[Resumo da Rodada] O dia em que os pivôs foram embora; Portland é outro planeta

Mais até do que havíamos previsto, o duelo mais importante da série entre Raptors e Heat se dá no garrafão, entre Jonas Valanciunas e Hassan Whiteside. Enquanto Valanciunas tem sido essencial no ataque, passando com certa facilidade da marcação de Whiteside e garantindo rebotes de ataque cruciais para um time que arremessa tão mal do perímetro, Whiteside tem sido fundamental na defesa contra as infiltrações de Lowry e DeRozan, desviando arremessos só com sua presença geradora de pânico. No Jogo 3 em Miami, o Raptors resolveu acionar Valanciunas mais do que nunca, na esperança de que se Whiteside se mostrasse completamente incapaz de pará-lo, o Heat teria que tirá-lo de quadra. A estratégia não apenas funcionou como teve um efeito colateral bizarro: todas as jogadas QUEBRADAS do Raptors, aquelas em que a movimentação não funcionou e que é preciso forçar um arremesso, foram parar nas mãos de Valanciunas ao invés de nas mãos do Kyle Lowry. Isso permitiu não apenas que Valanciunas criasse alguns bons arremessos de último segundo e cavasse algumas faltas no desespero, mas também que o Lowry não ficasse dando arremessos forçados de estouro do cronômetro que destroem suas médias e também sua confiança. Podendo dar apenas os arremessos que ESCOLHEU dar, Lowry teve sua melhor partida nos Playoffs. Tudo culpa indireta do pivô lituano.

Valanciunas acabou o primeiro tempo com 16 pontos, 7 arremessos certos em 11 tentativas e 10 rebotes, sendo 3 rebotes ofensivos. Foi uma atuação impecável, na maior parte das vezes jogando de frente para a defesa e não no jogo de costas para a cesta, onde ele tem mais dificuldade, e deu para o Raptors um ritmo ofensivo que ainda não vimos a equipe ter na pós-temporada. Lowry conseguiu escolher seus arremessos e DeMar DeRozan teve mais espaço para arremessos de média distância com Whiteside preocupado com os rebotes ofensivos de Valanciunas. Foi finalmente o Raptors que esperávamos ver nos Playoffs para justificar a classificação da temporada regular. O domínio do pivô foi tão grande que o técnico Erik Spoelstra resolveu usar o plano B: tirou Whiteside de quadra, apesar de sua ajuda no ataque, e resgatou Udonis Haslem do fundo do banco de reservas. Haslem tem um histórico de incomodar jogadores muito maiores do que ele marcando na linha da cintura e desequelibrando os adversários com seu centro de gravidade mais baixo. Sua tarefa foi atrapalhar a vida de Valanciunas e, ao menos no princípio, foi bem sucedido. Interceptou linhas de passe para o pivô, forçou que o lituano recebesse a bola fora do garrafão, conseguiu sair para dobrar em DeRozan nos arremessos e depois tumultuar o rebote ofensivo. Além disso, Haslem traz o estranho benefício de SER AMIGO DO DWYANE WADE: os dois trocam passes maravilhosos, encontram um ao outro com naturalidade no ataque, e por uns instantes o Heat pareceu aquela equipe da Era LeBron, com Wade cortando pela linha de fundo e recebendo passes precisos do Haslem na cabeça do garrafão.

Por ironia do destino, já com menos minutos do que lhe seria habitual dada a conjectura tático da partida, Whiteside lesionou seu joelho bichado ainda no começo do segundo quarto quando Luol Deng caiu sem querer em cima dele, e depois dessa contusão não voltou mais pra quadra. A partir daí, a estratégia opcional de usar Haslem passou a ser obrigatória.

O Raptors eventualmente se adaptou ao Haslem acionando Valanciunas com passes mais altos, mas com mais dificuldade do que contra Whiteside. O final do segundo quarto ilustrou bem esse duelo tático: Valanciunas recebeu uma ponte-aérea numa jogada quebrada faltando 4 segundos para acabar o período, e na reposição de bola Wade acelerou, infiltrou e acionou Haslem logo atrás dele para uma cesta-e-falta, porque Valanciunas simplesmente não tem como acompanhar Haslem na correria do contra-ataque.

