[Resumo da Rodada] Raptors desmancha novamente; Hornets e Blazers resistem

O Raptors talvez seja o melhor time do Leste, mas não dá pra apostar um tostão furado nessa equipe, nunca. Se não bastasse o fato de que eles DESMONTAM em casa quando estão sob pressão, ainda há o fato de que as jogadas que acionam DeMar DeRozan estão completamente manjadas pelo Pacers desde o primeiro jogo e não há muito que o Raptors consiga fazer a respeito, anulando sua maior arma ofensiva como consequência. Se no Jogo 3 vimos DeRozan desencanar das bolas de 3 pontos e apostar num jogo de meia distância mais eficiente, dessa vez a defesa do Pacers soube dobrar a marcação toda vez que ele recebia a bola no perímetro, forçando seu jogo de meia distância a ser uma coleção de arremessos contestados em dupla.

Pra piorar a situação do Raptors, Myles Turner foi uma força defensiva no garrafão. Ele é cru de tudo, não acerta absolutamente nada no ataque (converteu apenas 2 dos seus 13 arremessos no jogo), teve números esquecíveis, mas sua capacidade de contestar TODOS os arremessos dados próximos ao aro tirou do jogo o pouco que restava de confiança do Raptors nas infiltrações. Chegou um momento em que Kyle Lowry só arremessava bolas tortas pra cima no garrafão rezando por um rebote ofensivo, enquanto DeMar DeRozan recebia bolas para arremessar de três pontos mas preferia desafiar DOIS marcadores num arremesso curto do que queimar outra bola do perímetro. Se ele enfrenta dois marcadores, então quem está livre? Luis Scola ou Patrick Patterson, nenhum dos dois muito na pegada de começar a chover bolas de fora para tentar salvar o jogo. Quando acionados, os dois preferiram recomeçar o ataque com Lowry ou Cory Joseph, que só conseguiram uns poucos momentos de eficiência no ataque com Jonas Valanciunas. Ainda assim, o pivô do Raptors foi bem marcado por Myles Turner e Paul George, e foi INCAPAZ de defender Iam Mahinmi do outro lado.

Para se ter uma ideia do desastre: Lowry acertou 4 de 12 arremessos, DeRozan 4 de 15 arremessos, e os dois somaram ZERO bolas de três pontos em 7 tentativas, além de 9 turnovers. Do outro lado, Paul George nem teve uma boa partida, forçou muitas bolas tolas e sofreu na mão da defesa do Raptors, mas Iam Mahinmi teve 22 pontos, 10 rebotes e 5 assistências – segurou sozinho as investidas do Raptors no final do jogo, quando a diferença no placar diminuiu.

O técnico Dwane Casey admitiu que a culpa por DeRozan não ter espaço pra jogar é dele, mas isso é papo pra outra hora – o Bola Presa está preparando uma análise caprichada para os assinantes poderem entender essa questão. Mas o que importa até lá é que pode até ser que o Raptors tenha dias bons e despache o Pacers com facilidade, mas não dá pra apostar nisso porque o ataque deles está sendo seriamente contestado, bem defendido, e não sabe criar opções quando tudo dá errado. Com esse tipo de problema, voltar para Toronto tem tudo para ENGOLIR a mente dos jogadores do Raptors.


Quando fiz aqui o preview da série entre Heat e Hornets, previ jogos disputados e muita variação tática das duas partes. Até agora, o que vimos foi um passeio do Heat, com a equipe de Miami executando bem até nas suas áreas de maior deficiência. Mas o Jogo 3 trouxe aquilo que tanto esperávamos: um nó tático. O Hornets, que foi parar nos playoffs quando finalmente desencanou de usar pivô e apostou nas bolas de três pontos, tinha que decidir quando e como usar esporadicamente Al Jefferson no ataque, tendo em vista que ele não defende e nem é defendido pelo Hassan Whiteside. E aí no Jogo 3 o Hornets resolveu entrar em quadra com DOIS PIVÔS ao mesmo tempo desde o segundo inicial: Al Jefferson e Frank Kaminsky. O Heat respondeu isso de uma maneira hilária: Luol Deng, marcado por Kaminsky, simplesmente correu de um lado para o outro da quadra e ficou livre para uma bola de três pontos na primeira jogada da partida. O mesmo se repetiu ao longo do primeiro quarto, quando Deng converteu 5 bolas de três pontos porque Kaminsky não tinha como dar conta de marcá-lo no perímetro.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Kaminsky só alcançaria o Deng usando patins”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Kaminsky.jpg[/image]

