[Resumo da Rodada] Jogando sem Parker

por Danilo

Como imaginar o San Antonio Spurs jogando uma partida nos Playoffs sem Tony Parker pela primeira vez em 16 anos? Mais assustador ainda: quem colocar no lugar do armador, que acaba de passar por cirurgia no joelho, já que seu reserva imediato, Patty Mills, é essencial para o funcionamento da segunda unidade, o grupo de reservas? Popovich não teve medo: colocou como titular o novato Dejounte Murray, titular por 8 partidas esse ano quando Parker teve uma pequena lesão, e que jogou apenas 38 jogos em sua carreira profissional.

Ainda nos vestiários, Patrick Beverley admitiu não conhecer muito o jogo de Murray mas que manteria exatamente o mesmo plano que estava em vigor com Tony Parker. Azar de Dejounte Murray. Na primeira posse de bola de sua carreira nos Playoffs, teve a bola arrancada de suas mãos por Beverley como se fosse uma brincadeira de criança. Beverley, melhor defensor do Rockets, só aumentou a intensidade: na segunda posse de bola, sufocou Murray ainda no meio da quadra para conseguir um segundo roubo. Na terceira posse, forçou o armador do Spurs a um arremesso sem chances de conversão.

Ficou evidente que Dejounte Murray não estava pronto para essa etapa, passou apenas 14 minutos em quadra, marcou míseros dois pontos com um acerto em 5 tentativas, e cometeu 2 turnovers em menos de 1 minuto. Mas, verdade seja dita, o garoto teve mérito em NÃO IMPLODIR, conseguiu segurar a bola nas mãos pelo resto de seu tempo de quadra e não sentou e chorou abraçando os próprios joelhos.

O Spurs teve que encontrar outras maneiras de manter sua máquina azeitada funcionando: armaram o jogo Kawhi Leonard, Manu Ginóbili e especialmente Patty Mills, que passou 30 minutos em quadra, teve muito mais a bola em mãos, foi marcado por Beverley e teve muita dificuldade em colocar a bola dentro da cesta. Não restam dúvidas de que a defesa do Rockets está em seus melhores momentos quando o Spurs usa um armador tradicional que tenta encontrar espaço no perímetro.

Mas o que a defesa do Rockets faz pior é lidar com Kawhi Leonard, especialmente no pick-and-roll, o que acaba sendo um detalhe UM TIQUINHO RELEVANTE para essa série. Mesmo quando Trevor Ariza faz uma boa marcação, Leonard é mil vezes mais rápido, mais forte e mais inteligente. Ariza chega atrasado nas aproximações, não tem mais velocidade para acompanhar as infiltrações e não consegue se recuperar a tempo dos empurrões e trombadas que Kawhi Leonard ABSORVE com seu corpo mutante. A jogada abaixo resume bem a impossibilidade de parar Kawhi a contento:

Vejam no vídeo acima que Ariza tenta lutar contra o corta-luz de Pau Gasol – já que trocar a marcação é MORTAL para o Rockets – mas não tem pernas nem fôlego, saia atrasado e dá o corredor para Kawhi infiltrar. A partir daí o problema piora: Harden não pode colocar as mãos num Kawhi em movimento sob o risco de cometer uma falta e Ryan Anderson não tem qualquer capacidade física de se posicionar a tempo em frente a Kawhi para cavar uma falta de ataque. Clint Capela, marcando LaMarcus Aldridge, simplesmente não é ESPERTO o bastante para conseguir a defesa na cobertura e chega um par de segundos atrasado. O resultado é quase cômico: Kawhi Leonard está cercado por 4 jogadores (o quinto, Patrick Beverley, não consegue se aproximar porque Harden está na frente) e mesmo assim enterra a bola na maior facilidade, como se estivesse completamente sozinho.

A situação fica ainda mais complicada para o Rockets porque LaMarcus, muito mais ativo embaixo da cesta na luta por rebotes ofensivos, força a marcação de Capela enquanto a aposta em Ryan Anderson no ataque limita as possibilidades do Rockes na defesa. Nenê, que faz um trabalho INFINITAMENTE melhor no setor defensivo com seu jogo de pernas e visão de quadra (aliás, não percam nosso post especial sobre Nenê) foi apagado na parte ofensiva pela nova abordagem do Spurs e passou apenas 16 minutos em quadra.

Essa nova escolha defensiva do Spurs foi APAGAR o jogo de bandejas e de pontes-aéreas do Rockets. Com um garrafão mais alto e recuado disposto a entregar o arremesso de média distância para o adversário, o Spurs tirou as bolas de segurança que o Rockets precisa para se manter vivo no jogo quando as bolas de três pontos não caem. Foram 8 tocos para o Spurs, Harden foi duramente contestado nas bandejas e o Rockets foi CONDENADO a arremessar bolas de meia distância, especialmente floaters em movimento por cima da defesa. Tentativas de passar a bola dentro do garrafão, algo que o Rockets faz com frequência para acionar Nenê e Capela e ajudar os pivôs a atraírem a marcação, se tornaram roubos de bola com a defesa inteira do Spurs mergulhando próximos ao aro.

