Resumo da Rodada – Finais da NBA: Jogo 1

De um lado, marcação dupla em Stephen Curry; do outro lado, marcação dupla em Kawhi Leonard. Foi assim que começaram as Finais da NBA entre Toronto Raptors e Golden State Warriors. Nenhuma das equipes esteve disposta a encarar as estrelas rivais com uma marcação individual tradicional, apostando desde o primeiro minuto numa marcação agressiva focada em arrancar a bola das mãos dos dois principais jogadores da série. O resultado disso foi, em um dos jogos mais importantes de toda a temporada, um domínio absoluto dos jogadores de apoio, com ambos os times tentando adequar-se à dura realidade de enfrentar defesas especializadas em lhes negar suas principais armas.

No vídeo abaixo, em que Marc Gasol acerta uma bola de três pontos no primeiro quarto, dá pra ter uma noção de como o Warriors resolveu defender o rival: Draymond Green ignorando COMPLETAMENTE o pivô adversário, trabalhando na cobertura de uma tentativa de infiltração de Pascal Siakam e prontinho para dobrar em Kawhi Leonard se necessário. Andre Iguodala cumpre a mesma função: está DE COSTAS para Marc Gasol porque está com um olho numa possível dobra em Siakam, o outro olho em Kyle Lowry e um TERCEIRO OLHO (?!) em Kawhi Leonard. O que sobra é um desses arremessos classicamente livres de Gasol porque a defesa adversária não poderia se importar menos com ele:

Vejam a jogada acima de novo para perceber uma coisa muito engraçada: Danny Green TAMBÉM está livre, na zona morta do lado oposto da bola, e chega a pedir um passe – com Kyle Lowry inclusive APONTANDO pra ele, incentivando a bola a chegar lá. Isso porque além de Draymond Green estar na cobertura do garrafão, Kevon Looney também está nas imediações do aro. A ideia era conter todas as infiltrações possíveis, sufocar Kawhi Leonard a todo custo, e conviver tranquilamente com arremessos livres de Danny Green e Marc Gasol. Doze minutos depois, ao fim do primeiro quarto, Marc Gasol já havia convertido duas bolas de três pontos, Danny Green somava uma outra e o cenário já parecia desfavorável para o Warriors. A aposta foi até o final, mas já parecia ter dado errado.

Marc Gasol, no entanto, não se contentou em apenas arremessar as bolas livres de três pontos: usou seu corpo de LUA PEQUENA para empurrar Draymond Green e impedir que o adversário chegasse em algumas dobras de Kawhi Leonard, e ao ver o rival desesperado tentando cruzar a barreira, partiu para baixo da cesta. Isso não apenas comprou tempo para Kawhi conseguir respirar e encontrar passes melhores mas também colocou o próprio Marc Gasol em boas situações dentro do garrafão, quase sempre marcado por algum jogador da cobertura – muitas vezes Stephen Curry, que por mais que tenha conseguido se manter à frente de Gasol para tentar interceptar os passes, foi incapaz de vencer a altura de Gasol. O pivô do Raptors fez o que todos os outros times da NBA julgavam IMPENSÁVEL: um jogo de pick-and-roll contra o Warriors, criando no muque situações em que a bola não corria risco de ser interceptada e em que ele tinha ao menos condições de sofrer faltas. Associados aos seus arremessos livres de três, portanto, tivemos bolas próximas ao aro e lances livres de Gasol que o Warriors não soube defender, e que serviram como PUNIÇÃO pela defesa desempenhada em Kawhi Leonard. Mesmo quando as dobras em Kawhi aconteceram, Gasol estava em boa posição para receber um passe na cabeça do garrafão e, ali, usar sua famosa visão de jogo para acionar os companheiros livres – assim como Draymond Green tanto faz com seus adversários.

