Cleveland, Jogo 4 decisivo para o Cavs, minuto final do primeiro tempo com o Warriors 5 pontos atrás do placar. Draymond Green recebeu a bola de frente para a cesta, na linha de três pontos, mais uma demonstração de que o plano do Cavs consistia de deixá-lo livre para o arremesso para poder focar esforços em parar Stephen Curry, Klay Thompson e garantir o rebote defensivo. Draymond Green ameaçou arremessar mas, sem confiança, decidiu escapar da armadilha e tentar uma infiltração. Naquele meio segundo em que ele nem arremessou e nem infiltrou, Green deu um PASSO INTEIRO sem bater a bola, a infração foi marcada e o Warriors perdeu uma posse de bola importante. Essa foi a história do primeiro tempo: Cavs na frente por cinco pontos contra um Warriors desconfortável, confuso, que não sabia se deveria desafiar as armadilhas do Cavs ou evitá-las, se jogava seu basquete tradicional ou se encontrava novas saídas. James McAdoo, jogador de garrafão do Warriors que não entrava em quadra há mais de um mês, quando jogou UM MINUTO contra o Blazers, ganhou os minutos de Festus Ezeli e Anderson Varejão sem nenhum aviso, dando ao Warriors uma aparência tanto de cientista maluco quanto de time desesperado, fora da zona de conforto. O favoritismo parecia ter abandonado a série: depois de apenas 14 mudanças de liderança nos primeiros 3 jogos da série, vimos 15 mudanças de liderança só nesse jogo quando faltavam ainda dois minutos para terminar o segundo quarto.
Foi finalmente o primeiro tempo disputado que esperávamos, e ao mesmo tempo condensou em 24 minutos a graça das mudanças táticas e invenções dos técnicos que haviam marcado as lavadas na série até aqui. Para exemplificar, Kevin Love começou o jogo no banco de reservas, depois de ter pedido que o técnico Tyronn Lue “fizesse o que fosse melhor para a equipe”. O Cavs, então, começou com a variação bem-sucedida do Jogo 3, com um time mais baixo com Richard Jefferson como titular. O Warriors, por sua vez, manteve o pivô Andrew Bogut no time titular, preocupado em cancelar o jogo de costas para a cesta do Cavs e bloquear o caminho de LeBron James para a cesta. Mas quando o Warriors finalmente desencanou do Bogut no segundo quarto para tentar engrenar um ataque estagnado, colocando em quadra seu quinteto mais baixo, o Cavs optou pela rota CONTRÁRIA e escalou Kevin Love e Channing Frye JUNTOS para enfrentá-los. No duelo das variações táticas, na paranoia de não querer cair nas ARMADILHAS do adversário, todo mundo fez o CONTRÁRIO do que esperávamos: o Warriors tentou jogar alto contra o Cavs mais baixo, e o Cavs colocou seus jogadores de garrafão que não sabem defender para parar o quinteto baixo pontuador do Warriors.
No meio dessa bagunça, o de sempre: Stephen Curry caçado, com trocas de marcação inteligentes do Cavs para persegui-lo em cada corta-luz; e LeBron James sem espaço para a infiltração, sendo desafiado a arremessar de fora do garrafão. Com os dois melhores jogadores da série minimamente neutralizados e tantas variações táticas, era de se esperar que o time mais versátil – claramente o Warriors – levasse vantagem. Mas o Cavs encontrou em momentos uma eficiência no ataque e uma intensidade na defesa que foram minando a confiança do adversário. Defender com vigor e truculência desafiou os juízes a marcarem faltas contra o time da casa – o que muitas vezes não ocorreu – e frustrou o Warriors com esse contato físico exagerado, trombadas e tentativas de contestar todo arremesso. No estouro do cronômetro do segundo quarto, uma falta não marcada num arremesso de três pontos de Andre Iguodala tirou o ala do sério e levou Luke Walton, o cara mais zen do planeta – e mais emaconhado – a levar uma falta técnica. Não era só Draymond Green, notório cabeça-quente, que estava fora da sua zona de conforto.
Não é que o Warriors estivesse jogando mal, mas estar fazendo uma boa partida e ainda assim ver o Cavs conseguindo recuperar lideranças e abrir pequenas vantagens assustou e chacoalhou os atuais campeões. Tantas decisões polêmicas do Cavs – Love no banco, jogar alto contra o small ball do Warriors, LeBron James abrir mão das infiltrações e dos passes forçados em movimento para ficar o segundo quarto inteiro dando passes para o perímetro começados com suas costas para a cesta dentro do garrafão – pareciam compor o esforço e o risco necessários para alcançar uma vitória improvável e empatar a série.
No terceiro quarto, Kyrie Irving continuou sendo o motor do Cavs no ataque – especialmente nessa nova mentalidade da equipe, que tenta segurar menos a bola e tomar decisões rápidas, cortando para cima da defesa e se aproveitando dos arremessos de média distância logo após o corta-luz – mas suas falhas defensivas começaram a cobrar um preço alto. Uma coisa é ser mal defensor – lembram do Steve Nash? – e ser incapaz de manter um jogador na sua frente, permitindo que ele infiltre e parta para a cesta ou arremesse por cima de você, o que não é o caso do Irving. Outra, que acho AINDA PIOR, é você errar as trocas e rotações defensivas e deixar jogadores completamente livres por conta disso. Irving é um defensor razoável na linha de passes e até no mano-a-mano; sua fama de péssimo defensor vem, claro, de seus erros de rotação. O Warriors do terceiro quarto inventou menos: resolveu insistir em Curry e Klay Thompson, desafiar o Cavs a continuar acertando a marcação e se aproveitar dos erros. E os erros vieram.
