O que o Thunder precisava fazer para se recuperar na série e conseguir ganhar um jogo fora de casa depois do nó tático da primeira partida? Cavar faltas no Patrick Beverley para dar espaço para Westbrook, e no Harden para minar o ataque do Rockets? Feito. Ganhar a luta pelos rebotes ofensivos? Feito. Forçar o Rockets a cometer turnovers e errar arremessos para conseguir colocar o Westbrook em situações de contra-ataque? Feito. Ter um jogo em que o Rockets fique GELADO da linha de três pontos? Feito. Ter Westbrook acertando arremessos difíceis de meia distância e bolas de três na transição rumo a um triple-double histórico? Feito.
O segundo jogo entre Thunder e Rockets foi completamente diferente do primeiro porque todas as coisas que o Thunder podia mudar foram mudadas. Depois de fazer Westbrook sofrer no primeiro jogo, Patrick Beverley passou a partida inteira com problemas de falta enquanto seu time amassava o aro da linha de três pontos e Trevor Ariza tentava ao máximo parar a estrela adversária. O Thunder fez tudo certo: jogou com um time mais baixo, acelerou o jogo, deu prioridade total para Steven Adams no garrafão, ganhou o duelo dos rebotes, forçou contra-ataques e colocou Westbrook para atacar a cesta em velocidade para cavar faltas e arremessar antes da defesa do Rockets chegar. Nessas condições, Westbrook estava completamente imparável e se tornou o primeiro jogador a ter um triple-double com mais de CINQUENTA PONTOS marcados num jogo dos Playoffs: foram 51 pontos, 10 rebotes, 13 assistências, 4 roubos e nada mais nada menos do que 43 arremessos tentados (pra gente ter ideia, o Thunder inteiro tentou 97 arremessos).
Errando todas as bolas de três e com Harden tendo convertido apenas 2 arremessos em todo o primeiro tempo, o Rockets só viu o Westbrook passear. Teria sido uma lavada se não fossem os lances livres de James Harden, que mantiveram o time pontuando mesmo quando nada mais dava certo. Ao todo, o Barba acertou 18 de 20 lances livres tentados, sendo os dois erros no minuto final, quando o jogo já estava decidido (se você acha estranho Harden sofrer tantas faltas, vale dar uma olhada em nossa análise de como ele é capaz de fazer isso, punindo os adversários por fazerem uma marcação ilegal praticamente invisível para os árbitros, mas que Harden sabe evidenciar).
Eu já estava pronto para me desesperar com a derrota do Rockets quando as coisas começaram a mudar. Primeiro Westbrook sentou uns minutos no terceiro quarto e aí com muita facilidade o Rockets fez 9 pontos em sequência sem tomar nenhum. Depois Steven Adams ficou com problemas de faltas (afinal Harden estava garantindo seus pontos assim) e o Thunder acabou tentando Enes Kanter, aquele do “não podemos usar o Kanter” dito pelo seu técnico no Jogo 1. O resultado? Essa belezura aqui:
Aí Kanter não teve como ficar em quadra, entrou Domantas Sabonis, o Rockets fez 5 a 0 com infiltrações de Patrick Beverley, e Sabonis teve que sair. Duas bolinhas de três que o Harden acertou pra fechar o quarto e já tínhamos um jogo novamente, com o Rockets apenas 3 pontos atrás no placar.
Quando Westbrook voltou no quarto período precisando resgatar o ritmo do Thunder, ficou evidente como ele estava CANSADO: não apenas estava enfrentando um grande defensor individual e tendo que jogar na correria, mas dar mais de 40 arremessos num jogo é exaustivo demais. Seus lances livres começaram a dar bico de aro, a imagem UNIVERSAL do cansaço. Westbrook errou meia dúzia de arremessos, Harden acertou alguns e com 4 minutos corridos no quarto período, o Rockets assumiu pela PRIMEIRA VEZ a liderança do jogo para nunca mais deixar escapar.
Russell Westbrook, o HOMEM-TRIPLE DOUBLE, teve uma das atuações mais espetaculares da história dos Playoffs, mas chegou no final exaurido porque o time não tem ninguém que possa ficar em quadra e seja capaz de manter o plano de jogo necessário para punir o Rockets. Enes Kanter, um dos melhores jogadores ofensivos de garrafão da NBA, não conseguiu passar mais do que 7 minutos em quadra porque quando ele entra a defesa do Thunder vira FAROFA. Sabonis, titular em 66 jogos nessa temporada, ficou apenas 2 minutos em quadra porque mais do que isso a defesa iria IMPLODIR. Quando Kyle Singler teve que passar 10 minutos em quadra, ficou óbvio que o banco do Thunder simplesmente não pode competir nos Playoffs. Enquanto isso, Ryan Anderson continuava sua atuação MEDÍOCRE pelo Rockets, com 7 arremessos de três pontos, todos errados, mas Eric Gordon e Lou Williams fizeram mais de 20 pontos cada para mostrar como um time pode confiar inteiramente nos seus jogadores secundários e não se abalar porque as principais armas não estão funcionando. E isso é válido até para o próprio James Harden, que quando não tem suas bolas caindo como deveriam (acertou apenas 7 de 17 arremessos) ainda assim consegue sair de quadra com 35 pontos e 8 assistências.
