[Resumo da Rodada] O dia de Nenê

O fim de semana foi bonito (foi), foi intenso (foi). Já leram o resumo dos 4 jogos de sábado que publicamos ontem? Teve desde o Golden State Warriors abrindo 3 a 0 no Portland Trail Blazers até o Memphão igualando a série contra o San Antonio Spurs no jogo mais espetacular desta pós-temporada. Sério, leiam lá, deu trabalho.

Hoje repetimos o esquema de ontem, comigo e com o Danilo dividindo funções para falar das partidas. Eu falei das três mais XOXAS, ele falou do excelente duelo entre o Houston Rockets e OKC Thunder, bora lá.


por Danilo

Já é comum pra quem lê o Bola Presa minha admiração pelo jogo de Nenê no Rockets. Sua presença em quadra fecha melhor as rotas de infiltração, cria mais possibilidades para Harden porque Nenê consegue pegar passes difíceis em altíssima velocidade, espaça a quadra porque o pivô é um dos melhores passadores da NBA na cabeça do garrafão e ainda gera os melhores corta-luzes da equipe. Clint Capela oferece outras coisas, basicamente uma maior proteção de aro com tocos atléticos e pick-and-roll baseado em pontes-aéreas, mas é nítido que o Rockets é melhor com Nenê em quadra. Descobri apenas depois do meio da temporada, graças a uma matéria da própria transmissão de Houston, os motivos para Nenê ser reserva e compartilhei por aqui: o brasileiro joga num regime muito restritivo de controle de minutos, tendo sentado em 15 jogos para descansar (a maioria, jogos em dias consecutivos) e tendo uma preparação física completamente diferente do restante do time. Ao contratar Nenê, o Rockets fez todo o necessário para mantê-lo saudável. O resultado a gente vê agora.

No Jogo 3, Taj Gibson e seus arremessos de média distância tornaram Nenê um jogador mais difícil de encaixar no garrafão, afinal ele é o responsável pelo “box out”, ou seja, por manter os adversários longe do rebote ofensivo, e por fechar com sua velocidade lateral a rota centra para o garrafão. Mas no Jogo 4, Taj Gibson cometeu duas faltas rapidamente e o Thunder se viu obrigado a usar muito mais Steven Adams, até mesmo voltando a usá-lo simultaneamente a Enes Kanter. Esse cenário é ideal para Nenê fazer seu trabalho, trombar embaixo do aro e pontuar com seu excelente jogo de mãos ao redor de pivôs mais truculentos. Com o Thunder muito ocupado em defender a linha de fundo para impedir as pontes aéreas de Harden durante suas infiltrações, Nenê simplesmente se posicionou à frente da linha defensiva e finalizou por entre os marcadores adversários. Nenê soube jogar de costas para o garrafão, algo que o Thunder não esperava, e ainda conseguiu espaçar a quadra quando necessário ajudando a girar a bola, de dentro do garrafão rumo à zona morta, quando os arremessos de três eram mais importantes.

Nenê ainda teve seus minutos controlados e o Rockets tentou evitar usá-lo contra Taj Gibson, mas enquanto esteve em quadra sua partida foi perfeita: foram 28 pontos, 10 rebotes, todos os 12 arremessos tentados convertidos, e apenas 25 minutos de quadra.

Esse jogo de garrafão pouco frequente no Rockets compensou mais uma noite difícil da equipe na linha de três pontos, em que Harden errou todos os seus 7 arremessos de fora e Lou Williams acertou apenas uma das 5 tentativas.

James Harden cobrou menos lances livres e fui muitíssimo bem marcado por André Roberson. A estratégia do Thunder foi curiosa: evitar a dobra de marcação no Harden durante a infiltração, quando ele já está em movimento, e confiar na marcação individual de Roberson ou em defensores por trás, na cobertura. Harden tomou 3 tocos nesse esquema, apenas parte dos 14 tocos que o Thunder conseguiu ao longo da partida. Isso ajudou a limitar o Barba a meros 16 pontos na partida.

Mas o Thunder não conseguiu se aproveitar disso. Westbrook, pra variar, começou o jogo voando rumo aos seus 34 pontos, 14 rebotes, 14 assistências e 3 roubos de bola, mas não conseguiu segurar o ritmo no quarto período. O Rockets foi cortando a vantagem do Thunder no placar quando Westbrook sentou para descansar e no quarto período tomou controle do jogo com 10 pontos de Nenê e se aproveitando dos diversos erros ofensivos de Russell. O maior problema foi que o elenco de apoio – aquele que é fundo de banco, jovem demais, e que o Thunder está usando para gerar um mínimo de poder de arremesso no perímetro – não funcionou dessa vez. O Rockets focou a defesa nas bolas de três pontos, dada a incapacidade de parar Westbrook em velocidade, e apostou que no quarto período o gás do armador teria novamente diminuído. Foi o que aconteceu e Alex Abrines e Doug McDermott simplesmente não eram bons o bastante, nem estavam em qualquer tipo de ritmo positivo, para ajudar a estancar o sangramento no final do jogo.