Mas, por outro lado, Hassan Whiteside não teve espaço para jogar e o pick-and-roll dele com Dragic e Dwyane Wade foi totalmente anulado. Quando o banco do Hornets entrou em quadra, o mesmo aconteceu. Cody Zeller e Spencer Hawes habitaram o garrafão, defenderam o pick-and-roll, atormentaram Whiteside e as infiltrações do Heat, e Zeller conseguiu até marcar Luol Deng no perímetro. O técnico Steve Clifford disse que Zeller só não foi titular ao lado de Al Jefferson porque seu entrosamento com Spencer Hawes é invejável. Confesso que não vi nada disso e Hawes não é nada além de um corpo enorme que acha que consegue arremessar de três, mas o tamanho dessa galera melou com o plano de jogo do Heat por completo.

O único problema, claro, é que esse plano também mela com a movimentação ofensiva do Hornets. Para continuar jogando no perímetro tiveram que correr mil vezes mais do que estão acostumados, com Jeremy Lin botando a língua pra fora e forçando o resto do time a acompanhar. Incrível que o Hornets se atrapalhou com o ritmo, mas o Heat sentiu a correria MUITO mais: teve até Wade DESISTINDO de voltar para defender múltiplas vezes no segundo tempo, visivelmente sem capacidade de acompanhar a bagunça da molecada. Quando o Heat tentou diminuir o tamanho do time para dar conta, aí Kaminsky se aproveitou e mostrou que em condições ideias até acerta umas bandejinhas. O Hornets saiu da zona de conforto na partida, mas o Heat ficou TÃO FORA de qualquer coisa que lembrasse minimamente conforto que valeu muito a pena. E pro próximo jogo, como o Heat responderá a esse “super” garrafão? Finalmente temos a série interessante que merecíamos.

Será que a franquia de Charlotte consegue a próxima vitória no Jogo 4 ou terão que esperar mais 14 anos?


Outra série que finalmente ficou interessante foi Blazers e Clippers. Em Portland, Damian Lillard tinha certeza de que os arremessos voltariam a cair e foi justamente o que aconteceu. Como ajuste tático, o Blazers passou a jogar MUITO mais rápido do que está acostumado, forçando bolas de três pontos na transição antes que a defesa conseguisse dobrar em CJ McCollum ou Chris Paul conseguisse usar o corpo contra Lillard. Claro que as primeiras bolas de Lillard forçadas terem caído ajudou o time a manter o ritmo acelerado e voltar a arremessar sem hesitar. Isso fez toda a diferença: Lillard acabou com 32 pontos e CJ McCollum com 27 pontos, ambos acertando 50% de seus arremessos.

Mas os dois não foram suficientes para colocar o time no bolso. Mesmo com Blake Griffin forçando o jogo demais num dia ruim e errando trocentos arremessos de média distância pouco contestados, o Clippers se manteve vivo na partida porque ainda não existe resposta para Chris Paul e Jamal Crawford nessa série. Após passar o jogo inteiro atrás no placar, Paul conseguiu virar o placar no quarto período mesmo que coletivamente o Clippers não estivesse merecendo nem um pouco vencer a partida.

Quem salvou a barra do Blazers, no fundo, não foi nem Lillard nem McCollum, mas Mason Plumlee. Embora ele não tenha muita capacidade de defender DeAndre Jordan, teve uma partida taticamente impecável no ataque para se aproveitar do pivô. Recebeu a bola sempre de frente para a cesta e, ao ser contestado por DeAndre Jordan no garrafão, acionou alguém com um passe por cima do pivô – várias vezes Maurice Harkless, porque Blake Griffin, por exemplo, estava sempre ajudando nas dobras de marcação no perímetro. Com esses passes altos por cima de Jordan, o Blazers conseguiu pontos fáceis quando a defensa de perímetro do Clippers estava sufocante.