Quando Haslem teve que descansar, quem assumiu a defesa foi o também fundo-de-banco Josh McRoberts, que se saiu melhor do que a encomenda. Foi esperto o bastante para tirar o apoio do Valanciunas e forçar o adversário a andar com a bola, além de conseguir atrapalhar bem ao menos um par de arremessos do pivô. No entanto, sua defesa em cima do Valanciunas ignorou tanto DeRozan que eventualmente o armador passou a infiltrar, apostando em runners e floaters por cima da marcação, bem próximos à cesta, para punir o Heat pela marcação especial no garrafão. Parecia o jogo perfeito para o Raptors: DeRozan e Lowry conseguindo pontuar, a equipe controlando o ritmo do jogo, fazendo um trabalho razoável na defesa, usando bem Valanciunas e sem ter que se importar com Whiteside, fora por lesão. Mas aí o mundo veio, nos deu um tapa na cara e nos lembrou QUE É O RAPTORS, NÉ? Valanciunas machucou o pé SOZINHO numa disputa de bola no começo do terceiro período, não voltou mais e as notícias são de que perderá todo o resto da série contra o Heat. Sabe o jogador que restaurou a organização do ataque do Raptors, desafogando o ataque? Está fora. Já era. Adeus.

A jogada seguinte do Heat após a lesão de Valanciunas foi uma enterrada do Wade num rebote de ataque de um arremesso DELE MESMO, só pra mostrar que o garrafão agora era terra de ninguém.

Quando Valanciunas se contundiu, o Raptors controlava o jogo e vencia por 55 a 44. Ao fim daquele período, o jogo já estava empatado em 68 pontos. Até o meio do quarto período, o Heat já havia feito 32 pontos desde a saída de Valanciunas e tomado apenas 13. Virou outro jogo.

Na tentativa de continuar usando o garrafão, criando pontos ali dentro e aliviando os arremessos quebrados do perímetro, Dwane Casey resolveu resgatar Luis Scola, ainda não utilizado nessa série dada a necessidade de povoar a equipe com arremessadores como Patrick Patterson ou defensores como Bismack Biyombo. Mas o Scola não conseguiu estabelecer posição no garrafão – em alguns momentos parecia que ele não queria nem TENTAR – e se limitou a ficar na zona morta ou de frente para a cesta na altura da linha de três pontos. Deu um par de arremessos livres do perímetro que não erraram e consolidou sua nova identidade de COSPLAY DO PATTERSON, só que ruim. Sua participação foi um desastre completo.

Dwyane Wade se aproveitou do momento para assumir a responsabilidade ofensiva da equipe. Depois de já ter convertido uma rara cesta de três no primeiro quarto, Wade converteu outras duas no terceiro, todas bolas tranquilas, planejadas, quase como se fossem sua bola de segurança. Depois de ter errado 21 bolas consecutivas do perímetro, Wade fez todos os 7 arremessos desse tipo que tentou até aquele momento nesses Playoffs:

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Wade só foi errar uma bola de três pontos quando deu um arremesso forçado em estouro de cronômetro. Depois de ver sua mágica quebrada, passou a atacar mais a cesta para aproveitar a ausência de pivôs, errou algumas bandejas simples, mas manteve a pressão constante. Fez 18 pontos só no terceiro quarto e sua dupla com Haslem é tão bacana de ver que até nos fez perdoar o HORROR que foi o jogo anterior entre as duas equipes.

No quarto período, com o Heat em vantagem mas o jogo aberto, Kyle Lowry estava em situação bem pior do que no resto do jogo, tendo que forçar jogadas e recebendo mais atenção da defesa, mas já tinha ganhado uma coisa que lhe faltou o tempo inteiro: RITMO. Começou a arremessar com confiança, ao invés de desistir dos arremessos no meio, meteu 5 bolas de três pontos – duas no final do jogo, pra criar uma pequena vantagem- e seus 33 pontos simplesmente decidiram a partida. Wade – com 38 pontos ao todo – tentou resolver no ataque e até na defesa, quando no minuto final, precisando recuperar a posse de bola, pediu para marcar Kyle Lowry pessoalmente. Resultado: Lowry parou uma infiltração no meio para arremessar e converter na fuça do Wade, que precisou dar arremessos desesperados do outro lado pra tentar cortar a vantagem com poucos segundos no cronômetro. Quando acertou uma bola de três insana batendo na tabela, já era tarde demais.