E para evitar que Westbrook pudesse tirar energia sabe-se lá de onde e inventar contra-ataques, assim que o Rockets estabeleceu uma vantagem de 5 pontos no placar, a 4 minutos do final, passou a colocar André Roberson propositalmente na linha de lances livres. O defensor oficial de Harden havia errado os 5 lances livres que tentou no Jogo 2 e teve 42% de aproveitamento na temporada regular, números que fariam até Shaquille O’Neal corar de vergonha. No Jogo 4, Roberson chegou a converter dois lances livres seguidos, mas o TIME DA ESTATÍSTICA simplesmente manteve o plano: continuou fazendo faltas intencionais, até o técnico Billy Donovan tirar André Roberson de quadra com 2 de 12 lances livres convertidos e muitas risadas do banco do Rockets:

O defensor voltou apenas na marca de 2 minutos para o final, quando faltas intencionais não são mais permitidas, mas até lá Harden já havia tomando controle do jogo com espaço suficiente para costurar a defesa e acionar Nenê quando necessário.

Mais uma vez o Rockets mostra que possui variações ofensivas que ainda não conhecíamos, com Nenê tendo sido uma das melhores contratações da temporada (especialmente quando associado a um excelente time de médicos e preparadores físicos), e o Thunder mostra que não pode contar com seu elenco de apoio, nem mesmo com André Roberson, que apesar dos lances livres deu 5 tocos na partida. Já é uma constante que Westbrook chegue exausto no quarto período e falta elenco para impedir que isso aconteça.


por Denis

O segundo domingo de Playoffs começou com a confirmação da primeira varrida desta pós-temporada: o Cleveland Cavaliers mandou Paul George para a sua tradicional e amada pescaria mais cedo após mais uma vitória apertada sobre o Indiana Pacers.

Quem quiser se enganar pode até dizer que o Pacers é um time bom e de futuro, que levou o atual campeão ao limite. O primeiro jogo foi decidido no segundo final, com CJ Miles a centímetros de dar a vitória ao Pacers. As duas partidas em Indianápolis também foram resolvidas apenas no último minuto, com a terceira partida ainda tendo o agravante do Pacers ter jogado fora uma vantagem de 26 pontos!

Mas se isolados esses jogos parecem disputados, a série mostra que sempre que os times estavam em uma situação limite, um deles executou a jogada certa e o outro sujou as calças. Uma vez pode ser só sorte e acaso, mas quando se repete dá pra tirar algumas conclusões. O Pacers não acertou os arremessos mais importantes, ontem não conseguiu o rebote defensivo a 20 segundos do fim para ter a última chance de vencer e nem conseguiu parar LeBron James nas posses de bola que definiram as partidas.

Embora pareça olhando de longe, eles nunca tiveram chance e o jogo de ontem foi só mais uma prova disso.


O que foi melhor para o bolso de Rajon Rondo, jogar bem e comandar as duas vitórias do Bulls sobre o Celtics em Boston, ou ver seu time desmoronar após sua lesão? O armador, que parecia sem espaço na NBA há bem pouco tempo, deve ter ganhado uns fãs nas últimas semanas, até o próprio Bulls poderá se animar em gastar uma grana com o rapaz.

Sem Rondo nestes dois jogos em casa, o Bulls voltou a parecer o time sem identidade da temporada regular, o que não foi ajudado pelas fracas atuações de Dwyane Wade e do desaparecimento dos coadjuvantes, lembram de Bobby Portis e Robin Lopez dominando os Jogos 1 e 2? Sumiram. Em parte isso é mesmo culpa da lesão de Rondo, o armador estava aproveitando a marcação fraca de Isaiah Thomas para ser agressivo e entrar no garrafão quando bem entende, é o que ele fazia nos seus bons tempos e o que o torna capaz de usar seu passe e visão de jogo para fazer alguma diferença. Ele passava por Thomas, obrigava a defesa a reagir e aí tinha linhas de passe para usar e abusar. Claro que ele depende, também, de quem recebe o passe acertar a próxima ação, mas como dissemos acima, Lopez e Portis fizeram sua parte.

Sem Rondo, machucado, o Bulls perdeu sua capacidade de entrar no garrafão e forçar o Celtics a enfrentar alguns de seus defeitos: a proteção de aro não é tão necessária se você só enfrenta tiros de longa distância, e os rebotes ofensivos são mais fáceis de prevenir contra arremessos de longe do que contra bandejas. Al Horford pode se posicionar bem melhor para garantir os rebotes agora que não está correndo para a cobertura de alguma infiltração o tempo todo. Foram só 12 rebotes de ataque do Bulls neste Jogo 4 contra 10 do Celtics. No primeiro jogo da série, por exemplo, o Bulls pegou VINTE rebotes de ataque!

