[Resumo da Rodada] O jogo que não aconteceu

O Raptors chocou todas as previsões ao ganhar dois jogos seguidos em Toronto contra o Cavs nessa Final de Conferência. Completamente desacreditado, todos os debates sobre o Raptors eram sobre a capacidade do time de vencer pelo menos um joguinho – possibilidade que parecia ABSURDA depois de ser atropelado nas duas primeiras partidas dessas Finais. Mas depois de voltar às origens, acertar arremessos difíceis, ajustar a defesa e contar com a péssima pontaria do Cavs, vimos um Raptors confiante, que manteve a compostura dentro de casa mesmo nos momentos mais perigosos, e que passou a verdadeiramente acreditar que poderia vencer a série. Jogo 5 em Cleveland, vai que eles mantém a confiança nas alturas, acertam arremessos contestados, contam de novo com um dia ruim do Cavs no perímetro e saem de quadra com a vitória? Aí daria para tentar fechar a série no Jogo 6, em casa, com o Cavs pela primeira vez na temporada tendo as costas na parede, desesperado, desconfortável. Foi com essa esperança viva que o Raptors entrou no ginásio empolgado, confiante, eufórico, pronto para fazer história.

No final do primeiro quarto, o Raptors já perdia por 18 pontos. Ao fim do segundo quarto, a diferença já era de 31 pontos – a maior diferença para um primeiro tempo na história das Finais de Conferência. Somando apenas LeBron, Kevin Love e Kyrie Irving, o Cavs fez 43 pontos no primeiro tempo, 9 pontos a mais do que o Raptors INTEIRO. Aguentei firme o longo e excruciante intervalo entre o primeiro e o segundo tempo para descobrir se teríamos pela primeira vez na história um terceiro período inteiro de garbage time, quando os dois times colocam só os reservas em quadra porque o resultado da partida não pode mais ser alterado. Dá pra imaginar quão HUMILHANTE seria o Cavs entrar em quadra no terceiro quarto só com jogadores de fundo de banco? Talvez preocupado com a reação do planeta, talvez por pura burocracia, os dois times entraram com seus quintetos titulares em quadra no segundo tempo como se o jogo estivesse valendo alguma coisa. O Cavs até fez um esforcinho, puxou uns contra-ataques, levou a vantagem no placar para QUARENTA E TRÊS PONTOS – pare um minuto para deixar esse número OBSCENO se alojar no seu cérebro – e aí foi hora de descansar todo mundo. Tivemos um quarto inteiro assistindo às crianças brincarem. Se a gente olhasse para o Raptors nos últimos dois jogos, parecia que teríamos um grande jogo dessa vez, a luta pela chance de vencer essa série. Mas o jogo sequer aconteceu, não deu tempo, quando a gente piscou o Cavs já tinha vencido.

Como isso aconteceu? De um lado, tudo começou com a defesa do Cavs abrindo mão de atacar algumas linhas de passe para contestar os arremessos, o que forçou o Raptors a ter que tentar arremessos ainda mais difíceis e tirou completamente a vontade de arremessar de qualquer jogador secundário do elenco. Não foi uma defesa muito diferente daquela que vimos o Cavs fazer ao longo da temporada, mas foi uma defesa mais RESPEITOSA, no sentido de que estava mais preocupada em atrapalhar arremessos do que em roubar bolas passadas para o lado. Se o Raptors ganhou os últimos dois jogos justamente porque Lowry e DeRozan acertaram arremessos bastante complicados, com uma defesa mais focada na bola tiveram que acertar arremessos absurdos logo de cara. Alguns minutos disso foram suficientes para que o Raptors perdesse muito da confiança que havia conquistado até aqui, e sumisse o aproveitamento do perímetro dos arremessadores da equipe. Aí, com ninguém mais querendo arremessar, o Cavs voltou a roubar bolas. Intercalando uma defesa na bola e uma defesa na linha de passe, o Cavs dominou defensivamente desde o primeiro segundo. E aí, do outro lado da quadra, o plano foi colocar Kevin Love pra jogar no primeiro quarto, fazer ele produzir, colocar ele para arremessar no perímetro nos contra-ataques e jogar dentro de garrafão no ataque de meia quadra. Já vimos isso acontecer antes, é até divertido: quando acionado logo no começo dos jogos, Love tende a produzir mais, ficar mais ativo ao longo da partida e ajudar o espaçamento da quadra para que os outros jogadores possam pontuar mais. É estranho afirmar isso, mas às vezes parece que Kevin Love é a peça central para o funcionamento do resto da equipe e ele está muito, muito longe de ser o melhor jogador do elenco. Quando LeBron James sabe encontrá-lo para começar os jogos, a vida de LeBron e Irving ficam tão mais fáceis que esse deveria ser o jogo padrão de primeiro quarto do Cavs.

