Sem Nenê, contundido e fora pelo resto da temporada, o Rockets resolveu experimentar durante o Jogo 4 com uma formação mais baixa. O resultado deu tão certo que já para o segundo tempo, Eric Gordon foi titular com apenas Clint Capela no garrafão e Ryan Anderson como seu substituto, permitindo ao Rockets jogar efetivamente sem pivô nenhum. O Spurs insistiu em tentar jogar alto e foi completamente neutralizado, especialmente porque LaMarcus Aldridge e Pau Gasol não conseguiram usar a vantagem de tamanho.
Parte da graça do Jogo 5 estava em ver como o Spurs iria responder a isso: continuaria apostando na altura, forçando o jogo embaixo da cesta, ou tentaria um jogo mais rápido para competir com o Rockets nas bolas de três pontos? Nas primeiras posses de bola já ficou evidente que a abordagem seria manter os gigantes para enfrentar os anões adversários e tentar acionar o garrafão sempre que possível. Meio que por acaso, o Rockets foi obrigado a se tornar uma VERSÃO CARICATA DE SI MESMO, uma versão ultra-exagerada de seu próprio sistema tático, praticamente impossibilitado de apostar nas infiltrações, perdendo rebotes o tempo inteiro, mas disposto a trocar bolas de dois pontos de um lado por bolas de três pontos do outro, especialmente em transição. Se o time acreditou no modelo até aqui, agora se vê obrigado a abraçá-lo num grau de exagero sem precedentes. Resumo da história: até o final da partida, o Rockets terá arremessado QUARENTA E OITO bolas de três pontos e apenas 38 bolas valendo dois pontos.
Já o Spurs inventou o inside-out-inside para esse jogo: dava a bola para LaMarcus Aldridge, que deveria ser capaz de usar seu tamanho mas vai entender o motivo não consegue nem empurrar James Harden no garrafão, ele colocava a bola de volta no perímetro e aí o passe voltava para o OUTRO LADO do garrafão, onde Gasol estava praticamente sozinho porque a defesa do Rockets tentava se proteger de Aldridge. Essa espécie de “triângulo” que liga um lado do garrafão ao perímetro e por fim ao outro lado do garrafão se repetiu toda vez que o Spurs queria impor seu estilo de jogo. Mas o engraçado é que o maior beneficiado com esse esquema não foi Aldridge e muito menos Gasol: quem realmente aproveitou esse triângulo foram os jogadores de perímetro do Spurs, especialmente Patty Mills. Com o Rockets tentando proteger o garrafão dos dois lados e ainda garantir com o boxout um rebote defensivo, Mills começou a partida deixando de acionar Gasol para arremessar consideravelmente livre e converter 2 bolas de três pontos logo de cara. No primeiro quarto ainda teve bolas de três pontos de Danny Green e Kawhi Leonard – o time gigante estava torturando o adversário no perímetro!
A vantagem do Spurs no placar beirou os 10 pontos quando James Harden começou a pegar fogo. Com um corta-luz simples de Trevor Ariza, o Barba passava a ser marcado por Aldridge ou David Lee e, para evitar uma dobra de marcação e a forte defesa embaixo do aro, simplesmente DANÇAVA e arremessava por cima de seu defensor. Acertou 3 das 4 bolas de três que tentou só no quarto inicial para manter o Rockets na partida e honrar o plano de jogo. David Lee tem um alvo no peito: se ele é o marcador, qualquer jogador do perímetro o ataca sem dó.
