[Resumo da Rodada] O vazio

Jonathan Simmons foi titular para o Spurs no Jogo 2 e foi sem dúvidas o melhor jogador de sua equipe, com 22 pontos em apenas 25 minutos e a determinação de encontrar cestas mesmo quando as jogadas eram quebradas pela defesa do Warriors. Mas ninguém foi capaz de olhar para Simmons e vê-lo ali: só dava pra ver que Simmons representava o vazio deixado pelo lesionado Kawhi Leonard.

Para muitos, a partida de ontem – que viu o Golden State Warriors liderar o jogo por 41 pontos e vencê-lo por 36, com um quarto período inteiro em que os principais jogadores descansaram – foi uma surra tática impressionante, com a equipe da casa mostrando um repertório com o qual o atual Spurs não pode sequer sonhar. Mas para o técnico Gregg Popovich, mais do que tática, a derrota foi uma questão de falta de esforço, de descrença, de incapacidade de seu elenco acreditar que era possível vencer sem Kawhi. Assim, o jogo acaba sendo não sobre o que aconteceu em quadra, mas sobre o que não aconteceu, sobre o que não estava lá. O vazio tomou nossa capacidade de apreciar um jogo de basquete.

O que é uma pena, porque muitas coisas importantes aconteceram em quadra na noite de ontem que podem indicar o futuro dessa série. Se o Spurs ainda acredita que pode vencer os jogos em San Antonio com Kawhi Leonard de volta – a próxima partida será apenas no sábado, embora Kawhi não esteja oficialmente confirmado – vai precisar repensar sua defesa, coisa que Kawhi não teria como resolver sozinho, e encontrar uma maneira de LaMarcus Aldridge ser minimamente eficiente no ataque.

Stephen Curry começou a partida acertando 4 das 5 bolas de três pontos que tentou no primeiro quarto e não foi uma questão de marcação individual, foi basicamente se aproveitando de Kevin Durant (que ocupou magistralmente o espaço entre o garrafão e o perímetro que o Spurs escolheu dar para o Warriors) ou cortando para a cesta sem a bola, atraindo a defesa coletiva do Spurs para o aro, e subitamente cortando para o perímetro para arremessar sozinho ou contra defensores em velocidade, facilmente fintáveis.

Draymond Green continuou sendo deixado livre no perímetro – o Spurs ainda acha que essa é a bola mais “segura” para não se defender – e ele acertou 2 das 3 bolas de três que tentou no primeiro quarto. A média de Draymond Green nas bolas de três pontos nesses Playoffs é de quase 48%, de modo que se torna INSANO deixá-lo propositalmente livre.

Do outro lado, LaMarcus Aldridge errou todos os seus arremessos no primeiro quarto e só foi acertar um arremesso na metade do segundo período, com seu time já perdendo por 24 pontos. Nesse ponto o Warriors havia dado 14 assistências em 16 arremessos convertidos, ALOPRANDO a defesa do Spurs, enquanto LaMarcus Aldridge abria mão de arremessos minimamente livres, tentava envolver os companheiros com passes contestados que viraram contra-ataques, e quando arremessava era incapaz de criar algum espaço para separá-lo dos defensores. É compreensível que ele esteja sofrendo contra a defesa física e apertada de Draymond Green, mas quando os reservas do Warriors entraram em quadra, nada mudou. A jogada abaixo resume bem sua partida:

 

