “responsável” pelas derrotas ou que não incluiu seus companheiros, precisa ser cego, surdo e mudo. Às vezes é só questão de admitir que o time dependia do esforço de Westbrook e que, dadas as circunstâncias, esse esforço não tinha como ser suficiente. Se as estrelas trocassem de lugar, Harden também não teria o que fazer. Milagre é outro departamento.


O vantagem de mais de 10 pontos na vitória do Spurs não conta o tamanho do ESFORÇO que o Grizzlies fez para se manter vivo no jogo. A equipe de Memphis, jogando fora de casa, chegou a estar 18 pontos atrás no placar, emplacou uma sequência em que acertou 11 de 13 arremessos, fez um excelente trabalho defensivo, e apenas conseguiu diminuir a vantagem para 4 pontos. Assim que errou um outro arremesso a mais, a vantagem voltou a expandir outra vez.

Isso porque o Grizzlies joga completamente NO LIMITE: precisa acertar todos os arremessos, não errar nenhuma rotação defensiva, continuar agressivo tanto no ataque quanto na defesa, sofrer faltas, não perder nenhum jogador por excesso de faltas e ainda torcer para Kawhi Leonard errar para só então conseguir construir uma vantagem no placar. Eventualmente se o cansaço aparece e os erros acumulam, o Spurs começa a sumir no horizonte. E sabe o que é o mais impressionante disso tudo? Prepara-se para a heresia: tudo isso acontece mesmo com o elenco do Spurs sendo bem mais fraco do que deveria.

O Grizzlies consegue forçar o Spurs a um grau de REALIDADE que não estamos tão acostumados na temporada regular: ao atacar constantemente David Lee, o Grizzlies expõe as limitações daquele que já foi amplamente considerado o pior defensor da NBA; ao atacar Tony Parker, expõe a falta de velocidade lateral e percepção defensiva do armador; quando Conley sai COSTURANDO a defesa adversária, expõe a ausência de defensores velozes capazes de cobrir os espaços e contestar arremessos no aro; ao defender LaMarcus Aldridge fisicamente, expõe sua dificuldade de conseguir arremessos consistentes. Pensemos um pouco: o Spurs está usando Davis Bertans, um jogador limitadíssimo da D-League, por longos minutos em quadra numa partida essencial nos Playoffs, além de um jogador de quase 40 anos de idade, Manu Ginóbili, que somou ZERO pontos nos primeiros 4 jogos da série. Esse Spurs está muito, muito longe de ser o elenco dos sonhos de Popovich e ainda assim, contra todos os pesares, as coisas continuam funcionando.

Toda vez que o Grizzlies abusava de David Lee ou de Tony Parker, o Spurs metodicamente ia lá e abusava de Zach Randolph num corta-luz que o impedia de contestar qualquer arremesso. Se numa jogada Ginóbili não tinha qualquer chance de alcançar Mike Conley na corrida, na outra ele ANTECIPAVA a jogada de Conley, sabe-se lá como, e ocupava os espaços com tanta antecedência que acabava roubando bolas que nem o Grizzlies sabia que iriam parar lá. E quando ficava claro que Ginóbili não tinha velocidade para vencer o Grizzlies num contra-ataque, ele simplesmente diminuía ainda mais a velocidade pra deixar alguém trombar nele:

Ao todo foram 10 pontos e 3 roubos de bola para o argentino que, sob qualquer ângulo que se olhe, sequer deveria estar conseguindo ficar de pé nessa série. Tudo uma questão de tática, inteligência, precisão e um comprometimento surreal com o modelo. Ginóbili mergulhou na quadra a ponto de enfiar o NARIZ no chão, e pense que quebrar o nariz é, para Ginóbili, quebrar quase 90% do corpo. A reação do Popovich à cara amassada de Ginóbili no chão, que eu separei abaixo, resume esse time com perfeição:

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Mesmo com seus piores quintetos ofensivos em quadra (especialmente quando Kawhi Leonard vai para o banco), jogadas incrivelmente simples (em geral, um mero pick-and-roll) acabam criando espaço para arremessos em excelentes condições porque todo mundo se entrega integralmente ao modelo tático. Com Kawhi em quadra, então, a coisa é pior: na marcação individual, a estrela do Spurs estava nitidamente machucando o Grizzlies; quando optaram pela marcação dupla, ele passou a gerar arremessos incríveis para outros jogadores. Mas ele não precisa INVENTAR esses passes como o fazem Westbrook e Harden, ou girar a bola para o lado oposto da bola com mira a laser como LeBron – Kawhi só precisa passar para o lado e a bola FLUI como mágica até alcançar alguém em condições de arremesso. Ao todo foram 14 bolas de três pontos convertidas contra uma das melhores defesas de perímetro de toda a NBA.