Vamos começar com Irving ficando num corta-luz de Bogut para Curry arremessar completamente livre na zona morta:
Irving bateu num muro de tijolos, Tristan Thompson não cobriu, Curry converteu. LeBron consegue enfrentar melhor o corta-luz de Bogut, mas como Draymond Green não participou da jogada, LeBron ficou todo inútil lá na cabeça do garrafão.
Próxima jogada: Green e Bogut fazem um sanduíche no pick-and-roll com Thompson, que toma um toco e rende um contra-ataque para o Warriors. Draymond Green puxa o contra-ataque, marcado por Richard Jefferson, e por que RAIOS Kyrie Irving resolve ir pra cima dele e deixar Klay Thompson livre? Resultado, abaixo, é cesta certa:
Jogada seguinte, Irving dobra a marcação em Curry no MEIO DA QUADRA num corta-luz ao invés de manter o plano do Cavs e TROCAR em todo corta-luz que o Curry usar. Resultado: Klay Thompson fica completamente livre para uma bola de 3 pontos, que ele converte abaixo.
Na jogada posterior, Irving faz O CONTRÁRIO e abandona Curry para ir cobrir o Klay Thompson num corta-luz que NÃO ACONTECEU, é muito engraçado. Especialmente porque Curry fica inteiramente livre sem ter feito bulhufas, e erra o arremesso por simples azar:
E para encerrar os erros defensivos do Irving no terceiro quarto, ele força um arremesso contra Curry e TIRA UM COCHILO enquanto Curry corre para o contra-ataque antes mesmo do rebote estar garantido. Quando isso acontece, é obrigação de Irving CORRER JUNTO, e se rolar um rebote de ataque ele volta para ajudar, claro. Vejam que o Irving está fazendo SEI LÁ O QUÊ no garrafão enquanto o Curry não está SEQUER NA TUA TELA, porque já correu pra quadra de ataque. Basta o Warriors passar a bola direitinho no contra-ataque para que ela chegue no Curry, paradinho esperando o arremesso livre:
Nesse arremesso final o Warriors não apenas retomou a liderança do jogo mas também retomou A CONFIANÇA e, mais importante, O SEU MVP no jogo. Com Curry quente, acertando seus arremessos e se aproveitando de qualquer deslize, o Warriors vira outra equipe, uma muito mais letal e que gera menos desperdícios de bola, o que por sua vez coloca uma pressão maior no ataque do adversário. O Cavs, tomando essa chuva de três pontos, precisava garantir uma cesta do outro lado para tentar estancar o sangramento. Kyrie Irving deitou e rolou em cima da defesa individual que recebeu, especialmente de Klay Thompson, deixando o coitado pra trás, mas sua produção de um lado (com 34 pontos) significa uma série de erros do outro. LeBron James, por outro lado, fez mais um trabalho impecável na defesa – quando precisam dele, há alguma dúvida de que ele está entre os melhores defensores da NBA? – mas não conseguiu produzir pontos no ataque, especialmente nos momentos de pressão quando o Cavs colocou a bola nas mãos dele. Suas infiltrações no mano-a-mano eram UMA PEGADINHA do Warriors, porque todo mundo fechava nele forçando LeBron a dar passes forçados ou enfrentar a defesa, que não contesta seus arremessos e bandejas e sim PEGA NO CHÃO, no quique da bola, na bola guardada na altura da cintura, gerando mil tapas e mil turnovers como resultado. Os sete desperdícios de LeBron foram brutais porque aconteceram quando o Cavs mais precisava de uma jogada individual, e em alguns momentos o Cavs foi realmente melhor com LeBron apenas passando para o lado. Quando acertou sua única bola de três pontos no jogo, parecia que finalmente LeBron iria assumir o jogo e pontuar sem parar, mas errou TODAS AS OUTRAS no quarto período, quando o placar começou a esticar perigosamente. Quanto mais atrás o Cavs ficava, mais LeBron arremessava – e errava – de meia distância, e mais os erros defensivos do Cavs viravam bolas de três do outro lado. Ainda que a vantagem não tenha nunca ficado exorbitante – foi de no máximo 11 pontos – ficou bem claro já no meio do quarto período que o Cavs precisava de algo além de todo o esforço que havia sido colocado em quadra. O que parecia fantástico no primeiro tempo não foi suficiente para compensar os erros e as limitações do Cavs contra um Warriors quente no perímetro durante o segundo tempo.
No fundo, essa é a história da série: o Cavs é um grande time, esforçando-se ao máximo e tentando inventar saídas criativas para resolver seus problemas. Mas o que sempre suspeitamos tornou-se evidentemente real: contra o Warriors, tudo isso está longe de ser suficiente. Com o Warriors precisando ganhar apenas mais uma partida, é quase impossível imaginar que o Cavs possa fazer mais do que já fez até agora – ainda mais porque fizeram coisas incríveis. Mas o incrível, pelo jeito, não basta.
PRÓXIMO JOGO
O Jogo 5 dessas Finais será segunda-feira, 22h, na ESPN.
MOMENTO JOSELITO DO DIA
Kyrie Irving lesionou seu dedo durante a partida, amarrou com uma faixa no banco de reservas e voltou com tudo para o jogo, como se nada tivesse acontecido. Mas o SEM NOÇÃO do JR Smith resolveu cumprimentar o Irving com um TAPA NA MÃO LESIONADA.
De fato, o JR Smith só consegue pensar em arremessar, todo o resto da vida no Universo é só um borrão sem sentido para ele.