No segundo e terceiros quartos, o maior problema do Rockets foi que, em formações mais baixas ou quando Trevor Ariza não está em quadra, é Eric Gordon quem precisa marcar Kawhi Leonard. A estrela do Spurs se aproveitou desses momentos, forçou a defesa do Rockets a cobrir o jogador e deu espaço para LaMarcus Aldridge e Kawhi colocarem na conta 3 rebotes ofensivos pra cada. Mas ainda assim o elenco mais baixo compensou, especialmente porque David Lee é INCAPAZ de defender qualquer pessoa minimamente mais rápida do que ele, de modo que Harden abusou das infiltrações e até Ryan Anderson criou coragem para PISAR dentro do garrafão – maior sinal de desrespeito a David Lee em toda a História. As bolas de três pontos do Rockets continuavam voando pelo ar – foram 15 apenas no terceiro período – e com isso continuavam as bolas de três pontos convertidas, deixando claro que o NÚMERO MÁGICO de 15 bolas seria alcançado. Mas havia algo na conta que não fechava: o Rockets não conseguia um aproveitamento espetacular de 3 pontos, se mantendo sempre no limite do aceitável para competir com o altíssimo aproveitamento do Spurs nas bolas de 2 pontos, até que um par de bolas de três pontos DO SPURS desequilibrava a conta. O combinado era que o Rockets iria trocar bolas de 2 pontos do Spurs por bolas suas de três, mas ninguém avisou Patty Mills e Danny Green, que continuavam arremessando do perímetro e desequilibrando a continha. Se o Rockets continuou vivo no jogo foi porque Aldridge tentou constantemente defender na cobertura as infiltrações de James Harden e deixou Ryan Anderson livre para entrar no garrafão e conseguir um par de rebotes de ataque. O Spurs pode até ser campeão da NBA ou do Universo, mas que fique essa mancha: RYAN ANDERSON PEGOU REBOTES OFENSIVOS.
O quarto período com certeza foi, em termos objetivos, O PIOR DA SÉRIE até agora. Terminou 16 a 15, com os dois times arremessando abaixo de 36%. Para o Spurs, um dos motivos foi que Kawhi Leonard torceu seu tornozelo num lance simples no terceiro período, em que pisou no pé de Harden no meio de uma corrida aleatória e, embora tenha jogado quase metade do quarto final, estava claramente no sacrifício e acabou sentando nos minutos cruciais e na prorrogação.
Para o Rockets, o motivo da baixa produção era que ninguém conseguia acertar uma mísera bolinha de três pontos: tendo entrado no quarto período com 13 bolas de três pontos convertidas, terminou o tempo regulamentar com 14, uma abaixo do número-alvo. Tendo que assumir a responsabilidade ofensiva, especialmente porque seu reserva Lou Williams não conseguia acertar absolutamente nada, Harden fechou o quarto período a uma assistência de um triple-double mas visivelmente cansado e, mais preocupante ainda, já sem repertório. Suas tentativas de acionar Clint Capela embaixo da cesta falharam miseravelmente, se tornando roubos e contra-ataques para o Spurs, enquanto a defesa tentava sufocá-lo no aro e evitar as trocas no corta-luz para que chutasse com pouco espaço. Mais disciplinado, o Spurs cometeu poucas faltas contra ele, especialmente nas situações de pick-and-roll no perímetro, de modo que a maior arma de Harden era arremessar por cima de seus defensores e torcer para a bola entrar ou infiltrar e esperar que David Lee fosse o defensor principal do aro. Enquanto isso, o Spurs assumiu a dificuldade de usar seus jogadores de garrafão contra uma defesa muito compacta do Rockets e passou a usar Aldridge para abrir espaço para que jogadores do perímetro infiltrassem, especialmente Manu Ginóbili que inteligentemente soube ler essas situações e usar os espaços rumo ao aro.
Nesse fraco quarto período, os dois times tiveram chances de vencer a partida. Primeiro foi o Rockets com Harden, que tentou evitar uma bola de três pontos forçada, arriscou uma infiltração bem defendida por Jonathan Simmons (que está fazendo um trabalho EXEMPLAR contra o Barba) e aí acabou tendo que criar espaço para um arremesso TONTO de média distância – o fato de que ele criou esse espaço com uma falta de ataque também não ajudou muito a sua causa. Depois foi a vez do Spurs tentar vencer a partida, numa jogada que deixou Patty Mills completamente isolado contra James Harden. O armador do Spurs teve que segurar o arremesso por um segundo para não ser contestado, quase sofreu uma falta porque o Barba foi AMADOR e acabou convertendo o arremesso numa tabelada pouco tempo depois do estouro do cronômetro. O mais legal nessa jogada é que Popovich ficou BIRUTA com o Pau Gasol, que passou a jogada inteira tentando tirar Clint Capela do caminho e nem COGITOU fazer o corta-luz de que Patty Mills precisava.