Acompanhem comigo: Aldridge recebe a bola após ser incapaz de estabelecer posição contra o reserva David West, sendo obrigado a receber com os dois pés fora do garrafão. Nesse momento Ian Clark já chegou para dobrar a marcação, e ele marca o caminho para a linha de fundo, ou seja, está tentando tirar de Aldridge um arremesso girando por cima do ombro direito. O que essa jogada faz é desafiar Aldridge a passar a bola ou então infiltrar rumo ao meio do garrafão, algo que parece inviável já que antes mesmo de receber a bola o jogador do Spurs havia desistido de empurrar a parede chamada David West. Aldridge então abre mão da bola, mas não para o jogador livre. Patty Mills, livre na zona morta no lado oposto da bola, tem a linha de passe contestada parcialmente pelos braços gigantes de Kevin Durant e por Stephen Curry, um dos melhores ladrões de bola da NBA. Mesmo quando Jonathon Simmons recebe a bola no centro da quadra, Curry ainda está na linha de passe para Mills, que fica PUTO DA VIDA de não receber a bola. Ainda assim, vejam como o Warriors RESPEITA a rotação de bola do Spurs e o poder deles de converterem arremessos livres, de modo que Ian Clark corre de volta para marcar Patty Mills na zona morta. Simmons acertadamente coloca a bola de volta em LaMarcus Aldridge, mas com o cronômetro acabando ele precisa inventar uma tentativa de distanciamento e forçar um arremesso por cima do seu marcador, que não cai de jeito nenhum.

Na temporada 2013-14, LaMarcus Aldridge teve média de 26 pontos por jogo nos Playoffs e eliminou meu Rockets praticamente sozinho da pós-temporada arremessando por cima de seus defensores. Agora parece verdadeiramente desconfortável de fazer isso, preocupado em colocar a bola para girar mesmo quando o posicionamento em quadra exige que ele tenha confiança para finalizar. Ao término do jogo, tomou uma dura de Popovich, que o criticou por ter se encolhido na partida justamente quando o time precisava que ele fosse decisivo, sofrendo com a falta de poder ofensivo que o VAZIO de Kawhi impôs.

Mesmo no primeiro jogo da série, quando ele marcou 28 pontos (acertando 11 de 24 arremessos), Aldridge acertou apenas duas das suas 9 tentativas no quarto período, incluindo a bola de três da zona morta que poderia ter empatado o jogo. É como se ele estivesse continuamente preso na própria cabeça, incapaz de dar os arremessos que lhe fizeram famoso porque deve haver algum arremesso MELHOR que ele possa acionar dentro do esquema tático.

Essa é a arte que o Warriors, após a dificuldade dos ajustes iniciais dessa temporada, dominou: é fácil se perder num esquema em que TODO MUNDO sabe arremessar e abrir mão dos próprios arremessos porque outro jogador pode estar em melhores condições do que você. É preciso encontrar o equilíbrio entre abrir mão de um arremesso bom em busca de um arremesso ÓTIMO mas não se livrar de um arremesso ótimo em busca de um que talvez seja excelente, mas que também traz o risco de que o passe seja interceptado, ou da defesa se ajustar, ou de ninguém arremessar essa maldita bola antes do estouro do cronômetro. Curry abriu mão de arremessos demais com a chegada de Durant, que por sua vez abandonou suas jogadas individuais e muitas vezes sumia nas partidas. Na noite de ontem deu pra ver que esses são problemas passados: as bolas podem até não cair, mas os arremessos são sempre os melhores possíveis, sem ninguém se esconder, sem ninguém arremessar de menos e nem ninguém arremessar demais. Ao longo do jogo o Warriors acertou 50 arremessos, com TRINTA E NOVE deles tendo saído de assistências:

Esse equilíbrio, fruto de muita química, treinamento, confiança e um ambiente psicologicamente propício – exatamente os motivos pelos quais Kevin Durant escolheu jogar no Warriors – faz com que os arremessos certos sejam dados independente do resultado ou do momento da partida. Ainda que Kawhi e seu SANGUE GELADO garantam que esse modelo tente resistir no Spurs, e que o resto do elenco confie tanto no esquema tático que arremesse sempre que necessário, LaMarcus Aldridge ainda parece não estar inteiramente inserido na mentalidade. Para os próximos jogos, precisará de outra abordagem. Não podemos fazer com que Kawhi volte às quadras, mas Aldridge pode deixar de ser outro elemento vazio para se tornar outro jogador  – um jogador que ele já foi, não faz tanto tempo assim. Segundo Popovich, para isso “basta acreditar”. Estaremos de olho.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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