Resumo da Rodada – Finais da NBA: Jogo 3

Foi sem Kevin Durant, sem Klay Thompson e sem Kevon Looney que o Golden State Warriors entrou em quadra, em casa, para o Jogo 3 das Finais da NBA. Looney está oficialmente fora da série por conta de uma fratura na região do ombro, Durant já havia sido descartado para essa partida (sendo presença possível apenas no Jogo 4) e Klay Thompson seria uma decisão de última hora para o Warriors. Pelo jeito, Klay estava decidido de que poderia jogar, mas a equipe médica não estava tão convencida assim e, pouco antes do jogo, resolveu poupá-lo para o Jogo 4 também. O que sobrou foi um Warriors pelado, exposto, que teria que encontrar recursos para impedir que sua única arma ofensiva restante – Stephen Curry – não fosse mais uma vez engolida pela forte marcação dupla do Toronto Raptors, e ainda inventar alguma maneira de parar Kawhi Leonard.

Defensivamente, perder Klay Thompson significa imediatamente um defensor a menos para marcar Kawhi Leonard individualmente, enquanto perder Kevon Looney significa perder o único jogador de garrafão do elenco capaz de marcar minimamente bem no perímetro em caso de trocas de marcação. A soma dessas baixas apresenta, então, um cenário aterrador: marcar Kawhi se torna responsabilidade de Draymond Green ou de Andre Iguodala, o que impede que os dois possam atuar nas coberturas, na proteção de aro e nas dobras em infiltrações. Draymond Green, em especial, tem um papel fundamental quando joga longe da bola: ele ocupa os possíveis espaços entre o perímetro e o garrafão para impedir que os adversários ataquem a cesta, intercepta os passes para o garrafão, faz dobras de marcação eventuais e ainda consegue se recuperar para marcar quem ficou livre e está o tempo todo correndo de um lado para o outro da quadra, um gênio defensivo. Se ele fica responsável por uma defesa individual em Kawhi Leonard (ou em Kyle Lowry, como se mostrou necessário ao longo da partida), então quem está cumprindo a função de cobertura? A triste resposta: DeMarcus Cousins. Andrew Bogut. Jordan Bell. Ou, às vezes, ninguém. E foi assim que a defesa do Warriors, puf, morreu.

Dobrar a marcação em Kawhi Leonard se mostrou muito difícil com essa formação e não havia ninguém para ajudar em casos de infiltração, porque os pivôs restantes do Warriors são lentos demais para a função. Além disso, toda vez que Marc Gasol era marcado no perímetro, o garrafão ficava desprotegido, o que permitiu que qualquer jogador do Raptors atacasse a cesta. E para piorar a situação, o projeto de deixar Danny Green livre para arremessar de longe teve que ser levado ao seu extremo – e aí ele converteu 3 bolas de três pontos só no primeiro quarto, com outras 3 ao longo do jogo.

Não lembro de ter visto nos últimos anos esse Warriors tão frágil defensivamente. Quanto mais Draymond Green precisava marcar algum jogador no mano-a-mano, mais ficava evidente como ele é ESSENCIAL na cobertura e como esse papel não é de fácil execução para outros jogadores de garrafão – o único do elenco com condições de desempenhar trabalho similar seria, vejam que coisa, Kevin Durant, que viu o jogo da enfermaria. DeMarcus Cousins, que não é um grande defensor, teve uma partida HORROROSA tentando imitar Draymond Green, exposto por uma exigência tática que ele claramente não deveria ter que cumprir – o pivô pareceu mais lento do que nunca, errou todas as trocas de marcação e estava sempre do lado errado da bola. O problema é que sem ele não havia muita opção: na jogada abaixo podemos ver Jordan Bell, substituindo Cousins, vindo para a dobra de marcação em Kawhi Leonard e sendo incapaz de impedir que o adversário corte para a esquerda e chegue ao aro. Em situações normais, Draymond Green viria por trás e “fecharia” o espaço para a cesta, trombando com Kawhi, mas no caso abaixo Green é quem está marcando Kawhi desde o começo da jogada. O jogador que acaba tendo a função de vir na cobertura é Alfonzo McKinnie, coitado, que só chega um tempão depois da enterrada acabar e não aparece nem na fotografia:

Com Andrew Bogut, que acabou ficando com a maior parte dos minutos na posição de pivô, a coisa foi um pouco melhor – às vezes. Ele também teve dificuldade de acompanhar, sua baixa velocidade lateral é LENDÁRIA, mas ele entende o esquema tático o suficiente para permitir eventualmente jogadas defensivas como essa:

Vejam acima como Draymond Green fica mais livre para dobrar em Kawhi e depois voltar para o garrafão, e aí dobra novamente quando o Raptors insiste com Kawhi outra vez, o que se torna um arremesso medonho que sequer chega no aro. Esse lance, entretanto, foi a exceção, não a regra. Ter Draymond Green pessoalmente envolvido na marcação individual dos adversários no perímetro comprometeu até mesmo a eficiência das dobras de marcação, já que Green teve menos liberdade de ajustes, e acabou se mostrando uma aposta do técnico Steve Kerr que simplesmente não deu certo.