Mas o papel do pivô espanhol não para por aqui: contrariando todas as previsões, todo o bom senso e todas as LEIS DA FÍSICA, Marc Gasol foi o principal homem responsável por dobrar a marcação em Stephen Curry. Ao invés de fazer a troca de marcação, quando um pivô precisa marcar o armador adversário após um corta-luz para não lhe ceder espaço, Gasol simplesmente corria para dobrar a marcação – por vezes, quando o Raptors marcou por zona (entenda melhor como funciona a defesa por zona da equipe em nosso texto especial para assinantes), Gasol simplesmente dobrou em Curry sem nenhum pretexto, aproveitando-se do fato de que Draymond Green podia ser abandonado livre no perímetro. O bizarro da situação é que Gasol é lento e pesado e Stephen Curry deveria, assim como fez contra o Houston Rockets no fatídico Jogo 6 das Semi-Finais da Conferência Oeste, encontrar espaço para passar a bola, acionando Draymond Green e permitir ao seu companheiro atacar a cesta numa situação de 4 atacantes contra 3 defensores. No entanto, não foi isso que aconteceu: Gasol usou seu corpo gigantesco para sufocar Curry, desviou bolas, atrasou as decisões do armador, e permitiu que o restante da defesa por zona do Raptors se posicionasse para interceptar os passes que saíam das mãos de Curry. Foi o pivô o principal responsável pelos desperdícios de bola do Warriors e por Stephen Curry não ter encontrado espaço para entrar num ritmo de arremessos. Para se livrar da pressão, o que Curry passou a fazer no segundo tempo foi AVANÇAR ao perceber a dobra, costurando rumo ao aro ou dando um passo para dentro do garrafão com dois defensores nas suas costas e aí tentando um arremesso de meia distância. O armador saiu de quadra com 34 pontos e cobrou 14 lances livres, fruto principalmente de suas infiltrações e do fato de que, ao ter defensores em suas costas, soube “frear” o corpo e arremessar sob contato. Mas ainda assim foram arremessos que lhe são pouco característicos, sob pressão, longe do perímetro e fora de ritmo. Foi o melhor que se pode fazer contra o armador e tirou completamente o Warriors de seu funcionamento usual – mesmo que ele, genial, tenha continuado encontrando maneiras de pontuar.

Kawhi Leonard, que sofreu tratamento similar, teve mais sorte em conseguir passes para fora de sua marcação dupla, mas também foi sufocado, teve dificuldade de arremessar sob pressão e só conseguiu ajudar no placar ao sofrer faltas – acertou 10 lances livres. Nem enfrentando os reservas do Warriors vimos Kawhi ter vida fácil na hora de atacar a cesta:

Só que as dobras constantes de Draymond Green em Kawhi – ou mesmo sua presença nos espaços que Kawhi poderia usar para infiltrar – acabaram deixando mais espaço do que apenas Marc Gasol ou Danny Green livres. No lado oposto da bola, Pascal Siakam teve espaço constantemente e ao invés de arremessar da zona morta, como vimos acontecer sem sucesso contra o Milwaukee Bucks, vimos o ala do Raptors atacar agressivamente o aro. Isso fez com que Draymond Green tivesse que sair de sua posição para tentar impedir o adversário, ou então forçou que Stephen Curry cobrisse esse espaço. Em ambas as situações, Siakam simplesmente chegou mais rápido, se antecipando a Green e cavando faltas em Curry. Enquanto Kawhi não tinha espaço nem para respirar (e mesmo assim insistia em tentar infiltrar, ao invés de arremessar assim que recebesse a bola), Siakam ia encontrando cesta atrás de cesta – e até mesmo rebotes de ataque, já que Draymond Green estava sempre fora de posição para cobrir a estrela rival.

Vale fazer a comparação com o que estava acontecendo do outro lado: com a dobra em Stephen Curry, não deveria também sobrar espaço para outros jogadores infiltrarem livres para a cesta? Mas foi aí que vimos Kyle Lowry, o DRAYMOND GREEN LIGHT™, marcando os espaços de acesso ao garrafão e cavando faltas de ataque ou, se necessário, cometendo faltas para parar a jogada:

Isso não significa que todas as bolas do Raptors foram fáceis e que todas as bolas do Warriors foram difíceis, longe disso. O Warriors ainda conseguiu vários dos seus arremessos mais clássicos, com Klay Thompson e Stephen Curry se movimentando sem a bola enquanto Draymond Green cuidava da armação, e levou um tempo considerável – praticamente três períodos – para o Raptors ter alguma resposta a isso, tentando se antecipar aos arremessos e aí abrindo espaço no garrafão. Do outro lado, o Raptors teve que fazer muitos arremessos difíceis, já que mesmo quando Siakam ou Gasol encontravam espaço para entrar no garrafão, sempre eram contestados no aro por múltiplos marcadores na rotação. Mas aos poucos os arremessos do Raptors foram parecendo simplesmente melhores – menos pressionados, de jogadores com melhor aproveitamento – do que aquilo que o Warriors foi capaz de gerar frente à marcação dupla e à constante defesa de quadra inteira em cima de Curry.