Do lado do Celtics, valeu de novo a mudança de rotação do técnico Brad Stevens, que colocou o pouco utilizado Gerald Green no time titular. O ala respondeu com 18 pontos e 4 bolas de 3 pontos, quase todas logo no primeiro quarto, quando o Celtics abriu sua maior vantagem na partida. Com o Bulls fazendo suas blitze para cima de Isaiah Thomas, o time precisava de mais poder ofensivo, o que eles não estavam tendo com Marcus Smart errando arremessos, Jaylen Brown errando TUDO, com a versão medrosa do Avery Bradley e muito menos com o grandalhão Amir Johnson, que foi quem deixou o time para dar espaço para Green. Com um time mais leve e que estava punindo o Bulls pelas dobras de marcação (Bradley acertou arremessos e até atacou a cesta!), eventualmente Isaiah conseguia receber a bola de volta e fazer o que sabe: cestas! Neste Jogo 4 ele pareceu o armador da temporada regular e marcou 33 pontos e 7 assistências.

Destaque para o técnico Brad Stevens que conseguiu mexer seu elenco e usar o lado bom de ter uma penca de jogadores que podem ajudar. Johnson e o novato Brown sumiram da rotação, Green e Jerebko entraram para fazer alguma diferença e Terry Rozier foi ÓTIMO no Jogo 3 e voltou para uma ajuda pontual na partida deste domingo. É um desafio ter um elenco tão numeroso, pode demorar para achar os quintetos ideais para cada adversário, mas o Celtics se achou a tempo e empatou a série. Sem Rondo, resta ao Bulls descobrir outras maneiras de atacar a defesa adversária: Jimmy Butler vai continuar pontuando, mas precisa de ajuda. Será que Dwyane Wade volta dos mortos? Um especialista em voltar aos mortos estava no ginásio:


O último jogo da noite foi o duelo mais BICHADO desses Playoffs até agora, com o Utah Jazz fazendo melhores mandingas e orações para conseguir empatar a série contra o Clippers em 2-2. Primeiro tivemos Rudy Gobert se machucando com 10 segundos de série, e agora que ele voltou (antes do esperado!), Blake Griffin está fora da temporada com o dedão quebrado. E ainda temos Austin Rivers fora, Derrick Favors em câmera lenta e, ontem, Gordon Hayward jogou só meia dúzia de minutos até sucumbir a uma intoxicação alimentar. Essa série terá um sobrevivente, não um vencedor.

Infelizmente, o resultado de todas essas mudanças e lesões foi um jogo bem feio. Foi bacana ver Gobert parecer inteiro com uma enterrada sensacional sobre Mareese Speights e até um finger roll, mas em geral foi uma partida de muitos erros, pouca velocidade e pouca inspiração.

O Jazz até mostrou tudo isso nos minutos iniciais, não vou mentir, mas foi embora junto com o estômago do Hayward. O Clippers segue sofrendo com a defesa do Jazz, que não dá espaço para JJ Redick arremessar e raramente sucumbe às pontes-aéreas de DeAndre Jordan. Sobra para o time as intermináveis jogadas de mano-a-mano de Chris Paul e Jamal Crawford que, para a sorte deles, são IMPOSSÍVEIS de serem completamente defendidas.

O Crawford é um caso bizarro porque ele gosta e só tenta arremessos difíceis, então forçá-lo a um chute contestado não é lá grande coisa, sempre parece que você está só contando com a sorte. Alguns arremessos IMBECIS caem, outros não, segue a vida. Chris Paul é mais inteligente, tem mais recursos e sabe manipular melhor as defesas e os mismatches, mas no fim das contas também parece que o defensor está à mercê da sua pontaria. O Jazz, em especial, apesar de George Hill ser muito bom, parece não ter resposta para as investidas de CP3 no jogo individual. O armador percebeu que sem Griffin terá que ser mais agressivo e foi: ganhou o Jogo 3 quase sozinho, não deu certo no Jogo 4.

Para quem gosta de streetball recheado de mano-a-mano, o dia foi bom, porque o Utah Jazz, especialmente no quarto período, perdeu o pudor e também só jogou na individualidade. Sem Hayward, foi de novo Joe Johnson o responsável por resgatar seus dias de Atlanta Hawks e jogar sozinho. Sobre Paul, Jordan ou Mbah a Moute, não importa, fez 28 pontos sobre toda a GALERA e ainda achou uns passes para Joe Ingles e Rodney Hood matarem o jogo quando o Clippers percebeu que só dobras de marcação poderiam parar o ISO Joe. Foi lento, foi feio, foi individualista, mas deu certo para eles neste jogo.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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