Já no ataque, a coisa foi um pouco melhor para o Warriors. Para evitar as previsíveis dobras de marcação em Stephen Curry, outros jogadores passaram a levar com frequência a bola para o ataque – principalmente Draymond Green e DeMarcus Cousins, mas também Shaun Livingston ou Iguodala – para que Curry pudesse se movimentar sem a bola nas mãos e recebesse passes em melhores condições de arremesso. Ainda assim, isso significou que Curry precisou dar arremessos muito rápidos ou, nos momentos em que driblou a bola rumo ao ataque, atacar a cesta antes das dobras se formarem ou então arremessar bem de trás da linha de três pontos enquanto a ajuda de marcação ainda não havia chegado. Nunca a distância insana de arremesso de Curry foi tão necessária:

Mesmo sob forte marcação, tendo que tomar decisões rápidas e se movimentando constantemente sem a bola, Stephen Curry fez 17 pontos no primeiro quarto. Dá pra ter uma ideia do repertório de arremessos no vídeo abaixo, que inclui até mesmo bolas longas de dois pontos, já que um passo para a frente atrasa a dobra de marcação que vem pelas suas costas:

Tanto protagonismo fez o Raptors se ajustar defensivamente ainda no período inicial. Os defensores passaram a se antecipar à movimentação sem a bola de Curry e então dobrar no armador no instante em que ele receberia a bola. No vídeo abaixo podemos ver essa dobra no que deveria ser um arremesso livre para Curry, mas aí o armador simplesmente dá um passe perfeito para DeMarcus Cousins que, graças à dobra, tem espaço para bater para o garrafão:

O problema da jogada acima é que a defesa do Raptors se orgulha de ser capaz de se recuperar após todas as dobras ou trocas de marcação, e Serge Ibaka chega a tempo de contestar o arremesso de Cousins por trás. Um problema AINDA MAIOR é que Ibaka contesta a bola claramente depois dela ter tocado a tabela e os árbitros não percebem, validando o toco ao invés da cesta. Ainda assim, a jogada mostra como, mesmo atrasada, a defesa do Raptors foi capaz de se recompor – apesar desse toco ilegal, Ibaka acertou vários outros legítimos ao longo do jogo em situações semelhantes – e como Stephen Curry teve oportunidades de passes que o resto do elenco do Warriors tinha frações de segundo para converter.

Não foi à toa que dos 29 pontos marcados pelo Warriors no primeiro quarto, 24 vieram de Stephen Curry – 17 com ele mesmo pontuando, e os outros 7 de assistências suas. E tudo isso, claro, apesar do aproveitamento COMPLICADO do resto do elenco. Era evidente que, sem outros grandes pontuadores com os quais se preocupar, o Raptors poderia focar todos os seus esforços defensivos em Curry, e que para punir essa decisão jogadores que seriam deixados inteiramente livres no perímetro, especialmente Draymond Green e Andre Iguodala, precisariam acertar seus arremessos. Não foi o que aconteceu: só no primeiro quarto, Green, Iguodala, Cousins e Quinn Cook somaram 6 arremessos de três pontos sem converter NENHUM. Até o final do jogo, Green e Iguodala totalizaram DOZE arremessos tentados de três pontos, acertando apenas 4 – o que, vamos ser sinceros, já é até mais do que o esperado, ainda que os dois acertos de Green tenham vindo no último período quando o jogo já estava praticamente perdido.

Até DeMarcus Cousins, que poderia ter desafogado o ataque mais perto do aro, teve um desses dias para se esquecer: não teve sucesso embaixo da cesta, ficou frustrado por não marcarem faltas em suas investidas, e sua tentativa de distribuir a bola de fora para dentro não levou em consideração que, sem Klay Thompson em quadra, o Raptors tinha mais gente nas imediações do garrafão para roubar seus passes e desviar suas bolas. Quando saiu de quadra em definitivo, direto para os vestiários por estar sentindo alguma questão física, Cousins tinha acertado apenas um dos 7 arremessos que tentou, perdido a bola 3 vezes e cobrado míseros 3 lances livres. Além disso, sua vontade de contribuir com os rebotes de ataque se mostrou um desastre: não pegou nenhum e, para piorar, suas tentativas exageradas permitiam que o Raptors corresse para os contra-ataques contra um defensor a menos.

Sobrou para Stephen Curry, então, arremessar no meio de dois defensores em transição em começo de posse de bola para ter um mínimo de espaço para converter:

Quando o jogo terminou, Curry era o líder do Warriors em absolutamente tudo: foi o que mais marcou pontos, com 47, o que mais pegou rebotes, com 8, e o que mais deu assistências, com 7. O bizarro é que poderia ter sido ainda mais, já que Curry teve algumas boas oportunidades em jogadas quebradas e momentos em que saiu livre de um corta-luz e acabou não convertendo. Foi uma atuação memorável em um esquema tático totalmente dependente dele, e que teria provavelmente sido o suficiente contra muitas das equipes da NBA.