Os pivôs são a chave tática da série, mas com Lowry e Wade tendo partidas absurdas, no final quem decidiu foram os armadores em jogadas individuais. Wade está tendo uma série absurda, mas Lowry voltar a ter uma partida digna foi suficiente para roubar um jogo em Miami. O único problema é que, sem Valanciunas, as coisas devem ficar bem mais difíceis para Lowry. Será que o Raptors ainda tem tempo de se ajustar?


Na outra série da rodada, o Blazers voltou para seu PLANETA NATAL, um lugar em que as regras da física (de arremessos) são completamente diferentes. Em Portland, Damian Lillard arremessa como se fosse o melhor jogador de perímetro do Universo, abre espaço para os arremessos de CJ McCollum e até Al-Farouq Aminu vira um arremessador imparável. O problema é que, ao menos no começo do jogo, parecia que essas regras da física valiam para a equipe visitante também: Klay Thompson meteu 4 bolas de três pontos em 5 tentativas só no primeiro quarto, acabando o período com 18 pontos e colocando o Warriors na frente do placar.

O Blazers só não derreteu para essa atuação do Klay Thompson porque se garantiu em outras coisas. Forçou 5 turnovers do Warriors no período, além de garantir 6 rebotes de ataque no processo. Mesmo com o Warriors acertando 52% dos arremessos e o Blazers apenas 29%, coitado, a diferença do placar ao início do segundo quarto era de apenas 6 pontos. A defesa, os rebotes de ataque e as bolas eventuais de três pontos mantiveram o Blazers vivo até que os reservas das duas equipes entrassem em quadra.

O problema do Warriors ainda é o mesmo: quando o quinteto em quadra não tem Shaun Livingston, Klay Thompson e Draymond Green, não há ninguém para armar o jogo devidamente. A função acabou caindo nas mãos de Iguodala e Ian Clark, mas Iguodala teve que suar para marcar Damian Lillard, que enfrentou os reservas enquanto CJ McCollum sentava. Como resultado, Ian Clark acabou com a impressionante estatística de -20 em plus/minus, ou seja, seu time tomou 20 pontos a mais do que fez nos 17 minutos que o armador esteve em quadra. Só nos 2 minutos finais do segundo quarto, o Blazers fez 12 pontos levando apenas 2 e já mostrou que estava no controle do jogo.

Damian Lillard se aproveitou de jogadas de pick-and-roll quase no meio da quadra, com o corta-luz bem pra trás da linha de três pontos, para ter espaço para correr para a cesta e deixar os defensores para trás, já que o Warriors tem o costume de povoar o garrafão. Tentando impedir isso, o Warriors cedeu espaço para Lillard arremessar de fora, sempre com a marcação tendo que chegar atrasada um par de segundos, e com isso Lillard converteu 8 bolas de três pontos. Essa situação gerou espaço para o armador, que tomou excelentes decisões no caminho entre o corta-luz e a cesta e soube ler a defesa do Warriors, atacar quando possível e acionar os companheiros quando necessário. Aminu virou uma MÁQUINA de arremessar com os passes do Lillard, fez 4 das 5 bolas de três pontos que tentou e obrigou Draymond Green a marcá-lo individualmente longe da cesta, facilitando ainda mais o jogo de Lillard. Aminu teve uma partida fora de série, com uma defesa de transição perfeita que atrapalhou muito o jogo do Warriors, pegando rebotes e puxando ele mesmo contra-ataques, e infiltrando quando a defesa apertou demais seu arremesso, com direito até a enterrada na cabeça:

Damian Lillard acabou o jogo com 40 pontos e 10 assistências, e mesmo que o Blazers não tenha encontrado resposta para o jogo de Draymond Green, que matou 8 bolas do perímetro para 37 pontos, e para Klay Thompson que acabou com 35, Damian Lillard ter tido um jogo com confiança, espaço para arremessar, infiltrar e encontrar outros arremessadores é o suficiente para vencer uma partida em Portland. O jogo de Lillard foi impecável, do começo ao fim:

Se Lillard vai ter outro jogo desses em Portland, e se é possível que ele tenha atuações desse nível na casa do adversário, não sabemos. Mas para o Blazers ter alguma chance de igualar essa série, ele terá que fazer igual jogo após jogo, com ou sem Stephen Curry.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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