O Grizzlies fez o que conseguiu, explorando bastante o jogo de inside-out, levando a bola pra dentro do garrafão e passando ela para fora, situação em que ninguém no Spurs, exceto Kawhi, consegue cobrir a quadra a tempo de contestar os arremessos. E Mike Conley mais uma vez se aproveitou da defesa focada no garrafão do Spurs para usar os espaços, costurar e sair de quadra com 26 pontos.

Sobrando 5 minutos para o fim da partida, com o Grizzlies perdendo por apenas 5 pontos e tendo acertado MAIS DA METADE dos arremessos na partida, bastou Patty Mills converter duas bolas seguidas de três pontos, o Grizzlies errar um par de arremessos relativamente livres e o jogo tinha ido para o brejo. Por um lado, a máquia-de-moer de Memphis nos ajuda a ver que o Spurs é um time cheio de limitações de elenco, mas por outro nos mostra o motivo do Spurs estar na elite há DÉCADAS: não importa que jogadores estejam ali, esse time é sempre melhor do que o seu.


Pra fechar a noite tivemos o Jazz calando a torcida amaldiçoada do Clippers com mais uma vitória decidida nos minutos finais – e pode, outra vez, colocar essa na conta de Joe Johnson.

Não tenho NENHUMA dúvida de que Chris Paul é o melhor jogador dessa série, controlando o ritmo, os espaços, a movimentação e se bobear até a temperatura e a umidade do ginásio, mas com o jogo amarrado, brigado, repleto de jogadas individuais e arremessos forçados ESTÚPIDOS, Joe Johnson ainda parece o cara que está mais confortável, mais dentro do que ele esteve fazendo durante toda sua carreira. Todo dia em que dizem para Joe Johnson “faz aí o que você bem quiser” é o melhor dia de sua vida. Parece que todo mundo estudou pra jogar um basquete inteligente e de repente vira uma bagunça, um basquete feio e truncado, e aí o Joe Johson levanta a mão e pede pra fazer o que sabe.

Ganhando por 2 pontos a 3 minutos do fim num jogo brigado em que Gordan Hayward acendeu e apagou como luzinha de árvore de Natal, o Jazz tentava conter como podia o avanço desesperado do Clippers, baseado nos arremessos de média distância de Chris Paul nos espaços gerados pelo medo de DeAndre Jordan. A defesa do Clippers encaixou e o Jazz estava perdendo O MOMENTO de vencer o jogo fora de casa. Ontem o Jazz até tentou girar mais a bola, encontrar arremessadores e usar os corta-luzes de Rudy Gobert para criar algum espaço especialmente na zona morta, então com 3 minutos para o fim era hora de encontrar algum desses espaços. O Clippers apertou a defesa, rodou bonitinho, fez todas as coberturas e George Hill teve que forçar uma bola de 3 no estouro do relógio de 24 segundos. Problema? DeAndre Jordan teve que contestar Hill fora do garrafão, de modo que Gordon Hayward conseguiu lutar por um rebote ofensivo e dar um tapinha para a bola cair nas mãos de – ADIVINHA – Joe Johnson no perímetro. Seu arremesso certeiro levou a vantagem para 5 pontos.

As últimas posses de bola foram inteiramente centradas em Joe Johnson, até que, perdendo por 3 pontos, o Clippers tinha sua última chance de defender uma posse de bola para tentar empatar o jogo – em caso negativo, teria que começar a fazer faltas para parar o relógio e consequentemente dar adeus à partida. Alguém me explica por que raios Mbah a Moute resolveu DOBRAR em George Hill, deixar Joe Johnson livre e aí ter que PERSEGUIR o jogador só pra tomar, desequilibrado, um arremesso decisivo na cabeça? Tá todo mundo atrapalhado e o Joe Johnson só falta BOCEJAR:

O Clippers até colocou a defesa no lugar, Chris Paul até encontra espaço para os arremessos, mas na hora que importa basta um deslize para Joe Johnson estar lá na sua ZONA DE CONFORTO. Até Joel Embiid resolveu aplaudir de pé:

Joe Johnson é o tipo de jogador com habilidades específicas capazes de definir uma série. Faz aquilo que ninguém quer, de que ninguém mais gosta, mas que na hora do aperto é o que todo time do planeta procura.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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