A prorrogação era o tipo de situação que nenhum dos dois lados queria: o Spurs sem Kawhi, ainda sendo poupado no banco, e o Rockets com James Harden exausto, dando arremessos no bico do aro. De fato, Harden esteve irreconhecível, Jonathan Simmons roubou duas bolas das suas mãos porque estava numa marcha acima, e o Barba saiu da prorrogação com zero pontos, zero rebotes, 3 turnovers e apenas uma assistência, só pra fechar seu triple-double.
O Rockets assumiu a liderança no placar duas vezes na prorrogação com as bolas de três pontos de Patrick Beverley e de Ryan Anderson, mas não foi suficiente porque o Spurs devolveu na MESMA MOEDA: o garrafão mais alto criou espaço para uma bola de três pontos de Danny Green e, em seguida, exatamente como aconteceu com Manu Ginobili, Aldridge abriu um corredor para Green infiltrar e ainda sofrer uma falta.
O Rockets teve uma última posse de bola para tentar vencer o jogo, mas errou tudo da maneira mais ridícula possível: Harden abriu mão da bola pra deixar Eric Gordon decidir, Gordon se atrapalhou sozinho e driblou a bola na própria perna, teve que forçar uma bola presa™, ganhar no tapinha e gerar com isso uma jogada QUEBRADA, improvisada, sem nenhuma movimentação ou corta-luz, em que Harden não foi capaz sequer de ler onde estavam os defensores do Spurs e tentou uma bola de três pontos que Manu Ginóbili conseguiu bloquear enquanto bocejava de tão fácil:
É muito engraçado que num jogo em que o Spurs se focou no garrafão, Aldridge saia de quadra com 18 pontos, Pau Gasol com 4 e David Lee com 6. Mas foram eles que, mesmo sofrendo DEMAIS na hora de defender, conseguiram no ataque abrir espaço para os 20 pontos de Patty Mills (em 5 bolas de três pontos), os 16 pontos de Danny Green (em 4 bolas de três pontos) e os 12 pontos de Manu Ginóbili (com uma bola de três pontos). O Spurs de gigantes saiu de quadra com 11 bolas de três pontos – não tão atrás das 16 do Rockets – e mais espaço para infiltrar do que vimos em qualquer momento dessa série. Enquanto isso, o Rockets até chegou ao seu número-alvo de bolas do perímetro, mas não o fez durante o tempo regulamentar (excluindo prorrogações, o recorde continua valendo) e acertou apenas 33% dessas bolas. Não foi suficiente contra um Spurs que acerta suas bolas de fora com a frequência que vimos nesse jogo.
Outra questão é que no período horrível, o quarto, o Spurs de certa maneira conseguiu pela primeira vez na série impor seu ritmo de jogo. Com medo de cometer turnovers, de gerar contra-ataques e de tomar tocos num período DECISIVO com o placar SUPER APERTADO, o Rockets entrou naquele modo de controle de cronômetro que a gente vem dizendo aqui no Bola Presa há meses que é receita para DESASTRE. Sem a correria, o contra-ataque, os arremessos no início do cronômetro e a ausência de medo de arremessar bolas questionáveis de três pontos, o ataque do Rockets é infinitamente inferior e dá espaço não apenas para a defesa do Spurs brilhar, mas também para uma série de erros do Rockets que viram justamente os contra-ataques que o time tanto teme ceder.
Agora já vimos o Rockets vencer com a formação mais baixa e o Spurs vencer com uma formação mais alta apoiada pelo jogo de perímetro. Quais serão os ajustes para o Jogo 6? Kawhi Leonard já confirmou que estará na partida, então o Rockets precisa se virar para encontrar uma resposta imediata – está com as costas contra a parede.