A série não vai ser um passeio no parque como o Jogo 1 indicou, mas o Thunder precisa repensar seu uso do banco de reservas e descobrir quem pode ficar DE FATO em quadra quando Steven Adams e Westbrook precisam sentar um pouco. Além disso, Westbrook precisa encontrar um jeito de arremessar menos do que 40 bolas, para estar vivo no final do jogo e ainda assim se manter útil para a equipe. Parece um desafio complicado para um elenco tão curto.
Na série que NINGUÉM DEVERIA ESTAR ASSISTINDO, vimos mais uma vitória do Wizards em cima do Atlanta Hawks. Era pra ter sido uma partida completamente esquecível, que o Wizards venceria com facilidade, se não fosse o excesso de faltas da defesa afoita da equipe de Washington. Só Paul Millsap, que continua tentando mostrar que é possível jogar com agressividade nessa equipe, cobrou 15 lances livres, errando apenas um. Além dele, o gira-a-bola-gira-a-bola-morre-de-tédio do Hawks também foi interrompido por um Dennis Schroder disposto a se jogar em cima da defesa do Wizards. Eventualmente ele consegue na pura OUSADIA criar jogadas como essa aqui:
Mas há um motivo para o Wizards cometer tantas faltas: a crença, correta, de que se eles conseguirem encaixar uma defesa agressiva contra o Hawks, não tem Millsap ou Schroder que possam dar conta. E de fato foi isso que aconteceu no quarto período, com o placar apertado, e o Hawks precisando de bolas de segurança para fechar a partida. O Wizards apertou a defesa, o Hawks passou a errar passes, e John Wall ganhou uma série de enterradas fáceis do outro lado da quadra. O quarto período foi o melhor Wizards que vimos nessa série até aqui, e mesmo quando a defesa não esteve encaixada, John Wall (32 pontos, 5 rebotes, 9 assistências) e Bradley Beal (31 pontos) tem sido suficientes para manter o ataque do Wizards funcionando mesmo contra a forte defesa da equipe de Atlanta. Insisto que ainda se trata de uma série em que os placares apertados enganam: o Hawks ainda não teve chances concretas e a série ainda não merece ser vista. FUJAM!
Para fechar a noite vimos o Warriors simplesmente atropelar o Blazers como se estivessem fazendo compras no mercado. É sensacional como mesmo sem Kevin Durant, descansando para dar mais tempo a uma lesão, o Warriors começa com a FACA NOS DENTES, pulando na jugular do adversário. Não dá tempo do Blazers se aclimatar, se acostumar com o ritmo de jogo, mandar um alô pra mãe. Quando menos se percebe a vantagem já é de mais de 10 pontos e todos os esforços do Blazers são sobre diminuir a diferença, e não sobre criar uma vantagem (real e psicológica) no placar.
E quando parecia que o Blazers poderia empatar o jogo, JaVale McGee simplesmente fez o elenco adversário parecer o elenco teen da “Malhação”. Foram 15 pontos e 4 tocos em apenas TREZE MINUTOS para o pivô, que acertou os 7 arremessos que tentou na partida. Vale dar uma olhada nos melhores momentos de McGee para constatar como não tem nenhum ser humano no Blazers capaz de marcar o tamanho e a velocidade do pivô do Warriors, que nessa etapa da temporada já está plenamente entrosado com os seus companheiros.
Não acho absurdo dizer que se o Warriors quisesse, se o resto do elenco topasse a brincadeira, McGee poderia sair fácil com uns 30 ou 40 pontos num jogo contra o Blazers. Não sei nem se eles venceriam essa partida, mas qualquer peça do elenco pode se tornar o foco central desse ataque e parecer um GÊNIO em quadra. Maior prova disso é que na ausência de Kevin Durant, o titular foi Patrick “Quem?” McCaw, que contribuiu bonitinho e ainda foi o único jogador do Warriors a passar mais de 30 minutos em quadra. Olha a diferença desse time para o Thunder, que não consegue usar o Sabonis por mais que 2 minutos, enquanto o Warriors usa jogadores de banco como titulares por quase 4o minutos numa partida.
Ainda assim, o Blazers até que aguentou firme por bastante tempo. Evan Turner injetou um ânimo legal na equipe depois do baque inicial de McGee, mas no terceiro quarto – quando o jogo começa a APERTAR – a defesa do Warriors foi implacável, o Blazers começou a cometer turnovers e em três minutos a vantagem do Warriors no placar saltou pra 20. O quarto período foi mera formalidade, o famoso garbage time.
Se o Blazers não conseguiu uma vitória no dia em que McCollum e Lillard tiveram jogos impecáveis JUNTOS, o que dizer dessa partida em que McCollum acertou 4 de 17 arremessos e Lillard acertou 5 de 17? De fato ambos tendem a jogar muito melhor em Portland, mas é impossível não sentir esse cheiro. Está sentindo? Está sentindo? É cheiro de varrida.