 

Só não foi suficiente contra o Raptors porque o ataque da equipe de Toronto, que já havia sido fundamental no Jogo 1 contra uma defesa razoavelmente saudável, foi ainda mais definitiva dessa vez contra um adversário combalido. Se não bastasse a falta que Draymond Green fez nas coberturas, vale dizer que seu impacto na defesa individual não foi suficiente para atrapalhar Kawhi Leonard. Mais uma vez participando de jogadas pontuais, nesse clima “de vez em quando” que tem sido a marca dele nesses Playoffs, Kawhi não teve muito trabalho para converter arremessos rápidos em cima da marcação individual sempre que foi necessário:

No vídeo acima vemos alguns arremessos na cara de Draymond Green, mas vários são fruto da defesa do Warriors estar preocupada com infiltrações de outros jogadores, dando espaço para Kawhi receber a bola com alguma tranquilidade, e outros são com Kawhi sendo marcado por Stephen Curry após alguma quebra na transição defensiva. Nesses momentos, Kawhi DESTROÇOU Curry, e a defesa nem conseguiu dobrar nele de maneira eficiente para evitar essas jogadas porque além de Danny Green acertando seus arremessos (os livres e também os difíceis), Kyle Lowry entrou em quadra decidido a ser agressivo, arremessar mais e, quem diria, CONVERTER essas bolas. No vídeo abaixo podemos ver como Draymond Green se compromete um segundo com uma infiltração e imediatamente depois precisa GRUDAR em Lowry, a quem ele teve que defender em parte do jogo. Meio desequilibrado por ter que cobrir tanto espaço, Green não é capaz de contestar o arremesso:

 

Ao todo foram 5 bolas de três pontos para Lowry, auxiliando nos seus 23 pontos marcados. Além dele tivemos os 18 de Danny Green, 18 de Pascal Siakam jogando nas costas da defesa do Warriors, 17 de Marc Gasol mais no garrafão do que no perímetro pela ausência de dobras constantes próximas ao aro, 11 de Fred VanVleet por motivos de FILHO e bolas difíceis de três pontos e, claro, os 30 de Kawhi Leonard – 10 deles vindos da linha de lances livres. Com isso temos 6 jogadores com mais de 10 pontos, 5 com ao menos 17. O maior mérito do Raptors foi, ao ver a defesa debilitada do Warriors, manter o plano de envolver todos os membros do elenco e punir o adversário por deixar jogadores livres ou sem defesa de cobertura ao invés de apostar só em Kawhi Leonard. A equipe de Toronto jogou coletivamente contra defesas completas e agora joga coletivamente contra defesas desfalcadas, pulando a armadilha comum de, frente a respiros defensivos, deixar sua estrela decidir. Foi essa escolha que deixou a defesa do Warriors ainda mais exposta, as más decisões de DeMarcus Cousins ainda mais estúpidas, e o trabalho de Draymond Green ainda mais impossível.

O ataque do Warriors, que há anos é modelo e sonho molhado para toda a NBA, mostrou que é minimamente funcional nas mãos exclusivas de Stephen Curry, ainda que a ausência de outros arremessadores deixe toda a movimentação ofensiva mais complicada. Mas defensivamente o Warriors simplesmente não tem, com as atuais lesões, as peças necessárias para ser a defesa revolucionária dos últimos anos – sem Draymond Green como a “cola” que une todo o elenco defensivamente, tendo que cumprir uma função mais “tradicional”, todos os outros jogadores pareceram mais frágeis, vulneráveis e a defesa pareceu COMUM. Contra a profundidade e o entrosamento do Raptors, ser comum simplesmente não foi e nem será suficiente.

Para o próximo jogo, na sexta-feira, dificilmente veremos Draymond Green fora de sua posição estabelecida nos últimos anos de Warriors, especialmente se Klay Thompson jogar – ainda que no sacrifício – ou se Kevin Durant puder ajudá-lo na função, caso seja liberado. Ainda assim, o CALDO desse Warriors parece cada vez mais RALO: a diferença entre uma defesa histórica e uma defesa insuficiente é muito tênue, depende de aspectos incontroláveis como saúde, condicionamento físico e resistência desses jogadores, e o momento do Warriors nesse sentido é o pior possível. O Raptors arriscou tudo nessa temporada e, como manda o figurino, está pronto para aproveitar a oportunidade. Uma vitória no Jogo 4 deixaria o time muito perto de um título antes impensável numa série em que a equipe tem total controle tático até aqui. Se novas peças não entrarem em quadra logo, o resultado pode ser catastrófico para o Warriors. Olho na enfermaria!

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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