Foram 11 pontos para LeBron James, acertando os 5 arremessos que tentou, além de 6 assistências, 4 rebotes, 2 roubos e um toco; 10 pontos para Kevin Love, incluindo 2 bolas de três pontos, 5 rebotes, um roubo e um toco; 9 pontos para Kyrie Irving, incluindo uma bola de três pontos e um par de lances livres. Está aí todo o necessário EM UM QUARTO para atropelar o adversário fora de casa, fechar a série, vencer as Finais do Leste e finalmente poder se concentrar em enfrentar o Golden State Warriors nas Finais gerais da NBA.
Passamos grande parte da temporada regular nos perguntando se os erros defensivos e o ataque estagnado do Cavs eram questão de PREGUIÇA ou limitação tática. É comum que equipes que acabaram de ganhar um título da NBA tirem o pé do acelerador, relaxem, percam um pouco da motivação e acabem tendo dificuldades de retomar ao nível máximo no momento mais importante da temporada. No caso de LeBron James, finalmente dono de um anel de campeão conquistado em sua amaldiçoada Cleveland, sobravam dúvidas sobre sua possibilidade de repetir o feito sem o fogo do jejum e do desespero queimando-lhe por dentro. Vimos tanto LeBron quanto o Cavs jogarem um basquete espetacular em trechos espaçados da temporada, mas isso não deveria ser algo que se alcança quando bem se quer – não seria a excelência um hábito, ao invés de um simples ato? Acabar atrás do Celtics na temporada regular só alimentou as dúvidas quanto à equipe, restando aos fãs torcer para que o time “pegasse no tranco” quando frente à magnitude da pós-temporada.
Nem começar esses Playoffs com 11 vitórias e nenhuma derrota foi tão poderoso para destruir essa narrativa de dúvidas quanto o primeiro quarto desse Jogo 5 das Finais da Conferência Leste em Boston. Foram QUARENTA E TRÊS PONTOS da equipe só no primeiro quarto, com SETENTA E CINCO PONTOS no primeiro tempo – ambos recordes da franquia em pós-temporadas. A diferença no placar passou dos 20 pontos ainda no período inicial, chegando a TRINTA E NOVE PONTOS no período derradeiro. O Celtics passou um total de ZERO minutos à frente no marcador. E tudo porque LeBron, Love e Irving entraram na partida dispostos a acabar com tudo em questão de minutos. Aquele botão que liga e desliga a intensidade da equipe existe mesmo e ontem, amigos, ele estava OBVIAMENTE LIGADO.
Quando os reservas entraram em quadra, o jogo até parecia parelho, bastante disputado, quase uma partida de basquete – de fato, os reservas do Cavs só marcaram 2 pontos a mais do que o banco do Celtics. Mas os titulares do Cavs poucas vezes foram vistos com esse grau de SANGUE NOS OLHOS. E não foi só o ataque, mas especialmente a defesa, que limitou o adversário a menos de 40% de aproveitamento e gerou contra-ataques fulminantes. LeBron dominou de costas para a cesta e nos lembrou de como o Celtics teve dificuldades para marcar o tamanho do Wizards na série anterior, enquanto gerava roubos de bola e tocos que tiraram completamente a confiança dos arremessadores de Boston:
Com a torcida do ginásio ainda apoiando a equipe da casa, o Boston até conseguiu encaixar a defesa no segundo quarto, forçar o Cavs a três desperdícios de bola seguidos que viraram contra-ataques bem executados, e aí a vantagem caiu para uns 15. Kyrie Irving respondeu com uma bola de três pontos logo depois para mostrar que não ia dar nem para o cheiro. Quando a torcida do Celtics se empolgou de novo com um bom momento da equipe, LeBron foi lá e converteu duas bolas de três pontos seguidas. Foi metódico, eficiente e cruel. O jogo já estava morto e enterrado no primeiro quarto, mas LeBron não parou de jogar mais e mais pás de areia em cima do defunto: acabou a partida com 35 pontos, 8 rebotes, 8 assistências, 13 arremessos certos em 18 tentativas, 4 bolas de três pontos, 3 roubos e um toco.
Ainda assim, a torcida de Boston foi um espetáculo: gritou pelo seu time até o final, puxou uns gritos de guerra bacanas, dançou com aquelas micagens de intervalo até o último segundo. Ainda que o ginásio tenha dado uma boa esvaziada no último quarto, quem ficou apoiou o time sem parar. Foi bonito de ver, até porque não havia muitas expectativas de vitória mesmo. Impor a única derrota do Cavs nesses Playoffs mesmo sem Isaiah Thomas já parecia de bom tamanho, ter dado um sufoco no Jogo 4 já parecia épico suficiente, e até mesmo ter chegado nas Finais de Conferência contra todos os imprevistos, que incluíram o falecimento da irmã de Isaiah, já era mais do que se imaginava possível. Terminar a temporada regular em primeiro lugar no Leste foi um choque para todos os envolvidos e o Celtics entrou nos Playoffs mais querendo tatear o futuro e conhecer os limites da equipe do que sonhando realmente com um anel de campeão.
As limitações da equipe ficaram evidentes: perdeu vários primeiros quartos de lavada para o Wizards, tendo que se recuperar com esforços heroicos ao longo do jogo, mas eventualmente pegaram um adversário que só precisa de fato de um primeiro quarto para vencer um jogo. Parece que o time, por ter tantas peças e ser tão versátil, precisa de algum tempo no jogo para encontrar as combinações ideais, as movimentações adequadas e reagir de maneira apropriada ao adversário. O técnico Brad Stevens arruma o time em tempo real, mas às vezes falta tempo e definitivamente falta material humana capaz de segurar as pontos e impedir que o jogo saia do controle enquanto os ajustes não aparecem. Isaiah Thomas, saudável física e psicologicamente, teria deixado as coisas mais desafiadoras para o Cavs, mas não estou convencido de que elas seriam significativamente diferentes. Ainda assim, dá para lembrar que o Celtics encerra sua temporada com uma Final de Conferência poucas semanas antes de realizar a PRIMEIRA ESCOLHA no draft, herdada do Nets.
O Cavs, por sua vez, entra nas Finais com a crença de que pode vencer qualquer um. Ainda que o Warriors dessa temporada seja potencialmente mais perigoso do que o do ano passado, massacrar oponentes no primeiro quarto é suficiente para elevar a moral de qualquer time do mundo. Se esse botão da intensidade continuar ligado, teremos finalmente as Finais da NBA que merecemos.