Eric Gordon acertou 2 floaters em 3 tentativas, mas Beverley foi ainda pior: converteu apenas 3 de 13 arremessos, a maioria ganchinhos improvisados porque a bandeja não era acessível. Nenê começou a se afastar do garrafão e tentar arremessos de meia distância, errando todas as suas 5 tentativas. Harden perdeu 5 bolas em passes próximos ao aro e acabou o jogo apenas com 5 assistências após liderar a NBA nesse quesito ao fim da temporada regular.

James Harden saiu de quadra com 43 pontos, mas durante 3 quartos parecia que não estava no jogo. A defesa de Kawhi Leonard na estrela do Rockets não é apenas sufocante e exaustiva, mas também DESMORALIZANTE, é algo que desanima, que faz com que os passes e os arremessos sejam desestimulados. Harden passou muito a bola para o lado em busca de algum espaço, dependeu mais uma vez de sofrer faltas e só impôs seu jogo no período final quando a diferença já parecia grande demais para controlar. Aquela sequência de bolas de três pontos que o Rockets precisava ter acertado para que o esforço final de Harden fizesse a diferença nunca veio; Ryan Anderson voltou ao mundo da invisibilidade errando todas as suas 4 tentativas do perímetro no jogo e não tentando uma única bola além dessas.

Do outro lado, LaMarcus saiu da invisibilidade acertando algumas bolas de meia distância nos espaços criados por Kawhi mas fazendo muita diferença embaixo da cesta, algo de que o Spurs sente muita falta desde a saída de Tim Duncan. Com Aldridge em grande dia, David Lee passou apenas 16 minutos em quadra, fez 4 pontinhos, e por jogar menos permitiu que o Spurs mantivesse em quadra uma proteção de aro mais eficiente. Foram 26 pontos para Aldridge, mesmo número de Kawhi, mais do que suficiente para suprir a ausência de Parker nas bolas de média distância. São números capazes de vencer o Rockets desde que a equipe de D’Antoni fique abaixo dos 100 pontos na partida, coisa que o Spurs fez por dois jogos consecutivos. Se o ataque do Rockets não encontrar um modo de funcionar, se Harden depender apenas de um jogo de pick-and-roll que o Spurs defende tão bem, e se as bolas de três pontos não entrarem, não há resposta possível. Defensivamente, o Rockets tá está no seu limite. Patrick Beverley não pode fazer tudo sozinho. Se bem que ele não tem muita noção, então ele tenta – mesmo com menos de 7 segundos no cronômetro e o jogo decidido por mais de 10 pontos.


por Denis

Após o jogo entre Cleveland Cavaliers e Toronto Raptors na noite desta sexta-feira, Kyrie Irving disse que quando eles foram para Toronto nos Playoffs do ano passado, o time “não estava preparado”, mas que dessa vez “eles entenderam com que mentalidade deveriam entrar em quadra”. E é com uma mera questão de concentração e motivação que o armador do Cavs explica a razão para, dessa vez, a sequência de vitórias do atual campeão não acabar no Canadá.

Para quem não lembra, o Cavs vinha de 10 vitórias seguidas nos Playoffs de 2016 quando encontrou Kyle Lowry, DeMar DeRozan e o Raptors, no Canadá. De maneira surpreendente, o Raptors venceu os dois jogos em casa e fez a série parecer, por ao menos alguns dias, disputada. Iria acontecer de novo? No começo pareceu que sim, com Cory Joseph, titular no lugar do machucado Lowry, dando toco em Irving e DeRozan, NULO no Jogo 2, cavando faltas e incomodando a defesa adversária logo nos primeiros minutos de jogo. É o máximo de intensidade e confiança que o time mais medroso dos Playoffs consegue executar!

Foi legal ver como o Raptors usou sua agressividade, seja nas infiltrações ou nas dobras sobre DeRozan, para envolver Jonas Valanciunas nos primeiros minutos de jogo:

Mas, como já disse algumas vezes aqui, uns jogos parecem simplesmente grandes demais para alguns times. O Raptors consegue jogar 12 ou 24 minutos contra o Cavs? Sim, pode até ganhar, mas 48 parece demais. As mudanças de quinteto titular ou de rotação tem efeito limitado e não constroem vantagens relevantes. Em algum momento, o time perde o fôlego e entra naquela espiral de errar arremessos forçados de um lado e não ter ideia de como parar LeBron James do outro. Assim, um jogo que entrou disputado no último quarto acabou com diferença na casa dos VINTE PONTOS de novo! Aliás, após 10 jogos em 4 séries, essa 2ª rodada dos Playoffs é a que tem a MAIOR média de diferença de pontos na história da liga, 17,1 pontos.

Com 3 a 0, a série já era. Como disse Dwane Casey, técnico do Raptors, a questão agora é só tentar vencer em casa para manter um pouco do orgulho e não ser varrido no seu ginásio. E falando em orgulho, que tal não ser humilhado por LeBron no Jogo 4? Primeiro tivemos A ENTERRADA, depois o gole de cerveja, então o lance-livre da linha dos 3, e ontem fora DUAS cestas com a mão esquerda (no maior estilo Larry Bird), que nem pareciam tão necessárias assim, mas mais LeBron se desafiando pra deixar o jogo mais divertido:

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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