Isso ficou ainda mais evidente quando o Raptors começou a transformar os roubos de bola e os desperdícios do Warriors em incríveis PONTOS FÁCEIS DE CONTRA-ATAQUE. Como foi a norma na série contra o Bucks, Kyle Lowry só apareceu no ataque quando acelerou as posses de bola tentando pegar os oponentes na transição, mas vários outros jogadores do Raptors também conseguiram pegar os jogadores do Warriors desprevenidos – especialmente quando DeMarcus Cousins esteve em quadra. O pivô finalmente voltou às quadras depois de sua lesão ainda na primeira rodada dos Playoffs e embora tenha criado espaços, não estava em forma física boa o suficiente para tirar o Raptors de seu plano de jogo, não forçou o técnico Nick Nurse a exagerar nos minutos de Marc Gasol e teve atuação discreta. De muito visível, apenas sua dificuldade para voltar para a defesa, cedendo passes longos de quadra inteira nas suas costas:

Dar espaço para Marc Gasol, Danny Green e Pascal Siakam na zona morta fazia parte do plano do Warriors: são bolas com as quais eles estão dispostos a lidar, confiando que a rotação defensiva (ou as estatísticas de aproveitamento) darão conta dessas situações. O que não estava no plano, certamente, era tomar tantos pontos de contra-ataque: foram 24 deles em 17 desperdícios cometidos.

E ainda que Marc Gasol e Siakam livres na linha de três pontos fosse parte do plano, também certamente não era desejável ver Marc Gasol receber passes dentro do garrafão e tampouco ver Siakam acertar 14 de 17 arremessos, a maior parte deles em infiltrações e contra-ataques.

Do outro lado, nada que o Warriors ofereceu ofensivamente parecia fora do que o Raptors esperava: Draymond Green ficou livre para arremessar e errou tudo, não teve espaço para infiltração, Curry e Klay Thompson tiveram menos oportunidades de arremesso do que o ideal e Andre Iguodala teve mais uma chance de ser herói arremessando livre no perímetro – ao contrário do Jogo 6 contra o Rockets, errou tudo e ainda saiu de quadra sentindo uma lesão na perna. Ou seja, tudo dentro do desejável. De surpreendente, apenas as vezes em que Kevon Looney infiltrou de surpresa no garrafão, saindo livre e conseguindo duas enterradas importantes para o Warriors cortar a vantagem no terceiro quarto:

Numa posse de bola aqui e outra ali, o Warriors sempre encontra uma bola simples, uma cesta verdadeiramente fácil – e aí a vantagem dá uma encolhida, de modo que a gente sempre vislumbra aquela possibilidade do Raptors derreter. Mas quando a vantagem caiu para 3 pontos no quarto período, lá estava Kawhi Leonard mais uma vez – mesmo pressionado, mal no jogo, vítima de toda a atenção defensiva adversária – para conseguir uma bolinha de três pontos improvável. É essa segurança de que alguém QUER arremessar nos momentos mais difíceis que dá ao resto do elenco a carta branca e a tranquilidade para arremessar em todos os outros momentos. Sob protagonismo de Marc Gasol e Siakam, além da defesa impecável de Kyle Lowry, Kawhi não teve que fazer muito além de ser uma pedra de apoio emocional – e, claro, um chamariz GIGANTE para a defesa adversária. Mas quando esse elenco de apoio não acertar suas bolas – aquilo que o Warriors estava apostando, e talvez tenha apostado de maneira CARICATA demais desde o primeiro segundo de jogo, algo que não deve se repetir – Kawhi pode ter que fazer mais, muito mais. Só que para isso, o time de Toronto precisará encontrar respostas para a defesa que sofreu nesse Jogo 1.

Mas esse problema parece, ao menos por enquanto, muito menor do que aquele que o Golden State Warriors precisa enfrentar. Como evitar que Curry sofra uma defesa tão devastadora e tenha que se contentar com infiltrações? Como punir Marc Gasol na defesa e não permitir que ele encontre espaço no garrafão ofensivo? E como impedir que Siakam use o espaço que lhe é dado, garantindo que ele fique apenas no perímetro? Os atuais campeões, surpreendentemente, tem mais perguntas a responder – e as soluções que eles deverão mostrar no domingo precisam ser convincentes, ou o Raptors poderá definitivamente deixar os canadenses, e todo o mundo que torce por um azarão, sonhar de verdade.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.