Na defesa, Plumlee foi obediente taticamente e fez o que podia: garantir rebotes ao invés de contestar arremessos ou pular junto com DeAndre Jordan. Acabou o jogo com apenas 6 pontos, mas 21 rebotes e 9 assistências. Passou a mensagem de que não é preciso ser tão forte ou ágil quanto o Clippers nessa série: basta ser esperto taticamente e esperar que DeAndre Jordan faça cagadas ao invés de bater de frente com ele.

O pivô do Blazers foi apenas o quarto jogador nos últimos 30 anos a conseguir ao menos 20 rebotes e 9 assistências em um jogo de Playoff. Seus companheiros? Tim Duncan, Shaquille O’Neal e Kevin Garnett. 


Na outra partida da rodada, o Mavs não conseguiu empatar a série contra o Thunder. Deron Williams, fazendo uma falta desgraçada nos arremessos, jogou UM MINUTO porque sentiu imediatamente sua lesão abdominal que supostamente iria lhe tirar da série inteira. Ele tentou jogar no esforço, teve um minuto cambaleante de jogo e foi pra casa.

Sem ele a defesa do Thunder consegue sufocar JJ Barea – que errou todos os 7 arremessos que deu – e mostrar que fisicamente ele não tem como estar competindo com os jogadores mais atléticos e velozes do Thunder. Sem sua velocidade, Barea acaba virando apenas um arremessador, situação pouco ideal sem que outros jogadores estejam cortando em direção à cesta como o ataque do Mavs exige.

Aliás, o Thunder inteiro está comprometido com a ideia de colocar o Mavs na boca, MASTIGAR E CUSPIR. É todo mundo jogando com tanta força, velocidade e agressividade que não faltam pancadas exageradas, faltas flagrantes e até expulsão, como foi o caso do Kevin Durant no final do jogo. O Mavs tenta mostrar que não está intimidado, mas não tem saída possível para uma situação tão desfavorável fisicamente. Talvez com todo mundo saudável pudessem existir planos de contingência, mas na atual situação é só um MASSACRE DA CARNE.

Mas Kevin Durant é tão escoteiro que, depois do jogo, mandou uma mensagem de texto para Justin Anderson e pediu desculpas. E o encontrou nos corredores do ginásio para um cumprimento. Maior bom menino da NBA!

Os únicos momentos de vida do Mavs no jogo foram com Salah Mejri, o pivô de 2,17m de altura. Ele em quadra mostra quão DESESPERADO pelo Tyson Chandler esse time é. Se tivesse continuado em Dallas, quem sabe esse Mavs não seria candidato a título mais vezes? Chandler trazia um poder físico, associado à defesa de aro, que mudava a moral da equipe. Com ele em quadra ninguém tinha medo de apanhar, sabiam que uma pancada de um lado da quadra iria ser VINGADA por Chandler do outro lado, deu ao Mavs um tônus mental que tornava a equipe irreconhecível. Salah Mejri é o único jogador que fisicamente causa problemas para o Thunder e sua ação na defesa, especialmente, deu ao Mavs possibilidades de contra-ataque e de usar Nowitzki contra adversários mais baixos, com a defesa do Thunder ainda não estabelecida. Mas Mejri ainda é muito cru e não sabe o que fazer com pivôs habilidosos e inteligentes, como é o caso de Enes Kanter. Se Mejri deu esparança ao Mavs no jogo, deu também ao Thunder a possibilidade de usar Kanter por mais minutos do que o habitual, o que ajudou MUITO o ataque da equipe e escondeu os erros seguidos de Durant e Westbrook. Kanter converteu 12 dos 13 arremessos que tentou e foi parte importante para bagunçar o posicionamento defensivo do Mavs e render 12 rebotes ofensivos para o Thunder. Não há mesmo para onde o Mavs correr, não resta necas de VIDA nessa equipe. Nessa altura da série, já é todo mundo zumbi. Merecem descansar em paz.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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