Kevin Love terminou o primeiro quarto com 12 pontos, acertou todos os 4 arremessos que deu no período e conseguiu forçar Biyombo a defendê-lo, abrindo espaço para infiltrações dos seus companheiros de equipe, e punir Biyombo nos contra-ataques, quando o pivô do Raptors precisa contestar o caminho para a cesta e o perímetro fica inteiramente livre. A jogada abaixo, logo no começo do jogo, mostra bem o papel do Love nesses contra-ataques:

 

A jogada começa com o Cavs na defesa, naquela SUPER MANJADA jogada em que o DeMar DeRozan ou Kyle Lowry recebem a bola do pivô e que, quando o Cavs dobrou em DeRozan nos jogos anteriores, deixou Biyombo livre para fazer pontos improváveis. Mas dessa vez antes que Lowry pudesse passar a bola, Irving consegue um roubo pelas COSTAS do armador, o que gera um contra-ataque fulminante, que termina com Kevin Love arremessando e convertendo uma bola de três pontos fácil. Vejam onde está o garrafão do Raptors na jogada: Luis Scola está embaixo da cesta, preocupado com o rebote ofensivo de Tristan Thompson, e Biyombo sequer CHEGA na jogada até que a bola já esteja no ar rumo à cesta.

No final do segundo quarto vimos jogada similar: Dolavedova tenta roubar a bola do Lowry pelas costas, e quando isso não funciona temos LeBron perseguindo Lowry para um toco e Love chegando na cobertura, abandonando Scola livre na zona-morta, o que está longe de ser um perigo. Love estar dentro do garrafão na hora em que o arremesso é desviado faz com que ele consiga um rebote, o Cavs parta para o contra-ataque, e a bola retoma para o Love no perímetro, na exata mesma situação da jogada anterior. O mais engraçado da defesa do Raptors nessa bola é que Luis Scola tem que decidir se marca Love no perímetro ou LeBron livre correndo para a cesta. Scola escolhe LeBron, claro, e quando fica óbvio que Love vai arremessar já é tarde demais.

 

Foram 25 pontos para Kevin Love em apenas 22 minutos de jogo, justamente quando o Raptors já estava decidido nessa série a deixar o Cavs arremessar de fora e não ter que se preocupar com alguém do garrafão do Cavs sendo uma ameaça de costas para a cesta. Foi uma pancada absurda para o qual não havia resposta possível. O Raptors até tentou, colocou Jonas Valanciunas de volta depois de longo período lesionado, e tentou uma formação com Valanciunas e Biyombo juntos no garrafão. Essa formação só deu mais espaço para Love arremessar e só piorou a defesa de contra-ataques do Raptors. Contra a defesa agressiva do Cavs – que gerou 21 pontos de contra-ataque – não dá pra esperar que o Raptors acerte arremessos com uma frequência suficiente para diminuir o ritmo de jogo e poder se organizar na defesa. Nessas circunstâncias, o Cavs é verdadeiramente imparável. Não é nem demérito do Raptors, o que torna tudo ainda mais impressionante.

O próprio Kyle Lowry não conseguiu esconder o misto de ADMIRAÇÃO e HORROR quando, na coletiva de imprensa, colocou os olhos no boxscore do jogo pela primeira vez. Ver os números da noite (17% nas bolas de três para o Raptors, 39% em bolas gerais; quase 48% de três para o Cavs, 57% em bolas gerais; 43 pontos de liderança máxima na partida) fizeram Lowry ter as MELHORES EXPRESSÕES FACIAIS desses Playoffs.

A série agora vai para Toronto, onde o Raptors parece ter encontrado a confiança que todo time deveria ter ao jogar em casa na pós-temporada. Mas confiança CERTAMENTE não fez nenhuma diferença na partida de ontem. A parte triste da coisa toda é que não há muito o que fazer: o Raptors tentou marcar individual, zona, trocar em corta-luz, não trocar e dar espaço no perímetro, jogar alto, jogar baixo, e a MELHOR CHANCE de vitória foi o estilo de jogo que lhes deu 2 vitórias em Toronto e também uma derrota por 38 pontos em Cleveland. Não lhes resta nada a não ser manter essa estratégia, voltar para casa e TORCER, muito, para não ser atropelado por Kevin Love e o resto do Cavs de novo.


RODADA DO DIA

OKC Thunder @ Golden State Warriors (22h, SporTV)


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